Entrevista coletiva concedida pelo Presidente da República, Jair Bolsonaro - Osaka/Japão
Osaka-Japão, 28 de junho de 2019
Presidente: Bom dia. Vamos falar de G20? Pode ficar à vontade aí. Se eu puder responder… Tem alguns para me ajudar aqui, meus universitários, tá? Pois não.
Jornalista: Só para adiantar. Presidente, é o Assis Moreira, do Valor Econômico de São Paulo. Sobre o acordo, o senhor acha que é um acordo equilibrado? Os dois ganham de maneira equilibrada? E em segundo lugar, o senhor acha que esse acordo, uma vez feito, com a União Europeia, pode atrair outros acordos, a começar pelos Estados Unidos?
Presidente: Bem, vamos lá. Foi fechado, acho que há 12 horas atrás, aproximadamente. As pessoas de frente dessa negociação foi o ministro Ernesto e a ministra Tereza Cristina. Conversei com ela rapidamente hoje, com ele também. E o que me passaram é que para o nosso lado, Brasil, foi contemplado e estão muito felizes com esse desenlace, depois de 20 anos. Acho que na reta final tínhamos a questão dos vinhos, né? Foi muito bem conduzido pelo Onyx Lorenzoni, lá em Brasília, fez várias reuniões com os vinicultores do Rio Grande do Sul. A questão dos laticínios também, tínhamos problema. E como um todo, a informação que eu tive, dada a confiança que eu tenho nos ministros e na competência deles, foi muito bom para o Brasil.
Jornalista: Presidente, o senhor acha que esse impulso final, que levou à aprovação de acordo tem a ver com o fato de que na sua conversa com o presidente francês, Emmanuel Macron, o senhor reafirmou a manutenção do Brasil no Acordo de Paris? Quer dizer, de que forma, que peso que essa questão climática teve, para fechar esse acordo final?
Presidente: Bem, tivemos, pela mídia, uma posição da senhora Angela Merkel, que ela iria me procurar para tirar satisfações, na questão de … questões climáticas no Brasil. Tomei conhecimento, dei uma resposta nas nossas mídias sociais e houve o encontro nosso, aqui em Osaka. Conversei com ela, estava bastante tranquila. Ela, num momento, arregalava os olhos, mas, de maneira bastante cordial mostramos que o Brasil mudou o governo e é um País que vai ser respeitado. E falei para ela também da questão da psicose ambientalista que existe para conosco.
Uma conversa muito parecida com o senhor Macron, da França. Até o convidei para conhecer a Região Amazônica. Falei para ele, uma viagem de Boa Vista a Manaus é um pouco mais de duas horas. E ele… a gente pode até voar a uma altura mais baixa, demoraria até mais tempo, num avião da Força Aérea. Ele poderia ver que não existe esse desmatamento tão propalado. Entrei em alguns pequenos detalhes sobre como sobrevoei a Europa duas vezes, que nunca vi… poucos quilômetros de mata preservada lá. Mas não é porque eles destruíram as matas deles, nós vamos destruir as nossas.
Convidei a Angela Merkel para explorar, de forma racional, sustentável, a nossa Amazônia. Ela arregalou os olhos também. Mas eles tiveram uma conversa comigo, os dois juntos, deve ter dado uns 40 minutos no total, bastante esclarecedora. E eles se alimentam, se informam, muitas vezes, por matérias de ONGs que têm seus interesses pessoais no Brasil.
A questão do clima foi discutida de forma bastante marginal no passado, a questão do triplo A, não entrou em nenhum papel, em nenhum grande debate, mas é uma coisa que amadurece junto ao primeiro mundo é o tal do triplo A - Amazonas, ou melhor, Andes, Amazonas, Atlântico - uma grande faixa, de 136 milhões de hectares, na nossa região, que seria de importância vital para o mundo, segundo eles, e também de administração por parte do primeiro mundo. E não podemos concordar com isso daí.
