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Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, no Forum CEO das Américas - Cartagena das Índias/Colômbia

Transcrição do Áudio

Cartagena das Índias-Colômbia, 14 de abril de 2012

 

Eu primeiro gostaria de saudar o presidente Juan Manuel Santos, agradecer a recepção fraterna e amiga, e queria também saudar o presidente Barack Obama com quem eu tive a honra de ter uma visita há pouco, no início da semana, nos Estados Unidos.

Eu queria dizer que a América Latina e o  Caribe são regiões do mundo que tiveram uma trajetória de muita dificuldade nas últimas décadas. Nós passamos por momentos de recessão, desemprego, crise, instabilidade macroeconômica. Eu acredito que, nesse processo, através, inclusive, das escolhas democráticas dos povos da nossa região, nós conseguimos, cada país da sua forma, ter um processo diferenciado de crescimento econômico na última década ou nas últimas décadas.

Esse processo se caracterizou por um aumento significativo da renda, do emprego, e também por uma ação, que eu acredito que foi muito importante. Uma ação no sentido da redistribuição de renda, o que explica que nós tenhamos construído um mercado interno de proporções muito significativas na grande maioria dos países dessa região. Diante desses fatos, que são extremamente importantes, porque implica numa mudança estrutural nos nossos países, eu queria destacar o fato de que a crise econômica coloca desafios para nós. Desafios esses, porque, necessariamente, uma crise econômica de proporções significativas como é essa que começa no mundo a partir de 2008, mas que ganha, agora nessa fase que nós estamos vivendo, uma característica muito grande de estagnação, de aumento elevado do desemprego, de aumento nos últimos tempos também de uma desigualdade de renda nos países desenvolvidos muito acelerada, com precarização do emprego. Todas essas características que não atingiram na proporção que no passado costumavam atingir as nossas economias, porque no passado, quando havia uma crise dessas proporções, as nossas economias, elas entravam em recessão, elas tinham crises, inclusive, financeiras de proporções muito elevadas. Mesmo considerando que elas não nos atingiram como ocorria no passado, nós não somos países que somos completamente imunes a esses fatos.

E eu tenho destacado uma característica desse processo que para nós é muito preocupante que é o fato de que a forma pela qual esses países mais desenvolvidos, especialmente no último um ano e meio, a zona do euro tem reagido à crise através, sobretudo, da expansão monetária provocando um verdadeiro tsunami monetário. Se você considerar desde 2008 até agora, nós tivemos um aumento de 9 trilhões de massa monetária. Isso está atingindo, além da diminuição da demanda dos países desenvolvidos, que são muito importantes para nós, está nos atingindo na medida que valoriza as nossas moedas, tornam nossas moedas um obstáculo para o comércio de bens e serviços e transformam nossas economias numa presa fácil de processo de desindustrialização.

Eu reconheço os méritos das ações expansionistas monetárias no sentido de evitar a crise gravíssima e aguda de liquidez que podia ter efeitos absolutamente devastadores no mundo. Mas o que eu estou dizendo é que a política monetária expansionista, sozinha, ela tem um fator, ela contem um fator de protecionismo que se caracteriza pelo fato de que essas moedas, quando elas não têm para onde ir, elas vão para aqueles mercados que são vistos como mais estáveis ou onde se pode fazer uma arbitragem. É claro que nós temos de tomar medidas para nos defender. Veja bem, eu usei a palavra defender e não proteger. Defender é diferente de proteger. A defesa significa que nós vamos ter de perceber que nós não podemos deixar que nossos setores manufatureiros sejam canibalizados. E achamos que seria muito virtuoso por parte dos países superavitários que eles pudessem usar, além de políticas monetárias, políticas de expansão do investimento. Não estou falando políticas de gasto corrente. Estou falando de políticas de investimento que, de um lado diminuiriam o desemprego nessas regiões, mas, de outro, permitiriam que os recursos da expansão monetária fossem destinados à saída da crise e uma maior prosperidade do mercado internacional.

