Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, durante Seminário Empresarial: Desafios e Oportunidades de uma Parceria Estratégica
Paris-França, 12 de dezembro de 2012
Eu queria cumprimentar, e é para mim uma honra cumprimentar a presidente do Medef, Laurence Parisot. Queria cumprimentá-la porque também não é usual que uma mulher presida uma federação das indústrias de um país desenvolvido, como é a França. Também imagino todo o esforço, toda a disposição, a determinação para se chegar a essa posição.
E gostaria de dizer que, para mim, é um orgulho estar aqui, tanto pelo fato de se tratar de uma das mais renomadas confederações de indústria como também pelo fato da Laurence presidi-la. Fico muito feliz, Laurence.
Queria também saudar o ministro da recuperação produtiva Arnaud Montebourg,
Os senhores ministros de Estado e os integrantes da minha delegação, juntamente com os ministros que eventualmente estejam aqui na França.
Queria cumprimentar também um grande amigo e uma pessoa importante no Brasil, que é o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade.
Queria cumprimentar os meus queridos bolsistas do Ciência sem Fronteiras, e pedir para vocês estudarem muito, porque nós estamos fazendo... nós estamos tendo um grande empenho na formação de vocês.
Queria também saudar os profissionais da imprensa, os jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas aqui presentes.
Eu queria começar dizendo que eu fiquei muito impactada pela lista de franceses ilustres – e agora de uma francesa também ilustre – que contribuíram muito, que pensaram, que olharam o Brasil com outros olhos.
O Brasil, quando foi descoberto, foi objeto – junto com os outros países da América Latina – de inumeráveis sonhos dos europeus que aqui chegaram. Nós éramos vistos como o país do eldorado - ou seja, do ouro, do diamante, da prata -, e também, de uma forma muito especial, como a fonte da juventude.
Esses sonhos, que cercaram nos anos de 1500 a descoberta do nosso país, sempre estiveram amortecidos e também um europeu viu o Brasil como o país do futuro. Um país do futuro que nunca chegava.
Por isso, eu acredito que o esforço que o Brasil vem fazendo é para tornar realidade esse potencial que sempre enxergou-se no Brasil – um potencial de riquezas que tem que ser realizadas, de oportunidades que têm de ser agarradas e, sobretudo, de desafios que temos de enfrentar.
Por isso, eu queria dizer a vocês que nesse imenso desafio, nessa imensa trajetória que tem sido transformar, de uma forma acelerada, o Brasil de um país que tinha déficits de desenvolvimento fantásticos tanto do ponto de vista social como do econômico, a parceria com a França, ela é muito importante. Não só porque vocês nos enxergaram, e eu acho interessante o fato de ser uma frase do Comte que está impressa na nossa bandeira “Ordem e Progresso”. E acredito que nós tenhamos um destino comum nessa parceria.
Por isso, ao cumprimentar a presidente Parisot, eu agradeço esse convite que me foi feito para o encontro entre Brasil e França, nesse momento em que eu faço uma visita de Estado pela primeira vez como presidente da República, aqui.
Eu tenho a convicção que a estreita cooperação entre as empresas do Brasil e da França se torna cada vez mais estratégica. Tanto diante da aceleração... da desaceleração, aliás, da economia mundial quanto, também, diante do mundo que vai emergir após a crise. Até porque, esse mundo, ele começa a ser feito, a ser definido, a ser construído desde agora, pelas políticas, pelas ações, pelas iniciativas que nós formos efetivando de agora para frente. Daí a importância de nós reforçarmos e ampliarmos a parceria entre nós, em todas as dimensões.
Mas hoje, aqui, eu queria falar praticamente e particularmente da dimensão econômica. Nós sabemos que nós temos uma relação, um intercâmbio comercial bastante significativo porque ele cresceu 40%, de 2007 até 2011.
Mas nós devemos também olhar que ele tem um desempenho não muito significativo, considerando todo o potencial que tenha entre as nossas duas grandes economias. E isso significa não só aumentar a nossa relação, mas reequilibrá-la, reduzindo o deficit e também buscando uma maior diversificação da nossa pauta de exportações.
Para isso, nós temos de nos empenhar. Não é possível que, pura e simplesmente, nós deixemos as coisas ao sabor dos acontecimentos. Agora, também sabemos que a verdadeira integração, ela vai além do comércio.
Nós precisamos intensificar os investimentos recíprocos entre os nossos países, isso em setores estratégicos. E existem muitos setores estratégicos e setores nos quais nós podemos, inclusive, não só ampliar no sentido horizontal, mas intensificar a nossa cooperação.
