Você está aqui: Página Inicial > Presidência > Ex-Presidentes > Dilma Rousseff > Discursos > Discursos da Presidenta > 06-05-2016 - Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, durante cerimônia no âmbito da visita à Estação de Bombeamento EBI-2 do Eixo Norte, do Projeto de Integração do São Francisco-PISF - Cabrobó/PE

06-05-2016 - Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, durante cerimônia no âmbito da visita à Estação de Bombeamento EBI-2 do Eixo Norte, do Projeto de Integração do São Francisco-PISF - Cabrobó/PE

Cabrobó-PE, 06 de maio de 2016

 

Olha, depois desse “eu te amo”, eu fico muito feliz e digo para vocês: eu te amo!

Eu queria começar dando uma boa tarde aqui ao pessoal. Cumprimentando o pessoal que está lá no sol, aqui, o pessoal que está ali embaixo e o pessoal que está lá, e aqui, o pessoal aqui mais perto. Um abraço a todos vocês. E um coração muito grande para cada um e cada uma.

Eu agradeço as palavras dos nossos dois governadores aqui do Nordeste. Gente, é o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, e o governador do Ceará, nosso querido companheiro Camilo.

E eu queria também falar dos nossos deputados federais. E eu queria pedir uma salva de palmas para eles: os deputados federais aqui, todos votaram contra o impeachment: o José Guimarães, lider do governo; o nosso Adalberto Cavalcante, que falou aqui para vocês; Arnon Bezerra; a Luciana Santos e o Sílvio Costa.

Queria cumprimentar o Maurício Muniz e o Josélio Moura, os ministros que vêm comigo, aqui. O Maurício, da Secretaria de Portos e do PAC; e o Josélio, da Integração.

Eu quero dar uma palavra, uma saudação, um abraço ao nosso querido arcebispo de Natal, dom Jaime Vieira Rocha.

Queria cumprimentar os prefeitos: o Marcones de Sá e o Laerte Freire de Sá.

Cumprimentar aqui os presidentes das Câmaras Municipais de Cabrobó, o Zezito Salú; de Terra Nova, o Pedro Calú; e de Salgueiro, o Pedro de Compadre.

Agora, gente, eu quero dar um abraço nos representantes da sociedade civil: o Neguinho Truca, liderança indígena Trucá; o Waldemir Menguel, representante das vilas produtivas rurais; a Valdeci Maria Oliveira, do quilombo Conceição das Crioulas; a Joana Angélica, do quilombo Jatobá 2; o Zé Francisco Rodrigues, do assentamento Baixa Grande; o Carlos Veras, presidente da CUT estadual de Pernambuco; e o Roni Moura, diretor de relações institucionais da empresa que está fazendo a obra, Mendes Júnior,

Cumprimentar os jornalistas, os fotógrafos e os cinegrafistas.

 

Gente, é um momento, sem dúvida, de muita alegria quando a gente chega aqui e olha essa obra. É, eu acho, a quarta ou quinta vez que eu venho aqui acompanhando trecho a trecho, cada passagem, e a gente se encanta olhando a água passar.

Nós sabemos que essa é uma obra que, há muito tempo, ela é uma obra proposta para o Brasil, desde a época de Dom Pedro II. Lá se vão mais de 150 anos, eu acredito. Então, a pergunta é: por que essa obra só agora, com o governo de Lula e no meu governo, que se decidiu fazer essa obra? Por quê? Por um motivo simples: Porque o governo é feito de escolha. Como a administração da casa da gente, você escolhe com o dinheiro que você tem o que você vai fazer. Nós também. Nós escolhemos fazer a integração do São Francisco. Pessoal, eu amo vocês! E por que nós escolhemos? Por que nós escolhemos? Primeiro, porque nós fomos eleitos com o voto de vocês. Depois, porque nós temos compromisso com o povo deste País. E não só com o povo do País Nós sabemos que, ao longo da história deste País, não só o povo não teve voz nem vez, mas também... Aliás, com algumas grandes exceções, em alguns períodos da nossa história, o povo teve voz e vez.

Mas o que eu quero dizer, não foi só por isso, foi  também porque nós sabemos, o Lula, porque saiu aqui do Nordeste num caminhão como retirante. Sabia o que era não ter água. Não ter água é não ter vida, não ter água é não conseguir viver. Por quê? Porque você não consegue plantar e produzir, porque você não consegue dar educação para seus filhos, você não dá saúde adequada. Então, olhar para esse lugar, que é o Nordeste do Brasil, para o Ceará, para Pernambuco, para a Paraíba, enfim, para todos os Estados, é olhar nos olhos do povo deste País. É olhar no coração do povo deste País. Aqui mora uma parte muito importante do Brasil, essa parte trabalhadora que tinha de sair daqui e construir este País lá no Sudeste, lá em São Paulo. Esse povo que deu ao País suas grandes lideranças, como é o caso do doutor Arraes. Esse povo é absolutamente importante para que o Brasil cresça.

