Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, na cerimônia de conclusão da Plataforma P-58 - Rio Grande/RS
Rio Grande-RS, 08 de novembro de 2013
Boa tarde a todos aqui presentes, boa tarde.
Eu queria começar cumprimentado cada um dos trabalhadores e cada uma das trabalhadoras, tanto do estaleiro Honório Bicalho quanto do estaleiro Rio Grande. Para mim é uma honra, mas mais do que uma honra, quero dizer para vocês, faz bem à alma estar aqui hoje. E eu vou explicar no meu discurso porque faz bem à alma.
Queria cumprimentar o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro.
Os ministros de Estado que me acompanham aqui hoje. A ministra Helena Chagas, da Secretaria de Comunicação Social, e a ministra Maria do Rosário, da Secretaria dos Direitos Humanos.
Cumprimentar o prefeito em exercício, Artur Lawson e a senhora Silvia Lawson.
Os deputados federais Fernando Marrone, Henrique Fontana e Paulo Ferreira.
Queria cumprimentar minha querida presidenta da Petrobras, Graça Foster.
Cumprimentar os diretores da Petrobras: Alcides Martins, de Gás e Energia; o Formigli, da Produção e Exploração; e o Figueiredo, da Engenharia, Tecnologia e Materiais. Por intermédio deles eu cumprimento aqui todos os trabalhadores e trabalhadoras da Petrobras e quero também cumprimentar o marco Antonio Martins, secretário de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis, do Ministério de Minas e Energia.
Queria dirigir também um cumprimento especial aos empresários: Ricardo de Queiroz Galvão, presidente da Holding Queiroz Galvão; Jerson Almada, presidente da Holding Engevix.
Queria cumprimentar também o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio Grande, Sandro Barros; o presidente do Sinaval, nosso querido Ariovaldo Rocha.
Cumprimentar os jornalistas e as jornalistas aqui presentes, os companheiros fotógrafos e cinegrafistas.
Eu disse para vocês que para mim faz bem à alma vir aqui no Polo Naval do Rio Grande do Sul, do Rio Grande. Sabe por que faz bem à alma? Porque a gente fica muito feliz quando vê uma coisa pela qual se lutou, que diziam que não era possível, que falavam que eu e a Graça estávamos completamente doidas – falavam, vocês podem ter certeza que falavam. Quando nós começamos um processo de discussão sobre produzir no Brasil aquilo que fosse possível produzir no Brasil, principalmente no que se refere à indústria naval.
Era 2003 – eu nunca canso de contar isso – eu era ministra de Minas e Energia do presidente Lula, a Graça era secretária de Gás e Petróleo, como hoje o Marco Antônio é. E a nós duas foi dada a tarefa, pelo presidente Lula, que a gente tinha de construir plataforma no Brasil. E lá fomos nós duas construir plataforma no Brasil. É bom lembrar que naquele momento não tinha plataforma construída no Brasil. E mais, a indústria naval do Brasil, que tinha sido uma indústria forte, ela praticamente tinha desaparecido. Nós achávamos absurdo que não fosse possível produzir plataforma, navio no nosso país, um país que tem aço porque tem... é um dos maiores produtores de minério de fero, um país que tem uma indústria forte, um país que tem uma classe trabalhadora capaz e competente. Ora, por que não podia produzir plataforma, navio e todos os equipamentos necessários para explorar gás e petróleo aqui no Brasil? Essa era a pergunta. E a resposta: tinha de ser construída passando por cima de várias pessoas que diziam que era impossível. Eu lembro perfeitamente que um belo momento nós fomos discutir com o Sinaval, inclusive com o Ariovaldo, que está ali. Porque chegavam ao ponto de dizer que nós não podíamos fazer casco, que a gente não tinha competência para fazer casco. Vejam vocês, heim? Nós, o Brasil, os trabalhadores brasileiros, os empresários brasileiros, não tínhamos competência para fazer casco.
Bom, a história é que a gente teimou. Teimar é importante, quando você tem convicção, você tem que teimar. Nós teimamos, criamos o tal do Promin, que era o programa que chamava Mobilização da Indústria de Petróleo e Gás e que a frase do Programa era assim: tudo que pode ser produzido no Brasil deve ser produzido no Brasil, se pode, deve. Então, nós começamos esse processo de fazer com que a indústria de estaleiros, a indústria naval deste país ressurgisse. Ela, que já tinha sido, nos anos 80, a segunda do mundo, a segunda, e tinha desaparecido. Esse foi um processo extremamente desafiador, mas quero dizer para vocês que tem a mesma alegria que se tem quando você cria um filho. Vou dizer por quê. Nós chegamos aqui, em Rio Grande, a primeira vez, tinha só areião, era um areião que ninguém dizia que era possível, uma porção de gente dizia que era uma loucura fazer estaleiro no Brasil, que a gente não devia fazer estaleiro no Brasil.
