Entrevista concedida pela Presidenta da República, Dilma Rousseff às rádios Gaúcha, Guaíba, Pampa e ABC de Novo Hamburgo
Canoas-RS, 11 de outubro de 2013
Jornalista: Para sua informação, há 32 anos Novo Hamburgo não recebe um presidente da República. No exercício da democracia...
Presidenta: Trinta e dois anos?
Jornalista: Trinta e dois anos, desde João Batista Figueiredo, em 1981. Então é uma enorme satisfação, ainda mais com as inaugurações que serão feitas lá, na área da educação, na área das crianças, que a senhora vai fazer dentro de instantes. Mas a pergunta que eu lhe faço: Novo Hamburgo é a capital nacional dos calçados, Novo Hamburgo tem um dos maiores pólos calçadistas, ao longo de sua história. E a situação do calçado brasileiro, que está retido nas aduanas argentinas é um drama que nós verificamos há um longo período. Nesse momento, os números indicam que entre 600 mil a um milhão de pares estão retidos, em função de datas comemorativas na Argentina, para restringir o acesso dos sapatos brasileiros nesta localidade, na Argentina. E nessa semana, inclusive, houve uma mobilização de calçadistas gaúchos, que fecharam a Ponte Brasil-Argentina, em Uruguaiana. Qual o seu posicionamento em relação a essa angústia do setor calçadista gaúcho, de vender e, as vendas feitas, e fazer com que os sapatos efetivamente cheguem na Argentina, presidente Dilma Rousseff?
Presidenta: Nós também estamos sempre muito preocupados com essas situações que têm ocorrido por conta dessa exigência de declarações juramentadas, as chamadas DJAI, a gente chama “DJEIs”. São declarações juramentadas que são exigidas dos produtores brasileiros para que os produtos possam entrar no Brasil. Não são só calçados, já houve casos também bastante dramáticos em outros setores.
Nós temos mantido com eles um diálogo constante. Eles sabem perfeitamente qual é a posição do Brasil em relação a isso. Nós, mesmo assim, temos conseguido, em vários momentos, porque estabelecemos com a Abicalçados, por exemplo, uma rotina: semanalmente, a Abicalçados entrega para o governo brasileiro todas as informações relativas a esses problemas. O governo brasileiro imediatamente age, entregando os mesmos problemas para o governo argentino e pedindo uma solução. Tem sido uma ação constante e sistemática, obviamente nós não temos poder de alterar uma situação dessas, nós temos poder de mostrar como o governo brasileiro se sente bastante, mas bastante, desagradado com ter que fazer essas gestões. Inclusive, nós defendemos, dentro do Mercosul, uma norma para regulamentar os prazos para a liberação de licenças de importação. Preferíamos que não houvesse licenças de importação, essa é a preferência do governo brasileiro. Posto que o governo argentino não concorda, nós estamos pedindo prazos.
Agora, também cabe constatar algumas coisas. Mesmo assim, de janeiro a setembro deste ano, houve um aumento de 7%, quando você olha as exportações, relacionando 2013 a 2012, e também nós temos tido, nessa relação com a Argentina, um processo de cooperação. A Argentina é um dos nossos maiores parceiros na compra de manufaturados. Então, é uma relação que, ao mesmo tempo em que nós temos uma grande amizade pelo governo argentino, nós temos, em vários casos, interesses diferenciados, e isso tem que ser entendido dentro do Mercosul. Eu queria até aproveitar e dizer que o governo brasileiro lamenta muito a questão da saúde da presidenta Cristina Kirchner, que teve um problema de uma operação, de microcirurgia muito delicada. A gente estima que ela tenha suas melhoras.
E queria dizer o seguinte: que dentro do Mercosul esse é um problema que nos interessa muito ver resolvido. Nós, em todas as reuniões, também, plenárias do Mercosul, temos manifestado a nossa posição de firme desagrado quanto a essas questões dos atrasos dos nossos produtos, que ficam parados na alfândega esperando a autorização de exportação. Agora, eu digo para você o seguinte. Nessa relação que nós construímos ao longo do tempo, a melhor atitude é o diálogo. É o diálogo, é a presença constante de uma negociação, de uma conversa e de mostrar que essa relação comercial é uma via de mão dupla. Ganhamos nós ao exportar calçados, ganham eles ao exportar automóveis. E uma via de mão dupla, para ela dar frutos, ela tem que estar aberta nas duas direções.