Então, trazer a água para o Nordeste era uma das exigências. Trazer água para que aqui a gente pudesse ter condições dignas de vida para a população é algo fundamental. Eu imagino e quero dizer para vocês: se tiver uma coisa que eu vou ficar muito triste na minha vida é não ver o dia que e a dona Maria ou o seu João abrirem a torneira e a água escorrer e eu não estar aqui para comemorar com vocês. Quero dizer que meu coração vai ficar partido, vai ficar partido porque é uma grande injustiça. Nós lutamos para fazer essa obra, nós fizemos os projetos.

Nunca no Brasil tinham feito uma obra desse tamanho. Nós tivemos de aprender fazendo. Essa obra foi feita com o esforço dos trabalhadores e das trabalhadoras. Foi feita com o esforço dos nossos engenheiros. Foi feita também com a participação dos nossos governadores, que ajudaram e deram respaldo. Essa é uma obra que muita gente segurou no braço. E se ela hoje está nesse ponto em que está é porque todos nós tivemos um imenso empenho, um grande trabalho e uma dedicação imensa para que ela se realizasse.

E eu quero, então, falar para vocês algumas coisas. Vejam só: eu fui eleita por 54 milhões de votos. A maioria deles e isso, inclusive, foi objeto de alguns preconceitos –, a maioria deles eu conquistei aqui no Nordeste. Muitos quiseram, como sempre fazem, dividir as coisas. Tive votos lá no Sul e no Sudeste, mas o povo do Nordeste, proporcionalmente, foi quem mais votou em mim. Eu nunca esqueci isso e nunca vou esquecer.

Mas aí eu fui para a eleição. Na minha eleição, eu me comprometi com várias coisas. Ninguém votou em mim pelos meus belos olhos, apesar deles serem muito belos, mas não foi por isso que votaram em mim. Votaram em mim porque eu tinha compromissos. Por que o povo votou em mim? Votou em mim porque eu tinha um programa. E nesse programa estava lá escrito: o Bolsa Família é muito importante; o Minha Casa Minha Vida é um programa que garante dignidade e lar para as pessoas, lar, que é a palavra mais bonita, lar. Porque é no lar que você cria a sua família, que você cria seus filhos, recebe seus amigos.

No meu programa, estava lá, também, a integração do São Francisco, a água para todos, água para todos, a água das cisternas que nós espalhamos pelo semiárido, mas a água dessa solução fantástica que é a interligação das bacias levando água para locais que não tinham água. Esse programa me elegeu.

Pois bem, agora pessoas que não acham que a prioridade são os gastos sociais do governo, pessoas que acham que o negócio é focar, focar nas políticas sociais. Sabem o que é focar nas políticas sociais? Saiu nos jornais o que é focar nas políticas sociais. É o seguinte: acham que é um desperdício, um gasto desnecessário, o Bolsa Família para a quantidade de famílias que nós colocamos o Bolsa Família para elas. Acham que só 5% dos mais pobres, só 5% da população brasileira deve ter acesso ao Bolsa Família. Quanto é 5% da população brasileira? São 10 milhões de pessoas. Quantas pessoas hoje recebem o Bolsa Família? 47 milhões de pessoas.

Então, qual é a conta do foco? A conta do foco é o seguinte: só damos para 10 milhões, os outros 36 que se virem. E é isso que eu não concordo, porque nós, eu e a minha chapa, fomos eleitos para garantir o Bolsa Família para 47 milhões. O voto que vocês me deram foi para isso. O voto que vocês me deram foi para garantir as políticas sociais.  

Então, veja bem, aí resolvem que essa crise tem de ser enfrentada reduzindo os programas sociais, reduzindo. Às vezes, eles mudam a palavra para “rever”, às vezes, a palavra é “revisitar” e, em outras vezes, é “focar”. Mas é isso que está em curso.