Bom, nesse cenário, nós temos de reconhecer, aqui na nossa região, no nosso hemisfério, algumas coisas. Primeiro, a importância da economia americana, da economia dos Estados Unidos. A economia dos Estados Unidos, ela tem uma característica, a economia e o país têm uma característica muito importante nesse mundo multipolar que está surgindo, que eu gostaria assim, em linhas muito singelas, de elencar. Primeiro, a imensa flexibilidade da economia norte-americana, segundo, a imensa liderança na área de ciência, tecnologia e inovação que a economia americana tem e, terceiro, essa característica importantíssima que são as raízes democráticas que fundaram a nação americana, que tornam, portanto, nessa situação, ainda mais nessa situação de crise, que a economia americana e os Estados Unidos podem desempenhar um papel muito importante nesse novo mundo multipolar que agora surge, principalmente na América Latina, onde eu acho que tem um espaço imenso para que a nossa relação seja uma relação de parceria, mas de parceria entre iguais. Eu acho que esse fator de parceria entre iguais é um fator extremamente relevante e que encontra os dois pontos amadurecidos: o país mais desenvolvidos da região, que é os Estados Unidos, e os países latino-americanos. Até porque, nós países latino-americanos do Caribe, nós, países da América Latina e do Caribe, nós tivemos um processo, como eu disse, muito virtuoso de ampliação do mercado interno. E ao mesmo tempo uma coisa tem de ser destacada e nós temos de trabalhá-la, que é a importância da integração dos nossos países, das nossas economias. Seja... Se nós conseguirmos diversificar as cadeias produtivas, fazendo com que essas cadeias produtivas se articulem intra-regionalmente, seja pelo fato de que nós temos grandes parcerias a fazer na área de infraestrutura, seja ela logística, seja ela energética, e seja pelo fato que nós temos setores industriais significativos que podem ser articulados num processo de integração em que todos nós ganhemos, uma integração entre iguais. Eu acho que nós estamos num processo, nesse sentido.

Eu queria destacar, por exemplo, o extraordinário crescimento das relações comerciais entre a Colômbia e o Brasil, o extraordinário crescimento das relações de investimento entre os nossos dois países como um exemplo disso. Mas queria destacar que isso ocorre, isso, de forma, eu diria, exemplar ocorre com vários países da região. Nós temos um potencial de integração muito grande. Por que eu destaco esse fato? Porque eu acho que a integração é uma forma de nós nos articularmos para fazer face às consequências nefastas que a crise provoca. Mesmo que nós não tenhamos sido profundamente atingidos, esse processo, tendo continuidade e se verificando que começa um processo de recessão com desemprego, com uma expansão monetária significativa que provoca inflação e bolha. Se não houver investimento, é inexorável que provoque inflação e bolhas especulativas, para nós, países latino-americanos, países do Caribe nessa articulação e, considerando também a economia americana, é crucial que nós vejamos essa parte do mundo como um local propício para que nós estabeleçamos relações de parceria entre iguais do ponto de vista comercial, do ponto de vista do investimento, do ponto de vista da articulação governamental, procurando ações que não sejam ações protecionistas. Porque o protecionismo na nossa região não leva a crescimento econômico, nem à prosperidade, mas, ao mesmo tempo, nenhum de nós é ingênuo de não perceber que, diante de certos fatos, nós temos de nos defender.

Eu sou muito otimista em relação às relações dentro deste hemisfério e, sobretudo, as relações que nós, da América Latina e do Caribe, podemos ter na Celac, na Unasul, no Mercosul, no G-20, em todos os fóruns multilaterais no sentido de articular, também, processos de sustentação e de financiamento para os nossos setores produtivos, para os nossos investimentos, seja Focem, seja com os nossos bancos de desenvolvimento, seja com o BID, enfim, eu acredito que a transformação deste continente, além de apostar no mercado interno de uma maior distribuição de renda, passa necessariamente por uma maior integração.

 

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