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13-04-2012 - Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, na cerimônia alusiva à exposição sobre o Programa de Apoio à Competitividade da Indústria

Com apoio do BNDES, o programa vai investir em institutos e laboratórios de ciência, tecnologia e inovação

 

Brasília-DF, 13 de abril de 2012

 

Eu queria cumprimentar o presidente da CNI, o Robson Andrade.

E queria também cumprimentar aqui os ministros Aloizio Mercadante, Fernando Pimentel e o presidente Luciano Coutinho.

Cumprimentar também os senhores deputados e parlamentares aqui presentes.

Cumprimentar o Rafael Lucchesi, diretor de Educação e Tecnologia da CNI.

Queria cumprimentar aqui cada um dos presidentes das federações de indústria do nosso país.

Eu estava dizendo para o Robson que não só serão conhecidos como presidentes de federação de indústria, mas talvez seja a primeira leva de presidentes de federação que também serão uma espécie de reitores tecnológicos. Todos estão de parabéns.

Queria também cumprimentar todos os empresários aqui presentes e os senhores jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas.

Eu tive de fazer um esforço para estar aqui hoje, porque eu estou vindo de um conjunto de viagens que começou quando eu fui para a Índia, passou pela minha viagem aos Estados Unidos, e hoje eu estou indo para o encontro de todas as lideranças da América, tanto do Norte quanto do Sul, quanto do Caribe.

Essa Cúpula das Américas, ela congrega um conjunto de lideranças desse hemisfério, e vai discutir todos os problemas que estão na pauta, entre eles a crise econômica.

Mas eu tinha de vir aqui, porque eu acho que aqui, hoje, nós abrimos - não que começou hoje, esse é um esforço que começou antes para desaguar aqui -, mas nós abrimos uma nova agenda para o Brasil.

É muito importante a gente perceber – e eu não vou ler meu discurso -, é muito importante a gente perceber o que está em questão, hoje, no Brasil. Nós temos de desmontar alguns entraves ao nosso crescimento sustentável e continuado.

Esses entraves podem ser assim resumidos, muito simplificadamente – eu vou falar no positivo, na necessidade de nós colocarmos os nossos juros e spreads incluídos nos padrões internacionais de custo de capital.

Nós temos de estar sempre atentos para que os mecanismos de combate à crise e de padrão de combate à crise, que os países desenvolvidos adotam, e que de alguma forma lembram muito aqueles adotados nos anos 30, a chamada desvalorização competitiva, não levem a uma valorização do nosso câmbio que torna a indústria brasileira, os projetistas brasileiros, as empresas de serviços brasileiras presas fáceis de um processo de desconstituição, e eu diria até de canibalização. E temos de criar condições para que o país possa, de fato, ter uma desoneração tributária que não comprometa a situação macroeconômica. Mas que nós sabemos, todos nós, empresários e governo, que é essencial, porque o Brasil tem hoje certas estruturas tributárias que se tornam muito pesadas para ser carregadas num processo de crescimento sustentável. Junto com isso vem uma questão que é crucial, que é essa questão que o Luciano Coutinho levantou, que é a questão da produtividade.

A questão da produtividade, ela não é só da produtividade, a questão da produtividade ela é, sobretudo, uma questão de como nós temos de estar e temos de ser e temos de perceber que isso é essencial, nós temos de ser contemporâneos do nosso momento histórico. Não tem como ser contemporâneo desse momento histórico do Século XXI, se nós não apostamos em ciência, tecnologia e inovação e, portanto, em educação. Não há como ser.

Portanto, esses quatro elementos que seriam as amarras que nós temos de progressivamente de fazer com que elas parem de conter o crescimento do país. Essas amarras, elas hoje têm um dos momentos que eu considero que nós começamos a construir o caminho dessa quarta questão. Não é juros, não é câmbio, não é impostos, mas é importante para as três restantes. É a capacidade deste país de criar inovação.

Eu estava escutando aqui uma exposição e eu lembro que nós começamos a discutir essa questão da capacidade de inovar sem ter... Como é que você inova? Era um problema muito simples: a Petrobras, a Petrobras, em 2003, contratava todos os seus projetos no exterior. Portanto, o projetista fazia aquele projeto e tinha na cabeça uma indústria que não era nossa. A indústria a qual ele estava ligado e, portanto, a partir da qual ele construía o projeto, era uma indústria que não estava no território nacional. Quando você faz um projeto e não está no território nacional, você está se referindo a outro parque industrial. Esse é um elemento fundamental da questão da inovação, porque foi o nosso diretor de Educação aqui da CNI que disse: “É impossível inovar, se você não olha a questão da engenharia”. Eu concordo em gênero, número e grau.

Eu vivi isso na maior empresa deste país. É uma empresa de capital aberto, que é a Petrobras. E acredito que aí está uma das questões que nós temos de equacionar. Nós temos de equacionar a nossa capacidade de construir, de prestar serviços, e isso aí, fundamentalmente, eu estou me referindo à capacidade de projetar, de fazer engenharia do projeto. Engenharia do projeto e inovação, elas caminham de braços dados.

Por isso, eu vim aqui, porque eu vi, o Robson me visitou, me mostrou como é que seria essa complementação que nós estamos fazendo, que é a base do Pronatec, é a base também do Ciência sem Fronteiras.