Jornalista: Obrigado.
Jornalista: Armando Burd, rede Pampa e jornal O Sul. Muito boa tarde, senhora presidente. Desde 1988, quando foi assinado o primeiro tratado, passou-se a sonhar com a integração, a cooperação e o desenvolvimento via Mercosul. Os obstáculos, porém, vêm se sucedendo. O que falta e quando a senhora presidente acredita que existirão condições para concretizar, de forma plena, os objetivos do Mercado Comum do Sul?
Presidenta: Eu queria, primeiro... e eu esqueci, viu, você veja só, Giacometti, que vergonha para mim, eu ter esquecido de cumprimentar a Rádio ABC, uma rádio da importância que é a Rádio ABC, eu sei o que é o Grupo ABC aqui em Novo Hamburgo, em toda a região, então, primeiro, eu queria te cumprimentar. Depois, eu queria cumprimentar o Armando Burd, uma pessoa que eu conheço há muito mais tempo, e dizer também do meu imenso prazer de falar com Armando Burd, da Rádio Pampa e ouvintes da Rádio Pampa de Porto Alegre. Depois eu falo dos outros aqui, do lado de cá, que também eu conheço, então eu falo depois deles. Eu queria cumprimentar o Giacometti e o Armando Burd.
Olha, eu acredito que o Mercosul seja um dos grandes projetos estratégicos feitos pelo Brasil e que, cada vez mais, mostra o seu acerto. O Mercosul, ele tem algumas características. Como qualquer mercado, e você veja o que está acontecendo com a União Europeia. A União Europeia fez uma associação e correu na frente e fez uma unidade monetária, e esqueceu de fazer a unidade fiscal. Então, enquanto a coisa tava boa, todo o vento a favor, todo mundo crescendo, não teve problema. Mas chegou uma crise, sem união fiscal, então houve problemas, eu diria assim, de um leque de problemas das mais diferentes gradações, desde problemas relativos a como é que o Banco Central interferia e conseguia construir um espaço monetário em que uma moeda não fosse diferente da outra, ou seja, um euro na Alemanha era diferente de um euro da Grécia. Uma dívida nos países chamados mediterrâneos é diferente de uma dívida nos países do norte da Europa, e a mesma moeda. Ou seja, por quê? Porque Banco Central garantia diferenciadamente ou, se não garantia diferenciadamente, supunha-se que garantia diferenciadamente.
Enfim, eu quero dizer que qualquer união econômica, monetária, financeira e, no nosso caso, comercial e estratégica, ela tem problemas de constituição, por quê? Porque as economias são diferentes. No caso do Brasil, nós somos uma economia importante, dentro do Mercosul. Temos que olhar para os nossos vizinhos e perceber que a importância econômica do Brasil exige que o Brasil tenha as responsabilidades na garantia do Mercosul. O Mercosul é essa união comercial, ela tem, desde o início de seu estabelecimento, a decisão por consenso. Então, há que todos os países terem consenso sobre uma questão, para nós atuarmos em conjunto.