Paralelamente também temos as grandes reservas indígenas. Você pega uma reserva Ianomami, é duas vezes o tamanho do Rio de Janeiro, muitas vezes que muitos Estados, muitos países europeus, mais riquíssimo em tudo, em tântalo, em nióbio, em ouro, diamante, urânio, tudo que se possa imaginar.
E o nosso entendimento no Brasil, em especial por parte das Forças Armadas, a qual eu tenho a minha origem, há uma preocupação com a integridade do nosso território, e de modo que seja cada vez mais garantida a nossa indivisibilidade. Então, esses interesses de fora existem, há preocupação por parte das Forças Armadas aqui também. E eu, como chefe supremo das Forças Armadas, comungo das ideias desde há muito.
Então, essas questões todas a gente conversa, abre o jogo e entendam ou não, nós damos o nosso recado. Agora, eu quero dizer que não só a Angela Merkel como o Macron estão fazendo o papel certo, eles estão defendendo o interesse dos seus países. Se o governo brasileiro, os presidentes que nos antecederam, tivessem defendendo o interesse do Brasil, não teríamos chegado numa situação como essa.
Jornalista: Presidente, só repetindo a minha primeira pergunta: o senhor acha que esse acordo União Europeia e Mercosul...
Presidente: É, faltou eu te responder. Eu acho que é uma operação dominó. Com toda certeza, outros países terão interesse em negociar conosco, não é? O Japão mesmo, aqui, um órgão de imprensa falou que eu fui passear no primeiro dia, não é? Eu fui recomendado a não dormir no primeiro dia, para poder dormir durante o dia que seria no Brasil e estar em condições de enfrentar a maratona de reuniões. Aí fui numa churrascaria, sim, com todo respeito ao povo japonês aqui, quem come um churrasco de carne australiana e de carne brasileira, há uma enorme diferença. Há uma enorme diferença, sem medo de ser bairrista, sem querer ser um brasileiro radical aí, há uma diferença enorme, não é? Agora, vamos trabalhar nesse sentido. Falei mais em dois momentos. Falei sobre churrasco, com pessoas importantes na mesa, com japoneses, e disse isso daí. Então, eu estou aguçando a curiosidade deles para comer um churrasco brasileiro. Quem sabe o nosso comércio da carne, aqui, tenha sucesso no futuro.
Jornalista: Mas o senhor acha que tem possibilidade de acordos, ou de lançamento de negociação?
Presidente: Ah, tem.
Jornalista: Com os Estados Unidos?
Presidente: O que eu vejo com o Trump, não é? Tive uma conversa reservada com ele nos Estados Unidos, há dois meses ou três. A conversa agora foi mais aberta um pouquinho. Ele é uma pessoa que está muito confiante no governo brasileiro. O eixo Norte-Sul, há um interesse por parte deles. E eu tenho falado, já que eles têm preocupação com a Venezuela, resolver esse imbróglio. Temos a preocupação com a Argentina. Estou muito feliz que o Macri participou também dessa questão do Mercosul. Divulguei em algumas mídias sociais minhas isso daqui.
Há uma possibilidade, segundo o Trump mesmo nos disse, nessa reunião mais reservada agora, de ele visitar a Argentina, talvez o mês que vem. Possibilidade apenas. Onde eu peguei e complementei: seria muito bom se fizéssemos uma reunião na Argentina e juntássemos ali Marito, do Paraguai, o Piñera, do Chile, o presidente também da Colômbia, Peru, o Duque. Então seria… E isso aí, pode ser que ocorra essa reunião nossa que, afinal de contas, queiram ou não, a América do Sul, graças a Deus, está deixando um pouco a esquerda e indo para o centro e, em alguns casos centro-direita.