Nós sabemos, por exemplo, que a França foi o quinto maior investidor no Brasil em termos de fluxo, mas, mesmo considerando o montante e a diversidade dos setores onde há investimentos franceses no Brasil – como telecomunicação, geração e transmissão de energia, ferrovia, hipermercado, automóveis, química, farmacêutica, siderurgia, proteínas animais -, nós sabemos que ainda temos um potencial a explorar, e, mais do que explorar, a buscar um grau de efetivação maior do que obtivemos até agora, principalmente em áreas como aeroespacial, mineração, alimentos, enfim, todas as áreas que vão se tornar, no Brasil, estratégicas.
O Brasil, por sua vez, também tem investimentos na França, e investimentos crescentes para um país que até há pouco era um país que só recebia investimentos nos setores como aviação, mineração, cosméticos, sapatos, serviços em geral.
Por isso, há um grande potencial que nós podemos desenvolver, e o Fórum Econômico Brasil-França, que eu e o presidente Hollande lançamos nesta visita, oferece um novo impulso a essa cooperação.
Por isso, este seminário é muito oportuno pois, não só, nós vamos refletir sobre a crise, mas também vamos buscar propor as novas oportunidades que essa própria crise nos abre.
E sem sombra de dúvida, nós temos de ter a certeza que a cooperação é um dos mecanismos pelos quais nós sairemos da crise – maior cooperação econômica, maior comércio, maior aproveitamento de nossas oportunidades de investimento.
O Brasil tem um verdadeiro mantra, é que crescimento se faz com criação de empregos, distribuição de renda porque isso é absolutamente essencial.
Nós temos essa firme convicção porque no passado o Brasil já cresceu a taxas significativas para uma parte muito pequena do seu mercado. No período de [19]70, [19]80 nós concentramos renda, criamos um mercado concentrado e produzimos para um mercado que era um percentual que equivalia a menos de 40% de todos os brasileiros e brasileiras.
Nós, então, estamos convencido que esse é o modelo que leva o Brasil a capitalizar uma das suas características mais importantes: de ser um país continental, com riquezas naturais e de ter um mercado que é representado por sua população que hoje chega a 190 milhões de brasileiros. Esse é um grande, um enorme fator de... que pode alavancar o nosso crescimento.
Nós também superamos algumas falácias, algumas contradições falsas que impuseram-se no nosso caminho. Por exemplo, a oposição entre estabilidade macroeconômica e controle do crescimento. Você tinha de ficar se estabilizando e depois você controlava... você expandia o crescimento. O que se verificou é que com o controle de gastos... Sim, com bastante controle de gastos, mas, também, com impulsos e estímulos fiscais para o crescimento nós podemos compatibilizar crescimento com distribuição de renda, crescimento com estabilidade macroeconômica, crescimento com controle e com qualidade no gasto público.
Nós sabemos, e essa é uma discussão que está colocada pelo fato da crise ser uma presença internacional na medida que ela afeta o ritmo de crescimento de todas as economias, nós sabemos que o corte de gastos, a política monetária exclusiva e a retirada de direitos, elas não podem e não devem ser as respostas para a crise, até porque não resolvem as questões da dívida bancária e da dívida soberana. E, muita vezes – como até o próprio Fundo Monetário reconheceu -, a austeridade por si só provoca mais recessão, mais desemprego.
E esse é um reconhecimento importante, porque, nas duas décadas que nós tivemos um ajuste fiscal fortíssimo, ninguém reconhecia que nós não estávamos indo para lugar nenhum quando aumentava a desigualdade, o desemprego e a falta de esperança nos países da América Latina, em especial no Brasil.
Eu acredito que é importante fazer consolidação fiscal, mas que essa consolidação fiscal, ela só é feita de forma adequada quando ela se dá em um quadro de crescimento. Caso contrário, ela envolve um nível de desgaste social, de perda de direitos, de desestruturação econômica, de perda de capacidade de fazer projetos, de fazer investimentos, que é danosa para a economia, além de criar a desesperança, o que, do ponto de vista da estabilidade política, eu acredito que não seja o melhor sentimento nas populações de todos os nossos países.
E por isso nós falamos porque tivemos uma experiência grave, que foram as nossas duas décadas de recessão. Quando me perguntam por que o Brasil teve tanta dificuldade de retomar o crescimento econômico, no que se refere ao investimento em infraestrutura, eu respondo para vocês que, se você tiver um quadro recessivo de duas décadas, os engenheiros que vocês tem passam a trabalhar nas tesourarias dos bancos ou das grandes empresas, ou, como dizia um humorista brasileiro, passa a vender sanduíche na praia.
