Você está aqui: Página Inicial > Discursos > Discursos da Presidenta > Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, durante solenidade de encerramento da Marcha das Margaridas 2011

Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, durante solenidade de encerramento da Marcha das Margaridas 2011

A tradicional marcha das trabalhadoras rurais e da floresta acontece nos dias 16 e 17 de agosto e pretende reunir 100 mil mulheres na capital Federal, representando as 27 federações brasileiras

 

Brasília-DF, 17 de agosto de 2011


Boa tarde, Margaridas. Boa tarde, minhas queridas Margaridas de todo o Brasil. Eu saúdo, aqui, cada uma de vocês. Um abraço muito carinhoso para todas.

Queria cumprimentar o nosso governador Agnelo Rossi... Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal,

Queria cumprimentar uma dama de primeira, não uma primeira-dama, uma dama de primeira, a Ilza de Queiroz, a quem eu tenho muita consideração.

Queria dirigir um cumprimento todo especial, do fundo do meu coração, para uma mulher de muita fibra, de muita fé, de muita capacidade de luta e de organização. Quero dirigir o meu grande cumprimento à Carmem Helena Foro, secretária de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Contag. Ao saudar a Carmem, eu quero aqui registrar a importância da Carmem na realização dessa 4ª Marcha das Margaridas, e também o fato de que logo que eu tomei posse e, pela primeira vez, eu encontrei a Carmem, depois de Presidenta, a Carmem me convidou para estar aqui hoje. E isso me encheu de orgulho, porque eu considero um dos momentos importantes para as mulheres do Brasil e para, também, os homens e as mulheres do Brasil, essa 4ª Marcha das Margaridas.

Quero cumprimentar um companheiro, um companheiro como o presidente da Contag Alberto Broch, que teve esse gesto, que é um gesto político e um gesto de respeito às mulheres, que muitos homens não têm, mas o Alfredo [Alberto] teve: cedeu seu lugar à Carmem, reconhecendo que, hoje, a Presidente da Contag ou a Presidenta da Contag é uma mulher, porque a Marcha das Margaridas transforma a Carmem numa presidenta de fato. Parabéns, Alberto, parabéns pela sua solidariedade, pela sua consciência e pela sua liderança no movimento dos trabalhadores, dos agricultores, dos agricultores familiares, enfim, de todo o mundo rural.

Queria cumprimentar, agora, as senhoras e os senhores ministros de estado aqui presentes. Cumprimento a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann; a ministra da Cultura, Ana de Hollanda; a Tereza Campello, ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira; a Maria Aparecida Perez, ministra interina da Pesca; a Luiza Bairros, ministra da Secretaria da Promoção da Igualdade Racial; a Iriny Lopes, ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres; Maria do Rosário, ministra da Secretaria de Direito Humanos da Presidência da República. Como vocês vêem, eu cumprimentei primeiro, seguindo o exemplo do Alberto, as ministras mulheres.

Cumprimento também o ministro Alexandre Padilha, da Saúde; o ministro Afonso Florence, do Desenvolvimento Agrário; o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral.

Queria dirigir um cumprimento também aos ex-presidentes da Contag: José Francisco da Silva e Francisco Urbano.

Queria dirigir também um cumprimento à Elizabeth Teixeira, uma mulher lutadora, uma mulher guerreira que vem do longo caminho que foi a história das lutas rurais no nosso país, que vem lá do Movimento das Ligas Camponesas.

Queria também cumprimentar todos os dirigentes e também as mulheres dirigentes da Contag e das entidades parceiras da Contag,

Minhas queridas Meninas de Sinhá, que tanto nos emocionaram com sua lição de vida e seu canto,

Senhoras coordenadoras estaduais de mulheres trabalhadoras rurais do movimento sindical,

Senhor Artur Henrique, presidente da CUT,

Mais uma vez, minhas queridas Margaridas,

Senhoras e senhores profissionais de imprensa, fotógrafos e cinegrafistas,

Hoje eu estou aqui e queria dizer para vocês que a Marcha de vocês me toca e me emociona profundamente, não apenas como presidente da República, não apenas como presidente da República, mas como mulher e cidadã. É uma grande honra estar aqui, nesta 4ª Marcha das Margaridas. E eu me somo a vocês nesta homenagem que o Movimento faz hoje, aqui, a Margarida Alves, trabalhadora rural e líder sindical na Paraíba, assassinada por sua atuação nas lutas do campo.

