Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, durante a cerimônia nacional de premiação da 7ª Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas - Obmep/2011
Rio de Janeiro-RJ, 27 de agosto de 2012
Primeiro eu queria cumprimentar, aqui, todos os medalhistas e as medalhistas, os pais, as mães e a família de cada um.
Queria cumprimentar o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral,
Os ministros aqui presentes: Aloizio Mercadante, da Educação; Marco Antônio Raupp, da Ciência e Tecnologia; e o general José Elito Carvalho Siqueira, do Gabinete de Segurança Institucional.
Queria cumprimentar e me dizer muito honrada de estar cumprimentando esse brasileiro dedicado, que é o professor César Camacho, diretor geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada. Ele fala com um pouco de sotaque, mas ele é um brasileiro, nascido e criado nas escolas deste país. Então, ele é um brasileiro.
Doutor Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências,
Helena Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência,
Professor Hilário Alencar, presidente da Sociedade Brasileira de Matemática,
Professor Claudio Landim, coordenador geral da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas,
Senhores secretários estaduais aqui presentes, tanto da Educação como de Ciência e Tecnologia,
Fora disso, eu queria cumprimentar os nossos queridos estudantes vencedores da 7ª Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. E queria cumprimentar também os professores de cada um, porque é essa interação entre estudante e professor, não tenham dúvida, é a (incompreensível).
Queria cumprimentar também os jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas.
Sem dúvida nenhuma, (incompreensível). Nos emociona porque aqui nós sabemos bem (incompreensível) o fato de que cada uma e que cada um dos estudantes que, como sabem, (incompreensível). Muito se fala em superação porque, como todos nós sabemos, (falha no áudio).
Tirando a brincadeira, na verdade nós sabemos que o Brasil precisa muito disso. Nós precisamos muito imensamente... Hoje resolveram, eles resolveram, na minha hora... Está vendo, Sérgio? Na minha vez... Eu não vi isso ocorrer com nenhum deles, ocorreu comigo.
Bom, mas voltando ao que eu estava dizendo: eu acredito que o Brasil precisa muito, mas muito....do que nós estamos vivenciando aqui hoje.
E é por isso que, como presidenta da República, eu vim aqui e eu tenho a responsabilidade, perante o país, de reconhecer a importância desses medalhistas, desses estudantes, desses 19 milhões que fizeram esse concurso, dos professores que participaram. Sabem por quê? Porque nós só vamos dar os necessários passos à frente quando nós conseguirmos generalizar, por todo o Brasil, esse amor, essa vocação científica... É só baixando, vocês notaram? É que a regulação é manual.
O ruim disso é porque eu acredito que essa parte do que eu quero falar para vocês, ela é muito importante, que é o seguinte. Nós sabemos, principalmente o pessoal, as mães, os pais de vocês, que passaram por um outro Brasil, que não é bem este Brasil que hoje nós estamos vivendo, mas que sabem também que tem muita coisa ainda que nós precisamos de realizar neste Brasil.
É verdade que nós conquistamos muito. Nós somos, hoje, um país que tirou 40 milhões de pessoas da pobreza; nós somos um país que deu passos largos no sentido da melhoria e da garantia de emprego e renda para a sua população; nós demos passos largos em várias direções, criando um país muito mais rico e com muito mais oportunidades. Mas sabemos também que tem um acúmulo de miséria ainda neste país, que nós temos que superar. Nós ainda temos 16 milhões de brasileiros – hoje menos –, mas até 2010 – a próxima pesquisa vai indicar quantos ainda restam –, até 2010 eram 16 milhões de brasileiros que ainda viviam em estado de extrema pobreza.
Nós sabemos que o nosso país tem de tirar essas pessoas da pobreza e, ao mesmo tempo em que tira pessoas da pobreza, ele tem de garantir a riqueza. O que é a riqueza? Ele tem de garantir que uma parte grande do país, primeiro, seja de classe média; segundo, tenha oportunidades; terceiro, tenha um nível educacional similar ao dos países desenvolvidos.
Nós fizemos esse programa Ciência sem Fronteiras foi para começar a encurtar um pouco o caminho. Muitas vezes você não consegue encurtar completamente um caminho, mas, nesse caso, nós conseguiremos encurtar o caminho aumentando a oportunidade de jovens como vocês, de estudar nas melhores universidades de todo o mundo. Isso vai permitir um nível de conhecimento de vocês, um nível de absorção do Brasil, porque nós acreditamos que os brasileiros têm uma inata criatividade e essa criatividade, somada à ciência, ela pode resultar numa coisa fantástica chamada inovação, e é isso que nós queremos quando financiamos cem mil bolsas, até 2014, para estudantes brasileiros irem para o exterior.
Eu falo isso porque nós sabemos que o medalhista de ouro, o medalhista de ouro da Olimpíada da Matemática, ele tem plenas condições de, primeiro, chegar a pleitear uma oportunidade no Ciência sem Fronteiras. E é isso que eu quero chamar a atenção de vocês, o Mercadante já fez, mas eu quero chamar mais a atenção. Por que nós precisamos disso? Porque este país, ele tem de, ao mesmo tempo, combater a miséria e, ao mesmo tempo, gerar ciência, tecnologia e inovação na sua indústria, no seu setor de serviços, de tecnologia da informação, de TI, por exemplo, em toda a área de informática, mas também na área agrícola. Nós, hoje, somos uma das maiores potências agrícolas do mundo porque apostamos na pesquisa científica, apostamos na criação de métodos diferenciados para produzir e para ampliar a produtividade do nosso país.
