14-10-2015 - Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, durante cerimônia de inauguração do Laboratório de Biotecnologia Agrícola do Centro de Tecnologia Canavieira-CTC - Piracicaba/SP
Piracicaba-SP, 14 de outubro de 2015
Boa tarde a todos.
Queria cumprimentar o governador Geraldo Alckmin, de São Paulo,
Cumprimentar o Luís Roberto Pogetti, presidente do Conselho de Administração do CTC,
Cumprimentar o José Gustavo Teixeira Leite, presidente do Centro de Tecnologia Canavieira,
Queria cumprimentar os ministros de Estado: Kátia Abreu, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Eduardo Braga, de Minas Energia,
Cumprimentar o prefeito de Piracicaba, Gabriel Ferrato,
Os deputados federais: Roberto Balestra, Zeca Cavalcanti,
Cumprimentar os produtores de açúcar e etanol e acionistas do CTC,
Cumprimentar o Sérgio Leite, presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo,
Quero dirigir um cumprimento especial aos pesquisadores, aos trabalhadores rurais, ao pessoal administrativo do Centro de Tecnologia Canavieira,
Cumprimentar aqui os senhores e as senhoras jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas.
Senhoras e senhores,
Em julho eu estive aqui, em Piracicaba, na cerimônia de inauguração da Unidade de Produção de Etanol de Segunda Geração da Raízen. Eu disse, naquele momento, que estávamos dando um salto para o futuro, um salto de imensa significação para o Brasil. Eu me lembro perfeitamente quando, na metade dos anos 2000, a discussão sobre o etanol de segunda geração tinha se iniciado. E, para nós, era um futuro distante sermos capazes de produzir etanol de segunda geração, quanto mais ver um centro de produção de etanol celulósico.
E eu quero dizer para vocês que isso tornou muito mais instigante ainda o fato de eu estar aqui hoje inaugurando o novo laboratório de biotecnologia agrícola do CTC. O CTC, onde se criaram as condições para que vários outros saltos sejam dados em direção ao futuro. Na verdade, na área de tecnologia o caminho é sempre composto de vários saltos.
E aqui, ao se ampliar a estrutura de pesquisa, de desenvolvimento tecnológico, de inovação, nós fortalecemos a capacidade do nosso país de assegurar o aumento de produtividade, de assegurar a sustentabilidade, enfim, de assegurar que a dinâmica da nossa indústria sucroenergética seja uma dinâmica de crescimento contínuo.
O CTC é conhecido pela competência e experiência de sobra na área de pesquisa. O CTC é responsável pelo fato de sermos grandes produtores de energia com base na cana-de-açúcar. São 46 anos de atuação em favor do avanço tecnológico. O CTC lidera pesquisas e inovações. E foram essas pesquisas, essas inovações junto com as nossas características que a natureza nos propiciou, mas, sobretudo, pelos nossos empresários da área que tornaram a produção de etanol numa vitória do nosso país.
Acredito que nós podemos chamar o etanol de “nossa energia verde e amarela”. Primeiro, porque ele é verde e amarelo e, segundo, porque aqui nós temos, de fato, uma energia em que o Brasil se distingue, sempre esteve na liderança. E, tenho certeza, com mais esse passo na inauguração do laboratório de biotecnologia sempre estará na liderança.
Nós sabemos que as pesquisas são decisivas para o futuro do etanol no Brasil, tanto as de melhoramento genético quanto as de desenvolvimento de novas variedades, mas, sobretudo, as pesquisas em direção à viabilidade econômica do etanol celulósico.
Hoje eu vi algo ainda mais importante que é o efeito das pesquisas sobre a produção de cana-de-açúcar, a produção agrícola de cana-de-açúcar. O fato, até há pouco inimaginável, que iríamos produzir cana-de-açúcar com base em sementes, em sementes. E é emocionante ver aquelas pequenas células transparentes com um germe de uma plantinha, pequeno, dentro daquelas células que involucram toda uma imensa produção. Involucram talvez a mais perfeita combinação energética do nosso país, que é a produção de combustível, de combustível verde; que é a produção de energia elétrica com base na biomassa; que é a produção, a partir da vinhaça, também de energia através de biodigestores. Enfim, que é a complexa capacidade de produzir energia numa determinada unidade. E que essa produção seja capaz de garantir para o Brasil uma posição de liderança no que se refere à mudança do clima.
Eu queria destacar também a parceria estratégia que o CTC desenvolve com a Embrapa, ministra Kátia Abreu. Quero também destacar o plano de apoio à inovação tecnológica e industrial dos setores sucroenergético e sucroquímico. O país do Inova Empresa, do BNDESPar, que tornou-se um dos acionistas do CTC Sociedade Anônima. Aliás, essa presença do BNDES é coerente com a atribuição deste banco de apoiar o desenvolvimento tecnológico em nosso país.
