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14-08-2015 - Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, durante o evento Dialoga Bahia - Salvador/BA

Salvador-BA, 14 de agosto de 2015

 

Obrigada querida. Obrigada, gente, obrigada. Olha, para mim é um prazer estar aqui.

Eu queria cumprimentar o governador, agradecer as palavras. Acho que o Ilê Aiyê inspirou o governador. E quero dizer para vocês que, para mim, é uma alegria estar aqui com cada um de vocês.

Cumprimento também os dois ex-governadores aqui presentes. Pela ordem, o nosso querido Waldir. Um abraço, Waldir, um grande abraço. E  o nosso ex-governador Jaques Wagner, hoje me dá a honra de ser ministro da Defesa. Não mexam com ele, ele é ministro da Defesa.

Eu quero também cumprimentar a Fátima Mendonça,

Cumprimentar os ministros aqui: o Chioro, o nosso querido Juca, cumprimentar o Miguel e cumprimentar a Tereza.

 

Quero dizer para vocês que eu vou começar respondendo uma pergunta da Ana, que perguntou… ela não perguntou, ela falou na “gatice”. Eu vou aproveitar a pergunta, a pergunta não, a constatação e te dizer uma coisa que é a seguinte: vou começar pelo Chioro, é vida saudável. Mesmo debaixo da pressão, mesmo debaixo da, eu diria o seguinte, da imensa desfaçatez e intolerância que recai em alguns momentos lá em Brasília, eu acho que todo mundo tem de se esforçar para manter a serenidade. Porque a serenidade e a vida saudável, ela te dá condições de enfrentar a dificuldade. Então, é muito bom. Você come menos, você se esforça mais, você acorda cedo e trabalha até tarde.  Essa é a minha vida saudável. Faça exercício, acorde cedo, trabalhe muito e enfrente a vida. Porque aquilo que meu conterrâneo - que nós todos somos um pouco baianos, os mineiros também - dizia: “Da vida, o que a vida quer da gente é coragem”. É isso que a vida quer da gente.

Mas, eu quero dizer para vocês que para mim é muito importante estar aqui. Acho que o tema principal desse meu segundo mandato, por tudo que nós aprendemos, por tudo que nós recolhemos, pelas conferências que nós fizemos, por olhar cada setor, por olhar o setor da cultura - e aqui eu não podia deixar de saudar toda a cultura, ao saudar a Margareth Menezes -,  todas as conferências, nós aprendemos que tem um poderoso, um fortíssimo instrumento, uma verdadeira arma, que é o diálogo e a participação popular.

Uma vez, lá atrás, o nosso ministro da Cultura estava fazendo o encerramento da Conferência da Cultura - não é, Juca? - a Segunda Conferência da Cultura, e tinha… e contou uma história de um ribeirinho lá do Amazonas, para quem perguntaram: “Mas, vem cá, por que se faz conferência? Qual é o papel da Conferência?” E eu acho que ele respondeu com a aquela sabedoria que o povo brasileiro tem: “Uma conferência é para conferir se tudo está nos conformes”. E eu nunca vou esquecer: dialogar é para conferir, é para sugerir, é para criticar, é para olhar se está tudo nos conformes, se nós estamos no caminho certo, se nós podemos melhorar. Porque nenhum de nós nasce com a verdade. E aí, verificar se tudo está nos conformes é uma tarefa coletiva, não pode ser feita lá em Brasília, não pode ser pela presidenta e pelos ministros. Só pode ser feita pelo governo com o seu povo. Se não faz com governo e com o seu povo, a gente não vai conferir nada. Então, hoje, aqui, a primeira parte que nós fizemos é explicar o que nós estamos fazendo. Porque se a gente não explicar o que está fazendo, como que é que vocês vão saber se está bom, se está médio, se pode melhorar, se tem como avançar.

E aí, eu vou usar aqui uma participação, uma fala de uma participação absolutamente espontânea que surgiu aqui, unindo dois programas: Minha Casa Minha Vida e a Cultura, da senhora. Ela gritava que tinha de ter cultura no Minha Casa Minha Vida. E eu quero dizer para ela que eu concordo com ela. E concordo pelo seguinte: em todos os residenciais que eu vou tem um espaço que é o espaço social. Aquele espaço social é para que? Uma das coisas mais importantes que se pode fazer junto, além de a gente dialogar, eu acho que é se expressar. E a cultura é isso: é a forma mais forte de expressão que nós, ao longo da história da nossa evolução e do momento histórico que cada um de nós vive,  nós entrarmos em contato um com o outro. Porque o que nos distingue é a nossa capacidade imensa de nos socializar. Ninguém vive sozinho.