Jornalista: Presidente, então voltando rapidamente a essa questão das mudanças climáticas, do meio ambiente. Então, o acordo, o Brasil, e todos os signatários do acordo, deixam claro que se comprometem com o cumprimento das metas do Acordo de Paris. Essa questão foi, como o senhor mencionou, foi chamada pela chanceler Angela Merkel, pelo Macron. Esse acordo deixa claro, de uma vez por todas, que o governo Bolsonaro vai se manter no acordo até o final?
Presidente: No momento estamos no acordo. Falei com a Angela Merkel: a Alemanha não vai cumprir isso que está no acordo, não estão querendo tirar a energia fósseis. Você pode ver, aproximadamente, não é? O que cada brasileiro bota para fora ou produz, CO2, o alemão é quatro vezes mais. A nossa matriz energética é muito voltada, em torno de 50%, eu não tenho o percentual exato aqui, mas bem grande, para fontes de energias renováveis, enquanto que a Alemanha continua o fóssil ainda. Nós temos quase nada no Brasil de carvão. A Alemanha usa muito o carvão. Então, se alguém tem que falar e dar exemplo sobre proteção ambiental é o Brasil.
Você pode ver, na Região Amazônica, cada proprietário rural tem que destinar 80% da sua terra para a preservação da vegetação nativa. Isso é feito por satélite, não tem como você burlar isso daí. E nós vamos fazer tudo para cumprir a lei. Agora, o que não podemos aceitar é certas observações e uma difamação do Brasil, no tocante a essa área. Se pegar, por exemplo, matéria nos últimos cinco anos sobre devastação, desmatamento na Região Amazônica, ela já está toda devastada.
Jornalista: Presidente, bom dia. Hoje o (...) o presidente Trump e o presidente Xi Jinping e o senhor foram uma posição estratégica, porque encontrou o presidente Trump ontem e conversará com o presidente Xi Jinping logo mais. Quais são as expectativas do Brasil para esse encontro entre China e Estados Unidos? E as suas para o encontro com o presidente Xi Jinping, país que o senhor deve visitar em breve, não é?
Presidente: É, eu fechei com ele, talvez em agosto eu devo… Outubro? Tá. Vamos visitar a China sim. Talvez a gente, na mesma viagem, passe pela Arábia Saudita, há interesse nosso. A China é o nosso maior parceiro comercial. Queremos aprofundar esse relacionamento, até para desfazer certas coisas que falavam a meu respeito desde lá detrás. E, por coincidência, ontem eu fiquei, durante o jantar, na minha frente, à direita, o Trump, exatamente do meu lado o Xi Jinping, e eles conversaram o tempo todo, 90% da conversa foi entre os dois, o 10% comigo, até que achei que foi um tempo bastante grande, fiquei muito feliz, deixar bem claro. E ouvi tudo o que foi falado ali. Foi falado de muita coisa, estratégia, um aprendizado para mim a conversa dos dois, se bem que Xi Jinping fala muito menos do que o Trump, não é? Porque o Trump é bastante envolvente.
Por coincidência, algumas horas antes, eu vi que, quando estava recebendo chefes de Estado, o Trump e o Xi Jinping passaram assim, sem se cumprimentar, e à noite uma conversa maravilhosa. E eu vi que entre os dois, eles vão conversar hoje também, eu acho que vai prevalecer a paz e harmonia e quem sabe, aí, as boas relações comerciais voltem entre ambos. Mas cada um defende o interesse do seu país. É o que o Brasil tem que fazer nessas reuniões.
Jornalista: Desculpe, é China e Arábia Saudita, então, em outubro. É isso?
Presidente: Eu vou tentar fazer em outubro, mas quero ver se faço na mesma viagem, para a gente… a gente poupa uma ida e volta, não é?
Jornalista: Está bom. Obrigado.
Jornalista: E a sua expectativa para o seu encontro com a China?
