29-04-2015 - Discurso da presidenta da República, Dilma Rousseff, durante o 3º Festival da Juventude Rural - Brasília/DF
Parque da Cidade – Brasília-DF, 29 de abril de 2015
Boa noite, juventude.
Eu quero desejar, aqui, a cada um dos jovens, a cada uma das jovens presentes... Vocês sabem qual é a maior prova de que aqui estamos aqui no Festival da Juventude? É que o pessoal senta. Por dois motivos: porque senta em respeito aos outros mas, também, porque na minha idade eu não sento não, gente. Então, eu fico muito feliz de ver aqui vocês todos com essa alegria, nesse 3º Festival da Juventude.
Eu vou cumprimentar, vou começar cumprimentando a Mazé - viu, Mazé? -, como a nossa secretária de Trabalhadores e Trabalhadoras Jovens Rurais, eu saúdo a Mazé. E saúdo esse jovem que é o Alberto Broch, presidente da Contag.
Antes de começar, eu queria propor, queria que alguém marcasse aí, um minuto de silêncio para um jovem, um eterno jovem, ex-presidente da Contag, Manoel de Serra. Queria propor esse um minuto de silêncio porque o Manoel é aquele jovem que traz dentro de si a força da transformação e que deu sua contribuição e que, infelizmente, nós o perdemos, e ganhamos a sua memória. Então, um minuto de silêncio em homenagem ao Manoel de Serra. Obrigada a todo mundo.
Cumprimento também os ministros que estão me acompanhando nesse ato: o ministro Miguel Rossetto, da Secretaria-Geral; ministro Patrus Ananias, do MDA; e o ministro Edinho Silva, da Comunicação Social.
Queria cumprimentar o deputado Padre João, aqui presente,
Os representantes das Centrais Sindicais: o Pedro Armengol, da CUT, e o Vitor Espinoza, da CTB.
Queria cumprimentar as companheiras e os companheiros da diretoria da Contag. E os membros da Comissão Nacional de Jovens do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais.
Cumprimento, também, os senhores jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas que estão trabalhando aqui nessa noite, nessa noite fantástica, com essa força imensa dessa juventude, que mostra como o Brasil é poderoso.
E, por isso, eu quero dizer para vocês que para mim é muito dificil descrever o que significa olhar para vocês daqui de cima e ver essa quantidade de jovens, homens e mulheres, que são responsáveis por muita coisa: são responsáveis pelo fato de que o Brasil tem hoje fornecido, basicamente pela agricultura familiar, pelos assentamentos, tem hoje um fornecimento de alimentos de qualidade. Só por isso, essa juventude aqui tem de ser respeitada. Mas tem de ser respeitada por muito mais razões, principalmente porque está em vocês o futuro deste país. E a diferença é aquela que o Broch disse: “O futuro sempre começa hoje, futuro que não começa hoje nós não chegamos nele”. Por isso eu fiz questão, depois de convidada insistentemente pela Mazé, de vir aqui falar com vocês. Falar com vocês das nossas preocupações. Nós não podemos... nós não somos aquele tipo de governo que fala: “Ó, nós fizemos isso; ó, nós fizemos aquilo ou nós fizemos aquilo outro!”. Por quê? Porque tudo que foi feito nesse país tiveram como protagonistas, como sujeitos, essa relação entre o governo e o movimento social, em especial aqui, eu estou me referindo à Contag e a todos os pleitos que em cada Grito da Terra, em cada Marcha das Margaridas, em cada Festival da Juventude, vocês dirigiram para nós. Muitas das coisas conquistadas são fruto dessa conversa, dessa discussão, do fato que vocês reivindicam, do fato que vocês defendem posições, daí a importância de um Festival como esse.
Nós sabemos que os avanços que ocorreram - e ocorreram - se devem a este relacionamento entre nós. Durante esse Festival, duas reivindicações, não das maiores, mas, de qualquer jeito, duas reivindicações foram atendidas. Os 22 mil jovens que serão atendidos pela assistência técnica e extensão rural com a nova chamada aberta agora pelo Ministério do Patrus, do Desenvolvimento Agrário. Nós atendemos a totalidade da demanda que foi colocada para nós. Além disso, o BNDES e a Fundação Banco do Brasil vão investir para apoiar a organização de empreendimentos coletivos da juventude de base familiar. Essas duas ações estão alinhadas com algo que, para mim, é a revolução feita pela agricultura familiar no Brasil. Ela está em andamento, ela deu alguns passos, mas esses passos se manifestam em várias coisas. Eu acho, na questão da agroindústria familiar: na agroindústria familiar, as mulheres têm um papel muito importante.
Além disso, na produção de alimentos agroecológicos, olhar e ver que o Brasil pode ter como base da produção de alimentos sem contaminação, sem manipulação, pode ter como base desse fornecimento a agricultura familiar, e dentro da agricultura familiar, os jovens que ficam na zona rural. Mas o jovem só vai ficar na zona rural se na zona rural nós tivermos as mesmas, as mesmas vantagens, garantias e, sobretudo, oportunidades que tem nas cidades. Ninguém que não tiver as mesmas oportunidades, vantagens e garantias fica.
Daí eu vou começar por algo que é muito importante para o jovem, a questão da internet na zona rural. Porque vocês vejam só, como é importante esse momento que todos nós vivemos. A internet é uma forma de te ligar com o mundo onde quer que você more. Se você mora no lugar mais distante, você pode conversar com outro lugar mais distante. Daí a importância da internet para a juventude, para a juventude de trabalhadoras e trabalhadores rurais, de pequenos agricultores familiares, de assentados da reforma agrária. Esta é uma condição de vida essencial. Sem isso não vai haver essa presença dos jovens no campo. Por isso, o meu governo tem um compromisso e a exigência a cumprir no sentido de levar a banda larga para a região rural do Brasil.