E aí, é muito importante num projeto social como o Minha Casa Minha Vida, para, de fato, ser minha casa,  tudo bem, agora, para ser minha vida tem de ter cultura. E aí eu queria que o Juca fosse atrás do ministro das Cidades e ficasse em cima, porque tem o espaço. Tem o espaço, tem o lugar, tem as pessoas, logo, dá para fazer. E isso é uma sugestão que saiu aqui. Se eu não tivesse aqui, eu não tinha escutado. Então, primeiro, eu te agradeço. Como é que você chama? Marli… Como? Marli Carrara. Te agradeço, Marli Carrara.

Bom, mas eu queria dizer alguma coisa para vocês. Tem alguns programas aqui que eu tenho muito orgulho. Eu tenho muito orgulho, mas a gente tem orgulho quando a gente luta para conquistar. Um deles é o Mais Médicos. Quero dizer para vocês que o meu governo lutou para fazer o Mais Médicos. Nós tínhamos consciência que faltava médico, nós tínhamos consciência que faltava médico.  Aí escutamos uma porção de gente. Os prefeitos. Os prefeitos falavam: “Ó, não tenho de onde tirar dinheiro para pagar o médico”. Além dos prefeitos, nós escutamos os movimentos sociais. Toda reivindicação que aparecia para mim era: o posto de saúde estava fechado, quando chamam de posto de saúde; às vezes chamam de unidade básica de saúde, a unidade básica de saúde estava fechada; e às vezes chamam de posto de saúde da  família: não tinha quem me atendesse. E era aquela angústia.

E nós descobrimos - viu, Fatinha? - que o Brasil tinha uma quantidade de médicos por mil habitantes menor que da Argentina e do Uruguai. Aí também é demais, não é? Então, nós começamos a construir o programa. E, primeira coisa que fizemos foi chamar médicos. Houve um atendimento pequeno, porque na época a consciência não era grande da importância do programa. Depois, eu quero dizer para vocês que eu agradeço, sim, ao governo cubano, eu agradeço, sim, aos médicos cubanos, porque nós viabilizamos o programa com eles. O ministro foi claro aqui: foram mais de 11 mil medicos cubanos. Foram eles que deram a sustentação para o início do programa. Mas, como tudo na vida é exemplo, é simbolismo, também nesse caso os nossos queridos médicos brasileiros agora estão assumindo a dianteira e serão, certamente, eles que vão levar esse programa à frente. E é isso a coisa mais importante porque é atenção básica, e atenção básica é onde se resolve 80% dos problemas de saúde. E aí, a população brasileira agora pode ter condições de avançar mais um passo para ter o Mais Especialidades. Para que possa fazer um exame e ter esse exame o mais rápido possível, assim como as pessoas mais ricas têm. Então, é levar, de fato, a universalização do SUS, é realizar o Sistema Único de Saúde no Brasil.

Aí depois entrou a dona Tereza Campello e fez uma exposição que eu acredito que foi do fundo da alma, porque a Tereza tem, na alma dela, arraigada, a briga, a luta, a disputa sistemática com aqueles que olham o Bolsa Família, e sempre olham com preconceito: “bolsa esmola. Bolsa só para a pobreza. Então, ninguém ganha, a classe média não ganha, e vocês, que fazem o Bolsa Família, vocês só olham para uma parte do Brasil”. Mentira. Nós olhamos para aquilo que o Brasil tem de superar. O Brasil, para ser uma nação rica - não estou falando em país rico, estou falando em nação rica -, não pode ter uma parte da sua população condenada à miséria. E a Tereza tem levado essa luta. E nós continuamos nessa luta. Nós continuamos nessa luta porque o nosso próprio programa diz uma frase: “superar a  pobreza é apenas o início”. É o início, é o início de serviços melhores na área de educação. E aí entra a cultura. É também ter acesso a um padrão de cultura que é fundamental para identidade do nosso povo. Se nós queremos, de fato, ser uma nação desenvolvida, sem cultura nós não seremos. Sem dar espaço à cultura popular nós não seremos. Sem dar acesso à uma educação de qualidade para os brasileiros, nós não seremos.