Não é algo que de retoma facilmente a perda da força e da convicção do crescimento econômico em uma sociedade. Isso implica em capacidade de fazer projetos, em capacidade de pensar a longo prazo, em capacidade de ter estruturas de financiamento adequados.
Por isso, quando nós estamos falando da crise, nós não estamos falando de algo que nós não conhecemos. Nós conhecemos e bem. É óbvio que ela assume características diferenciadas, mas o receituário parece-se muito. O receituário da austeridade é muito similar.
Eu queria dizer aos senhores que o meu país vem fazendo a sua parte nesse esforço para retomar o crescimento não só na nossa zona, mas contribuir para o crescimento internacional. Nós estamos saindo de um processo que é muito parecido, mas com níveis diferentes ao que aconteceu conosco em 2009. Em 2009 nós, talvez, tenhamos sido o último país a sair da crise. Naquele momento, no governo do ex-presidente Lula, nós tivemos, em 2009, uma queda de menos 0,9% no nosso... no crescimento do nosso Produto Interno Bruto. Aquele foi um momento de crise aguda, derivado do risco sistêmico decorrente da queda do Lehman Brothers. Nós não vivemos na conjuntura de metade de 2011 e 2012 um risco similar, mas tivemos uma, o que eu chamo de uma mudança, nós cronificamos a crise. Ela, tanto por efeitos aqui da zona do euro, mas também do que ocorreu nos Estados Unidos que levou ao chamado abismo fiscal, nós tivemos momentos de grande restrição no crescimento econômico internacional. Inclusive porque isso atingiu os países emergentes – é o caso da China, que reduziu sua taxa de crescimento e também é o caso do Brasil.
Nós estamos com políticas de estímulos fiscais, de competitividade e de investimento em infraestrutura, em educação, ciência e tecnologia, fazendo um grande esforço para retomar e para acelerar a nossa atividade econômica.
Nós temos algumas vantagens. Nós estamos partindo de um nível de emprego que está em patamares muito elevados. O desemprego no Brasil atingiu, talvez, uma das suas menores taxas. E nós aumentamos significativamente a renda dos trabalhadores e nós saímos de um momento em que vivemos uma grande transformação social, que se inicia em 2003 com o governo do ex-presidente Lula, porque nós implementamos uma política de aumento do emprego e de programas de transferência de renda e de aumento do crédito.
Nós criamos, como eu disse ontem na Fundação Jean Jaurès, no ano de 2011 e 2012, mesmo diante da crise, 3,7 milhões de empregos formais. E isso vem assegurando um quadro de renda e de, eu diria, de mitigação dos efeitos da crise sobre nós.
Além disso, garantiu uma coisa muito importante em uma economia que é a mobilidade social, até porque o Brasil pretende ser e se transformar em um país de classe média. Por um país de classe média se entende não apenas um país que tenha padrões de consumo baseado naqueles de bens e serviços da classe média, mas também um país que se comprometa com uma palavra muito importante que é oportunidades. Oportunidades iguais significa, sem olhar origem racial, gênero, sem levar em consideração o sobrenome das pessoas, assegurar a todos os brasileiros e brasileiras as mesmas oportunidades, porque esse é o fundamento de um país democrático.
Nós, nos últimos anos, tivemos vários sucessos nessa transformação do Brasil. Primeiro, nos últimos dez anos, nós criamos 17 milhões de empregos. Isso, combinado com o nosso programa de elevação da renda dos mais pobres, permitiu que 40 milhões de brasileiros, praticamente um país do tamanho da Argentina, chegassem à classe média, com tudo o que provoca de força econômica em um país.
Hoje, nós temos 105 milhões de mulheres e homens que estão nessa categoria, de classe média, no Brasil. Pela primeira vez, somos 55% dos brasileiros da chamada, o que nós chamamos classe C – a nova classe média brasileira.
E por isso o Brasil foi o terceiro maior mercado mundial de computadores pessoais e o quinto maior mercado de telefones celulares. Mais de 61 milhões de brasileiros, por exemplo, têm acesso à internet e nós acreditamos que esse número será extremamente maior até 2014.
Nós somos hoje o quarto maior mercado de consumo de alimentos, bebidas, automóveis e motocicletas e, também, da chamada linha branca. Nós estamos fazendo também um processo muito significativo. Nós queremos que o Brasil seja um país sem miséria absoluta. E para isso, este ano de 2012, através de uma política que nós chamamos, que é complementação do Bolsa Família, mas que está focada em jovens até 15 anos, nós retiramos 16 milhões de famílias da linha de pobreza extrema.
