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28-08-2015 - Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, durante o evento Dialoga Ceará - Fortaleza/CE

Fortaleza-CE, 28 de agosto de 2015

 

Boa noite. Olê, olê, olá. Muito obrigada, muito obrigada.

Primeiro, eu queria agradecer um dos… Oi. Eu queria agradecer e dizer para vocês que tem uma coisa que comove nesse Dialoga: é o calor humano, é essa alegria, esse colorido, essa força que eu encontro aqui com vocês. Eu também te amo.

E agora eu quero, também, dizer para vocês que fico muito feliz de estar aqui. E vou mudar, vou mudar a minha fala. Eu vim aqui dialogar. Os meus ministros falaram. Então, eu vou dialogar com aquilo que vocês falaram para mim enquanto eu estava sentada ali. Primeiro, eu queria dialogar dizendo, me mandaram uma poesia, um cordel sobre o Dragão do Mar. Eu não sei quem foi que… eu quero.. me dá então esse cordel, você segura esse aqui. Obrigada. O cordel fala o seguinte, é do autor, é o Klévisson, Klévisson Viana. O Klévisson mandou para mim, e diz o seguinte, eu vou ler um pedaço do cordel: “Quatro anos antes que o Brasil abrisse mão e decretasse, de fato, o fim da escravidão, o Ceará deu o exemplo, promovendo a redenção”. Por que hoje, 2015, esse cordel é ainda importante? Porque, no nosso país, primeiro, a escravidão durou tempo demais e a gente tem de falar dos heróis, mas depois é por outro motivo: é porque até hoje nós temos de combater a discriminação. E aí, quando a gente fala em discriminação, entre as discriminações, a primeira que nós tempos de combater é aquela que recai sobre a população negra do nosso país.

Nós vivemos isso no entorno, vocês devem estar lembrados, na antevéspera da Copa, quando uma porção de atos de intolerância, preconceito e discriminação contra nossos atletas negros começaram a aparecer por aí. Esse não é o Brasil. O Brasil é um país que é multiétnico, ou seja, multicolorido. As nossas peles são as mais diferenciadas, mas têm um forte componente da raça negra que nos conformou. Por isso, a gente tem que honrar até hoje o Dragão do Mar.

A segunda coisa que eu queria falar, era agradecer o Antônio Carlos. Porque Antônio Carlos -, não sei se ele está aí ainda - não é todo dia que a gente recebe uma declaração. Fico muito agradecida, viu Antonio Carlos? Fico extremamente agradecida. Muito, muito gentil da sua parte.

A terceira coisa que eu queria falar é sobre um outro cordel. Esse cordel é de uma mulher, chamada Cristina Poeta. Chama-se (incompreensível). Cadê a Cristina? Eu vou ler um pedaço da Cristina, porque esse pedaço também, do Cordel, mostra como é importante, e ela reivindica que a gente dê importância aos poetas. Pois eu vou dar, viu Juca, importância aos poetas populares. Ela diz o seguinte: “Aos homens e mulheres também quero lembrar, não maltrate um ao outro para apenas de bem se dar, nem destrua a vida alheia para poder vir se vingar”. Aqui, sabe, Cristina, eu quero falar sobre uma coisa importante pela quantidade de mulheres que estão aqui presentes, que é o compromisso do meu governo com o combate à violência que recai sobre a mulher só pelo fato de ela ser mulher. E aí eu queria destacar duas coisas. Queria destacar, primeiro, as legislações. A Lei Maria da Penha, que transformou em crime a violência contra a mulher. E, segundo, a Lei do Feminicídio, que torna o crime mais pesado se for assassinato de mulheres pelo fato de ser mulher.

E a segunda coisa que eu quero destacar é a Casa da Mulher Brasileira, que eu espero voltar aqui para inaugurar. Deu ordem de serviço ontem, mas eu estou querendo voltar aqui para inaugurar a Casa da Mulher Brasileira. Aí, a Casa da Mulher Brasileira é que nem o Dialoga Brasil. Na verdade, é a Casa da Mulher cearense.

E aí eu quero… Você podia me dar… Eu quero falar de outras coisas que vocês mandaram para mim. Eu quero falar para o pessoal que é deficiente. É o compromisso do meu governo com o Viver sem Limites, com a questão da acessibilidade, com a linguagem Libras. E aí, vou pegar uma das cartas, do Celso Farias Ferreira. Celso, eu agradeço que você faça o monitoramento e nos auxilie no programa Viver sem Limites. É um programa que compõe o que nós consideramos ser o cerne dos nossos compromissos éticos. Primeiro, combatendo o preconceito racial e toda a desigualdade racial no nosso país, depois a violência e toda a discriminação de gênero. E, agora, assegurando o compromisso que nós temos com a questão de reconhecer que todas as pessoas têm o direito de viver sem limites. E que isso é ainda mais bonito nas pessoas com deficiência.

