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23-06-2015 - Discurso da presidenta da República, Dilma Rousseff, durante solenidade de lançamento dos I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas e abertura do Congresso Técnico - Brasília/DF

Estádio Mané Garrincha – Brasília-DF, 23 de junho de 2015

 

Então, eu vou começar cumprimentando os guerreiros que representam os povos indígenas aqui presentes, vou saudá-los a todos eles. E saudar, também, as mulheres indígenas que também estão aqui representando a força da mulher dentro da comunidade e dos povos indígenas.

Eu quero cumprimentar o Marcos Terena, e perguntar para vocês se vocês acreditam que alguém que conhece o Marcos Terena esquece dele, se é possível. Não é possível. Então, eu lembro perfeitamente. Eu acho que eu estou diferente, mas ele está igualzinho.

Eu queria, então, cumprimentar, e dizer que é muito importante a gente ver uma pessoa com a liderança e com a dedicação e, sobretudo, com o sonho que o Marcos Terena tem arraigado em si realizar esse sonho.

Então, eu acredito que hoje nós damos aqui, juntos, um passo decisivo, mas na verdade o que nós estamos fazendo? É junto com todos vocês conseguir completar esse início de sonho que nós todos temos a missão de levar a cabo, que é fazer desses Primeiros Jogos Mundiais dos Povos Indígenas um grande, um fantástico sucesso. Primeiro para os povos indígenas; depois para todos aqueles que são irmãos na relação com a natureza, na relação com as tradições e com a diversidade.

Então, eu quero dizer que fico também, aqui, muito feliz de cumprimentar o Wilton Littlechild, eu fico muito feliz, porque também ele representa, na diversidade do povoamento indígena do nosso hemisfério, ele representa a força da cultura indígena. Aliás, nós não podemos falar só de cultura indígena, a gente teria de falar, no nosso hemisfério, de uma civilização indígena. Houve, aqui, neste hemisfério, uma civilização do porte da civilização hindu, da civilização chinesa, da civilização egípcia, da greco-romana, que foi a chamada civilização da Mesoamérica e também a civilização Inca. Eu acredito que nós somos todos - eu acho que herdeiros - daquilo que é a afirmação da civilização dos povos indígenas no nosso hemisfério.

Sem deixar de cumprimentar também, aqui, todas as lideranças indígenas nacionais e estrangeiras que participam do lançamento desses primeiros jogos que vão integrar, eu acredito,  a agenda internacional - muito bem dito pelo ministro -  primeiro da paz, foi em torno da paz que se recompôs aquilo que era tradição grega, de transformar os jogos em um momento de confraternização entre diferentes representantes das cidades gregas, e que nós, ocidentais e orientais, e povos de todos os hemisférios, transformamos em um momento especial, durante uma fase muito difícil por que passou o mundo, que foi no entre-guerras. E isso resultou, eu acho, em uma afirmação da relação pacífica, tolerante, não preconceituosa entre homens e mulheres de todas as etnias e de todas as raças. Agora, com o lançamento desses I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, eu acredito que nós damos um passo extremamente relevante e importante nessa direção.

Eu quero cumprimentar aqui, também, o nosso governador Rodrigo Rollemberg, do Distrito Federal, e a senhora Márcia Rollemberg,

            Quero aproveitar, imediatamente, e cumprimentar a senhora Cláudia Lelis, governadora em exercício do Tocantins.

Tanto o governador Rollemberg como o Marcelo Miranda, aqui representado pela governadora em exercício, Cláudia Lelis, ambos estão participando de um ato de extrema relevância e de extrema importância, que vai marcar, eu acho, a história das etnias no mundo. Daí, eu acho, a importância que todos aqueles - a ONU, a mídia e toda a sociedade internacional - vão dar a esse evento.

            Queria cumprimentar também os ministros de Estado aqui presentes: eu vou cumprimentar o George Hilton, do Esporte, e a senhora Gorete Cecília. Em nome deles eu cumprimento todos os ministros aqui presentes.

Quero cumprimentar, também, os senhores e as senhoras chefes de missão diplomática acreditados junto ao meu governo e relembrar a eles a importância do caráter internacional desses jogos. Um dos “is”, porque é o nosso “COII”, é o Conselho Olímpico Indígena Internacional, um dos “is” é a parte internacional. E nós contamos com a presença de todos países, de todas as nações, de todas as etnias indígenas prestigiando esses jogos.

