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Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, durante cerimônia de posse da diretoria da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) e do Centro das Indústrias do Rio Grande do Sul (Ciergs)

O industrial Heitor José Müller assumiu a presidência do Sistema FIERGS (CIERGS, Sesi, Senai e IEL), para o período 2011/2014, sucedendo Paulo Tigre

 

Porto Alegre-RS, 14 de julho de 2011 

 

Governador Tarso Genro,

Queria cumprimentar, quebrando o protocolo, o ex-presidente do Sistema Fiergs/Ciergs, Paulo Fernandes Tigre,

Queria cumprimentar o atual presidente do Sistema Fiergs/Ciergs, Heitor José Müller,

E cumprimentar, com muito carinho, o deputado Marco Maia, presidente da Câmara dos Deputados,

Cumprimentar meu ministro, Fernando Pimentel, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,

O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams,

E a ministra secretária de Direitos Humanos, Maria do Rosário,

Cumprimentar o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, companheiro Adão Villaverde,

O desembargador, presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, desembargador Leo Lima,

Queria cumprimentar os senadores Ana Amélia Lemos, aqui presente, e Paulo Paim,

O deputado federal Mendes Ribeiro Filho, líder do governo no Congresso Nacional, por intermédio de quem cumprimento todos os demais deputados federais aqui presentes,

Cumprimentar o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati,

Cumprimentar o grande parceiro, amigo e, sem dúvida nenhuma, um grande líder empresarial, o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Braga de Andrade,

Queria cumprimentar as senhoras e os senhores integrantes da nova diretoria do Sistema Fiergs/Ciergs da gestão 2011 a 2014,

Queria cumprimentar os senhores jornalistas, cinegrafistas, fotógrafos.

Meus caros e minhas caras senhoras empresárias, empresários e senhoras empresárias aqui presentes,

Quando eu recebi o convite para participar desta solenidade eu, imediatamente, pedi que organizassem a minha agenda para que eu pudesse vir aqui. Eu fiz questão de estar aqui para homenagear um empresário como o Paulo Tigre. Ele é um empresário muito especial.

Eu, como vocês sabem, participei aqui no Rio Grande do Sul de governos diferentes como ministra, geralmente, de Energia. E ao longo do tempo, depois como ministra de Minas e Energia e depois como ministra-chefe da Casa Civil, eu percebi que nós, no Rio Grande do Sul – e falo “nós” porque a minha vida, uma parte dela muito grande ocorreu aqui – nós tínhamos uma importância real muito maior do que a importância política que o estado demonstrava, no plano federal, e muitas vezes a nossa presença estava aquém da importância do estado do Rio Grande do Sul. Daí porque, quando eu conheci o Paulo Tigre, eu percebi que ele era um extraordinário dirigente porque era capaz de estabelecer consensos, estabelecer um diálogo firme com o governo federal, ter propostas que, de fato, iam ao cerne da questão e implicavam na solução dos problemas do estado.

Daí porque eu quis vir aqui homenagear, como presidente da República, este extraordinário dirigente empresarial que soube, como poucos, conciliar os legítimos interesses setoriais e regionais que representou, nesses seis anos à frente da Fiergs, com uma visão estratégica de nosso país, percebendo claramente que o Rio Grande do Sul tinha uma imensa importância para o Brasil, mas que o Brasil também era elemento essencial do desenvolvimento e do crescimento do Rio Grande.

Em sua gestão, Paulo Tigre inaugurou uma nova fase na relação com o governo federal. Construiu pontes em prol do avanço do Rio Grande do Sul, manteve, com clareza, as suas diferenças, porém estabeleceu o diálogo e construiu consensos. Produziu um mapa estratégico do estado, orientado para o fortalecimento da infraestrutura produtiva e, comprometido com a educação de qualidade, a inovação e a sustentabilidade.