Eu quero dizer que o Mercosul, nos últimos tempos, teve várias ações que eu considero importantes. Primeiro, nós aumentamos, de forma significativa, o comércio intrarregional. Nós, pela primeira vez, eu acho que foram brasileiros bastante corajosos que fizeram o Mercosul anos atrás, lá na década de 90, final da de 80, mas, de fato, no início da de 90, e aí, se você for olhar, de... vou pegar o dado de 91: eram US$ 4,5 bilhões a relação de comércio dentro do Mercosul. Nós estamos em [20]12, são R$ 60 bilhões. O Brasil tem, no Mercosul, o seu maior mercado de produtos manufaturados. Ao mesmo tempo, nós temos que olhar para o Mercosul – Argentina, Brasil... Argentina, Paraguai e Uruguai – e pensar o seguinte: não é só relação comercial. Nós temos que criar cadeias produtivas, e, começando do Brasil, se alonguem para os outros estados. É uma cooperação, ou todos ganham, ou ninguém sai ganhando, porque ela não fica estável. Por exemplo, a indústria automobilística. O Brasil é um dos maiores mercados do mundo. Outro dia eu recebi... aliás, têm vindo para o Brasil não só aquelas empresas de automóveis que produzem carro standard, mas agora têm vindo até aquelas de carros sofisticado,s a partir da exigência que nós fizemos, do Inovar-Auto. Eu recebi algumas delas... é só você olhar na minha agenda quem foi que eu recebi que vocês sabem quem foi. Aí, o que é que disseram para mim? Por que é que vocês estão vindo para cá? Por exemplo, era a Audi... várias outras desse porte. A Mercedes, com carros sofisticados... por um motivo muito simples: porque o mercado brasileiro já é um dos maiores do mundo e vai crescer, por quê? Porque você tem uma demanda reprimida que nós avaliamos. Então, no caso do carro, tem de ter plantas no Brasil, na Argentina, no Uruguai, no Paraguai, e nós temos de criar um mercado comum, no qual nós tenhamos essa capacidade de trocar, não commodities, mas manufatura e valor agregado. Estou citando carros; calçados. É um absurdo a gente não ter um mercado de circulação livre. Porque o ganho não é só de um lado. O ganho tem que ser dos dois lados. Tem uma visão que é muito uma visão antiga de que “eu vou proteger meu mercado, vou...” Não é assim. A integração interessa. Por que é que interessa aos demais países do Mercosul? Porque, ora, nós somos o maior mercado aqui da região. Por que é que nos interessa? Porque eles, se integrando a nós, nos fortalecem como mercado. Nós passamos a ter 200... em vez de 200 milhões, 300 milhões. Somos 300 milhões de consumidores. Ah, e tem outra coisa, tem outra coisa, viu, Armando? Outra coisa. É a relação estratégica geopolítica.
Por exemplo, eu acho que em dois momentos o Mercosul deu prova de maturidade, no sentido da democracia. Primeira prova: quando todos os ministros do exterior, aí do Mercosul e também da Unasul, que é todo o Hemisfério Sul, que são 12, nós somos... agora tem mais a Venezuela, e somos, então... E veja vocês a Venezuela, a importância da Venezuela, a Venezuela é o maior produtor, um dos maiores produtores de petróleo do mundo. Não vamos deixar de considerar a importância estratégica da entrada da Venezuela no Mercosul. Bom, quando houve a questão no Paraguai, todos os ministros do Exterior presentes tiveram a mesma atitude: presidente eleito sai depois que cumprir o mandato, é essa a posição do Mercosul, está escrito nas decisões. Outra questão que eu acho importante é sobre essa questão da espionagem. O Mercosul se manifestou uníssono.
Então, eu quero dizer para você o seguinte: eu sou uma adepta do Mercosul, eu faço todos os esforços. E aí eu vou citar para vocês uma frase do presidente Mujica, do Uruguai. Ele diz o seguinte – começando com uma intervenção dele no Mercosul, ele diz o seguinte: “Nem o Uruguai tem culpa de ser tão pequeno, nem o Brasil de ser tão grande. Agora, os presidentes desses países têm culpa se o Mercosul não for grande”.
Jornalista: Presidente Dilma, presidente Dilma, boa tarde O meu assunto é sobre saúde pública. Na vida real das pessoas, saúde pública aparece nas pesquisas como o principal problema a ser enfrentado pelo governo federal e pelas autoridades. Presidente, faltam leitos nos hospitais públicos – essa é uma informação diária, quase – e as emergências dos principais hospitais de Porto Alegre, que são hospitais de referência que a senhora conhece bem, o Hospital de Clínicas e o Hospital Conceição, estão superlotados. A estratégia do governo tem sido a construção de UPAs – Unidades de Pronto Atendimento, tem uma aberta aqui, em Porto Alegre. O que mais precisa ser feito, Presidente, para melhorar esse atendimento, minimizar o problema das pessoas? E a senhora acha que o que é feito atualmente é o suficiente ou precisa mais?