Estou aqui, no primeiro ano do meu governo, como a primeira mulher a presidir o Brasil, para conversar com vocês, para conversar com vocês e responder à pauta de reivindicações das mulheres do campo, pauta que nós recebemos no último dia 13. Eu encaminhei à Carmem um caderno com as respostas. São respostas das várias reuniões que foram feitas para tratar das demandas que vocês colocaram e para reconhecer que muitas das demandas foram acatadas, outras demandas nós vamos continuar a conversa, porque o principal resultado desta Marcha das Margaridas – eu quero destacar aqui – é a continuidade do diálogo, do respeito entre vocês e o governo federal iniciada ainda pelo nosso presidente Lula. Eu me comprometo aqui, com vocês, a dar continuidade a esse diálogo respeitoso e companheiro.

E também quero dizer que pretendo, cada vez mais, ampliar o atendimento às justas reivindicações das mulheres trabalhadoras, essas guerreiras chamadas, de uma forma tão singela, mas tão forte, de Margaridas.

Por isso, minhas queridas Margaridas, eu sei que para vocês a vida, de fato, não é fácil. Vocês são o Brasil que se levanta todos os dias com o sol, lutando para mudar nossa longa história de desigualdade e de injustiça no campo. Ser mulher brasileira, moradora do campo e militante popular exige coragem, altivez e um coração generoso, exige grandeza de alma para enxergar longe e buscar realizar, aqui e agora, as transformações que o mundo rural e o Brasil tanto necessitam. Vocês são um exemplo de garra, um exemplo de tenacidade e um exemplo de coragem. O Brasil, por isso, depende muito desse exemplo para alargar, para ampliar ainda mais os espaços de justiça social para nossos filhos e nossos netos.

Eu sei que as mulheres representam em torno da metade da população rural. As mulheres formam a base, elas são o alicerce generoso que dá suporte a milhões de famílias e a milhões de nossas crianças. O Estado brasileiro tem obrigação de garantir direitos às mulheres, às famílias e às crianças. E não apenas, pura e simplesmente, porque é um direito, mas também porque o Brasil precisa e conta com vocês, com suas mãos incansáveis, sua generosidade, sua sabedoria, para que nós todos juntos possamos avançar na construção de uma sociedade cada vez mais solidária, justa, onde a melhoria de vida atinja a todos.

Companheiras Margaridas,

Nos últimos 30 dias, muitas rodadas de negociação foram feitas. Algumas duras, mas todas muito respeitosas. E aí vocês discutiram com os meus ministros e ministras e suas equipes várias demandas. O balanço das conquistas, do atendimento às reivindicações que vocês fizeram será apresentado ponto a ponto a vocês. Há algumas dessas conquistas que eu mesma quero anunciar. São ações e políticas importantes para melhorar a vida de cada uma de vocês, e que farei questão de acompanhar e de fiscalizar o seu cumprimento.

Quero destacar as seguintes conquistas, entre as várias alcançadas nesta 4ª Marcha das Margaridas. Em relação à Saúde, tema que muito me preocupa, eu queria afirmar aqui: nós vamos construir e equipar, conforme acertado com vocês, 16 unidades básicas de saúde fluviais, sendo oito em 2011 e oito em 2012. Nós vamos, até 2012, implantar 10 centros de referência em saúde do trabalhador voltados, esses centros, para trabalhadores e trabalhadoras do campo e da floresta. Vamos implementar a Rede Cegonha, para reduzir a mortalidade materna das populações do campo e da floresta e aprimorar o atendimento ao recém-nascido. Vamos realizar a campanha nacional de prevenção ao câncer de colo de útero e de mama das mulheres do campo e da floresta. Vamos construir o mapa da saúde das populações do campo e da floresta. Construir também um plano integrado de vigilância em Saúde de populações expostas aos agrotóxicos.