Tive a honra de, em vários momentos, discutir, negociar e pactuar parcerias com Paulo Tigre. Como dirigente da Fiergs, como vice-presidente da CNI ou como membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, ele sempre se distinguiu por sua imensa capacidade de construir propostas ousadas, tocar nos pontos essenciais e sensibilizar as pessoas com as quais dialogava para transformar as questões difíceis, os desafios, em soluções e respostas concretas.

Na verdade, aprendi a admirar Paulo Tigre por sua extraordinária habilidade em construir acordos e compromissos em torno dos grandes temas estratégicos do Rio Grande do Sul e, obviamente, por isso mesmo, grandes temas para o Brasil. Espero, Paulo Tigre, que com seu talento e dedicação você continue a servir à construção de um Brasil mais desenvolvido e que dê um espaço cada vez maior ao crescimento da nossa indústria, com maior competitividade e, sobretudo, com grande capacidade de disputar seu espaço neste mundo absolutamente controverso e cheio de desequilíbrios, que é o mercado internacional.

A Fiergs continua nas mãos firmes de um empresário que nós vimos hoje, aqui, visivelmente inovador e com propósitos claros e determinados – Heitor José Müller –, que chegou à presidência da Fiergs e que saberá representar os legítimos interesses da indústria e da economia gaúchas.

Quero deixar claro, Heitor, meu compromisso com o Rio Grande do Sul. O governo do estado, através do nosso governador, Tarso Genro, e a Fiergs, com a sua presidência terão, no governo federal, um parceiro. Um parceiro e, mais do que um parceiro, um amigo e uma amiga, na promoção do desenvolvimento deste importante estado da Federação.

Eu convivi com os senhores, conheço uma parte dos problemas do Rio Grande do Sul, mas eu tenho certeza de que os senhores saberão colocar esses problemas com a prioridade que eles merecem ter.

Por isso, eu quero dizer que conto com os senhores. Conto com o Governador e conto com o Presidente da Fiergs. Acredito que aqui nós temos uma parte importante da sociedade gaúcha e que essa parte importante da sociedade gaúcha tem a missão de liderar, junto com o governo, junto com as lideranças políticas, o Rio Grande do Sul para um destino de maior desenvolvimento.

Senhoras e senhores,

Nós sabemos que as consequências da crise financeira que se abateu sobre a economia internacional em 2008 continuam, ainda hoje, a provocar desemprego, estagnação econômica, elevação do endividamento privado e público, e impasses políticos e econômicos das mais variadas ordens. Isso vem ocorrendo de forma intensa nos Estados Unidos, que lutam contra um crescimento muito abaixo das expectativas, e também na Zona do Euro, onde sucessivos países enfrentam o risco da insolvência.

Este é um momento de grandes desequilíbrios financeiros na economia mundial. Fluxos excessivos de capital se voltam para países emergentes e provocam pressões inflacionárias e valorização de moedas. Desde o início do meu governo estamos, de forma firme e decidida, mantendo a inflação sob controle – a inflação, sim – e também realizando uma política fiscal bastante austera, que conseguiu um desempenho bastante expressivo ao chegarmos, no primeiro quadrimestre, a atingir metade do superávit previsto para o ano. Conseguimos – e isso é importante frisar – manter a economia e o emprego crescendo a taxas compatíveis com as exigências do Brasil, e ao mesmo tempo conseguimos, nesse cenário turbulento, estabilizar a economia brasileira.

Essas ações me permitem afirmar que as tensões que explodem lá fora nos estimulam a agir com coragem, com ousadia e a fazer logo, sem perda de tempo, o que é melhor para o Brasil, sem sacrificar o nosso povo e o nosso modelo de desenvolvimento, com estabilidade macroeconômica e inclusão social.