Eu quero dizer para vocês que ontem eu recebi os atletas olímpicos e paralímpicos. Os atletas paralímpicos, eles conquistaram 253 medalhas no Brasil e ganharam o primeiro lugar na paralimpíada do Pan-Americano [Parapan-Americano Toronto 2015]. Por isso, também acho que esse é um componente essencial do governo. Nós não tocamos nele aqui, nenhum dos três compromissos, mas eu considero que esse é o cerne do compromisso com uma das questões mais importantes, que é isso que o nosso ministro da Educação chamou “o combate ao ódio”. É a base da atitude ética do meu governo. É esta a relação fundamental contra o preconceito e a intolerância... Ah, não, não não. É uma coisa linda que me mandaram, lindíssima. Temos que achar aqui, está no meio… bom, é papel demais... “Nordestino, nordestinado”. Achei. Ô gente, eu corri atrás e fiquei procurando porque eu acho, de fato, essa poesia linda. “É Nordestino, sim. Nordestinado, não”, que é do nosso querido Patativa do Assaré. Que é justamente essa frase: “Nordestino, sim. Nordestinados, não”. Por que isso? E aí eu quero dizer que é um outro compromisso ético fundamental do meu governo, que é com a percepção que o Brasil é feito nas suas regiões, nos seus estados. Não existe um Brasil que não esteja em algum estado da Federação ou em alguma cidade. Daí a importância que eu acho que, desde o governo do presidente Lula, assumiu, para nós, a questão da igualdade regional. Nós não queremos uma região igual à outra, mas nós queremos as regiões do Brasil com a mesma oportunidade.

E o que acontece e o que aconteceu na história deste país? Aconteceu que o Nordeste brasileiro concentra 25% da população deste país. Concentra toda uma história e uma cultura. Concentra uma riqueza humana extremamente forte, além de ser aqui o início de um chamado “Brasil moderno”. Mas não concentra a riqueza para as pessoas; não concentrava as oportunidades para as pessoas.

O Dialoga Ceará tem que começar com um ponto, tem que começar com a afirmação que o meu governo tem um compromisso fundamental com os nordestinos, os cearenses e toda essa população imensa que mora, que vive, trabalha, estuda e cria, aqui nessa parte do nosso país. E quero dizer para vocês que por isso é que nós olhamos com especial atenção e, muitas vezes, implicaram conosco por causa disso, disseram que nos éramos, olhavam para nós com preconceito e falavam: “Ah, você só tem voto no Nordeste”. Eu quero dizer para vocês que eu muito me orgulho e agradeço extremamente ter recebido os votos nordestinos. E digo isso porque é o reconhecimento de um enorme esforço feito, primeiro para um retirante nordestino que saiu daqui e foi para São Paulo. E para olhar o Nordeste, para o Nordeste ser visto, ele se tornou presidente da República. Foi por ele que nós começamos a olhar o Nordeste. Depois, eu quero dizer para vocês que esta questão não é uma questão trivial no Brasil. Aqui, no Nordeste brasileiro, tem uma quantidade imensa, tem uma riqueza imensa que é fundamental para o nosso país crescer e virar uma Nação desenvolvida.

Quero também dizer para vocês que tem uma outra questão que é parte integrante do compromisso ético do meu governo, que é com a igualdade social. Eu chamei de igualdade social e vou explicar em que sentido eu estou usando a palavra igualdade: as pessoas são todas diferentes; uma é diferente da outra. Todas elas. E é isso que é fantástico em nós, você não vê uma pessoa igual à outra. Mas as oportunidades têm que ser as mesmas. O ministro começou falando de creche. Creche, no passado, a gente que olhava a questão da mulher, dizia: “Olha, creche é porque as mulheres têm que trabalhar e têm que deixar seus filhos protegidos em um determinado local”. Continua sendo importante por isso, mas a creche, a importância da creche não é essa; da creche e de toda a educação infantil. A importância é porque ataca a raiz da desigualdade, porque é ali que começa a desigualdade no nosso país. É ali que o Estado brasileiro pode fazer a diferença. Quando conseguir dar oportunidades iguais. Não interessa o sobrenome, a origem social, a cor da pele ou o gênero. Todos os brasileiros e as brasileirinhas têm direito às mesmas oportunidades. Eu dou esse exemplo porque ele é facilmente perceptível. Porque uma criança é uma criança em qualquer lugar. Agora, está provado que há estímulos que têm que ser dado às crianças porque isso favorece o desenvolvimento das crianças.

