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Declaração à imprensa da Presidenta da República, Dilma Rousseff, após cerimônia de assinatura de atos na Casa Rosada

Presidenta Dilma fala sobre a parceria Brasil-Argentina

 

Buenos Aires-Argentina, 31 de janeiro de 2011

  

Senhores e senhoras da imprensa brasileira e da imprensa argentina,

Minha querida presidenta Cristina Kirchner,

Ministros aqui presentes, ministros das Relações Exteriores, Patriota, do Brasil, e Timerman, dos Estados... Desculpe, Timerman... da Argentina.

Eu começo dizendo que é uma imensa alegria para mim estar aqui na Argentina. Não é por acaso que eu fiz questão que a minha primeira passagem pelo exterior, o meu primeiro contato com um país fosse com a Argentina. É porque eu considero que a Argentina e o Brasil são cruciais para que nós possamos transformar este século XXI no século da América Latina. E quando eu falo “transformar no século da América Latina”, eu [não] estou falando necessariamente transformar no século dos povos brasileiro e argentino, mas dos povos latino-americanos.

O Brasil e a Argentina têm um papel estratégico nesta região. São os dois maiores países da região e representam o grande potencial de desenvolvimento que a América Latina conquistou neste momento. Não conquistou por uma evolução natural das coisas, mas conquistou pelo empenho político de governantes que tiveram a sensatez e, ao mesmo tempo, a coragem, o descortino para perceber que o mundo havia mudado, e que nós podíamos, sim, ter um novo modelo de desenvolvimento. Um modelo que combinasse crescimento econômico, afirmação da inclusão social, da nossa soberania, do meio ambiente e que fosse, sobretudo, um crescimento onde os nossos povos tivessem lugar. Por isso, aqui na Argentina, eu me sinto num momento muito especial, porque eu tenho certeza que com a presidenta Cristina Kirchner, os nossos dois países podem e vão dar passos decisivos no sentido da construção de um mundo melhor, primeiro, para os nossos povos, mas depois para os povos latino-americanos.

A nossa contribuição é fazer com que o nosso desenvolvimento... Porque somos países especiais nessa quadra da vida da Humanidade. Somos países com grande potencial agrícola, com grande potencial energético, com estruturas industriais e, ao mesmo tempo, países também com uma capacidade grande de gerar tecnologia, ciência e, portanto, inovação, porque somos parte de povos que têm uma grande criatividade. Eu tenho certeza de que, hoje, nós assinamos vários projetos em comum: assinamos uma parceria na área nuclear, na área de biocombustíveis, assinamos uma parceira na construção de habitações populares, na área de saneamento, em relação à nossa farmacopeia, criamos uma série de vínculos entre nós que já vinham sendo construídos. E nós, Brasil e Argentina, Argentina e Brasil podemos dar a nossa contribuição, não só no Mercosul que é muito importante, mas também na Unasul, na construção da unidade e do desenvolvimento dos povos latino-americanos. E aqui, Cristina, eu queria aproveitar esta oportunidade para fazer uma homenagem ao Néstor Kirchner que, não só como presidente da Argentina, mas também como condutor da Unasul, percebeu, desde logo, desde sempre, a importância para os nossos países dessa nova etapa. Então, é a homenagem do governo brasileiro, do povo brasileiro a esse grande argentino que foi Néstor Kirchner.

E eu queria continuar dizendo que, neste momento, nós abrimos um caminho. Eu acho que é um caminho de cooperação, e essa cooperação é uma cooperação no sentido de beneficiar a economia argentina e a economia brasileira. É uma cooperação no sentido de nos fortalecer, de criar uma integração de plataformas produtivas e de nos levar também a construir, cada vez mais, o bem-estar dos nossos países. Tenho clareza de que nós somos países vocacionados também para não só a área da agricultura, onde temos uma grande tecnologia, tanto a Argentina quanto o Brasil, mas, sobretudo, as áreas de ponta, olhando para o futuro, olhando a biotecnologia, olhando a área nuclear, olhando a área espacial, desenvolvermos parcerias entre nós.

Eu queria dizer que, para nós que somos duas mulheres, as duas primeiras mulheres presidentas eleitas diretamente nos nossos países, eleitas pelo voto direto da população como presidentas, nós também assumimos um papel muito importante na questão da garantia da participação de gênero, porque a gente sabe que uma sociedade, ela pode ser medida pelo seu avanço, pela sua modernidade, desde que ela também assegure a participação das mulheres e a não-discriminação das mulheres.

Daí porque eu acho que esse momento também é especial, porque são duas mulheres presidindo as duas grandes nações deste continente. E demonstra, com isso, que esses países que são os nossos – o Brasil e a Argentina – são países com uma sociedade desenvolvida capaz de eleger duas mulheres.

Com isso eu quero dizer, concluindo, que para além de toda a cooperação física, concreta, nós devemos ter, também, uma cooperação cultural e educacional. Porque os nossos povos e o coração de cada um dos nossos países têm seu significado a partir da sua cultura.

Eu fiquei muito feliz de vir aqui, hoje, e ver como foi bem-feita aqui, neste Palácio, a representação da cultura argentina nas suas diferentes dimensões. Eu vi a Sala dos Científicos, vi a Sala das Mulheres, a Sala das Lideranças Políticas, e aqui é o Salão dos Pensadores e Escritores Argentinos. Eu acho simbólico nós estarmos aqui. Então, aproveito e falo: olha, esse também é um sentido da nossa cooperação.

Finalizando, eu queria agradecer às Mães da Praça de Maio, porque eu acabo de ganhar duas casas. Elas estão ali embaixo, sobre rodas, eu vou levá-las para o Brasil. Elas compõem uma experiência social importante das Mães da Praça de Maio que é a produção, através da Fundação da Produção Habitacional, e a preocupação com uma coisa que no Brasil, para nós, é muito cara: a inclusão social. Aqui também é muito cara, para a presidenta Cristina.

E eu quero agradecer de coração, porque... não só pelo sentido dessa luta generosa que elas travaram ao longo da história argentina, mas também pelo fato de que elas souberam encontrar, no momento presente, a sua inserção, contribuindo para o desenvolvimento social do povo argentino.

Agradeço a cada uma de vocês. E, sobretudo, agradeço à Cristina a acolhida absolutamente calorosa que eu recebi aqui. E tenho certeza, como eu disse para ela: este será o primeiro de muitos encontros, de muitas declarações. Como é a primeira, nós estamos um pouco emocionadas, então, vocês também entendam isso.

Obrigada.

 

Ouça a íntegra da declaração à imprensa (09min39s) concedida pela Presidenta Dilma.