Por isso, eu tenho certeza de que aqui hoje nós estamos diante de um caminho, de uma trajetória, uma trajetória de vida, mas também uma trajetória e um caminho para o Brasil. É muito bom quando o caminho do Brasil passa pelas nossas vidas. O caminho do Brasil passa pela vida de cada um de vocês. É a vida de vocês, sendo bons profissionais, cientistas, tecnólogos, inovadores, professores, que vai permitir que o Brasil cresça num caminho de desenvolvimento.
Eu fico muito feliz de conhecer histórias que mostram... porque a história tem essa capacidade de sintetizar a situação de um país. Eu queria destacar, aqui, duas belas histórias, antes de encerrar. Uma é de um rapaz e outra de uma moça. O rapaz se chama Indiana Jones e a moça se chama Maria Clara. O Indiana Jones recebeu hoje sua primeira medalha de ouro e, como o herói do cinema, ele tem também, pela frente dele, uma aventura e um desafio. Eu cito a história dele porque ele parou de estudar e foi convencido, se não me engano, pelo seu padrasto, a voltar a estudar. E, a partir da matemática, ele voltou a estudar, depois de quatro anos parado, e ganhou medalhas e, agora, tem uma outra perspectiva de vida.
A Maria Clara, ela tem uma porção de medalhas que ela conquistou. E ambos mostram que há um esforço na vida deles, no sentido de superar as limitações que neste país tinha, para todo mundo que não nascia em berço de ouro e que não tinha sangue azul. E aí nós entramos nessa questão das universidades. É muito importante que vocês demonstrem que a universidade, ela é um lugar também para os alunos que provêm das escolas de ensino público. Aqui hoje eu vi – e eu pergunto sempre “como é que você chama? onde você estuda?”, nessa maratona que é recepcionar todos vocês – e eu percebi que muitos vêm de escolas estaduais, municipais, e muitos de colégios militares, o que eu acho uma coisa muito relevante, que demonstra, na parte, no quesito dos colégios militares, uma contribuição que está sendo dada para a formação de bons alunos pelos colégios militares. E também um estímulo para que isso de expanda e se multiplique. Em algumas regiões é, assim, quase dominante a origem dos estudantes medalhistas.
Mas o que eu queria dizer é que a escola pública, ela tem um aspecto que é sempre dar oportunidades para aquela faixa da população que teoricamente não nasceu com todas as condições que, no Brasil do passado, eram aquelas que dava condição de sucesso. Nesse Brasil de hoje, o que nós queremos é que o sucesso advenha da meritocracia. E aqui, hoje, é uma festa da meritocracia, do mérito, de um conjunto de jovens meninas e meninos que, por sua capacidade – e ninguém aqui perguntou quem era o pai, quem era a mãe, quanto ganhava e quem era a família –, o que nós estamos vendo é o esforço de cada uma e de cada um ultrapassando as barreiras que a vida impõe a cada um de nós, seja aonde, no país, a gente nasça. Mas esse mérito é um mérito importantíssimo para todos nós. Esse é o caminho do Brasil. O Brasil precisa de ciência, precisa de mérito e precisa de muito esforço e dedicação.
Por isso, eu cumprimento os jovens aqui presentes, cumprimento os professores e também os pais. Eu sou mãe e sei a quantidade de orgulho que tem uma mãe, aplaudindo seu filho ou sua filha, aqui recebendo medalha, e também um pai, óbvio. Mas eu falo pelo meu ponto de vista de mãe. Tenho certeza de que muitos olhos, hoje, se encheram d’água, e se encheram d’água porque é uma das maiores emoções a gente ver um filho saindo de casa, no rumo, no bom rumo da vida e indo viver da melhor condição possível. Obviamente, quem ganha uma medalha de Matemática, quem ganha duas medalhas de ouro de Matemática, quem ganha tantas medalhas como aqui nós premiamos, são pessoas que encontraram, eu digo, o passo certo para dar a primeira entrada na vida.
Daí por que eu cumprimento cada um e cada uma, e quero dizer, de coração: o Brasil todo sabe que a educação é a solução. A gente olha para uma família pobre, o que é a solução para os adultos da família? A solução para os adultos da família é o Brasil ser capaz de gerar e criar emprego, o Brasil ser capaz de criar e gerar oportunidades, abrindo pequenas empresas, mini negócios, mas oportunidade para a criança e para o jovem é só uma: educação, educação e mais educação.
Por isso, nós hoje, aqui, estamos diante da geração que vai me substituir... nos substituir aqui, todos aqui que estão sentados neste palco. Aqui só tem duas mulheres. Vai ter mais mulheres depois, neste palco. Há sempre, viu, gente, há sempre a primeira vez. Há sempre a primeira vez, e depois da primeira a gente sabe que a coisa só vai.
Por isso, eu tenho certeza que cada um de vocês tem um compromisso que é nos substituir da melhor maneira possível, e muito melhor do que nós fizemos. Está na mão de vocês, é o futuro de vocês e isso é assim, é que nem aquela passagem da corrida, que é passa o bastão, não é? A arte é passar o bastão. A arte não é só correr. A arte é passar o bastão. Eu espero que a minha geração saiba passar o bastão para todas as gerações que vêm depois de nós.
Muito obrigada.
Ouça a íntegra do discurso (15min30s) da Presidenta Dilma