Aqueles que não puderem enviar atletas, que compareçam para assistir. Eu acho que seria um momento muito importante para o nosso querido prefeito, o nosso querido prefeito de Palmas, o Carlos Amastha. E de fato, queria também cumprimentar a senhora Glô Amastha e, de fato, o senhor foi contemplado com um presente. Acho que esses Jogos Olímpicos [Indígenas] vão tornar Palmas e o Tocantins conhecidos no mundo inteiro.

Não posso deixar de cumprimentar o nosso governador do Piauí, Wellington Dias, que nós carinhosamente chamamos “o índio”, e que se caracteriza pelo fato de que todos nós sabemos que se ele pular uma janela é bom a gente pular atrás, porque ele descobriu alguma coisa absolutamente fantástica.

Queria cumprimentar também o embaixador Jorge Chediek, coordenador-residente das Nações Unidas, e agradecer pelo apoio.

Cumprimentar os senhores senadores aqui presentes, Donizeti Nogueira e Regina Sousa.

Cumprimentar as senhoras e os senhores deputados federais: Dulce Miranda, Celso Russomanno, César Halum, Dorinha Seabra, Irajá Abreu, Marcelo Squassoni, Márcio Marinho, Vicentinho Júnior.

Quero fazer três cumprimentos especiais: quero fazer um cumprimento especial ao Hamilton de Holanda e à Margareth Menezes, mas também queria dirigir um cumprimento todo especial ao nosso querido Marcos Frota, que fez a apresentação com aquela capacidade que ele sempre demonstrou, e aquela sensibilidade e dedicação que ele tem a todos aqueles que se interessam e lutam por melhorar a nossa sociedade e o nosso país.

            Queria, também, dirigir um cumprimento a todos aqueles indígenas que aqui se apresentaram, principalmente ao cumprimentar o pajé que nos abençoou. Então, agradeço a ele pela bênção.

            Cumprimentar os senhores jornalistas, os senhores fotógrafos e os senhores cinegrafistas.

 

            Eu tenho certeza que nós todos sabemos que o Brasil é admirado por algumas coisas: é admirado por suas belezas naturais, por ter a maior floresta em pé do mundo; é admirado pela hospitalidade e alegria do nosso povo e é admirado pela característica multiétnica. Muitos povos, muitas nações, aliás, têm essa característica multiétnica. E nós também devemos ser admirados pela nossa capacidade de respeitar a diversidade e integrar culturas e de respeitar e admirar civilizações.

Eu acredito que é necessário que nós tenhamos muito orgulho da formação histórica deste país, para além do fato que cada povo indígena representa uma cultura especial, nós temos de ter um imenso orgulho de, na composição da nação brasileira, nós sermos uma mistura de várias etnias. E aqui, hoje, nós estamos saudando uma delas: nós estamos saudando a etnia indígena, que trouxe para nós não só - como disse aqui, muito bem, a nossa vice-governadora, representando o governador -, o sabor dos nomes que estão em todas as nossas cidades, de fato, mas também eu queria saudar, porque nenhuma civilização nasceu sem ter acesso a uma forma básica de alimentação. E aqui nós temos uma, como também os índios e os indígenas americanos têm a dele, nós temos a mandioca. E aqui nós estamos comungando a mandioca com o milho. E, certamente, nós teremos uma série de outros produtos que foram essenciais para o desenvolvimento de toda a civilização humana ao longo dos séculos. Então, aqui, hoje, eu estou saudando a mandioca. Acho uma das maiores conquistas do Brasil.

Eu também acredito que é orgulho nosso ter no DNA do nosso país essa contribuição imensa dos povos indígenas, que é a relação, de fato, com a natureza, que é a capacidade de ter na natureza, não um inimigo, ou aquele a quem se subjuga, se explora, mas sim uma relação fraterna e uma relação de quem sabe que é  desta relação que nasce a nossa sobrevivência.

E nesse momento em que também no mundo nós vamos ter, na agenda internacional, a Conferência, a chamada COP 21, a Conferência do Clima em Paris, ser capazes de se relacionar com a natureza faz toda a diferença. Daí porque eu tenho certeza que na agenda internacional os jogos, os I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas terá uma imensa relevância.

Então, eu quero dizer a todos os presentes que o Brasil está extremamente honrado por sediar os primeiros jogos mundiais. Nós estamos extremamente honrados e aí, mais uma vez, eu agradeço a iniciativa e a liderança do Marcos Terena, que certamente representa muito bem a ajuda e a iniciativa de todos vocês que contribuem para o sucesso desses jogos.   