Com esse laboratório e com as parcerias que aqui eu verifiquei, que tem razão o governador Alckmin, o que deve produzir grande orgulho em nós mulheres: a presença de mulheres pesquisadoras dominantemente. E acredito que o senhor tem razão, o senhor deve propor cotas, porque aqui nós ultrapassamos os 50%. Acredito também que a história de sucesso do CTC vai continuar contribuindo para que nós superemos as dificuldades que o país enfrenta.
Um dos integrantes do governo americano, durante os períodos que se desenvolveram em torno da crise que começou em 2008, e que tinha se prolongado já há três anos, disse, no início de 2011, para mim, que a visão dele era que, uma crise era algo muito doloroso para se desperdiçar. Eu acredito que esse momento de dificuldades é algo muito doloroso para o Brasil desperdiçar. Esta é a hora de nós nos unirmos e buscarmos fazer aquelas mudanças, aquelas alterações, aquelas iniciativas, aquelas obras que vão, de fato, construir a ponte que nos levará para um outro estágio de desenvolvimento do nosso país.
O Brasil, sem dúvida, é mais robusto, mais resiliente, mais forte agora do que foi em qualquer um dos momentos anteriores. Agora, nós, para enfrentar a crise, não precisamos voltar para trás. Agora, para enfrentar a crise nós temos de seguir adiante. Se o câmbio se desvalorizou, é hora de nós apostarmos no que já está acontecendo que é o aumento das nossas exportações. Nós saímos praticamente de um déficit comercial de [US$] 4 bilhões para um superávit que já atingiu os US$ 12 bilhões e que, certamente, chegará até o final do ano a valores maiores.
Sem sombra de dúvida também, esta desvalorização cambial, até porque o nosso câmbio estava, sem sombra de dúvida, extremamente valorizado, vai implicar numa alteração nas condições de substituição de importação. Vai implicar que vários setores podem e devem sair na frente. Eu acredito que este laboratório faz parte de um processo de construção do futuro de nosso país, contribuindo para elevar a competitividade desse setor.
E agora nós temos de enfrentar um desafio: em dezembro nós iremos participar da COP-21. Em dezembro nós temos de mostrar como nós iremos cumprir a nossa meta, que é uma meta factível e ambiciosa. A meta de, com base em 2005, reduzirmos as nossas emissões de gases de efeito estufa em 43%. Uma das bases dessa redução em 43% está certamente na matriz de combustível que, aliás, é o segmento mais difícil de propiciar redução de gás de efeito estufa no mundo. Nós temos uma vantagem: nenhum carro se move, nesse país, se move sem etanol. Nós construímos isso ao longo da história. Nós estamos nos comprometendo com uma meta audaciosa para o etanol, de elevar, como já disse o ministro de Minas e Energia, de 30 para 50 milhões de toneladas a contribuição do etanol na nossa matriz de combustível.
Eu tenho a certeza, depois de julho, quando eu vi a produção de etanol celulósico, mas também e, sobretudo, agora que eu vejo o nível de desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação aqui neste laboratório, que nós temos todas as condições para cumprir essa meta e, se for o caso, até superá-la. Nós sabemos que essa conferência, vai ser um momento muito importante para que nós façamos com que o mundo saiba como é que se produz etanol aqui e qual é o futuro que nós delineamos para essa área de atividade.
Tenho certeza - e os senhores podem contar com o governo - que nós iremos deixar isso claro em dezembro, lá em Paris. Vamos deixar claro que as nossas metas não são só factíveis, mas que o Brasil, mais uma vez, mostrará que nesta questão da energia renovável, a energia verde e amarela é, sem sombra de dúvida, aquilo que o mundo pode esperar de nós como contribuição nesta área.
Quero ainda dizer que eu tenho certeza que nós iremos fazer essa travessia para o novo ciclo de crescimento, mais sustentável, no qual a estabilidade econômica, o controle da inflação, mas, também, a formação de um grande mercado interno continue através da inclusão social.
Finalmente, queria aqui deixar claro que seremos, e somos, parceiros. E eu acredito que pesquisa, que aplicação de pesquisa, como disse uma pesquisadora até do exterior que falou comigo, ela disse algo que eu acho absolutamente perfeito: “Aquela pesquisa que nós queremos é, de fato, a pesquisa básica, a pesquisa científica. Mas é uma pesquisa científica que vira tecnologia, ou seja, que vira a semente que inova e que, ao ser aplicada pelos produtores resultarão numa produção muito mais eficiente, num gasto muito menor de energia e, obviamente, num comprometimento ainda menor do meio ambiente”.
Por isso eu quero dar os parabéns a todos os empresários, a todos os pesquisadores, a todos os cientistas, a todos os trabalhadores que aqui no CTC e neste laboratório, lutam para que o nosso Brasil seja também o Brasil do conhecimento, da economia do conhecimento e da aplicação dela em prol da sociedade.
Muito obrigada
Ouça a íntegra (17min10s) do discurso da Presidenta Dilma Rousseff