É importante salientar que as nossas próprias carências e as nossas dívidas históricas impõem prioridades inadiáveis ao país. O meu governo tem o compromisso de resgatar 16 milhões de brasileiros da extrema pobreza, o que não só é um princípio moral e ético, mas é também algo fundamental para o nosso país, que tem de capitalizar o fato de sermos 190 milhões de brasileiros. Por isso lançamos o Brasil sem Miséria. Queremos consumidores, cidadãos, produtores, trabalhadores.

Estamos também decididos a assegurar base sólida e duradoura aos 39,5 milhões de brasileiros e brasileiras que ascenderam às classes médias, de 2003 até maio de 2011, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas. Para se ter uma ideia, esses brasileiros representam uma “Argentina” elevada à condição de mercado consumidor e produtor. Por isso nós podemos dizer que o Brasil mudou, sim. Estamos num processo acelerado de transformação e temos de garanti-lo, e temos de nos assegurar que ele seja feito com qualidade.

Nós, nesse sentido, assumimos a missão de formar um verdadeiro exército de jovens brasileiros qualificados para exigências profissionais da era do conhecimento e da sofisticação tecnológica. Por isso, lançamos o programa nacional de tecnologia e emprego [Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego], cujo objetivo é oferecer educação profissionalizante aos jovens e aos trabalhadores brasileiros.

Tenho imensa alegria em dizer que nessa cruzada pela formação profissional, estamos tendo a parceria do Sistema S. E aí eu quero mencionar o presidente da CNI, Robson Braga, e dizer que contamos com a CNI no sentido de qualificar e de melhorar a qualidade do ensino médio no Brasil.

Vamos lançar também, na próxima reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o programa Brasil sem Fronteiras, no final deste mês. Trata-se de um programa estratégico para o país, quando se pensa nas condições para que a pesquisa científica, tecnológica e a inovação sejam, de fato, uma realidade no nosso país. Precisamos formar estudantes, tanto de graduação quanto de pós-graduação. Este programa prevê 75 mil bolsas públicas – Capes e CNPq – nas 30 melhores universidades do mundo, nas áreas de Engenharia, Ciências Exatas, Tecnologia da Informação e Ciências Médicas.

Consideramos que será muito oportuno que o empresariado brasileiro ajude o Brasil a formar massa crítica e que se constitua numa fonte de condições de conhecimento, para que o Brasil produza, justamente na área que nós temos maior carência, que é das Ciências Exatas, tanto profissionais na área de pesquisa, na área de invenções e, sobretudo, na área de inovação.

Esse salto é algo que os países emergentes como nós - por exemplo a China - fazem sistematicamente nos últimos anos... a Índia e países que já percorreram o caminho em direção à inovação.

De qualquer jeito, o governo federal, até 2014, colocará 75 mil jovens, em graduação e pós-graduação, no exterior, no sentido de garantir que nós tenhamos acesso ao que há de mais avançado nessas áreas. Temos clareza de que sem tudo isso o Brasil não se tornará o país verdadeiramente próspero que tem condições de ser nesta segunda metade... aliás, nesta segunda década do século XXI.

Daremos também continuidade aos investimentos da infraestrutura energética, logística e social, por meio do PAC 2, do Minha Casa, Minha Vida 2, das obras de mobilidade urbana e, sobretudo, da indústria de fornecedores de bens e serviços do pré-sal, exigindo, sistematicamente, conteúdo nacional para o fornecimento dos equipamentos, dos materiais e dos serviços prestados nessa área.

Senhoras e senhores,

Nós temos, no governo, muito claro que o acirramento da competição dos mercados internacionais impõe a adoção de políticas de fortalecimento da indústria e impõe estratégias conjuntas entre o setor privado e o governo, visando a ampliar a nossa competitividade e garantir o crescimento sustentável de nossa economia.

No início de agosto, meu governo apresentará um plano de desenvolvimento produtivo, que tem como eixos a exigência de conteúdo local na produção, a inovação tecnológica e o fortalecimento de nosso comércio exterior. Lançaremos também uma atualização do Super Simples. A exigência de conteúdo local é fator decisivo para a expansão da indústria, do emprego e da renda. O Rio Grande do Sul já participou de uma experiência de exigência de conteúdo local quando nós reavivamos a indústria naval e, aqui no Rio Grande do Sul – lá em Rio Grande –, nós criamos novamente um polo naval.