E esse momento será um momento para a gente afirmar, eu acho algumas coisas: primeiro, afirmar a importância de um país diverso, em um mundo globalizado, conviver com a diferença e ser capaz de acabar com a intolerância entre povos, entre gêneros, entre religiões e, de fato, a afirmação dos Jogos Mundiais Indígenas, é a afirmação de um mundo diferente; um mundo que é capaz de, através do esporte, conquistar, também, a sustentabilidade e a inclusão social.

Eu tenho certeza, e aqui eu queria mostrar o que é a nossa relação antiga com o esporte. Aqui tem uma bola que eu passei o tempo inteiro testando. É uma bola que é uma bola que o Terena me presenteou e que eu vou levar - e ela vai durar o tempo que for necessário -, e ela vem de longe, ela vem da Nova Zelândia. E é uma bola que eu acho que é um exemplo, ela é extremamente leve. Eu já testei e ela quica. Eu testei, eu fiz assim uma embaixadinha, minto, uma meia embaixadinha. Bom, mas eu acho que a importância da bola é justamente essa, o símbolo da capacidade que nos distingue como.. nós somos do gênero humano, da espécie Sapiens. Somos aqueles que têm a capacidade de jogar, de brincar. Porque jogar é isso aqui: o importante não é ganhar e, sim celebrar. Isso que é a capacidade humana, lúdica, de ter uma atividade cujo o fim é ele mesmo, a própria atividade.

Então, o esporte tem essa condição, essa benção. Ele é um fim em si e daí porque não é ganhar, é celebrar, é participar dos jogos indígenas. É participar celebrando o que significa essa atividade que caracteriza primeiro as crianças. Atividade lúdica de brincar, atividade lúdica de ser capaz de jogar.

Então, para mim essa bola é um símbolo da nossa evolução. Quando nós criamos uma bola dessas, nós nos transformamos em Homo sapiens ou “mulheres sapiens”.

Eu queria também dizer a vocês que essa é uma parceria que nós estamos fazendo aqui com todos vocês, e queria destacar, especialmente, o governo do Tocantins e a prefeitura de Palmas. Nós vamos ser parceiros e nós vamos enfrentar todos os desafios para realizar com sucesso esses jogos, demonstrando que nós somos capazes sim, de organizar uma Copa do Mundo, de organizar uma Olímpiada e uma Paraolímpiada no ano que vem, mas neste ano nós somos capazes de organizar os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. Agradeço, também, às Nações Unidas, agradecendo ao Chediek e também ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o nosso PNUD.

E quero dizer que daqui a quatro meses, entre os dias 20 [de outubro] e o dia 1º de novembro, a jovem capital do Tocantins - porque o prefeito tem razão, ela é a mais jovem capital do Brasil -, essa jovem capital vai sediar algo bastante antigo, que é essa capacidade de nós termos no esporte um momento de irmanação; eu não quero falar de fraternidade, eu quero dizer que nós nos transformaremos em irmãos. De fato, nós realizamos 12 jogos, mas esse é especial. Esses terão as nossas 22 [24] etnias, as 22 [24] diferentes origens de povos indígenas e os 24 [22], que eu achei bastante significativo, os 24 [22] povos de nações e de países que aqui se representarão. E torno a convidar os demais, que não serão atletas, para se motivarem, e nós faremos, certamente, em outro país, os II Jogos Mundiais dos Povos Indígenas.

É um momento histórico, porque mais de dois mil atletas, para nós brasileiros, mais de dois mil atletas indígenas vão participar. E aí eu quero dizer que vocês têm uma tradição de bons atletas, os guerreiros. Os guerreiros que aqui me contaram a corrida da tora e eu estou impressionada. Eu de fato não tenho a menor condição de participar de uma corrida da tora. Acho que o prefeito de Palmas vai ter de participar. E espero que depois a tinta saia…

Aos nossos atletas indígenas - eu estou encerrando - que vão participar dos jogos, desejo, desde já, imenso sucesso. Como presidenta da República, como cidadã, eu vou torcer muito e vou estar presente na abertura.

            Agora, nós todos aqui assumimos um compromisso entre nós: nós vamos torcer juntos para que os primeiros Jogos Mundiais Indígenas permitam que a gente reafirme o nosso apreço pela diversidade e pela pluralidade; o nosso apreço pelo respeito à diferença, pela tolerância e sobretudo, por uma convivência pacífica e fraterna entre todos os povos do mundo, entre todas as etnias. Um abraço para vocês e muito obrigada.

 

 Ouça a íntegra (21min33s) do discurso da Presidenta Dilma