Por isso é que eu acredito que nós temos um desempenho muito importante na conformação do mercado de massa no Brasil. Porque o centro do nosso modelo de desenvolvimento é que nós tenhamos podido retomar o crescimento econômico e ao mesmo tempo distribuindo renda e garantindo equilíbrio macroeconômico.
A nossa inflação está sob controle, a nossa dívida pública é 35% do PIB e as nossas reservas cambiais são de US$ 378 bilhões. Essa redução da vulnerabilidade externa e o crescimento do mercado interno ajudam a explicar a atração exercida... que o Brasil exerce sobre o investimento estrangeiro. O investimento direto externo no Brasil atingiu, em 2011, US$ 66,7 bilhões. E até setembro deste ano nós estamos com US$ 63,8 bilhões.
Hoje nós somos credores globais. Nós, que em 2002 tínhamos as nossas reservas baseadas no empréstimo que o Fundo Monetário nos fazia. Agora, nós emprestamos para o Fundo Monetário. O que é algo muito importante para a configuração da segurança do Brasil no que se refere a sua exposição ao mercado financeiro internacional.
Mas nós temos um grande desafio. O Brasil tem um grande desafio. E esse desafio é desenvolver a nossa competitividade. As nossas federações das indústrias, a Confederação Nacional da Indústria brasileira, tem desenvolvido estudos e sugestões, junto com o governo, na área da competitividade.
Por isso, nós ficamos muito interessados no Pacto pela Competitividade proposto pelo Louis Gallois, que eu falei ontem no Seminário Jean Jaurès e não entendi porque o pessoal ria, aí descobri que era porque ninguém sabia que a gente tinha lido o Louis Gallois.
Por que nós achamos interessante? Porque tem pontos comuns, apesar da diferença entre nossas economias, entre o que pensa a nossa indústria e o nosso governo e o que pensa o governo francês e o empresariado francês.
Ficamos muito satisfeitos, porque achamos que essa questão, ela é crucial como o caminho de saída da crise. O caminho que constrói, o caminho que cria futuro e o caminho que também preserva direitos sociais e preserva as suas conquistas sociais. O Brasil não abre mão das suas.
Nós, por isso, estamos tendo uma grande preocupação em reduzir o custo que significa produzir no Brasil, mas não é o custo Brasil tradicional. Nós queremos é competitividade. É completamente diferente do que aquela época em que olhavam para nós e falavam: “O custo do Brasil é porque a dívida soberana do Brasil está 2.153 pontos acima do que pagam as notes americanas”. Isso não é nosso problema mais. Ninguém que tem US$ 378 bilhões tem esse tipo de problemas – graças a Deus e a nós mesmos.
Mas são medidas que dizem respeito à forma pela qual nós queremos que a nossa economia seja. Nós queremos uma economia flexível, capaz de gerar inovação, capaz de, junto com a sua sociedade, gerar ciência, gerar tecnologia para o país.
Nós queremos uma economia desburocratizada, e nós estamos empenhados em resolver também os gargalos da nossa infraestrutura, gargalos históricos, gargalos que advém de 20 anos de políticas exclusivas de austeridade.
Eu, quando cheguei à ministra-chefe da Casa Civil do Brasil, que é uma ministra que faz a coordenação dos outros ministros no que se refere à ação administrativa, eu tive, por exemplo, momentos iniciais em que, no Brasil, diante de um desafio imenso que é a área de saneamento, o Fundo Monetário nos deixava investir R$ 500 milhões. O que não é mais do que US$ 250 milhões. US$ 250 milhões nós investimos numa cidade média no Brasil hoje em matéria de saneamento. Isso para dar uma ideia de onde nós saímos e onde nós estamos. Agora eu sei que esse investimento às vezes não era feito porque o Brasil não tinha projetos. Porque ninguém faz projetos quando, durante 20 anos, não tem recursos para investir.
Por isso, nós hoje estamos numa nova fase. Nós, agora olhamos o Brasil e procuramos solucionar seus gargalos sistêmicos. Mas transformar isto num momento muito importante. Um momento em que nós buscamos resolver ao mesmo tempo as condições de crescimento do Brasil no curto, no médio e no longo prazo. Por isso é importante a redução do custo de capital.