Presidente: Olha, a China vai continuar fazendo comércio conosco. Vamos desfazer qualquer, porventura, mal entendido, se bem que eles sabem filtrar as informações. Sabem também da importância do Brasil para com eles. E se a gente puder abrir o comércio, a gente vai abrir. A China é um país que rapidamente… tem quase um negócio de 1 bilhão e 300 milhões de habitantes. A população urbana, se não me engano, já passou a rural e está crescendo. O país se torna consumista também, e há interesse da nossa parte.
Agora, a grande preocupação nossa, acontece em alguns momentos aqui, mas o governo, em grande parte, está jogando muito no Ministério da Ciência e Tecnologia, com o Marcos Pontes, na questão de inovação, pesquisa, desenvolvimento. É isso que a gente precisa, porque nós não vamos viver eternamente das commodities. Apesar de nós talvez sermos a última fronteira, é que poucos países têm o potencial que nós temos, isso vai acabar um dia. E eu olho para vocês jovens, aí, não é? Eu já estou velhinho, já, eu estou com dois pés na cova já. Vocês mais jovens, aí, vão viver do quê no futuro, quando as commodities praticamente deixarão de existir e a tecnologia falará muito mais alto do que esses bens que Deus nos legou.
Jornalista: Presidente, ainda nesse encontro com a Angela Merkel. Ela tinha dito, antes de vir para o G20, que teria uma conversa clara com o senhor. Quem que procurou? Foi o senhor que a procurou, foi ela? E o que que ela disse? Ela pediu esclarecimentos antes ouvir sobre desmatamento? Ela chegou a entrar nesse assunto? Obrigada.
Presidente: Primeiro que eu que também mostro um desconhecimento do que ela falou, depois eu repliquei educadamente, e o encontro foi (...). Não, o encontro foi (...), nós fomos para um canto e começamos a conversar.
Jornalista: Ela chegou a falar de desmatamento com o senhor?
Presidente: Falou, sim. E eu já falei para vocês aqui a minha opinião. O Brasil é exemplo para o mundo, não é para… Ela falou, inclusive, não é? Ela reconheceu. “Nós destruímos nosso país no passado, não queremos que o Brasil faça o mesmo agora”. Poxa, ela pode reflorestar, no Acordo de Paris está lá, numa das cláusulas fala em reflorestamento. E pelo que eu vu lá, a meta… O Brasil tem uma meta de reflorestamento, acredite se quiser. Eu quero saber qual é a da Alemanha, tem que conversar com o Ricardo Salles para conhecer qual é a meta da Alemanha, a nossa, não é? A gente não tem como cumprir, nem que a gente pegue aqui cem mil homens agora, do campo e comece a reflorestar a partir de agora até 2030, não vai atingir essa meta. A grande preocupação, no primeiro momento, você vai para as sanções, sanções econômicas e os finalmente sabe quem é, não é? Hoje fala mais alto quem tem uma… Cadê o major? Quem tem um bom major atrás de si.
Jornalista: Presidente, (..) Agência Bloomberg. Eu queria retomar um assunto do G20. A gente sabe que os chefes estão negociando o comunicado final, passaram uma noite dura de trabalho, e que agora estão retomando pela manhã a tentativa de achar um… um consenso, aí, para poder assinar um acordo. Qual que é a grande dificuldade do ponto de vista do Brasil?
Presidente: Deixa o Guaranys falar, que está mais…
Senhor Marcelo Guaranys: Acho que o que está pegando é fechamento… Bom, de fato, estão tentando alinhar um texto, não é? Acho que as grandes discussões está todo mundo acompanhando, as discussões de comércio. Então, o que nós temos que fazer é alinhar um texto que esteja de acordo com todo mundo, não é? É isso que estão fazendo a madrugada inteira. As negociações estão até 4h30, 5 horas da manhã. E é isso que eles estão avançando agora, esperamos que tenha um texto fechado, para o fechamento da reunião de hoje.
Jornalista: Tem chance de não ter texto?