E aí, eu quero dizer para vocês que o que nós estamos discutindo aqui, de uma certa forma, é o cerne, é aquilo que está lá na alma da nossa sociedade: é como que nós vamos ser uma nação que seja capaz de ser também a sétima nação. Porque nós somos a sétima economia, mas nós não somos a sétima nação. Nós temos de, primeiro, chegar à sétima nação, porque aí nós vamos fazer a sétima economia subir de patamar. E quem sabe a gente não chega lá nos números primeiros? Porque este país tem todas as condições.

E aqui eu estou em um local, que é a Bahia. E a Bahia é especial em muitas coisas mas, principalmente, a Bahia é especial porque aqui está a  marca da nossa diversidade étnica, a composição negra da nossa nacionalidade, a composição indígena da nossa sociedade, e a composição de asiáticos, brancos, europeus, de todas as áreas, árabes. Nós somos um país multiétnico, multidiverso e, sobretudo, por isso mesmo, com uma imensa riqueza cultural. E aqui na Bahia está essa riqueza cultural, e nós sabemos que está. É só nós vermos a capacidade de gerar alegria mas, sobretudo, de gerar padrões musicais, de gerar, eu acho, uma plasticidade como essa do Ile Aiyê. A gente fica aqui, boquiaberto, vendo um festival de cor, de movimento, de música, e uma imensa alegria.

Então, eu fico muito feliz de passar a primeira, porque esse Dialoga Brasil é o primeiro fora de Brasília. Na verdade, ele é um Dialoga Bahia, não é? Na verdade, ele é isso: Dialoga Bahia, Dialoga com a Bahia. E  nós começamos bem, não é, Rossetto? Nós começamos bem, porque aqui também começa a fase nova, que eu chamo “a fase nova do Brasil”, é a fase mais recente. É a descoberta, porque este país existia antes do Pedro Álvares Cabral, mas aqui começou, com o encantamento que tem aqui.

E aí eu vou falar uma coisa muito importante porque nós estamos nessa plataforma. A plataforma Dialoga Brasil, ela tem um sentido de cidadania, e tem um sentido também de ampliar os graus de participação popular. Quando as perguntas aparecem, eu acho que tem de ter um diálogo entre aqueles que não estão aqui, que estão perguntando, e vocês que estão aqui presentes. E esse diálogo é isso: é ver a resposta para eles, e fazer a resposta às perguntas de vocês. E nós sermos olhados entre esses dois, esses dois aspectos, que é essa tecnologia que permite que você chegue na casa do cidadão estando longe dele e, ao mesmo tempo, esta que vai ser sempre uma das formas mais fortes de interação entre nós, que é a presença física.

Nós temos essa capacidade. Em um governo, significa que nós estamos abrindo esse caminho. Se vocês falarem para nós: “vocês sabem como fazer direitinho?” Eu acho que sabe a apresentadora, ela sabe mesmo. A apresentadora deu um show aqui na apresentação, que é de apresentadora. Eu acho que ela sabe. Agora, nós, aqui, estamos aprendendo junto com vocês. Nós estamos que nem aquela história da mãe com a criança, porque tem hora que eu desconfio que quem educa, é a criança que educa a mãe. É uma coisa que eu sempre desconfiei que a criança faz com a gente: ela nos educa também, ela ensina como ser mãe. O povo nos ensina também como ser governantes, como sermos capazes de trocar opiniões com vocês.

E aí eu quero chegar… Eu não vou me estender muito, eu não vou me estender muito. Mas eu quero falar uma coisa para vocês. Eu quero falar sobre a teoria, a prática e a insidiosa tentativa de criar no Brasil uma situação de “quanto pior melhor”. Quem não tem compromisso com seu país, quem não tem compromisso com todas as conquistas que nós fizemos nos últimos anos, e aqui eu quero fazer uma afirmação que vocês até falar: é um pouco pretensiosa da parte dessa presidenta, mas eu vou ousar fazer. Eu acho que se tem uma coisa que eu tenho orgulho de ter feito como presidente, e tenho orgulho de ter participado como ministra, foi do que fizemos no governo Lula e no meu governo em relação ao Nordeste do Brasil. E isso eles não vão tirar de nós. Jamais vão tirar de nós.

Quero dizer para vocês, acabando a minha fala. Quero dizer que eu deixo aqui um pedaço do meu coração com vocês.

Um beijo e um abraço.

 

 Ouça a íntegra(18min36s) do discurso da Presidenta Dilma Rousseff