Então, essa questão da igualdade de oportunidades não é uma questão trivial. Porque vocês pensem o seguinte: como é que a filha do pedreiro conseguiu ser doutora? Ora, pelo esforço dela, ela se esforçou, foi lá, estudou, batalhou. A mãe e o pai devem ter dado um estímulo, ter falado para ela: “Vai, minha filha, estuda”. Acontece que, muitas vezes e em muitos momentos, a filha do pedreiro não virou doutora, ou o filho do pedreiro não virou doutor, porque ele não tinha oportunidades iguais.

Um governo tem que passar o tempo todo pensando em como resolver isso, como assegurar que aquelas pessoas que nunca tiveram acesso, passem a ter. É essa a questão que o Dialoga Ceará hoje colocou aqui, com o ministro da Educação. O ProUni é para isso. O ProUni foi  feito para dar oportunidades iguais, para mais brasileiros terem acesso à universidade. O Fies foi feito para isso, o Enem foi feito para isso. Todas as coisas que nós fizemos, em políticas sociais, foi para dar oportunidades iguais.

Quanto a gente faz o Minha Casa Minha Vida, o que nós queremos é que as famílias que vivem em situação precária… Hoje tinha uma família com oito pessoas, que vivia na rua e teve acesso a uma moradia, a uma casa, a um lar. O que vai acontecer? Essas crianças vão ter proteção, porque proteção começa tendo um teto. Isso é da história da nossa espécie, nós sempre procuramos nos abrigar.

E aí eu quero dizer para vocês que, por isso também, nós resolvermos fazer o Mais Médicos. O Mais Médicos é impossível, primeiro porque a gente não acha legal a gente ter 1,8 médicos por mil habitantes e ter gente com dois ou três. A gente fica com um certo incômodo, porque aqui, na vizinhança da América Latina, os outros países têm de dois a três médicos por habitante, e nós temos 1,8. Agora, mas não é só por isso não, nem sobretudo por isso, é porque o pessoal mais rico, o pessoal de classe média, vai no médico e o médico tem que atender, olhar direitinho, querer saber o que o que é a história da doença ou da saúde dele, ele quer atenção. E isso também vale para a nossa população.

E eu agradeço, sim, porque falam, mas eu agradeço, sim, a parceria feita com o governo cubano, e com a OPAS. Eu agradeço porque eles nos ajudaram a superar esse problema: enquanto a gente não tem médico formado, como é que a gente atendia a população? Eles nos ajudaram, eles deram um exemplo de humanidade com os nossos doentes. Nós temos que ter, em relação a eles, extrema gratidão. Agora, ao mesmo tempo, nós temos que providenciar médicos brasileiros, porque não é possível que um país com 203 milhões de habitantes tenha menos condições de formar médico do que um país bem menor que nós, que é uma ilha. Afinal de contas, é importante, também, interiorizar a formação, porque isso é a mesma coisa que eu falei antes: igualdade de oportunidades, porque quem mora no interior tem direito de fazer um curso de medicina como quem mora na capital. E, de preferência, um curso muito bom.

Então o Dialoga é um exercício que nós fazemos, de dialogar e escutar. Escutar por quê? Porque, na grande maioria das vezes, tudo que nós fizemos, nós fizemos não porque nasceu na cabeça da gente, mas porque a gente escutou o que as pessoas diziam que tinha de ser feito.

Aí, quando eu entrei aqui, teve uma moça que é ali ouvidora da OAB, que disse para mim uma frase: que a arte de construir um mundo melhor é ouvir e agir. Eu diria para vocês, ela tem toda razão. Ouvir, debater, entender o outro e agir.

Então, eu fico muito feliz de estar aqui. Por quê? Porque eu tenho um parceiro do diálogo aqui. O parceiro meu do diálogo, em termos de governo, é o governador Camilo Santana. E os nossos parceiros do diálogo são vocês. Então, nós viemos aqui fazer isso: escutar, debater e agir. Espero que esse nosso princípio fundamental que é o princípio do respeito, o princípio de não aceitar a discriminação e de querer que as pessoas tenham oportunidades iguais seja o princípio que move a cada um de nós. Nós, no governo, vocês nas áreas de atividade de vocês. Respeito, igualdade de oportunidades e, finalmente, muita esperança no coração.

Quero dizer para vocês: nós vamos voltar a crescer gerando emprego, renda, reduzindo a inflação e, sobretudo, nós não vamos deixar que tudo que nós conquistamos, que os programas que, com tanta força nós construímos, tenham qualquer retrocesso.

Um grande abraço e muito obrigada.

 

 Ouça a íntegra (26min26s) do discurso da Presidenta Dilma Rousseff