Nós tínhamos uma das taxas de juros mais elevadas do mundo. E agora estamos caminhando por uma trajetória... uma trajetória bastante prudente no sentido de convergir essa taxa para os patamares internacionais. Isso também tem permitido que nós tenhamos uma redução da valorização de nossa moeda. Isso significa custos menores para o investimento. Significa, também, que nós não estamos tendo uma canibalização da nossa indústria, uma vez que nós consideramos que a indústria, junto com o investimento e a infraestrutura, são os elementos estratégicos para que o Brasil mude seu patamar e se torne, cada vez mais, uma economia que possa de fato dobrar a sua renda per capita num horizonte de até 20 anos.
Nós também atuamos sobre o custo de trabalho, principalmente através de nossa estrutura tributária, que era distorcida e que penalizava a folha de pagamento. Nós também queremos construir um ambiente extremamente seguro e amigável para um investimento privado. Achamos que tanto investimento privado de por si e também parcerias públicas e privadas, elas são essenciais para resolver os gargalos na nossa logística.
Eu estive, antes de chegar aqui, com a União Internacional de Ferrovias. O Brasil será o país, um dos países – eu acredito que além da China -, seremos um dos países que mais terão de investir em ferrovia. Nós somos um país continental. Nós não podemos nos dar o luxo de transportar tudo por rodovias, e temos de fazer uma integração muito produtiva dos nossos modais – não só modal ferroviário, como aquaviário, o rodoviário e o aeroviário.
E, sobretudo, temos de ter uma imensa atenção, uma imensa dedicação com os nossos portos. Reduzir os gargalos é uma forma de dizer que nós queremos tornar mais eficiente na atividade produtiva toda a estrutura de distribuição de produtos.
É disso que se trata, e isso, para nós, hoje é, eu diria, o nó górdio, que nós temos de cortar para que o país cresça. Por dois motivos, não só pelos serviços que vão prestar, mas pela taxa de investimento que implica em colocar dinheiro em infraestrutura e beneficiar também o crescimento da nossa indústria.
Nós, com 5 mil quilômetros que já temos definidos no Programa de Aceleração de Crescimento quando nós começamos a investir em ferrovias – depois de 20 anos -, nós agora definimos mais 10 mil quilômetros de ferrovias em um sistema muito razoável, porque assumimos o risco de demanda.
Além disso, amanhã, nós estaremos dando um passo decisivo porque o trem de alta velocidade, que será licitado em dois momentos, começa a ter a sua licitação de tecnologia – se licita a tecnologia a ser adotada e o operador, e, na sequência, se escolhe e se licita a construção.
Nós também estamos reduzindo o custo da energia elétrica, porque somos um país hídrico e o tempo de amortização das nossas usinas hidrelétricas é menor do que o tempo de vida delas. Uma usina hidrelétrica, nós não sabemos ainda direito quanto dura, mas são senhoras bastante idosas, que, geralmente, duram acima de 100 anos, com um nível de investimento muito baixo no que se refere à sua repotencialização.
Por outro lado, uma das questões principais para nós é educação. Nós acreditamos que a educação é a base e a prioridade quando se trata de melhorar duas coisas, de dar estabilidade às conquistas sociais, quando você tira da miséria, você tem de dar um caminho – para os adultos é emprego, mas para os jovens e as crianças é educação. Educação da creche à pós-graduação.
No caso aqui eu vou falar basicamente da importância que para nós tem dois programas. E o mais importante é que esses programas são feitos em parceria com a indústria no Brasil. E aqui eu queria destacar o Pronatec, que é o programa... nosso programa de formação tecnológica de ensino técnico profissionalizante de melhoria da qualidade do emprego.
Tanto o Ministério da Educação, através da ampliação das escolas de ensino médio profissionalizante e dos institutos tecnológicos federais, como a indústria através da Confederação da Indústria, que tem um dos melhores serviços de formação profissional do Brasil, que é o Senai. Nós estamos numa parceria para formar 8 milhões de... entre jovens, estudantes e trabalhadores até 2014. Essa parceria, ela é importante. Ela significa, não só uma ampliação do número de vagas da indústria, por exemplo, nos serviços formadores de mão-de-obra da indústria, mas também, uma parceria no sentido de aprimorá-los. Por isso, o Brasil também financia a CNI que hoje constrói laboratórios – se eu não me engano 81 laboratórios – em que se formam profissionais para a indústria brasileira. E se interioriza essa formação por todo o país. Então, eu considero esse um programa estratégico no que se refere a melhoria da competitividade do Brasil junto com o Ciência sem Fronteiras.