Senhor Marcelo Guaranys: Sempre tem. Mas, esperamos que tenha um texto. Acho que é isso que todo mundo está esperando. E, de novo, o movimento do Mercosul-União Europeia hoje é muito importante, para demonstrar que ainda acreditamos num livre comércio no mundo.
Jornalista: Presidente, outra coisa aqui, que tem sido temas muito importante, justamente sobre o comunicado. Os Estados, os países dizem que vão adotar todas as medidas, usar todos os instrumentos para reforçar o crescimento. No caso do Brasil, que tem o quinto pior desempenho entre os 20 países do G20, o senhor diria que precisa votar mais medidas de impulso, de estímulo ao crescimento do Brasil? E quais medidas poderiam ser essas no curto prazo?
Presidente: Você vê, quando você vai para muitas… Alíquota zero, questão do Mercosul. Você pega o Brasil e a Alemanha, por exemplo, produzem algo parecido com a alíquota zero, qual vai chegar mais barato em outro país? Aquele que tem melhor tecnologia, aquele que tem mão de obra mais barata. Nós temos um problema no Brasil. Olha uma coisa gravíssima aqui: hoje é sexta-feira, no Brasil é sexta ainda. Então hoje caduca a Medida Provisória do Imposto Sindical, ou seja, os sindicatos vão receber em torno de R$ 3 bilhões de reais dos trabalhadores. E para muitos sindicatos, não são todos, eu repito, por favor, não são todos, usam o dinheiro para quê? Primeiro que não prestam conta de absolutamente nada, usam para pressionar quem produz, você tem greves, piquetes, aumentam o nosso custo de mão de obra, desestimula o empreendedor a continuar naquele seu projeto, só atrapalha. Agora, eu lamento que a medida provisória caduque na Câmara, porque sabe que parte dos líderes - parte, não é? - resolveram não encaminhar para a Comissão Especial o nome dos seus liderados, daí ela caducou. Poderia até caducar, a gente aceitaria, sem problema nenhum, não é? Democracia é isso. Mas que ela fosse apresentada e fosse derrubada no voto. Duvido que fosse derrubada no voto. Duvido. O Parlamento ia ratificar a nossa medida provisória. Perde a classe produtora, perde o Brasil, perde em competitividade o nosso Brasil. A gente não pode brincar com essas questões, ignorar, fazer acordos. Porque todos nós perdemos, você pode ver. Acabei de falar na alíquota zero. Com toda certeza, isso vai ajudar a encarecer o produto que nós produzimos no Brasil.
Jornalista: Presidente, ontem o porta-voz disse que ao final dos Brics o senhor tinha falado sobre a questão da Venezuela, pedido um apoio. Só que isso não está no discurso do vídeo que a gente viu.
Presidente: Não, foi bastante… Foi en passant. Eu estava na presença, aí, do nosso presidente da Rússia - está certo? - e eu vi que não era o momento de você ser um pouco mais agressivo nessa questão. Porque a Rússia, alguns aviões militares têm passado pela Venezuela, está bastante complicada a situação. Há uma presença muito forte de aproximadamente 60 mil cubanos lá dentro. Cuba recebe ainda grande quantidade de petróleo da Venezuela. Hezbollah tem célula lá dentro, tem as milícias, tem o Exército cuja cúpula são generais narcotraficantes. Então, há essa série de interesses lá na Venezuela. E, tendo em vista a fraqueza de Maduro, temos uma ditadura bastante forte lá. Então, não atingiria meu objetivo com o posicionamento meu nesse sentido. Nós sabemos que quem decide o futuro do mundo são as potências nucleares. Então, da minha parte, eu não quis polemizar com o senhor Putin, com a potência nuclear, está certo? E tocar o barco. É como eu disse agora há pouco: parabéns aos chefes de Estado que lutam pelos interesses dos seus países. Nós temos que nos preocupar aqui para que o Brasil, que estava a um passo de uma “venezuelização” não ocorra no futuro. E como temos a preocupação agora com a Argentina. O meu entendimento, eu não vou interferir nas questões de fora do Brasil, mas se voltar a senhora Cristina Kirchner, mesmo como vice, na Argentina, eu acho que temos o risco, sim, de ter uma Venezuela aqui, no cone sul da América do Sul.