Presidenta: Bom, eu queria te dizer o seguinte... Boa tarde, Daniel Scola, boa tarde, ouvintes da Rádio Gaúcha, boa tarde a todos que estão nos escutando nesse momento. Eu acredito que, primeiro, é o seguinte: a questão da rede de atendimento da saúde publica, no Brasil, ela é uma rede. Quando um elo dessa rede falha, a rede toda fica comprometida.
O que foi pensado? O que vem sendo pensado? Não tenho a pretensão de ser pelo meu governo, eu acho que... Outro dia, inclusive, eu participei da cerimônia dos 25 anos da Constituinte e... acho que ali na Constituinte nós criamos o Sistema Único de Saúde, né? Então tem 25 anos essa ideia generosa do Sistema Único de Saúde. Então vamos ver, nós começamos com essa rede SUS, pensando o seguinte. Tem um posto de saúde, tem um hospital, e no meio não tinha nada, então depois evoluímos. Tem um posto de saúde, tem uma Unidade de Pronto Atendimento e de emergência e urgência, tem um hospital. Ligando isso tem um sistema que é o Samu. O que o Samu faz? Primeiro a pessoa procura o posto de saúde, porque 80% dos casos de saúde você resolve num posto de saúde. Por quê? São as chamadas doenças básicas no Brasil hoje, que é... e baixíssima... e são básicas. É o seguinte, quer ver? Você resolve hipertensão, diabetes, diarreia, problema de asma, respiratório de criança. Então, o grosso, você, se tiver uma estrutura no posto de saúde com médico atendendo e cumprindo horário no posto de saúde, todo santo dia você atendendo ali, você trata da questão ali. Tem um segundo passo, é de maior complexidade, você vai para a Unidade de Pronto Atendimento. Você pode, dependendo da forma como ela foi estruturada, você pode atender uma coisa de média complexidade. Não digo média total, que é mais para hospital, mas você pode atender um caso de urgência e impedir que a pessoa morra, dar um tratamento emergencial, botá-la numa ambulância e levá-la para um hospital. Essa cadeia, ela tem de estar completa, com equipamentos e médicos. Nós temos um problema sério no Brasil, que é o seguinte. Nós concentramos, por exemplo, durante muito tempo, emergência e urgência em hospital. Você sabe disso, eu sei disso. Aqui em Porto Alegre, a gente ou ia no pronto socorro, ou ia para qualquer pronto socorro de hospital, porque não tinha aonde ir, e enquanto não tiver UPA, vai continuar indo. Nós queremos também, e estamos nos preocupando, porque tem de ter mais recursos para média complexidade. Alguns deles Santa Casa. E depois, nós achamos, como você sabe, que tem de ter mais médicos. Por quê? Por que é que tem de ter mais médicos? Porque não tem médico. Você pode ter UPA, posto de saúde, hospital de média complexidade, Samu e não ter médico? Ninguém te atende. (...) Olha, a gente não esperava, não, mas também não acha isso um “Deus nos acuda”. Nós consideramos que o Brasil tem que se equiparar aos países mais desenvolvidos nessa área. Exemplo: nenhum país hoje tem 100% dos médicos formados dentro dele. Vai de 20 a 35%. É isso. Nós somos 1,78%. Ou seja, médico formado fora do Brasil, hoje, é 1,78% dos médicos que aqui estão, agindo, atuando, servindo. No caso dos outros países, por exemplo, Inglaterra, Canadá, Estados Unidos, é isso, a formação, a relação é essa.
Além disso, se a gente for olhar, para cada um médico por... vou falar por mil, tá? A média de um para mil, de médicos para mil habitantes, por exemplo, na Argentina, já que a gente estava falando do Mercosul, é 3,2. Aqui é bem baixo, é abaixo de 2. Então, nós temos uma carência de médicos. Aliás, as televisões, viu, Felipe? Bom dia... Boa tarde, Felipe, Rádio Guaíba, Felipe Vieira, Porto Alegre, e bom dia ouvintes da Rádio Guaíba. O Felipe é outra pessoa que eu conheço, viu, Armando, há tanto tempo quando te conheço.
Jornalista: É verdade. Vai melhorar essa questão da saúde?
Presidenta: Já está sendo.
Jornalista: Na emergência do Clínicas tinha 170 pacientes num espaço para 49, semana passada.
