Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, durante entrega do prêmio “As Empresas Mais Admiradas do Brasil”, oferecido pela revista Carta Capital
São Paulo-SP, 31 de outubro de 2011
Boa noite a todos.
Queria cumprimentar o governador Geraldo Alckmin e a senhora Lu Alckmin. E, de fato, Governador, fiquei muito feliz com as suas palavras. Temos tido, nesses dez meses em que eu sou presidente da República, uma parceria muito produtiva, do interesse dos paulistas, de São Paulo e de todo o Brasil.
Queria dizer ao jornalista Mino Carta, diretor de redação da revista Carta Capital, o quanto eu estou feliz de estar aqui, porque eu tenho admiração tanto pela sua conduta como pelo seu caráter e, sobretudo, pela sua capacidade de realização.
Queria cumprimentar, também, meu professor Luiz Gonzaga Belluzzo, consultor editorial da revista Carta Capital.
Cumprimentar as senhoras e os senhores ministros de Estado: Guido Mantega, da Fazenda; Garibaldi Alves, da Previdência Social; Aloizio Mercadante, da Ciência e Tecnologia; Ideli Salvatti, da Secretaria de Relações Institucionais; Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral; Helena Chagas, da Secretaria de Comunicação Social; Iriny Lopes, da Secretaria de Política para as Mulheres.
Queria dirigir também um cumprimento especial a outro parceiro republicano do governo federal, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.
Cumprimentar todas as senhoras e senhores deputados aqui presentes.
Cumprimentar o governador Cid Gomes.
Dirigir um cumprimento especial às lideranças empresariais e sindicais que estão aqui hoje. Às senhoras e aos senhores agraciados: empresários, líderes empresariais. E dizer que um país como o nosso tem de ter orgulho dos seus trabalhadores e dos seus empresários.
Hoje é uma festa em que nós comemoramos a existência no Brasil de segmentos empresariais, empresas e lideranças que têm descortínio, ousadia e visão.
Cumprimentar... Em especial, eu queria cumprimentar um líder empresarial, o Eike Batista, pelas palavras que proferiu aqui e pelo fato de que um empreendedor é sempre um exemplo de ousadia. Várias empresas aqui são grandes empresas; eu escolhi uma pessoa e não uma empresa porque eu acho que as pessoas aqui, os líderes empresariais, é que fazem a diferença nas suas empresas. E aqui nós estamos falando de pessoas e não de instituições. Então, meus parabéns a cada um dos empresários aqui presentes.
Queria também cumprimentar os representantes da imprensa, jornalistas, cinegrafistas e fotógrafos,
Cumprimentar aqui as senhoras aqui presentes. E aí eu queria cumprimentar uma empresária: a minha querida amiga e a quem eu respeito muito, a nossa querida Luíza.
Para mim, é um prazer estar aqui hoje participando da premiação às empresas mais admiradas do país e da celebração dos 17 anos da Carta Capital. Estar com os maiores empresários brasileiros, representantes da força da nossa economia, neste momento que antecede a minha viagem para participar da região... da reunião do G-20 em Cannes, na França, é no mínimo inspirador.
Eu queria dizer que é inspirador pelo que cada um dos empresários aqui presentes tem de um sobrevivente, qual um sobrevivente de um processo de seleção que foi o processo de seleção que ao longo dos últimos 20 anos tornou os empresários brasileiros extremamente experientes em matéria de crise, de sobrevivência, nas situações mais difíceis possíveis. E isso é muito inspirador diante do que ocorre no mundo. Não por uma soberba, em que nós olhamos para o mundo e dizemos: “ainda bem que não somos eles”, mas pela certeza de quem passou por enormes desafios e os superou.
Eu aproveito este momento também para dizer a vocês que eu visitei hoje o senhor presidente Lula, ex-presidente Lula, no Hospital Sírio-Libanês e quero dizer para vocês que eu o conheço de muito perto e tenho certeza que ele é um sobrevivente, um guerreiro e um superador de desafios.
Por falar em desafios, Mino, eu quero iniciar fazendo um reconhecimento ao sucesso da revista Carta Capital e à atividade profissional de seu diretor. Mino Carta tem, e nós todos aqui sabemos disso, uma trajetória ímpar. Porque todo projeto do qual ele participa torna-se uma publicação bem-sucedida e respeitada, mesmo que depois, a partir de um certo tempo, quando ele já criou, ele se afaste. Foi assim com a Quatro Rodas, com o Jornal da Tarde, com a Veja, com a IstoÉ e, agora, com essa filha dileta, da qual há 17 anos ele não se afasta, Carta Capital.