Justamente como eu disse para vocês, o Brasil tinha uma destinação para os seus engenheiros que não era propriamente a área produtiva. Os engenheiros brasileiros eram, geralmente, contratados na área financeira. Hoje nós precisamos de engenheiros, nós precisamos de cientistas... das chamadas ciências exatas, precisamos de físicos, matemáticos, biólogos, químicos, precisamos de engenheiros na área de computação, das ciências médias, para produzir tecnologia da informação, ciência da computação, enfim. O Ciência sem Fronteiras é um programa do Brasil na área de ciências exatas. É isso que o Brasil financia. O Brasil financia 101 mil vagas. Dessas 101 mil, 75 mil são patrocinadas pelo governo e 6 mil pela indústria, aliás, 26 mil. Fiquem calmos, às vezes, a gente erra um número... 26 mil pela indústria.
E é importante que eles falem porque, de fato, é muito significativa essa nossa outra parceria com o setor privado brasileiro. E ela tem por objetivo justamente construir cada vez mais essa massa crítica que é o conhecimento dos jovens que vão se formar nas melhores universidades do mundo.
De uma certa forma, nós reprisamos o que fizemos na área agrícola, no passado, quando formamos no exterior pesquisadores da área agrícola e da agropecuária e formamos a Empresa Brasileira de Pesquisa Agrícola, que é responsável pelo sucesso do Brasil no que se refere à produtividade no setor agrícola e no setor de produção de proteínas animais.
Eu queria dizer também que, na área de petróleo, nós iremos fazer duas licitações: uma licitação em março e outra em novembro. Essa síntese que eu fiz para os senhores, ela evidencia que, por um objetivo de elevar o nível de desenvolvimento do Brasil, é necessário aumentar a taxa de investimento no Brasil. É necessário e esse aumento se dará – eu repito mais uma vez – centrado em dois grandes movimentos: o movimento pelo investimento em infraestrutura e o movimento pelo investimento na indústria manufatureira.
O Brasil não vai ser só um exportador de commodities. Nós vamos continuar sendo exportador de commodities porque exportar commodities, no mundo de hoje, é algo muito importante. Nós seremos sempre uma potência alimentar, uma potência mineral, e queremos também ser uma potência na área de manufatura.
Por isso é que eu acredito que esse cenário permite um patamar de cooperação entre o Brasil e as indústrias francesas - tanto no que se refere a infraestrutura, indústrias intermediárias, bens de capital e manufatureiras em geral – nunca dantes ocorrido no Brasil. Nunca nós tivemos um momento, uma conjuntura tão favorável a essa cooperação.
E eu queria dizer para os senhores que nós somos um país que quer crescer respeitando também o Meio Ambiente. Para nós, isso é um valor fundamental. Primeiro, porque queremos a nossa matriz renovável. Nós somos um dos países com a matriz elétrica mais renovável do mundo. E a matriz de combustíveis, também, por conta do etanol. Na matriz elétrica por conta da hidroeletricidade, na de combustíveis, por conta do etanol. Não tem um carro brasileiro que não anda movido a etanol. Pelo menos 20%, hoje.
E chego à Copa do Mundo de [20]14 e às Olimpíadas de [20]16. Obviamente, nós temos a ambição de ganhar a Copa do Mundo de [20]14, porque da última vez... da última vez nós chegamos na final e nos últimos cinquenta minutos... na prorrogação, perdemos a Copa para o Uruguai em 1950. Esse é um trauma nacional. Então, temos essa ambição.
Mas nós queremos, fora dos estádios, ter a mesma competência que temos dentro dos estádios. Isso significa estádios, significa todo um receptivo, segurança e significa um volume de investimentos muito significativo.
Eu, inclusive, volto para o Brasil, da Rússia, porque daqui eu vou para a Rússia e paro domingo, para inaugurar um dos estádios da Copa. Lá em Fortaleza, no extremo... ali na quina que o Brasil faz bem mirando o Oceano Atlântico. Iremos inaugurar o primeiro estádio da Copa das Confederações, que é em Fortaleza.
E, eu acredito que existam também nesta área muitas oportunidade de negócio no Brasil. Nós queremos dizer que o fato de nós estarmos ampliando as nossas relações comerciais e de investimento na América Latina, com a África, com os Brics, com a Ásia e com o Oriente Médio, não significa que nós diminuímos as nossas relações ou nosso interesse com nossos parceiros tradicionais que foram sempre os Estados Unidos e, principalmente, nos últimos anos, a União Europeia com quem a nossa... em conjunto com quem a nossa... a participação no nosso comércio foi mais significativa nos últimos anos, mas, infelizmente, começa a perder para a China.