Presidenta: Nós temos de ampliar isso. Inequivocamente nós temos de ampliar. Tem estados, opor exemplo...
Jornalista: A senhora acompanha isso diariamente?
Presidenta: ...que estão falando PPPs. Você sabe que tem estado que fazem PPPs em hospitais? Te dou o exemplo: na Bahia estão fazendo o que é considero uma excelente PPP.
Jornalista: O PT gaúcho não gosta de PPP.
Presidenta: Bom, Felipe, essa é uma constatação sua indevida. Eu acredito que eles podem não gostar de uma má PPP, de uma boa PPP eles gostam.
Jornalista: Mas isso é viável no Clínicas, presidente?
Presidenta: Não, no Clínicas eu não acho que seja uma questão de clínica, acho que você tem de aumentar a rede hospitalar. Agora, é estranho porque aqui, no Rio Grande do Sul tem uma rede privada hospitalar muito importante. E essa rede privada hospitalar, que eu saiba, tem o SUS.
Jornalista: Sim, Presidenta.
Presidenta: O Hospital Universitário, que aqui está o prefeito, o prefeito que acabou de intervir na nossa entrevista, o prefeito Jairo Jorge, aqui, de Canoas.
Jornalista: É mania dele, como eu, de jornalista. presidente...
Presidenta: Ele é ex-jornalista.
Jornalista: Ele é jornalista.
Presidenta: Seu colega.
Jornalista: Jornalista nunca é ex, não é? Também tem isso.
Presidenta: Não, tem isso. Tem várias coisas que nunca é ex.
Jornalista: Eu tinha uma pergunta da economia, mas deixa eu lhe perguntar o seguinte...
Presidenta: Ex-mulher...
Jornalista: Ex-mulher é para sempre, ex-mulher é para sempre também, é verdade, ex-marido é para sempre.
Presidenta: Não tem sabe o quê? Ex-mãe.
Jornalista: Ex-avó.
Presidenta: Ex-avó não tem.
Jornalista: Já comprou o presente para amanhã?
Presidenta: Meu filho, eu já dei presente por conta dos próximos Dia da Criança. Mas eu tenho presente.
Jornalista: Tem um presente para o Gabriel, mas não pode revelar ainda?
Presidenta: Não, não posso.
Jornalista: Está bem. Bom, então deixa eu só te perguntar o seguinte: Há uma semana exata, entrou na disputa eleitoral, mudou a disputa eleitoral no ano que vem. Se imaginava que a senhora ia enfrentar, e temos duas mulheres liderando a disputa eleitoral, seria a senhora, pelas pesquisas, e Marina Silva. Marian Silva fez uma aliança com Eduardo Campos. A Rede, segundo ela, único partido clandestino na atual democracia brasileira, está incorporado ao PSB? Muda a estratégia do PT? Como é que a senhora... qual sua visão de eleição do ano que vem, a tentativa de reeleição?
Presidenta: Primeiro eu queria te dizer o seguinte. Eu respeito todas as pessoas que forem concorrer à Presidência da República porque eu acho que todas essas pessoas, elas, como cidadãos ou cidadãs brasileiras, têm absoluta legitimidade para pleitear isso. Para mim, eu quero te explicar uma coisa para você. Eu sou presidente da República, eu sou presidenta da República, uma coisa que, quando eu fui eleita, me orgulhou imensamente. Até eu disse uma coisa e eu sempre repito: eu vou honrar as mulheres deste país. Quando eu fui escolhida para presidenta da República, eu ganhei um mandato, esse mandato tem 4 anos. É sobre essa questão que, a partir do dia 31 de janeiro de 2014, estão todas as pessoas que vão querer disputar a Presidência da República vão disputar. A mim, atualmente, o que tem de me interessar – isso é prioridade na minha vida – é exercer, sem a menor condicionante ou nenhum adversativo – mas, etc etc... não pode ter mas, não pode ter porém, não pode ter entanto, não, contudo, eu –, eu tenho de exercer isso 24 horas por dia até aquele dia. E aí, Felipe, ninguém que ficar preocupado com as oscilações conjunturais que são naturais num processo eleitoral, que todos nós sabemos como é que vão e voltam, pode... eu não posso, sabe, eu tenho de ficar preocupada com o seguinte. Aí, chegam para mim e falam: olha, o cara... o senhor que é o presidente da ICANN, que é o órgão regulador da Internet internacional, está querendo conversar sobre uma nova governança na internet. Depois, é o seguinte, prenderam uma ativista do Greenpeace, que é brasileira, lá na Rússia...