Como vocês bem sabem, hoje as compras feitas para o Programa Nacional de Alimentação Escolar são um instrumento decisivo para a sustentação da renda familiar no campo. Vocês reconhecem a importância da compra da merenda escolar, porque fizeram várias demandas sobre isso para nós. Quero dizer para vocês que nós vamos aumentar o limite de venda de cada agricultor familiar para R$ 200 mil [R$ 20 mil] por família no fornecimento dos seus produtos para a merenda escolar. Vamos assegurar a participação das organizações de mulheres como representantes da sociedade civil no Conselho de Alimentação Escolar. Vamos adotar todas as medidas necessárias para uma maior e melhor parceria com os municípios e os estados, a fim de ampliar a parte da merenda escolar destinada à agricultura familiar. Vamos aprimorar a distribuição da produção para atingir os 30% de cota da merenda escolar que devem ser fornecidos pela agricultura familiar, como está previsto na lei. Nós queremos, em 2011, atingir o percentual de 30%. Hoje nós não atingimos ainda. Porque é muito importante que isso seja feito. Se hoje isso fosse atingido, nós estaríamos aplicando quase R$ 1 bilhão para a compra direta de produtos da agricultura familiar. Seremos obstinados no alcance dos 30%, pois queremos que no futuro nós possamos propor metas maiores e aí beneficiar as famílias de agricultores que, no campo, podem ter acesso à venda de agricultura familiar, dos produtos da agricultura familiar para as prefeituras e para os governos estaduais.

Falando em produção, nós sabemos que o Pais – Produção Agroecológica Integrada e Sustentável – com sua tecnologia de produção em Mandala, é um programa que tem dado bons resultados, em especial por seu impacto para a autonomia das mulheres produtoras rurais. Por isso, quero fazer dois anúncios: primeiro, o Pais passará a integrar o Brasil sem Miséria, será um dos componentes do Programa Brasil sem Miséria e será, portanto, uma das ações prioritárias de inclusão produtiva no campo. Quero também destacar que vamos aumentar muito a dotação orçamentária do Pais. Além da Fundação do Banco do Brasil, o BNDES e o Sebrae se integrarão no esforço de elevar a criação de hortas e da produção de galinhas e de galinheiros para todas as mulheres como uma atividade prioritária no acesso à renda rural.

Sabemos também que o acesso a crédito é um dos instrumentos fundamentais. Aprendemos, com as linhas do Pronaf, destinadas às agricultoras familiares, que esse programa é fundamental para a autonomia econômica das mulheres. Por isso, quero destacar duas melhorias, dois aprimoramentos: primeiro, uma maior participação das mulheres na gestão financeira das unidades familiares e, assim, 30% do total disponível no limite familiar de financiamento será para uso exclusivo das mulheres. Segundo, a ampliação do valor do crédito Apoio Mulher será elevada, para atingir R$ 3 mil, desembolsados numa única parcela.

Falando de futuro, quero compartilhar com vocês minha preocupação com as crianças, com as crianças brasileiras, garantindo a todas as crianças o acesso a creches de qualidade. Em outras ocasiões, eu disse que construir creches é dar uma oportunidade para as crianças mais pobres, atacando a raiz da desigualdade em nosso país, que está no fato de as crianças terem oportunidades diferentes. E, por isso, assegurar creches significa permitir às crianças ter acesso à educação de qualidade e isso significa, hoje, cuidado, assistência pedagógica, estímulos culturais e educacionais.

Eu quero também reconhecer que ter creches ajuda as mulheres a ter mais tranquilidade no seu trabalho; não pode e não será diferente no campo. Mas, eu determinei a imediata criação de um grupo de trabalho interministerial para discutir critérios para a implantação de creches no campo. Nós reconhecemos que há diferenças entre a cidade e o campo, entre as necessidades das crianças no campo e na cidade, que nós devemos respeitar; no entanto, sem abdicar, em nenhum momento, de oferecer às crianças que nascem e crescem no campo a mesma qualidade da assistência que oferecemos no meio urbano. Espero o apoio de vocês para construir essa proposta.