Eu quero deixar para vocês uma imensa... uma palavra, primeiro uma palavra, muito otimista e positiva no diálogo entre nossos países e entre nossos empresários, entre nossas economias. Eu queria dizer que, não só governos e não só empresários, mas todos os atores sociais, eles contribuem para que as relações entre os países sejam relações muito fortes e sejam alianças que todas as duas partes ganham.
E é isso que nós podemos hoje. Nós podemos ganhar os dois países com o nosso relacionamento. Nossa relação bilateral hoje, ela se desenvolve com um grau de amadurecimento muito significativo. Esse grau de amadurecimento, eu acho que ele decorre de uma disposição recíproca para enfrentar os problemas e resolvê-los - problemas sempre ocorrem nas relações entre os países, e nós temos de estar preparados para eles.
Mas eu tenho certeza de que, para além dos problemas, é uma postura, é uma atitude na qual o Brasil deixa claro que olha, de uma forma absolutamente otimista, o futuro, e olha de uma forma extremamente amigável a sua parceria com a França.
Essa forma amigável, ela parte também de um princípio do Brasil. Nós fomos, ao longo dos tempos, objeto de olhares muito arrogantes e de superioridade muito pretensiosa – e eu não estou me referindo em nenhum momento à França. Mas nós fomos um país colonizado, e vocês devem entender que aprendemos, ao longo da nossa história, que as relações, elas só são profícuas, quando se dão no mesmo nível, quando prevalece o diálogo, mas, sobretudo, quando os interesses comuns estão baseados em ganhos reais.
Nós queremos ganhos reais para os nossos parceiros franceses. Nós queremos que eles compartilhem dessa extraordinária, eu vou dizer, dessa extraordinária aventura, que nós recolocamos no século XXI, que foi inicialmente pensada no século XVI - em 1500, quando fomos teoricamente descobertos -, que, de fato, eu acredito que o país é hoje, no presente, o país do futuro. E podemos, de fato, estabelecer uma forma de convívio no qual essa parceria se dê no presente, mas também se estruture para que nós tenhamos um mundo multipolar, que viva em paz, que veja, nas atividades produtivas e nas atividades empresariais, a melhor forma de diálogo e de aproximação.
Muito obrigada.
Perguntas dos empresários:
Empresário: _____
Presidenta Dilma: Como eu disse, nós estamos em um momento especial porque nós agora retomamos a nossa capacidade de fazer projetos, mas eu acredito que nós temos alguns problemas. Eu elencaria quatro dificuldades principais que existem no Brasil, e quero explicar como estamos resolvendo essas dificuldades.
A primeira dificuldade, como eu disse a vocês, nós ficamos vinte anos sem investir na área de infraestrutura, e, portanto, enfrentamos uma ausência de carteira, de portifólio de projetos na maioria das áreas, o que aumentou o tempo, o ciclo de execução das obras.
Agora, nós estamos em um momento diferenciado, porque dividimos a responsabilidade pelos projetos. Na área de energia elétrica, por exemplo, hoje, as licitações são feitas com um projeto muito... um estudo de viabilidade técnica e econômica. E o projeto executivo e o projeto básico ficam a cargo do investidor, o que divide, de uma certa forma, o tempo necessário para fazer os projetos.
Mas, nas outras áreas, nós estamos montando uma carteira e também transferindo a responsabilidade dos projetos. Isso significa que nós seremos mais céleres. Ao mesmo tempo, formamos – com o BNDES e bancos privados brasileiros – uma empresa que é responsável pela contratação e pela, eu diria assim, por estabelecer uma espécie de poupança de projetos no Brasil – contratá-los e mantê-los em carteira. Essa é uma empresa privada, basicamente controlada por uma estrutura de bancos.
A outra questão foi que nós tínhamos, antes, no passado, linhas insuficientes de crédito. O Brasil não financiava o longo prazo. Não havia estruturas de financiamento do longo prazo.
Hoje, o nosso Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social tem uma carteira de projetos e de demandas maior que a do Banco Mundial, e nós temos também uma certa especialização no financiamento. Além dos bancos privados nacionais e internacionais que atuam no Brasil, o Brasil possui uma Caixa Econômica Federal que é especializada em crédito imobiliário... e eu esqueci de dizer que nós temos uma carteira de crédito imobiliário muito significativa, e o Brasil também tem programas sociais de habitação. Nós entregamos 1 milhão de moradias, nesse novembro, e contratamos já 1 milhão, faltando contratar mais 1,4 milhão, até 2014, no Minha Casa, Minha Vida.
Além disso, nós estamos desburocratizando o regime de licitação no Brasil ao criar o regime diferenciado de contratação, que torna mais rápidos os processos de contratação.