Para essa questão do conteúdo local, a expansão do crédito, o aperfeiçoamento dos regimes tributários e uma política vigorosa de compras governamentais são instrumentos adequados para elevar o nível de conteúdo local de nossa produção.

A fim de facilitar e melhorar a capacidade inovadora das empresas brasileiras, aumentaremos a oferta de crédito e simplificaremos o acesso aos instrumentos necessários ao processo de inovação. Estamos num processo acelerado de capitalização da Finep, adequadamente formatado para fomentar a pesquisa científica e tecnológica, e a inovação.

No comércio exterior, adotaremos instrumentos ousados e efetivos de apoio às exportações, com clara ênfase na diversificação de nossa pauta. Isso quer dizer, com clara ênfase em manufaturados. Vamos fazer uma defesa contundente da indústria contra práticas protecionistas desleais e fraudulentas que afetam nossas importações.

Continuaremos investindo em nossa visão estratégica de desenvolvimento baseada no crescimento com estabilidade macroeconômica, com distribuição de renda, erradicação da miséria e grandes avanços em educação.

Temos certeza de que o Brasil pode, de fato, se transformar numa das maiores economias, neste século XXI. Somos um país especial: nós não temos guerra, não temos conflitos étnicos e somos, sem sombra de dúvida, uma das maiores democracias do mundo ocidental. Temos clareza de que o Brasil só crescerá se, de fato, for capaz de desenvolver sua indústria e transformá-la, cada vez mais, numa indústria sofisticada e, ao mesmo tempo, numa indústria capaz de gerar empregos de qualidade para milhões e milhões de brasileiros.

Temos clareza também de que nós somos um dos BRICS porque temos em comum algumas coisas. Com os BRICS temos em comum o fato de sermos países continentais, temos em comum o fato de sermos países com reservas naturais extensas. Não somos países sem industrialização, mas a nossa similaridade acaba aí, porque nós temos algumas diferenças a nosso favor. Uma delas é que o Brasil não abandonou a sua população nesses últimos dez anos. Nós viemos transformando o perfil socioeconômico do país. Elevar uma “Argentina”, em nove anos, é algo extraordinário e significa que nós conquistamos um enorme mercado consumidor e produtivo. Continuar nessa trajetória, de forma que todas as classes sociais no Brasil possam se elevar é apostar no que nós temos de mais forte, que são os 190 milhões [de brasileiros].

Temos também uma grande diferença: somos uma democracia. Não teremos as surpresas do crescimento que levaram o norte da África e uma parte da Ásia a sofrerem processos disruptivos no que se refere à busca de democracia. Nós ultrapassamos essa fase.

Portanto, nós temos pela frente um caminho muito claro, um caminho que nós podemos trilhar sem sobressaltos. Isso não significa que seja um caminho tranquilo e fácil, principalmente porque vivemos num mundo em turbulência. Mas o Brasil provou, nos últimos anos, que é capaz de enfrentar essas turbulências e de encontrar dentro de si a força para ir além, como nós já provamos isso.

Nós temos certeza de que, com a liderança dos senhores, com a participação da nossa sociedade e com a busca efetiva, por parte do governo, do entendimento das reivindicações, dos anseios e – eu diria, de forma muito tranquila – do que cada um de nós pretende para o nosso país, nós conseguiremos levar esse nosso destino a bom termo. E o nosso destino, necessariamente, é nos transformarmos numa das grandes economias do mundo neste século XXI. Que ela seja uma economia justa e que cada um de nós tenha orgulho de viver em nosso país.

Muito obrigada.

 

Ouça na íntegra o discurso (25min02s) da Presidenta Dilma.