Quero também reiterar o meu compromisso com outras questões que inclusive foram colocadas hoje no Diário Oficial. No que se refere ao Programa da Mulher Trabalhadora Rural, o Programa de Documentação, nós vamos implantar, na Amazônia, três unidades fluviais para emitir documentos e garantir cidadania às mulheres do campo e da floresta. Vamos garantir a inclusão de um mínimo de 30% de mulheres no público beneficiado com o serviço de assistência técnica. Vamos apoiar o fortalecimento dos grupos produtivos de mulheres, garantimos a elas um percentual do Programa de Aquisição de Alimentos.

Também vamos adotar, na escrituração conjunta, aliás, vamos adotar na escrituração a participação conjunta das mulheres na assinatura da propriedade, para garantir igualdade de direitos de posse e uso da terra e fortalecer ainda mais as mulheres do campo. Criaremos um grupo de trabalho especial, para elaborar o Programa Nacional de Agroecologia, com a participação dos movimentos sociais e das organizações de mulheres.

Antes de encerrar, eu quero aqui reiterar o compromisso do meu governo e o meu compromisso em particular com o enfrentamento da violência contra as mulheres e a punição para os agressores. Me orgulha anunciar que instalaremos 10 unidades móveis para atendimento à mulher em situação de violência, o que permitirá levar esse serviço a todas as regiões do Brasil.

Precisamos também avançar na construção de um efetivo programa de educação no campo, em que a qualidade se alie a métodos específicos e adequados à situação rural. Por isso, eu determinei ao Ministério da Educação a elaboração de uma proposta que atenda de forma integrada todos os segmentos, mas todos os segmentos mesmo, que vivem hoje no nosso mundo rural, cuidando também do acesso a livros didáticos, da alfabetização de jovens e adultos, da oferta de ensino profissionalizante, enfim, de tudo o que é necessário para garantir educação de qualidade no campo.

Um tema de imensa importância é o acesso à terra. Um dos grandes desafios que temos hoje é melhorar as condições de vida e de produção nos assentamentos existentes. Queremos viabilizar o acesso à habitação, à água, à energia elétrica, estradas, serviços de educação e saúde, apoiar a estruturação produtiva com crédito, assistência técnica e garantia de comercialização. O efetivo acesso à terra só se concretiza quando, dada a terra, todas essas condições estão presentes.

Por isso, determinei a realização de um diagnóstico de todos os assentamentos hoje existentes no Brasil. De posse dessas informações e aceitando o grupo de trabalho aqui, proposto pelo Broch, vamos definir como encaminhar a questão do acesso à terra daqui por diante.

Finalmente, quero anunciar a criação também da proposta, a criação do que foi proposto na Marcha das Margaridas, que foi a criação de um grupo interministerial, com a participação da Contag, para acompanhar essas conquistas de vocês, que eu falei só de partes. Nós vamos fazer reunião semestral. A primeira próxima reunião é, portanto, no final de outubro deste ano e, a partir daí, semestralmente, nós faremos o acompanhamento das medidas que nós decidimos tomar.

Eu quero intensificar o diálogo do governo com vocês. Tenho certeza que o debate com os movimentos sociais é fundamental. Tenho certeza que as críticas e as sugestões são essenciais e, além disso, para nós, são bem-vindas, muito bem-vindas e necessárias, permitem que façamos cada vez melhor, permitem que possamos, juntas, construir o Brasil que queremos, um país sem miséria, um país rico, porque o seu povo é rico, e um país mais justo e menos desigual. Um país em que a autonomia das mulheres e a igualdade de gênero sejam traços essenciais do nosso desenvolvimento, tanto econômico quanto social e cultural.

Queridas Margaridas,

Quero dizer a vocês que eu estarei sempre junto, sempre aberta ao diálogo, a ouvir, a escutar. E podem ter certeza que vocês têm em mim uma Presidenta que também me considero – vocês me permitam – uma Presidenta Margarida, com vocês. E é porque me considero uma Presidenta Margarida com vocês que eu me despeço dando um viva à Marcha, à 4ª Marcha das Margaridas. Mas, além disso, dando a cada uma de vocês um caloroso e forte abraço, a cada uma, mulheres e cidadãs como eu.

Muito obrigada. Um beijo a todas.

 

Ouça a íntegra do discurso (31min17s) da Presidenta Dilma