Nós temos um sistema ambiental que era muito complexo e rigoroso. Nós queremos que ele continue sendo rigoroso, mas achamos que ele tem de ser mais transparentes e, portanto, mais ágil. E, colocamos agora, o controle, progressivamente, o controle desses processos se dará, através da internet, em tempo real, o trânsito dos projetos de licenciamento ambiental.
Eu acredito que as empresas interessadas em investir no Brasil têm de olhar uma questão que eu considero muito importante: o Brasil tem – diferentemente dos países desenvolvidos – tem grandes projetos greenfield. Por quê? Porque não investiu no passado. Então, os projetos que estão disponíveis não são projetos com baixa rentabilidade. São projetos que são feitos agora, e, portanto, tem um nível e um empenho muito grande do governo, e existe todo o ambiente que eu acredito que seja favorável ao investimento.
Como todo país, principalmente país latino, nós temos alguns, ainda, defeitos que eu chamaria atenção no caso da burocratização. Nós agora estamos dedicando também um tratamento muito forte a isso.
Por exemplo, nos portos, nós vamos unificar todos os órgãos governamentais que atuam nos portos e que antes atuavam em parte. Então, eu acredito que essa interação e o diálogo entre as empresas e os setores que estão investindo são importantes para que a gente viabilize os investimentos no prazo desejado.
No que se refere ao transporte, nós, ao longo de 2013, teremos praticamente todas as licitações realizadas, eu já disse que o trem de alta velocidade, por exemplo, é dia 13 agora de dezembro.
Espero ter respondido sua pergunta.
_________: Muito obrigada, senhora Presidenta. Uma última pergunta.
Empresário: Muito bom dia, senhora Presidente. Gostaria de tecer dois comentários, fazer uma pequena pergunta e uma pequena observação. A sua liderança é uma inspiração para todos nós nesta sala. A segunda observação, as perspectivas que a senhora apresentou do Brasil são muito animadoras para o investimento francês no Brasil, e a nossa empresa JCDecaux está investindo com o programa de US$ 80 milhões em São Paulo para modernizar o mobiliário urbano. Eis a minha pergunta: como vê a evolução da privatização dos aeroportos no Brasil, e, em particular, o papel da Infraero nas próximas licitações. E minha última observação é, por favor, deixem um pouquinho de lugar para os homens, porque aqui no palco já não há mais nenhum homem.
Presidenta Dilma: No que se refere aos aeroportos, nós fizemos, em abril, licitação de três aeroportos no Brasil – dois em São Paulo e um em Brasília. Nesses aeroportos, 51% é da iniciativa privada e 49% é da Infraero. Nós iremos continuar, nós vamos fazer dois grandes movimentos. Primeiro movimento: nós vamos continuar licitando grandes aeroportos, nessa mesma modelagem – 51, 49. Mas vamos também recapacitar a Infraero. Nós queremos parceria na Infraero para melhorar a governança da Infraero, porque 49% da gestão dos aeroportos está na mão da Infraero, e nós queremos uma participação qualificada da Infraero.
Uma das questões que vai diferenciar essas licitações novas dos grandes aeroportos da passada é que nós teremos uma exigência maior de capacitação dos investidores em aeroportos. Nós trabalharemos com um número mais elevado de passageiros por mês ou por ano, como o senhor queira, do que trabalhamos no momento anterior.
Além disso, além dessa iniciativa, nós vamos fazer aeroportos regionais. O Brasil é um país continental. Nós não precisamos só de ferrovia. Em algumas regiões do Brasil só tem uma forma de chegar, é aeroporto. Mas, além disso, nós queremos que as cidades com até 100 mil habitantes tenham um aeroporto em torno de 50, no máximo, 60 quilômetros dela. É uma necessidade também importante para o crescimento do país.
E queremos também que os locais turísticos do Brasil tenham um aeroporto - não próximo, junto. Então pretendemos ter um programa de aeroportos regionais muito forte. Nós temos recursos para isso – originários até das outorgas que cobramos dos aeroportos, dos grandes aeroportos.
Mas não só isso, nós pretendemos também que haja o aparecimento e o fortalecimento de uma aviação regional no Brasil, diferenciada da aviação de longo alcance. Nós temos de interiorizar o transporte aeroviário no Brasil. Nós precisamos de médias empresas regionais de aviação.
________: (incompreensível)
Presidenta Dilma: Só um pouquinho...os números no Brasil, às vezes, são grandes. Nós pretendemos fazer em torno de uns 800 para mais aeroportos regionais.
Ouça a íntegra do discurso (59min01s) da Presidenta Dilma.