Mino Carta costuma produzir grandes triunfos jornalísticos e profissionais. O projeto da Carta Capital é sumamente importante para todos nós que acreditamos no papel estratégico da informação de qualidade, na construção de uma sociedade livre, democrática. Há alguns conceitos de Mino Carta sobre jornalismo que merecem ser destacados: Mino sempre diz que o jornalista e mesmo as publicações jornalísticas não estão errados se assumirem publicamente as suas posições em política, desde que respeitem, nos relatos que fizerem, a verdade dos fatos.
Nisso ele não está sozinho. Grandes publicações internacionais têm esse tipo de conduta e esse posicionamento. É o caso, por exemplo, do [The] New York Times. Ele defende ainda que o jornalista tem espírito crítico e que os jornais e revistas se qualifiquem para atuar como os fiscais de todo e qualquer poder. Carta Capital, coerente com esses princípios, nunca escondeu do leitor suas posições editoriais.
Senhores empresários, senhoras empresárias,
Meus amigos, minhas amigas,
O Brasil está vivendo, há mais de duas décadas, uma democracia plena, com liberdade de expressão e de imprensa sem restrições.
Daí porque nós hoje nos reunimos aqui, numa comemoração do aniversário de um órgão de imprensa e, ao mesmo tempo, uma homenagem às empresas mais admiradas e aos líderes mais admirados do Brasil.
Na semana que passou, nós demos passos decisivos para solidificar esse ambiente democrático que remonta ao surgimento do nosso Estado Democrático de Direito. As leis de acesso a informações públicas e a criação da Comissão da Verdade permitirão tornar o Estado brasileiro mais transparente, e o conhecimento da nossa história, sobretudo aquela construída nos momentos de exceção, durante a ditadura militar mais presente. A memória e a verdade são a garantia para que as gerações futuras possam dizer sobre aquele período: “nunca mais”. É apenas isso: memória e verdade.
O prêmio “As Empresas e os Empresários mais Admirados do Brasil” é o reconhecimento à excelência de seu trabalho. Reconhecimento tanto mais importante porque baseado na avaliação de seus pares, conhecedores dos desafios enfrentados no cotidiano empresarial e dos méritos em superá-los.
Essas empresas e empresários merecem respeito e admiração porque investem no Brasil, inovam no Brasil, criam empregos no Brasil e formam gerentes, trabalhadores, funcionários, que serão e que são a base do nosso modelo de desenvolvimento.
O vigor da nossa economia foi construído pela competência, pelo talento e pelo empenho de nossos empresários e de nossos trabalhadores. E é isso que integra a força política com que chegarei e chegaremos nós, representantes do Brasil, à reunião do G-20, na França.
Trata-se hoje, e todos os presentes aqui sabem, de uma reunião crucial, principalmente pelo momento em que ocorre: em meio ao esforço dos líderes da União Europeia e da Zona do Euro, para superar uma crise de grave profundidade e ainda de solução imprevisível.
Aliás, nós sabemos como é importante que as soluções não tardem, não demorem. Nós sabemos que é muito importante que tenhamos clareza dos problemas e possamos resolvê-los de imediato. A isso se chama eficiência em encarar desafios.
A demora da União Europeia em oferecer solução para as questões da sua dívida soberana e da fragilidade dos seus bancos, e de erguer muros de proteção a seus Estados que são solventes - apesar de hoje ilíquidos -, tornam os problemas mais graves.
Aliás, junte-se a isso os problemas do baixo crescimento em todos os países avançados, que está nos levando a uma situação de crise de confiança muito semelhante à de 2008, no que se refere aos países desenvolvidos. Recentemente, o mercado interbancário europeu paralisou-se e já se torna mais difícil e mais caro o financiamento das próprias transações comerciais.
Os países emergentes, que vêm sustentando o crescimento da economia mundial, não podem deixar de sentir os efeitos, mesmo que indiretos, dessa situação. Por exemplo, o encolhimento dos mercados avançados está contraindo o comércio externo, que é a base da atividade econômica internacional. A combinação de altas taxas de desemprego, redução do consumo e paralisia em algumas decisões, mina a possibilidade de recuperação e, por isso, tem levado ao desemprego e aos surtos de reação popular e à desesperança no cotidiano de muitas famílias.
O Brasil está sendo menos atingido por essas turbulências, graças ao peso do nosso mercado interno, à diversificação geográfica do destino de nossas exportações, à solidez das nossas contas públicas e também ao nosso setor financeiro. Nós sabemos que, se a crise se agravar, a economia brasileira sofrerá alguns dos efeitos da recessão global, mas temos todos os instrumentos para resistir e proteger nosso mercado e nossos empregos.
Nós estamos fazendo a nossa parte ao sustentar o crescimento, a despeito da ameaça de recessão global. Sabemos, a partir da nossa própria experiência, que na ausência de crescimento é impossível alcançar efetivamente a sustentabilidade fiscal. O avião não voa. Temos demonstrado que é possível crescer com as contas públicas equilibradas ao mesmo tempo em que se prioriza a geração de melhores empregos, a agregação de valor, a inovação tecnológica e uma maior igualdade de renda.