Bom, então vamos aqui pensar nós todos juntos. Primeiro eles dizem “o impeachment é legal porque está previsto na Constituição”. Tá bom, o impeachment está previsto na Constituição. O que é que eles não falam? É que o art. 85 é claro: para ter impeachment tem de ter crime. Ora, eu não tenho conta no exterior, eu não sou conhecida por receber dinheiro de corrupção, eu não recebo propina. Então, o que eles fizeram? Inventaram uma coisa chamada pedalada fiscal. A tal da pedalada fiscal é feita hoje por governadores, prefeitos e também os presidentes que me antecederam. Por exemplo, eu sou acusada de 6 decretos, o Fernando Henrique Cardoso fez 101 decretos. Do mesmo tipo dos meus 6, ele fez 30.

Então, é o seguinte, resolveram que o impeachment é uma forma disfarçada de eleição indireta. Eleição indireta. Por que eleição indireta e não eleição direta? Porque se forem para a eleição direta, o povo não vota neles. É por isso. Por uma coisa muito simples. Como é que vocês acham que alguém vai votar em quem quer reduzir direitos? Por que alguém deste País, desse povo esclarecido, vai votar na perda de direitos, que é o que eles querem nos impor? Então, eu digo para vocês: não há legitimidade porque esse é um golpe que não é só contra a democracia, não. É contra os programas sociais, os compromissos que, ao longo de todos esses 13 anos, desde o governo Lula, nós assumimos com a população brasileira.

Pela primeira vez, foi falado aqui diante da seca, diante da coisa que era um verdadeiro martírio para a população do semiárido nordestino, pela primeira vez, não há saque, não há violência em feiras porque as pessoas estão passando fome e tem de alimentar seus filhos e para elas não resta nenhuma alternativa, a não ser a violência. Sabe por quê? Porque nós fizemos programas sociais. E esses programas sociais não eram só para acabar com a miséria. É muito mais que isso, é para dar dignidade ao povo deste País. Pela primeira vez, nós escutamos: o filho do pedreiro pode virar doutor, a filha da empregada doméstica pode estudar.

Outro dia, lá no Palácio, nós estávamos fazendo uma comemoração e, ao mesmo tempo, uma prestação de contas sobre o ensino superior. E uma moça foi lá dar o seu testemunho. Ela é médica, e a mãe dela era empregada doméstica. E ela se formou em medicina. E ela concluiu a fala dela dizendo o seguinte: a casa grande surta quando a senzala vira médica. Essa frase dela é uma síntese do que acontece. É isso. A casa grande surta quando a senzala vira médica.

E isso nós vimos em várias coisas. Nós vimos no fato que, pela primeira vez, as pessoas puderam viajar de avião. Nós vimos pelo fato de termos feito o Pronatec e milhões de pessoas, 9 milhões e meio de pessoas, jovens trabalhadores e trabalhadoras, porque nessa história as mulheres tiveram sua vez também. Mais da metade do Pronatec é de mulher. E isso é algo muito importante. Eu me orgulho muito da Lei de Cotas nas universidades. A cor do brasil apareceu nas escolas superiores. Nós somos um País de origem negra, de origem indígena e de origem europeia, asiática. E aí, se vocês olharem hoje na universidade pública brasileira, as diferentes cores do Brasil estão lá retratadas, estão lá.

Eu quero dizer para vocês que um governo deve ser julgado sempre pelas escolhas que fez. Eu tenho imenso orgulho das escolhas que eu fiz. Aliás, eu tenho clareza que esse golpe tem um motivo, e o motivo é que o Brasil, nesses 13 anos, mudou, mudou. As pessoas ganharam autoestima e dignidade.

E quero dizer para vocês: eles sempre quiseram que eu renunciasse. Sabe por quê que eles queriam que eu renunciasse, por conta de uma coisa, só escuta. Sabe o tapete? Você levanta o tapete e esconde a sujeira debaixo do tapete. Se eu renunciar, eu vou para debaixo do tapete. E eu não vou para debaixo do tapete, eu vou ficar aqui, brigando, brigando. Porque eu sou a prova da injustiça. Eles estão condenando, nesse impeachment, uma pessoa inocente. E não há nada mais grave do que condenar uma pessoa inocente. Todos nós sabemos disso.

E aí, eu quero encerrar dizendo uma coisa para vocês: a nossa democracia é generosa, a nossa democracia não é uma democracia de fachada, feita para alguns poucos. A nossa democracia é uma democracia generosa, ela é a democracia do povo brasileiro.

E quero dizer uma coisa: o lado certo da história é o nosso lado, o lado do povo deste País.

Um grande abraço. Um beijo no coração.

 

 Ouça a íntegra (23min05s) do discurso da Presidenta Dilma Rousseff

registrado em: , , ,