Jornalista: Presidente, ontem o senhor disse que houve uma conversa com o presidente Trump sobre (...) medidas, ações, em relação a países que financiam a Venezuela e teria sido mencionado Cuba. O Brasil, então, estaria disposto a participar de sanções contra países que financiam a Venezuela?
Presidente: Olha, eu tenho a minha posição a respeito disso. Então, eu ouviria aí, numa questão como essa, não só o Ministro das Relações Exteriores, bem como o senhor Ministro da Defesa, e também ouviria o Conselho de Defesa para tomar uma decisão nesse sentido. Mas eu adianto para você: eu seria favorável a isso, mas a maioria é que decide uma medida nesse sentido. Eu particularmente concordo com medidas dessa natureza, de embargos contra países que estão alinhados com a Venezuela e que não têm qualquer compromisso com a democracia ou com a liberdade.
Jornalista: Só para complementar: China e Rússia são aliadas, são chamadas de aliadas da Venezuela. Como que o Brasil trataria diferentemente?
Presidente: Aí é outro nível. Mas é lógico, tudo tem hierarquia, está certo? Eu não vejo chineses dentro da Venezuela, eu não vejo russos, a não ser um punhado de militares lá dentro. E nós sabemos que esses 60 mil cubanos estão lá, de maneira parecida como estava os 10 mil ditos médicos cubanos aqui no Brasil. É uma coisa bastante semelhante. Eu nem mandei nenhum cubano embora. Resolveram sair por livre e espontânea vontade. Assim como o Cesare Battisti, antes de eu assumir, saiu por livre e espontânea vontade. Assim como o Conare já decidiu, e está faltando poucas ações, para que quatro paraguaios terroristas nós venhamos a devolver para o Marito.
Jornalista: Presidente, última pergunta. Sobre o ministro do Turismo do Brasil. O senhor tinha dito que quando a polícia avançasse nas investigações o senhor tomaria alguma providência. E houve uma prisão de assessores, como o senhor vai funcionar em relação a isso?
Presidente: Olha, se prender um assessor meu aqui, não quer dizer que eu seja culpado de alguma coisa, não é? Conversei com o Sérgio Moro, rapidamente, sobre isso, que a prioridade nossa aqui é outra, ele mandou a cópia do que foi investigado pela Polícia Federal para mim, eu mandei um assessor meu ler, porque eu não tive tempo de ler. E voltando ao Brasil eu vou me reunir com o Sérgio Moro. E o que eu acertei com o Moro, depois das eleições do ano passado, quando ele aceitou ser ministro e impôs, logicamente, algumas condições, o que é natural. Ele perguntou para mim, lá atrás: “Se uma investigação da PF atingir integrante do primeiro escalão teu, ministro, qual vai ser o seu procedimento? Vai tentar abafar ou deixa o processo seguir?”. Eu falei: “Deixa seguir”. E o que eu falei para o Moro, também, ele já está tomando providência, uma coisa muito importante: a acusação em cima do Marcelo Álvaro Antônio é tendo em vista uma candidata que recebeu uma importância grande de recursos do Fundo Partidário e teve uma quantidade ínfima de votos. A mesma coisa, ou mais grave, acontecendo em quase todos os outros partidos. Tanto que eu falei para ele: “Determine, a partir de agora, que determine à Polícia Federal que investigue todos os partidos onde candidatas receberam recursos enorme, grande, e tiveram uma votação bastante pequena. Então, tem que valer para todo mundo. Não ficar fazendo pressão em cima do PSL, para tentar me atingir.
