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Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, durante almoço em homenagem à presidenta da Argentina, Cristina Kirchner

O evento aconteceu no Palácio Itamaraty

 

Palácio Itamaraty, 29 de julho de 2011

 

Obs: Por falha técnica, não foi gravado o início do discurso.

  

 ...toda a delegação argentina, ao cumprimentar o embaixador Héctor Timerman, ministro das Relações Exteriores, Comércio Internacional e Culto da República Argentina. E, através dele, reitero meus cumprimentos aos integrantes da delegação.

Queria cumprimentar o embaixador Antonio Patriota, ministro de Estado das Relações Exteriores, por intermédio de quem cumprimento todos os integrantes e ministros aqui presentes.

Queria também cumprimentar os senhores e as senhoras embaixadores acreditados junto ao meu governo,

Os senadores Ana Amélia Lemos e Cristovam Buarque,

Os deputados federais Arnaldo Jardim, Edson Silva, Márcio Costa Machado, Márcio Reinaldo Pereira e Roberto Policarpo Fagundes,

Cumprimentar os nossos representantes dos setores empresarial e acadêmico do Brasil e da Argentina aqui presentes,

Queria cumprimentar a nossa imprensa aqui presente, os nossos cinegrafistas, os nossos fotógrafos,

Senhoras e senhores,

Eu quero reiterar meus votos de boas-vindas que eu já expressei hoje para a presidenta Cristina Fernández de Kirchner, que nos honra com a sua presença aqui no Brasil.

 Nós, nos últimos anos, a partir do governo do presidente Lula e do presidente Néstor Kirchner, o Brasil e a Argentina desenvolveram relações extremamente próximas, fraternas, eu diria, e pautadas por um imenso respeito mútuo e, sobretudo, pela consciência da importância que os dois países têm, um para o outro. Por isso, a visita da presidenta Cristina Kirchner sempre se revestirá de um caráter especial quando vier ao Brasil, e agora mais do que nunca. Daqui a pouco nós estaremos presenciando a inauguração das novas instalações da Embaixada da Argentina aqui no Brasil.

Querida presidenta Cristina,

Nossos países mudaram muito, ao longo das últimas décadas, e eu tenho certeza de que mudaram para melhor. Nossas sociedades se democratizaram, nossas instituições se consolidaram. Tanto o Brasil quanto a Argentina superaram graves crises que se abateram sobre o continente, aquele continente até há pouco estagnado, paralisado e um local de desigualdades.

Nós fizemos um grande esforço: nós reduzimos nossa vulnerabilidade internacional, implementamos políticas externas soberanas, fortalecemos e privilegiamos a integração do Mercosul e, cada, vez mais, estabelecemos uma relação dinâmica com os países desta região e do hemisfério Sul.

No G-20, não expressamos apenas os interesses nacionais de nossos países, mas a voz de todos aqueles que são penalizados por uma globalização assimétrica e injusta. O próprio sentido do G-20 é a afirmação da necessidade de uma mudança em relação ao que era o mundo na época do G-7 ou do G-8, ou seja, dos “G” menores.

Nós temos certeza de que o resultado dessas transformações é que tanto o Brasil quanto a Argentina ganharam em qualidade. O processo democrático que passamos a viver intensamente inaugurou um círculo virtuoso de nosso relacionamento, no qual as pretéritas noções de rivalidade que tentaram sistematicamente estabelecer entre nós, e muito fomentadas no passado, foram completamente substituídas pela lógica da integração. Se impediam sistematicamente a integração de infraestruturas físicas, como é o caso das bitolas diferentes nas ferrovias, e é o caso também dos ciclos diferentes na área de energia elétrica, hoje nós entramos em fase de [integração] entre o Brasil e a Argentina, não por uma questão física apenas, mas pela vontade política e pela deliberada procura de uma relação de cooperação cada vez maior. E, sobretudo, da consciência de um conceito: nós somos sócios de um mesmo projeto de desenvolvimento da América do Sul. Somos sócios com uma característica especial: nós fazemos parte deste mundo globalizado, e sabemos que viver nele implica, necessariamente, perceber quando as assimetrias tradicionais e históricas recaem sobre nós e tentam reproduzir processos passados que nós superamos.