Jornalista: Gaúcha.
Presidenta: ...eu tenho de interceder. Ao mesmo... Eu, óbvio, que estou intercedendo, ela é...
Jornalista: Gaúcha.
Presidenta: ...cidadã brasileira.
Jornalista: Gaúcha.
Jornalista: A senhora manifestou, de... prontamente isso?
Presidenta: Olha, nós manifestamos para eles e aguardamos uma resposta.
Jornalista: Foi isso...
Presidenta: Óbvio que sim. Ela é uma cidadã brasileira e é minha obrigação.
Jornalista: Gaúcha.
Presidenta: Podia ser dos 27 da Federação. Aliás, nós viemos no avião comentando... o Pepe Vargas estava contando uma história entre Uruguaiana e Alegrete, que tem um vídeo interessante sobre...
Jornalista: A disputa deles.
Presidenta: ...a disputa entre Uruguaiana e Alegrete. Não dá para a gente instituir isso nessa esfera.
Jornalista: A senhora está me dizendo que a sua agenda é tão pesada...
Presidenta: Eu estou te dizendo...
Jornalista: ...e tão grande que a senhora não sabe...
Presidenta: Eu te dei só dois que surgem...
Jornalista: Então, a senhora não está preocupada com quem vem pela oposição.
Presidenta: Meu querido, não estou só te dizendo isso, mas estou te dizendo que eu tenho obrigação de cuidar do governo. A minha obrigação, eu fui eleita para isso. Se eu não cuidar 24 horas do governo... E aí outro dia me perguntaram: “Mas você é exigente? Você é exigente?” É o seguinte: eu tenho obrigação, é minha principal estratégia e obrigação...
Jornalista: E a eleição, presidente?
Presidenta: A minha principal estratégia, nos meus 4 anos, é cuidar do governo. Eu tenho não só obrigação moral, eu tenho obrigação política, obrigação ética e obrigação com meu povo.
Jornalista: A senhora pensa na próxima eleição?
Presidenta: Se eu ficar pensando na próxima eleição, eu acordo de manhã pensando na próxima eleição, almoço pensando na próxima eleição, e janto pensando na próxima eleição eu não governo. Eu não tenho de pensar na próxima eleição.
Jornalista: Mas a conversa com o Lula, ontem, foi sobre a próxima eleição.
Presidenta: Na conversa com o Lula... Primeiro, é uma conversa muito simpática, eu gosto de dizer sempre: se e quando o presidente for em Brasília eu o receberei, seja para tomar café da manhã, almoçar, jantar. Ele, ontem, teve uma participação muito importante numa coisa pouco anunciada, até ele queixou, ele reclamou disso, que é: nós, nós recebemos a 3ª Conferência Internacional da OIT – estava aqui presente o presidente da OIT – pela Erradicação do Trabalho Infantil, contra o trabalho infantil. E nós temos números fundamentais para mostrar, fantásticos também. Então, o presidente Lula foi muito bem recebido. Nós conversamos, geralmente, eu e ele, sobre tudo.
Jornalista: Inclusive Eduardo e Marina?
Presidenta: Tudo... Não, nós conversamos, eu e o presidente Lula... Você está com fixação, meu querido. Esse rapaz está precisando de um divã político.
Jornalista: O metrô de Porto Alegre, presidente?
Presidenta: Não é psicanalítico, é político.
Jornalista: Presidente, o metrô de Porto Alegre, as pessoas, a população pode acreditar que agora sai do papel? A senhora vai fazer o anúncio amanhã?
Presidenta: Olha, eu darei os recursos. Que tipo de recursos? Nós vamos colocar dinheiro do Orçamento Geral da União, e vamos colocar financiamento com juros subsidiados, é isso que nós vamos colocar. Recurso terá. A estimativa desse aeroporto agora está...