Eu quero falar de uma outra coisa que o Broch falou: É óbvio que para você produzir alimento, não se produz sem terra. Daí a importância da reforma agrária através de todos os mecanismos, inclusive, o que você falou, do crédito fundiário. Agora, nós temos que garantir que essa reforma agrária seja qualificada, seja qualificada através de assistência técnica, seja qualificada através do crédito, seja qualificada através da compra induzida, para se sustentar a demanda, o rendimento e as condições de vida no meio rural.
Nossa tarefa, também, é garantir habitacão de qualidade, porque isso é para as famílias, mas, sobretudo, é para os jovens, porque o jovem tem de morar na zona rural como ele mora nas cidades. Até que na zona rural tem sido mais fácil, Broch. Sabe por quê tem sido mais fácil? Porque há muita especulação na zona urbana do país, não que não exista na rural, existe, mas é menor. Então, o preço da terra permite que a gente faça um projeto em conjunto com os movimentos sociais, a chamada Minha Casa Minha Vida Rural.
Queria me referir também à questão... uma questão que ele levantou e que, de fato, é uma questão essencial: é o problema do acesso à educação. Vocês sabem que nós fizemos um grande esforço, tanto no governo Lula como no meu governo, para fazer uma coisa: assegurar o acesso a universidades e escolas técnicas profissionais onde não existia. E, com isso, nós interiorizamos, colocamos em regiões que jamais tinham ouvido dizer que haveria ali uma escola técnica ou uma universidade. Agora, esses institutos técnicos, junto com vocês, tem de, também, dar formação técnica, através do Pronatec. O Pronatec Rural, Broch, depende também muito de vocês. Depende de vocês no sentido de a gente formatar, cada vez mais, um programa que atenda a essa juventude.
E eu quero dizer para vocês uma coisa: lá atrás, nós fizemos uma escolha estratégica. Qual foi a escolha estratégica que nós fizemos, e que é isso que eu considero a coisa mais importante do meu governo? Nós optamos por uma visão de desenvolvimento, que era uma visão de desenvolvimento baseada no povo brasileiro. Era para atender, e para resolver a imensa desigualdade deste país que nós dirigíamos todos os nossos esforços. Na questão agrária estava uma das grandes desigualdades desse país. Desigualdade no acesso à terra, desigualdade no acesso ao crédito, desigualdade de oportunidades.
Eu quero dizer para vocês que essa opção feita, começou a ser feita lá atrás no governo Lula e veio andando. Ela, dela e com ela, é que nós iremos para frente. Dela nós não abrimos mão; com ela nós prosseguiremos definindo as políticas desse governo, e por ela nós lutaremos sistematicamente todos os dias. Daí também a importância dos direitos: do direito da juventude, principalmente da juventude negra, de ser uma juventude viva e não uma juventude objeto da discriminação e da violência.
E aí, eu quero entrar, eu quero entrar em uma questão bastante polêmica, que é a questão da redução da maioridade penal. Toda a experiência demonstra que a redução da maioridade penal não resolve a questão da violência. Não resolve. Não se pode, não se pode acreditar, que a questão da violência que atinge o jovem ou que o utiliza, decorre da questão da maioridade ou da redução dessa maioridade. Nós no governo defendemos - e eu defendi isso na campanha - nós defendemos que a pena seja agravada para o adulto que utilizar o jovem como escudo dentro de uma organização criminosa. Não é reduzindo a maioridade penal, é agravando a pena daquele adulto que usou o jovem para a sua ação, sabendo que com isso ele estava ampliando o seu raio de ação.
Por isso, eu quero falar aqui, também, de outra violência, que é a violência contra as mulheres e os negros, as mulheres e os negros jovens. Este país só será, de fato, uma verdadeira democracia se nós soubermos lutar contra o preconceito de todas as ordens que o atinge. E, aí, eu quero dizer para vocês: eu confio e acredito na luta de vocês. Porque é essa luta de vocês, é essa mobilização da sociedade que pode impedir, que pode reduzir, que pode restringir a discriminação, a violência e, sobretudo, também a corrupção.
Quero dizer para vocês que o meu governo foi o governo que definiu todas as políticas, que liberou, impediu que houvesse engavetadores, que eram tradicionais no Brasil, deu autonomia à ação da Polícia Federal e respeitou a independência e a autonomia do Ministério Público para investigar. E quero dizer ainda mais: essa confusão entre o que é privado e o que é público vem lá de trás nesse país; tem a mesma idade que a escravidão. A confusão entre o que é bem individual e o que é bem público decorre de uma coisa chamada patrimonialismo, que era típico da oligarquia rural brasileira, que achava que o Brasil, como nação, era só dela, porque uma parte da população era escrava e não tinha direito nenhum. Essa confusão é uma confusão ética, é uma confusão política e é uma confusão que não constroi a nossa nacionalidade. Daí a importância de a gente ter claro que a visão do público é algo essencial. Nós temos de respeitar o que é o bem público, nós temos de ser capazes de prestar contas sobre esse bem público e, sobretudo, nós temos como governo, de ser capazes de defendê-lo. E quero assegurar para vocês, estamos fazendo.
E aí, eu termino dizendo: eu confio que vocês são a força que move esse país. Eu confio e vocês podem continuar contando comigo, contando com o meu governo, com os meus ministros, porque nós iremos dar suporte ao desenvolvimento de vocês como jovens, como brasileiros, como brasileiras e, sobretudo, pelo fato de vocês serem os responsáveis por uma parte fundamental do país, que é aquela que produz alimentos e os coloca na mesa de cada um. Muito obrigada.
Ouça a íntegra (21min01s) do discurso da Presidenta Dilma