Discurso da Presidente da República, Dilma Rousseff, na cerimônia de Inauguração do Parque Eólico Artilleros - Colônia/Uruguai
Querido excelentíssimo senhor Pepe Mujica, presidente da República Oriental do Uruguai
Querida Senadora Lúcia Topolansky
Senhores ministros de estado, do Brasil e do Uruguai
Senhores presidentes da UTE, Gonzalo Casaravilla e José da Costa Carvalho da Eletrobras
Senhores e senhoras jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas… Pare porque estou tentando falar em portunhol. Não estou sendo bem sucedida, mas é um esforço. Depois você traduz.
Senhoras e senhores,
Eu estou muito emocionada, por vários motivos. O primeiro é que estou aqui no momento da saída de Don Pepe Mujica da frente do governo uruguaio. E tenho a honra de privar com Don Pepe de relações dentro de todos os organismos multilaterais e, também, dentro de nossas relações bilaterais. E em todos os momentos eu tive provas de que Don Pepe não só é uma pessoa comprometida com todos os mais importantes interesses do Uruguai, mas também do Brasil e dos demais países da América Latina. Assim sendo, também percebo o caráter transcendental de Don Pepe no que se refere a capacidade de juntar realidade e ao mesmo tempo, utopia. Essa capacidade de Don Pepe comove a todos nós. Todos nós cidadãos latino-americanos e cidadão do mundo que temos compromissos com nossos países, nossos povos, a melhoria de suas condições de vida, os avanços culturais necessários, as transformações dos valores sociais e, sobretudo, que tenhamos compromisso com a democracia e os direitos humanos.
Portanto, tenho a honra de estar aqui em um momento especial. E me lembro perfeitamente de 1º de janeiro e de 2 de janeiro de 1911 [2011] quando a primeira pessoa que eu vi junto com sua senhora foi Don Pepe e dona Lúcia Topolansky em meu gabinete. Foram as primeiras pessoas que no primeiro mandato eu recebi em nome das relações que teremos de desenvolver e também de uma forma muito quente e muito amiga. Assim que hoje a vida me colocou aqui, no último dia de Dom Pepe, que eu tenho certeza, serão os primeiros dias de muitos outros desafios e outras conquistas.
Estou aqui também por uma outra razão que tem a ver com as nossas relações bilaterais e, com também, as nossas relações no continente. A percepção que os países da América Latina precisam estar integrados na sua infraestrutura, nas suas atividades econômicas e sociais. Então o que eu quero dizer é que, nós também, a partir das nossas relações bilaterais, estamos aqui provando que é possível, sim, a maior aproximação, a maior cooperação e a maior integração dos nossos países através de ações comuns. Este é o primeiro investimento da empresa pública Eletrobras, brasileira, no exterior, em comum com uma outra empresa, a UTE uruguaia, aqui no Uruguai.
Faz parte de uma visão de que a integração do Brasil e do Uruguai é um modelo pelo qual nós temos de nos pautar para construir com os demais países latino-americanos a nossa integração. Mas aqui, ainda, tem uma outra característica. Nós vamos inaugurar, também fruto da parceria entre o Brasil e o Uruguai, a linha de transmissão entre São Carlos, no Uruguai, e Candiota, no Brasil. E aí nós teremos condição, de fato, de falar num sistema interligado. O presidente da Eletrobras falou que o Brasil ia, na sua integração, do Amapá, lá no Norte, até o Chuí. Porém eu digo que esse sistema vai do Amapá, passa pelo Chuí e chegará a São Carlos, o que transforma também, tanto as condições para o Brasil, como para o Uruguai. Para o Brasil, quando estiver sobrando energia aqui nós iremos comprá-la, o que vai ser importante para as nossas relações e vai beneficiar o Uruguai. Quando sobrar energia no nosso país, nós vamos transferir para cá. Com isso, tanto o Brasil como o Uruguai vão sair ganhando e esta é a visão que supera uma marca absurda na América Latina e aqui nessa parte da América Latina, que é o fato de que nos condenaram à separação. Por que nos condenaram à separação? Porque exigiram que o sistema elétrico brasileiro fosse de 60 ciclos e o do Uruguai de 50 ciclos. Com isso, nós estávamos proibidos, Dom Pepe, de intercambiar uma das maiores riquezas que temos, que é a riqueza energética. Por quê? Porque quando isto foi feito, os resquícios coloniais queriam nos separar. Nós temos a obrigação de nos esforçar para nos unirmos. Nós temos a obrigação de tomar todas as providências para que possamos desfrutar do fato de sermos um continente com grande riqueza de água. Eu saí de Montevidéu e vim aqui até essa belíssima cidade de Colônia, e que o que a gente vê pelo caminho é a força da economia uruguaia, a força da sua produção leiteira, da sua produção de gado e da sua produção de soja e, em outros momentos, de trigo. Então o que eu digo é que, hoje, também, é um marco na ruptura com o passado colonial de separação e, agora, o que nós vamos construir são, de fato, as condições tanto para o Uruguai quanto para o Brasil e para toda a América Latina desfrutarem daquelas riquezas que nós devemos transmitir aos nossos povos.
Nós teremos, necessariamente, uma energia que, ao longo do período todo, será mais barata, beneficiando as famílias, as mães, beneficiando as empresas, beneficiando todos aqueles que trabalham e batalham nos nossos países. Mas, também, vamos ter mais segurança. Quando nós começamos essa discussão faltava energia ou faltava água aqui no Uruguai e sobrava numa parte do Brasil. Hoje falta energia numa parte do Brasil e sobra aqui no Uruguai. Nós saímos de um intercâmbio muito pequenininho, que era aquele de Rivera, porque é muito pequeno a capacidade de Rivera, para ir de fato a um intercâmbio sério nessa linha de São Carlos a Candiota. E eu acho que ela tem um significado político maior do que o próprio significado energético é demonstrar algo imprescindível: é possível, sim, a integração. E é possível com os dois lados ganhando, é possível com os dois lados se respeitando, gerando emprego, gerando absorção de tecnologia para ambos os países. Por isso eu fico muito feliz e encerro dizendo que eu tenho certeza que as relações do Brasil com o Uruguai vão, não só se expandir, mas vão cada vez mais se aprofundar por esse caminho que traçamos agora com a chegada ao poder do presidente Tabaré Vasquez. Eu tenho o compromisso de trabalhar ombro a ombro, todos os dias, tanto no âmbito das nossas relações, como no âmbito das relações multilaterais. E garantir que nós tenhamos uma América Latina dos sonhos de Dom Pepe: uma América Latina libertária, uma América Latina democrática e uma América Latina desenvolvida.
Ouça a íntegra do discurso da Presidenta Dilma.