Esse processo é fruto da determinação de várias, várias comunidades, vários setores, várias pessoas. Mas ele tem, esse processo, tem um grande herói, e uma grande heroína, que são os trabalhadores e trabalhadoras. Por que são os grandes heróis e as grandes heroínas? Porque, na verdade, o que estavam falando era que o nosso povo não tinha competência para fazer navio, plataforma, equipamentos, todas as tubulações, era isso. Que a gente devia continuar do jeito que estava, não tendo nesse setor quase nada de emprego. Há controvérsias. Mas eu vou usar os dois números: em 2002, eu estive, por exemplo, em estaleiros do Rio de Janeiro, quase praticamente fechados, em que você via a grama nascer, porque em estaleiro a grama não nasce, as pessoas passam o dia inteiro naquelas passagens, naquele espaço, e não nasce nem isso de grama. E lá no estaleiro do Rio de Janeiro era – eu acho que era o Mauá, estaleiro Mauá – era tudo cheio de grama, porque não tinha trabalhador. O total de trabalhadores que dizem que toda a indústria tinha era entre 2 mil e 7 mil. Eu já escutei do Sinaval, 2 mil, e depois escutei de outro segmento, 7 mil, eu não vou discutir quanto é que era, mas 7 mil é ridículo. Para um país como o Brasil, 7 mil trabalhadores em toda a indústria naval é um absurdo. Então havia necessidade de recompor essa indústria naval. E se hoje este pais é um país que tem uma das menores taxas de desemprego do mundo, 5,3%, que é um indicador de quase pleno emprego, é porque várias indústrias foram retomadas, a que me dá mais orgulho é a indústria naval, porque essa eu vi crescer. Essa... Por isso que a Graça passa a mão na placa, como se ela estivesse acariciando o estaleiro, é porque, de fato, nós olhamos para o estaleiro e falava: olha, ali não tinha nada, você viu crescer. É que nem filho, você vê, de repente, está lá com dois anos, depois passa a ter três, e um dia está com 15 e, depois, outro dia, casou e você tem neto.
Eu acho que esse, esse estaleiro aqui é, tanto Honório Bicalho, que eu vi pequeno e vi se expandindo. Hoje até eu estava comentando com os acionistas do Honório Bicalho, como ele começou estreitinho e como ele foi se expandindo. E isso é um fato importante. Por que eu falo que é importante? Porque eu quero garantir uma coisa aqui para vocês, e eu não garanto coisas que eu acho que não são possíveis de ser feitas: não há a menor possibilidade de algum estaleiro no Brasil – eu não falo só do Honório Bicalho, não falo só do estaleiro do Rio Grande, não falo só do estaleiro, ali, de São José do Norte, não falo do estaleiro de Jacuí, não falo só do estaleiro de Pernambuco, nem dos estaleiros do Rio – é impossível que haja algum risco de não haver contratos para produção de equipamentos e navios. A dificuldade vai ser outra, não é essa, a dificuldade é que nós temos de ser capazes de produzir, com prazo e qualidade, esses navios, essas plataformas, esses FPSO's, é essa que é a dificuldade. Nós vamos ter de dar conta. Por que nós vamos ter de dar conta? Só para vocês terem uma ideia, nesse Campo de Libra, que a Graça deixou para eu falar – e eu agradeço, viu, Graça – nesse Campo de Libra, só para vocês terem uma ideia, só de plataforma está entre ... aliás, desculpa, de 12 a 16 plataformas. Isso significa que nós teremos demandas extras.