Jornalista: (inaudível)
Presidente: Moro? Em quem eu não confio está fora do governo. Confio no Moro sim.
Jornalista: Não, não, não. É o ministro do Turismo...
Presidente: Por enquanto não tem nada. Uma vez tendo, como conversado com o Moro lá atrás, qualquer coisa mais robusta contra uma ação irregular de ministro, as providências vão ser tomadas da nossa parte.
Jornalista: Ta, mas ele permanece no cargo?
Presidente: Até segunda-feira está. Até segunda-feira, os 22 são ministros.
Jornalista: (tradução) Presidente, o senhor acredita que o acordo de livre comércio também é um sinal no sentido de que boa parte do mundo ainda acredita no livre comércio, como (...) o presidente Trump?
Presidente: Olha, durante a minha pré-campanha e campanha a imprensa duvidava que eu seria convertido ao livre mercado. Eu confesso que em grande parte eu tinha ideias, aí, estatizantes, confesso. Mas todos nós evoluímos. Não foi apenas o Paulo Guedes que me fez mudar de ideia, não é? O meu filho também, aqui, o Eduardo, também, nesse sentido. E nós acreditamos que somente o livre comércio, onde o indivíduo é forte, e não o Estado, e que nós podemos sonhar com democracia, liberdade e prosperidade. Então, estamos afinados. Tanto é que você pode ver. Você sabe porque caiu o último presidente dos Correios, não é? O senhor Juarez. Porque ele foi na Câmara e se confraternizou com parlamentares de esquerda, como que se os Correios fosse uma propriedade dos sindicatos, e não é. Então, por causa disso ele caiu dos Correios. Que nós pretendemos, sim, colocar no radar a privatização, ou melhor, já está no radar a privatização dos Correios. Se bem que ela passa pela Câmara, aí é outra guerra. Se a Câmara achar que não deve privatizar, a gente toca o barco.
Jornalista: (tradução) O senhor acredita que existe um certo sentido de arrogância dos países ocidentais, como a Alemanha, por exemplo, em relação ao Brasil?
Presidente: Não é uma questão de arrogância. Eles foram acostumados a tratar nós como colonizados, eles colonizadores. E faltava alguém que, educadamente, e com conhecimento e com dados, mostrasse que o Brasil não é isso, que o Brasil é um país que merece e vai ter respeito, não é? Vai ser respeitado enquanto eu for presidente. Agora, como disse também, esses chefes de Estado, Angela Merkel e tantos outros estão fazendo o seu papel, estão defendendo interesses dos seus países. E o Brasil nunca fez isso. Era comum, quando acabava reuniões como essa, o presidente do Brasil voltava para lá, desde o Collor, lá atrás, quando teve uma viagem fora do Brasil, bastante importante, na volta para lá ele demarcou, naquele tempo, a reserva Yanomami, é uma área enorme para 9 mil índios, talvez. E nós queremos tratar o índio como cidadão. O índio não pode ser tratado como se fosse um pré-histórico, um ser pré-histórico, a viver confinado eternamente. Nós não podemos ver o índio morrer com uma picada de cobra, sofrer com um toco de dente na boca, ter problema de saúde por falta de um médico, viver trabalhando aí, apenas com a energia muscular para, por exemplo, fazer a farinha. Ele quer eletricidade, ele quer o que nós queremos. E eu quero que o índio seja cada vez mais integrado à sociedade e, junto conosco, usufrua dos bens que o homem, através da sua inteligência, produz para a sua espécie.
Jornalista: Presidente, aproveitando que hoje tem uma sessão sobre empoderamento feminino aqui no evento… O senhor poderia comentar uma situação que aconteceu nessa semana e que gerou um certo desconforto na ONU, que o governo estaria tentando barrar alguns termos como, por exemplo, gênero, conceitos sobre direitos reprodutivos. O que o senhor tem a falar sobre isso?