Com nosso esforço ao longo da história, com idas e vindas, somos países que - apesar da sua imensa riqueza mineral, apesar da sua riqueza em petróleo, apesar da sua riqueza agrícola, que todos nós reconhecemos e vamos sistematicamente aprofundar - nos industrializamos. Nós conseguimos esse feito, que foi: países periféricos que se industrializaram. Nós jamais perderemos essas conquistas que tivemos e que vêm do passado, do século passado e do retrasado, de alguma forma, para o Brasil e a Argentina.

Mas, nós fizemos, por nós mesmos, conquistas nesses últimos anos e delas temos de ter muito orgulho. Primeiro, temos, de fato, uma estratégia vitoriosa de desenvolvimento que consiste em perceber que é fundamental para qualquer processo de constituição de países fortes a existência de uma inclusão social nos ganhos do desenvolvimento, não só nos serviços de saúde, segurança e educação, mas, sobretudo, porque percebemos claramente que um dos maiores fatores de desenvolvimento de todos os países, ao longo da sua história - e quando esse desenvolvimento é sustentável - é a incorporação da sua população como cidadãos. E na nossa época não há cidadania sem instituir a condição de consumidor, não há cidadania sem criarmos oportunidades.

Se muitos países do mundo estão involuindo porque aumentam sua desigualdade, nós não. Nós estamos avançando. Porque, ao construirmos essa sociedade mais igual criamos, também, uma força econômica dentro dos nossos países, que é a força econômica que nos sustentou quando veio a crise internacional em 2008 e 2009.

Pois bem, hoje nós estamos em um momento em que a América Latina tem uma situação econômica, social e política diferenciada. Aqui, nós temos direção. Isso significa que nós temos um caminho a percorrer. É esse o caminho que nós temos muito claro entre Brasil e Argentina. Entre nós, o caminho só pode ser o caminho da cooperação. É perceber que, em que pesem todos os problemas eventuais que podemos ter, eles não passam disso – problemas eventuais. Porque o que nós temos de construir é a capacidade de transformar as nossas cadeias produtivas, nos tornando, uns dos outros, complementares; uns dos outros, dependentes; uns dos outros, sócios e parceiros. Essa, talvez, seja a grande tarefa que temos pela frente.

A presidenta Cristina fez um comentário que eu considero muito importante, na reunião extraordinária que tivemos hoje de manhã: ela disse que a gente tinha de aprender com a região que mais tinha avançado no desenvolvimento regional, que foi a Europa; tínhamos de aprender com os erros deles; tínhamos essa oportunidade histórica de aprender e olhar, com humildade, sem soberba, mas aprender como não fazer errado e como não transformar uma região em países mais desenvolvidos e menos desenvolvidos, em países com mais direitos e outros com menos direitos.

Acho que na reunião que tivemos em Lima e que, eu acredito, é um passo, uma mudança de patamar e de paradigma nas relações entre os países da América do Sul, a presidenta Cristina e eu assistimos a um momento histórico, que é o aumento da consciência a respeito da importância da nossa unidade para que nós possamos fazer face ao mundo e às condições deste mundo que vão, necessariamente, atingir todos os países.

Lá em Lima nós tivemos a oportunidade de cumprimentar o presidente eleito Ollanta Humala e, por proposta dele, fizemos uma reunião entre os vários países. Nessa reunião, nós tivemos uma proposta apresentada pelo nosso presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, no sentido de que nós devíamos tomar ações conjuntas e coletivas para fazer face a todos os percalços que essa conjuntura internacional – e aí eu não estou me referindo pura e simplesmente ao que vai acontecer ou não com o teto da dívida americana – eu estou falando da conjuntura, que implica necessariamente grandes fluxos de liquidez internacional, e implica também uma avalanche de produtos manufaturados a procurar local para serem consumidos, uma vez que há uma grande estagnação ou redução da demanda nos países desenvolvidos.