Vocês sabem perfeitamente como é importante para um estaleiro isso que o nosso presidente do sindicato aqui falou muito. Eu quero dizer que eu concordo com o pleito dele, eu tenho o mesmo pleito do presidente do sindicato. Nós vamos ter de ter planejamento para não ter esse problema de descontinuidade. Mas aí eu quero pedir uma outra coisa para vocês. Tudo bem, eu acho que tem que planejar melhor, tem de fazer as coisas com mais previsão, mas aí eu vou pedir uma coisa para vocês: vocês têm de fazer um esforço para que a gente entregue as coisas na data. Por quê? Porque se a gente cumpre, se a gente cumpre os prazos de entrega de plataforma e navio, a Petrobras, pode ter certeza que aquelas plataformas e navios vão estar sendo usadas e ela tem de contratar outras. Porque senão fica daquele jeito: ela contratou e não recebeu. E aí? Como é que ela contrata a próxima? Então, nós temos de fazer um acordo. Nós planejamos, planejamos a contratação, mas planejamos também a entrega, a contratação e a entrega, essa é a responsabilidade da Petrobras com vocês e com as empresas, e das empresas e de vocês com a Petrobras. É esse um acordo, e é um acordo em que todo mundo sai ganhando. É o melhor acordo que tem. E eu quero falar e insistir nesse ponto: não há o menor, mas a menor possibilidade de não haver empregos na indústria naval do Brasil, do Oiapoque ao Chuí, não há possibilidade.
E isso eu quero dizer para vocês, quero dizer para vocês, aí é o meu compromisso com vocês, eu vou zelar por isso, eu vou cuidar para que isso ocorra, eu vou brigar para que isso ocorra, eu vou me empenhar para que essa indústria naval, que nós estamos vendo como ela pode ser forte... Hoje eu estive na P-58, e queria cumprimentar vocês pela qualidade da P-58, e olha que eu já estive em muita plataforma, eu quero cumprimentar cada uma aqui, e a cada um. Outra coisa que eu notei: muita mulher, muita mulher soldadora, eu vi mulher soldadora. É obvio que a mulher soldadora estava com uma unha muito bonitinha, pintada, mas ali, soldando, numa boa. E é um orgulho, acho que é um orgulho para este país que a classe trabalhadora seja integrada por homens e mulheres. É um orgulho para este país.
Quero aqui dar meu depoimento. Eu acredito que nós somos, nacionalmente, eu... o Tarso perguntou quem é de fora do Rio Grande do Sul aqui. Eu já estive num outro estaleiro, e perguntaram quem era de fora do referido estado, e era a mesma coisa. E aí você vai cumprimentar, porque eu cumprimento, converso um pouco, e você vê o seguinte: tinha muito gaúcho, viu, Tarso? Então, é assim: gaúcho sai daqui e trabalha nos outros estados, os outros estados saem de lá trabalham aqui. Esse é o Brasil. Esse é o Brasil que trabalha junto.
E quero falar uma coisa para vocês sobre o Campo de Libra. Nós mudamos o modelo. Mudamos o modelo, recebemos muitas críticas localizadas, porque não são muitas as pessoas que fazem as críticas. Por que o modelo do pré-sal é diferente dos outros modelos, do pró-sal, tanto em Santos como em outros lugares do Brasil? Por um motivo muito simples. Porque no pré-sal nós sabemos três coisas simples: nós sabemos que tem petróleo, que tem muito petróleo e que o petróleo é de boa qualidade. Nos outros lugares a gente não sabe, às vezes você pensa que tem petróleo e não tem, a taxa de sucesso é baixa. Aliás, a maior taxa de sucesso da Petrobras, com 20%, não é isso? Sessenta? Ótimo. Sessenta e quatro, de sucesso, nos outros campos. Não, não, não, só estou falando de Campos. Está bom, então é alta, mas é baixa em relação ao pré-sal, que você sabe quanto que tem na concessão você não sabe. Tanto é assim que quando se perfurou o Campo de Libra antes, a empresa que perfurou devolveu o campo como sendo seco, poço seco, por isso que digo que Deus é brasileiro. Veja bem, uma empresa tinha o Campo de Libra, foi e perfurou. Faltava 1.500 metros, um quilômetro e meio em Libra e a empresa desistiu, não era a Petrobras. Desistiu e devolveu o campo para a gente, para a ANP dizendo: esse campo é seco. Pois bem, depois a ANP contratou a Petrobras para perfurar o campo e achou Libra, essa é a história. Então, o que eu digo para vocês? Por que achou? Porque já sabia que tinha pré-sal, antes não sabia, não achava. Então, agora sabe e acha. Qual é a diferença fundamental? É que quando você tem concessão e tem risco de não achar, é justo que as empresas fiquem com todo o óleo. Quando você tem partilha e você sabe onde está o pré-sal, a divisão é a seguinte: o Brasil fica com 85% do óleo, e o restante que fica é das empresas privadas que exploram. Por que elas aceitam essa divisão? Porque tem muito petróleo, é bastante lucrativo, e o petróleo é de boa qualidade, caso contrário, ninguém aceita.