Presidente: Olha só, eu acredito em Deus. É um direito teu você ter a sua religião ou não ter. Acredito que uma família organizada é que pode ser feliz e não ser problema para o Estado. Mesmo os homosexuais nasceram de uma mulher. Por enquanto não conseguiram fazer uma maneira para engravidar o homem, não é? Ainda bem, que eu não pretendo engravidar nunca, está certo? Então, nós temos que respeitar isso daí. Não tem um terceiro sexo no Brasil. Nós respeitamos quem tem esse comportamento. Aqui, por exemplo, deve ter homossexuais aqui, até do meu lado, sem problema nenhum. Empoderamento feminino, ninguém manda mais na minha casa do que a minha esposa. Alguns acham que ela fala libras porque eu a proibi de gritar comigo. Não é verdade. Ela, nos gestos e nas palavras, muitas vezes ela impõe a sua vontade em casa e não tenho problema nenhum com mulher.
Jornalista: O senhor vai para o fórum sobre empoderamento feminino aqui no G20?
Presidente: Está previsto? Está previsto, sem problema nenhum. Poxa, eu sou apaixonado por vocês. E não viveria sem vocês. Tu acha que eu viveria com esses dois aqui? E com você, negão?
Jornalista: O senhor foi convidado? O senhor pretende ir?
Presidente: Eu não sei. Eu tenho aqui uma programação. Aqui, acredito que os chefes de Estados estão livres para participar de qualquer sala de reunião.
Jornalista: Presidente, o que é psicose ambientalista que o senhor falou?
Presidente: Cadê o livro, está aí? Tem um livro aqui do príncipe (...). É aquele cara que acha que o meio ambiente está acima de tudo. Nós temos como conviver com o meio ambiente, casado com o progresso e o desenvolvimento. Só isso.
Jornalista: Qual o conceito do livro? Desculpa.
Presidente: Tem um livro aqui, tem um livro aqui. Pessoal, tudo bem? Me dá licença aí. É a presença de vocês aí. Não, eu acho muito bom. Desculpa aqui: parabéns a vocês pelo padrão das perguntas, está certo? Vocês têm um papel importantíssimo para o futuro do Brasil.
Jornalista: O senhor está mudando a relação com a imprensa? Está progredindo muito?
Presidente: Lógico que evoluo, pô. Quem não evolui? Quem não evolui está fadado ao fracasso, aí.
Jornalista: Presidente, sobre o caso do sargento da FAB, alguma informação?
Presidente: Não, não. Eu estou tendo informações, pedi para o comandante da Aeronáutica levantar os voos que ele fez, os voos internacionais. Logicamente entra na vida pessoal dele agora, condomínio, se devia ou não devia, se há sinais de riqueza, levantar isso aí. E obviamente o que nós queremos das Forças Armadas é que não apenas o sargento, seja levantado aí toda essa rede, com toda certeza existe, pela quantidade de drogas, na qual ele está no meio dela.
Jornalista: Quem é o responsável pela falha de segurança, que permitiu (...)
Presidente: Olha só, o meu avião, o meu avião, eu nem precisei dar ordem, quando falei sobre isso já era norma: todos são revistados. O meu material é aberto antes de embarcar, porque alguém pode, no meio do caminho, botar algo dentro. Não é botar droga. Droga é grave, gravíssimo, mas pode botar uma bomba ali de acionamento por descompressão.
Jornalista: E como é que isso passou (...)?
Presidente: Não, é outro avião. Esse outro avião, você carrega víveres para dentro dele. Você carrega um montão de coisas, meios que são instalados para ter internet na minha viagem. É uma série, uma quantidade enorme de bagagens que é embarcada. E aquele elemento ali traiu a confiança dos demais. Traiu a confiança, sim. Pena que não foi na Indonésia. Eu queria que tivesse sido na Indonésia, está ok? Ele ia ter o destino que o Archer teve no passado.