Hoje dispomos de US$ 350 bilhões em reservas internacionais. Cumprimos com rigor nossas metas de superávit primário; a inflação começa a ceder e as projeções do mercado já indicam que a meta de 2011 será cumprida.
Estamos criando ambiente para a queda sustentada dos juros. Em setembro, foi registrado um recorde histórico no ingresso de investimentos produtivos no Brasil. Nos primeiros nove meses do ano, o montante já investido no país ultrapassa US$ 50 bilhões, sinal, pelo menos, de confiança dos nossos investidores externos no país e nos nossos indicadores econômicos.
O grande interesse de empresas internacionais em se instalar no Brasil ou ampliar suas atividades aqui se deve, claro, à expectativa de bom retorno do investimento e, sobretudo, à consciência – generalizada em todos os países do mundo – do mercado interno poderoso que continua crescendo, apesar da cautela necessária, imposta pelas ameaças da crise mundial.
Segundo projeções do Fundo Monetário, ainda este ano o PIB brasileiro vai ultrapassar o do Reino Unido e nós seremos a sexta maior economia do mundo. Mas isso não é relevante e pode oscilar. O fato é que o crescimento brasileiro é algo que não há nenhum país do mundo que coloque sobre ele alguma suspeita. Sabem que é um crescimento sustentável e contínuo, baseado na inclusão de grandes segmentos da população na classe média, fortalecendo o consumo doméstico e criando um poderoso mercado em nosso país. Sabemos que de 2003, no início do governo do presidente Lula, até hoje, em torno de uma Argentina integrou o mercado consumidor brasileiro.
Por isso, minhas amigas e meus amigos, a posição que o Brasil levará a Cannes é que o G-20 deve agir propondo tanto medidas financeiras urgentes e emergenciais como também um plano de sustentação do crescimento e do emprego. Cabe ao G-20 ajudar a restabelecer a confiança no retorno do crescimento, em especial das economias desenvolvidas, porque nós somos capazes de fazer a nossa parte por nós mesmos.
Como já disse, e vou insistir, inegavelmente a solução imediata, apesar de ser responsabilidade dos países avançados e, neste momento, particularmente, dos europeus, não pode fechar os olhos para o fato de que se todos fizerem ajustes recessivos, a situação de recessão será uma profecia autorrealizável. Estímulo ao crescimento, ao emprego e à melhoria de vida das populações de todos os países do mundo é também um dos bons instrumentos para que possamos, de fato, superar e controlar a crise.
Estou convencida de que esse foco no crescimento, com redução de desigualdades, com políticas fiscal e monetárias responsáveis são parte essencial da solução para a atual crise global.
Nós vamos deixar claro na reunião do G-20 que não acreditamos que a crise será efetivamente superada com guerra cambial e com a velha receita, pura e simples, da recessão e do desemprego. Investir no crescimento e no emprego não é uma escolha ideológica, é uma opção pela eficiência e pela certeza de que nós, assim, teremos respaldo para que o mundo saia desta crise que hoje já é de proporções parecidas, senão piores, com a de 1929.
Encerro fazendo mais uma homenagem: uma homenagem à Carta Capital, uma homenagem aos empreendedores e aos líderes empresariais aqui presentes.
Encerro também fazendo uma homenagem a uma liderança política. Presto um sincero tributo ao estadista brasileiro e mundial que percebeu, lá em 2008, que a maneira mais eficiente de enfrentar a crise internacional que explodia, naquela época, em Wall Street, e começava a contaminar o planeta, era com investimento, desonerações tributárias, apoio dos bancos públicos, estímulo ao consumo e ao crescimento econômico. Foi graças a essa visão estratégica de estadista, de Luiz Inácio Lula da Silva, que o Brasil foi o primeiro país a sair daquela fase da crise e reúne hoje condições de enfrentar novas ameaças com segurança e estabilidade.
O presidente Lula nos legou uma receita de desenvolvimento que continuaremos perseguindo: fazer dos nossos 190 milhões de brasileiros e brasileiras cidadãos efetivos, com direito ao consumo, ao trabalho, à qualificação profissional, à pesquisa, à ciência, à tecnologia, à inovação e à renda. Essa é a nossa verdadeira riqueza.
Parabéns mais uma vez aos empreendedores e aos empresários premiados. Nós sabemos que esse país cresceu e evoluiu baseado na capacidade sistemática de superar desafios. Por isso, eu tenho certeza de que nós saberemos perfeitamente, juntos, superar mais esse.
Muito obrigada.
Ouça a íntegra do discurso (23min01s) da Presidenta Dilma