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Entrevista coletiva concedida pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, na saída do hotel, em Hannover/Alemanha

Transcrição do Áudio

Hannover-Alemanha, 05 de março de 2012

 

Jornalista: Presidenta, uma palavrinha aqui para a gente. Tudo bem? Bom dia.

Presidenta: (incompreensível)

Jornalista: Tudo bem?

Presidenta: Tudo. Vamos lá, duas.

Jornalista: Presidenta, sua expectativa, também, é de que os juros caiam, agora, na próxima reunião do Copom?

Presidenta: Quem fala sobre juros, no meu governo, é o Banco Central, Alexandre Tombini. Nem eu, nem ninguém tem autorização para falar sobre juros.

Jornalista: E sobre a expectativa para CeBIT, o papel do Brasil...

Presidenta: A minha expectativa é muito boa, muito boa mesmo. É, eu acredito que a parceria do Brasil com a Alemanha, ela tem uma característica muito importante. Ela deve ser feita, principalmente, na área de inovação, ciência e tecnologia, porque a Alemanha tem uma característica que, para nós, é essencial numa parceria estratégica: é um país com uma grande capacidade de inovação e de criação de produtos na área de máquinas e equipamentos de alta precisão, com características que introduzem melhorias de produtividade do processo produtivo, na cadeia de produção.

No caso da CeBIT, que é tecnologia de informação e de comunicação, num país que é hoje o terceiro mercado de consumo de computador e que tem, necessariamente, uma expansão, nessa área, muito grande, vai ter licitação, agora, dos equipamentos de celular de quarta geração, que lançou, junto com o Japão, o Sistema Digital Brasileiro de Telecomunicação, principalmente o ISDBT, que é baseado numa combinação sobretudo da tecnologia do Japão com o Brasil. Nós temos um horizonte de possibilidades e o Japão tem essa contribuição, mas a Alemanha tem uma especialização muito maior na área de equipamentos, na área de sistemas. E isso pode introduzir, junto com os demais países...   não estou falando que é só um, mas eu estou levantando a importância estratégica da Alemanha como parceira nessa área.

Jornalista: Presidenta, a reunião com a chanceler Angela Merkel, como vai ser hoje? A senhora pretende falar da crise europeia, tsunami, de dólares....

Presidenta: Gente, nessa área, a gente sempre fala da crise europeia...

Jornalista: Não tem como fugir.

Presidenta: Não, não tem.

Jornalista: Mas a senhora vai tratar de tsunami?

Presidenta: Todo mundo vai tratar de tsunami no mundo. Eu, o Fundo Monetário Internacional, o BIS, que é o Banco de Compensações Internacionais, que mostra que é impossível, com US$ 8,8 trilhões, e, no caso específico da União Europeia, com US$ 1 trilhão, o que acontece? Acontece que a política monetária expansionista desse país produz um efeito extremamente nocivo porque desvaloriza, desvaloriza de forma artificial as moedas. Isso não é real.

Jornalista: Mas a senhora acha que eles estão (incompreensível) a ouvir as reclamações do Brasil e de outros países que estão sendo prejudicados por isso?

Presidenta: Olha, eu tenho certeza que sim, porque eu acho... pelo menos a chanceler declarou com muita pertinência, que ela tinha consciência do fato.

Jornalista:  E que sugestão a senhora vai levar?

Presidenta: Eu acho que uma coisa importante é que os países desenvolvidos não só façam políticas expansionistas monetárias, mas façam políticas de expansão do investimento, porque o investimento não só melhora a demanda interna, mas abre também a demanda externa para os nossos produtos.

Jornalista: E sobre a Fifa? Como é que a senhora vê essa briga com a Fifa

Jornalista: Presidente, isso não é interferir na autonomia do Banco Central Europeu, ou melhor, pedir para que a Alemanha interfira na autonomia do Banco Central Europeu?

Presidenta: Não, meu querido. Sabe por quê? Porque estão interferindo na nossa. É um efeito internacional. Não é feito de países. Como o mundo é globalizado, quando você tem um nível de expansão desses, e não sou eu que reconheço isso, são os organismos multilaterais como, vou repetir, o Fundo Monetário Internacional, mas não é Fundo Monetário, é o BIS, que percebe claramente que produz dois efeitos. Você, quando expande nessa proporção a massa monetária, você produz dois efeitos. Um efeito é a desvalorização da moeda, desvalorização artificial da moeda, porque a desvalorização não artificial da moeda é produzida por ganhos de competitividade das economias domésticas. Esse não é um ganho de competitividade artificial. Equivale a uma barreira tarifária. Então, todo mundo se queixa de barreira tarifária, de protecionismo. Isso é uma forma de protecionismo.

Jornalista: Que outros países estão com o Brasil....

Presidenta: Mas tem um outro problema sério. Você cria uma massa monetária que não vai para a economia real. Ela produz o quê? Bolha. Bolha. Bolha, especulação. Não produz, ou seja, ela tem... Eu reconheço que é um mecanismo de defesa, mas o que você ganha com isso? Eu vou usar uma expressão do BIS, você ganha tempo só.

Jornalista: Que outros países estão com o Brasil nesta luta?

Presidenta: Todos os emergentes. O Brasil não vai fazer... não está sozinho nisso. Isso é uma constatação técnica. Não estamos falando nada de mais. É importante que se perceba isso. Assim como é importante conter a inflação e todo mundo discute inflação, é importante também discutir mecanismos incorretos de política cambial, por isso que o Brasil... O que o Brasil quer com isso é mostrar que está em andamento uma forma concorrencial de proteção de mercado, que é o câmbio. Não é tarifa. É o câmbio. O câmbio hoje é uma forma, uma forma artificial de proteção do mercado.

Jornalista: E se vocês não forem ouvidos, Presidenta?

Presidenta: Nós somos uma economia soberana. Tomaremos todas as medidas para nos proteger. Vamos ver quais.

Jornalista: Que medidas o Brasil tem, Presidente?

Presidenta: Como essa que nós levantamos recentemente, de IOF.

Jornalista: E a Fifa, Presidente?

Presidenta: Quarentena é você quer fazer. Não sei qual é o seu órgão de imprensa.

Jornalista: Folha de São Paulo.

Presidenta: Folha de São Paulo. Eu não estou defendendo quarentena, meu querido.

Jornalista: A senhora exclui, a senhora descarta...

Presidenta: Tem dó. Vou perguntar para a Folha se ela defende quarentena agora.

Jornalista: Presidente, e a crise com a Fifa?

Jornalista: Tchau, Presidente, obrigada.

 

 

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