Nesse sentido, essas ações conjuntas, elas são fundamentais e servirão necessariamente para dar passo a passo; ninguém está achando que amanhã nós teremos uma solução mágica para como construir essa relação entre nós, que seja uma relação que impeça que as perversidades decorrentes da crise nos atinjam, mas ela terá de ser uma ação concreta, uma relação que nós iremos tomar com muito cuidado, que nós iremos olhar todas as suas consequências e fazer com que nossos países se fortaleçam.

Eu tenho muito orgulho de, neste dia, estar recebendo aqui a presidenta Cristina Fernández de Kirchner. Primeiro porque eu aprendi, nesse período, a respeitar a capacidade de formulação da presidente Cristina Kirchner, a imensa capacidade de se solidarizar com os países latino-americanos e a forma generosa como ela encara as relações com todos os países do continente.

Por isso, eu tenho certeza de que juntas nós vamos trabalhar por causas nobres, que vão do desenvolvimento científico e tecnológico, passam pelas nossas políticas sociais. Mas passam, sobretudo, por esse compromisso que nós temos com o desenvolvimento dos nossos povos, da nossa população; passam por esse compromisso histórico com um mundo de pessoas mais iguais, nas quais todos tenham a sua oportunidade.

Eu tenho certeza de que nós podemos construir vários processos em comum. Lá se vão duas décadas em que construímos um modelo único de cooperação pela paz e a segurança, que foi a Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle. Naquela época, onde esta consciência da importância do nosso relacionamento não era ainda tão forte, como eu tenho certeza que é hoje entre os nossos governos, nossos setores empresariais que estão nos dois países e que são, por isso, muito bem-vindos, nossos meios acadêmicos. Temos de avançar ainda muito, mas eu acredito que nós temos hoje, a nosso favor, a certeza de que já realizamos muita coisa em conjunto.

E, aí, eu queria cumprimentar a Cristina e, ao cumprimentá-la, queria lembrar sempre que o nosso saudoso Néstor Kirchner foi responsável pela estruturação, pela institucionalização da Unasul; foi responsável pelo fato de que o Brasil e a Argentina – junto com o presidente Lula – superassem as pequenas rivalidades e dessem um passo em direção a um projeto maior.

Eu tenho certeza de que soluções duradouras para nós só vão ser alcançadas com mais negócios, mais investimento, mais promoção comercial conjunta e mais aprofundamento da nossa integração produtiva.

Nós precisamos que os interesses empresariais, de lado a lado, sejam fortalecidos. Daí a importância que o Brasil atribui ao Conselho de Empresários Brasil-Argentina. Cumprimento todos os empresários aqui presentes, nesse contexto.

Nós também precisamos continuar promovendo nossos valores e interesses compartilhados pelo mundo afora. Acredito que Brasil e Argentina têm responsabilidade de assegurar que as decisões de fóruns de governança, como o G-20 financeiro, reflitam a visão e os pontos de vista do conjunto da comunidade internacional. Não podemos, nos grupos de deliberação dos quais fazemos parte, reproduzir as assimetrias do passado.

Em todos os temas da agenda global, Argentina e Brasil continuarão a caminhar juntos, coordenando posições para seguir reafirmando no mundo o nosso compromisso com a democracia, com os direitos humanos, com a liberdade e com a justiça social. Nossas sociedades não esperam menos de nós. Como disse a presidente Cristina: “Não se pode fazer menos, quando já se fez mais”.

É com esse espírito que proponho um brinde em homenagem à Presidenta e à amizade que une brasileiros e argentinos.

 

Ouça a íntegra do discurso (18min52s) da Presidenta Dilma.