Então, eu quero dizer para vocês o que é que vocês estão fazendo de verdade? Não é só construir plataforma e ajudar a tirar o petróleo lá do fundo do mar. Mas vocês estão contribuindo para uma coisa que é fundamental para o país: É dos recursos do petróleo no Brasil que nós vamos transformar a educação no caminho fundamental de desenvolvimento deste país. Nós temos de saber que tanto para sair da pobreza de forma sustentável e garantida, quanto para fazer com que este país atinja os picos da tecnologia e da inovação, nós precisamos de educação, e precisamos não é de uma educação qualquer. Nós precisamos da melhor educação possível, a começar da creche para as nossas crianças, para os nossos brasileirinhos e brasileirinhas, e aí, com creche de qualidade, nós queremos também atacar a raiz da desigualdade. Cada um de nós é diferente do outro, todo mundo sabe disso. Agora, o que um governo tem de fazer é garantir oportunidades iguais sem olhar o sobrenome, onde nasceu, quem é a pessoa. Tem de garantir que as crianças das famílias mais pobres tenham acesso a educação de alto nível. Para isso, nós precisamos de recurso. Precisamos de recurso para fazer uma oura coisa que todos os países do mundo que ficaram ricos fizeram: educação em dois turnos, em tempo integral. Temos de garantir formação profissional de qualidade, porque nenhum país desenvolvido pode ser desenvolvido se não tiver técnicos experientes e capazes. Na maioria dos países, para cada um formado na educação superior, nos países desenvolvidos, você tem em retorno de dez técnicos de alta condição. Nós precisamos aumentar o número de pessoas com acesso às universidades e precisamos garantir que todos que tenham as aptidões tenham acesso à melhor educação que o mundo pode dar, pagando bolsas no exterior para formar tanto jovens como pós-graduados. E para fazer educação desse tipo em alta escala no Brasil precisa-se de dinheiro. Nós vamos transformar a riqueza finita do petróleo na riqueza permanente e infinita que é a educação que cada um carrega consigo mesmo.
Eu sou mãe e sou avó. Vejo aqui pessoas que seguramente têm filhos e pessoas que seguramente podem ter netos. E quero avisar para aqueles que não têm, que ter neto é muito melhor que ter filho, porque o neto, você só dá amor, filho você tem de dar amor e tem aquela responsabilidade danada.
Mas, depois desse parêntese, eu quero dizer para vocês isso: educação é algo que pode transformar o nosso país. Isso... É disso que eu estou falando, isso vocês são responsáveis, porque são vocês que estão viabilizando que este país possa usar essa imensa riqueza que é o Campo de Libra, que possa investir isso em educação. E eu digo isso aqui para vocês porque eu acho que está tudo ligado. O petróleo tem de ter conteúdo nacional, o que pode fazer aqui tem de ser feito aqui. O petróleo tem de virar maior força e maior crescimento para o Brasil, melhorar a nossa balança comercial. O petróleo pode também transformar esse país num país desenvolvido, em que as pessoas tenham acesso à coisa mais importante, que é o conhecimento. Nós podemos transformar petróleo em sala de aula e em conhecimento. É disso que se trata, porque é bom saber: só Libra gera aproximadamente, é um pouco mais, mas gera aproximadamente R$ 1 trilhão durante seus 35 anos. Um trilhão de reais. Para quem? Para todos os participantes, em especial para o governo federal, para o governo estadual, para os governos municipais, para a Petrobras e, obviamente, para as empresas que participam. Mas esse produto, esse valor, ele tem de ser transformado, ele tem de virar, ele tem de virar riqueza para a população do país. É para a população do país que ele tem de virar riqueza, e é por isso que nós conseguimos aprovar, finalmente, essa lei que garante que 75% dos royalties e metade do Fundo Social do pré-sal seja gasta em educação.
Com isso, eu quero dizer que quando nós começamos lá atrás, em 2003, e não tinha nada disso, e agora tem tudo isso, eu quero dizer para vocês uma coisa que a gente aprende: quando a gente luta, quando a gente vai atrás, quando a gente insiste, tudo é possível.
Um beijo e um abraço.
Ouça a íntegra (26min31s) do discurso da Presidenta Dilma