Jornalista: Metrô.
Presidenta: Desculpa, do metrô...
Jornalista: O aeroporto ...
Presidenta: Espera lá, primeiro eu vou falar do metrô.
Jornalista: Mas vai falar do aeroporto depois?
Presidenta: Depois eu não vou falar do aeroporto. Vocês me esperem para a próxima, porque também não posso ficar anunciando tudo, não é? Olha aqui, metrô: nós iremos colocar, precisamente, a estimativa total é R$ 4,8 bilhões. De onde sai os R$ 4,8 bilhões de investimento para esses 11 quilômetros, 11,7 quilômetros. O governo federal vai entrar com R$ 3 bilhões e 54 milhões, dos R$ 3 bilhões, metade dele, 1,7, é dinheiro do meu orçamento, dinheiro do Orçamento da União, e coloco para cá para o pessoal poder bancar o aeroporto. E o metrô... eu estou com o metrô na cabeça...
Jornalista: Volta para o aeroporto.
Jornalista: A senhora é que está falando...
Presidenta: Sabe por que é que eu estou com fixação de aeroporto? Porque eu estou no aeroporto, né? Vocês querem o quê? Com esse barulho de avião, eu vou ficar falando em barco?
Jornalista: Tá bom. Ta, e aí? 1,7 bi?
Presidenta: 1,7 bi de financiamento e 1,7 bi de orçamento. Desses 1,7 bi de orçamento... de financiamento, 61% o estado toma, 39% a prefeitura. Então, está equilibrado. Nós vamos, obviamente, dar todo apoio para que ele saia. Entre outras coisas nós vamos anunciar isso, mas nós vamos anunciar também 4 corredores de ônibus, que vão beneficiar Porto Alegre, Viamão, Eldorado do Sul e Guaíba, e alguns projetos que nós vamos anunciar.
Jornalista: O aeromóvel...
Presidenta: O aeromóvel eu acertei com o prefeito que ele vai levar para mim o seu projeto e nós vamos discutir os valores, porque tem um detalhe. Esse dinheiro aqui é o dinheiro do quinto pacto pela Mobilidade Urbana, que nós já tínhamos gasto 89 bilhões, e botamos mais 50. Então, esses 50, a gente zela para que ele seja um dinheiro que seja destinado para quem já tem projeto, que pode começar obra, por isso que nós demos essa força para cá. Em geral nós temos feito assim: para as cidades mais... as cidades, não os estados mais ricos do Brasil, mas para os médios, é 50/50, metrô. Para os mais ricos, como por exemplo, São Paulo, está dando em torno de 75/25, o que é justo. É em relação à capacidade de pagamento. Obviamente, se alguém tiver, no ínterim, alguma outra dificuldade, nós sempre estamos abertos para uma conversa.
Jornalista: O aeromóvel ...
Presidenta: Vai. Não, o aeromóvel é algo que eu tenho muito...
Jornalista: Senhora Presidente...
Presidenta: Pois não, Burd.
Jornalista: ...a sua assessoria pediu que eu fizesse o encerramento, e a senhora tem uma agenda intensa ainda até o início da noite. Então, em nome dos colegas Rodrigo Giacometti, da rádio ABC, Daniel Scola, da rádio Gaúcha, e Felipe Vieira, da rádio Guaíba, e em nome da rádio Pampa, da rede Pampa, do jornal O Sul, agradeço muito por sua gentileza de ter acedido ao nosso convite para conversarmos sobre assuntos de interesse do Rio Grande do Sul e de interesses do Brasil. Muito obrigado em nome dos colegas.
Presidenta: Eu queria, então, dirigir um cumprimento especial para a rádio ABC, para o Rodrigo Giacometti; para o Armando Burd, da rádio Pampa; para o Felipe Vieira, da rádio Guaíba; e pelo Daniel Scola, da rádio Gaúcha; e dizer para vocês que, para mim, é um prazer ter estado aqui conversando com os gaúchos e as gaúchas. Eu não vou falar só dos moradores de Novo Hamburgo, nem só dos de Porto Alegre, para todo o Rio Grande do Sul. Um grande abraço.
Ouça a íntegra (31min56s) da entrevista da Presidenta Dilma