O Ciência sem Fronteiras, Robson, precisa do que vocês estão fazendo, aqui na CNI, para poder dar resultado, para poder beneficiar as médias e as pequenas empresas, e as grandes também, do nosso país. Porque a grande sempre tem um jeito de ter acesso à tecnologia, à qualificação profissional, tem universidade corporativa, mas a média e a pequena - ou a não tão grande, a pequena e a média – elas precisam de uma situação em que o meio ambiente em que elas vivem sejam um meio ambiente de inovação, de tecnologia e um ambiente em que nós tenhamos trabalhadores qualificados.

Eu acredito que nós estamos nesse caminho, e acredito que essa parceria entre o governo federal, todos aqui presentes na pessoa do Robson, essa é uma parceria das mais virtuosas possível.

Eu agradeço imensamente ao presidente da CNI, porque, quando nós estávamos formatando o Pronatec, nós tínhamos na cabeça dois grandes problemas. Primeiro, a qualidade da educação deste país. A evasão do Ensino Médio no Brasil é algo absolutamente estarrecedor, que nós não podíamos deixar continuar. E a evasão tem a ver com o fato de que o ensino não está adequado à realidade. Quando o ensino não está adequado à realidade, não é porque ele não ensina o estudante a fazer um objeto, não é isso. Ele não corresponde ao estágio em que as mídias, as formas de ensinar e, sobretudo, os problemas, cativam e interessam aos alunos.

Portanto, quando pensamos o Pronatec tinha uma função, sim, de qualificação do ensino técnico, médio brasileiro. Porque acreditávamos que o ensino médio tinha de ser um ensino técnico profissionalizante. Não é possível a concepção de um ensino médio que não seja também um ensino profissionalizante, tecnológico e de qualidade.

Ao mesmo tempo, nós estávamos muito interessados numa questão que é a formação e qualificação do trabalhador brasileiro. Essas duas coisas: a capacitação profissional e de recursos humanos. O Pronatec é a junção disso. E, ele é a junção de um processo, obviamente, que vai da creche à pós-graduação, mas me referindo aos ensinos profissionalizantes e superior e pós-graduação, ele faz parte de duas coisas, de duas vertentes: uma ampliação e interiorização dos institutos tecnológicos e dos campos universitários; dois, ele faz parte, também, do fato de que nós temos de estreitar essa diferença entre nós e o resto do mundo no que se refere à formação científica e tecnológica.

Daí o Ciência sem Fronteiras. O Ciência sem Fronteiras, ele é feito, sobretudo, para a pequena e média empresa e para a não tão grande. E é também para o Senai, é também os institutos que vocês estão criando, é também para as empresas que vocês vão poder colocar à disposição uma qualidade de suporte, assistência tecnológica que eu acho absolutamente essencial no Brasil.

Eu estive, nessa viajem, não só na agenda com o presidente Obama, mas eu estive visitando o MIT e Harvard. E no MIT, a presidenta, aliás, nas duas instituições são presidentas, viu Robson, duas presidentas. As companheiras aqui presentes podem ficar muito orgulhosas. Tem duas mulheres presidindo dois grandes institutos, duas grandes instituições universitárias e de pesquisa do mundo.

Bom, nesses dois institutos, num deles, a presidenta me disse uma coisa sintetizando qual era a função do Media Lab. Ela dizia o seguinte: “sabe qual é a função do Media Lab? É transformar ideias em ação de forma acelerada’. Eu disse a ela: Interessante, porque nós, no Brasil, estamos tentando fazer isso de forma sistêmica, porque o que nós estamos tentando é justamente isso.

Nós temos de assegurar que este Século XXI, que é o século da educação e do conhecimento, ele é isso esse século. Apesar de o Brasil ter todas essas riquezas naturais, que vão ser muito importantes para nós, nosso grande investimento tem de ser nessa capacidade de transformar ideia em ação, e, no nosso caso, temos de fazer de forma muito acelerada. Nós temos de utilizar todos os mecanismos para poder encurtar a nossa diferença.

Eu fico muito feliz quando eu vejo o nosso pessoal - os nossos estudantes de 21, 23, 24 anos – lá fora. Encontro esses estudantes e vejo que há, mesmo na graduação, um momento muito importante. Ter acesso ao mundo de Harvard e ao mundo lá do MIT, para um jovem de 21, 22, 23 anos, é uma revolução.

Primeiro, porque os padrões de educação são muito mais exigentes que os nossos. O mesmo se diz dos nossos pesquisadores. Nós temos de ter a disciplina da educação. Nós temos de ter a disciplina da tecnologia, de fazer tecnologia e de fazer ciência.

Ninguém que não tenha convívio, e é essa também uma ideia essencial do MIT, as pessoas têm que ser colocadas juntas, têm que trabalhar juntas. Você não pode ir para casa e achar que você pode escrever um paper em casa. Você não pode fazer isso. O ambiente da inovação exige - e é essa a ideia do Media Lab, que as pessoas se agrupem, porque é dessa relação que saem os processos inovadores, inclusive, dos processos também no que se refere a soluções de problemas.

Eu queria, portanto, dizer para vocês que eu tenho certeza que desamarrar os nós do nosso país tem uma passagem por este dia, por esta hora, por estas pessoas que estão aqui, empresários, pela CNI e pelo fato de que o Senai é o que nós temos de mais qualificado para, junto com os institutos federais, tecnológicos e as universidades, transformar a pesquisa em um modelo de inovação brasileira.

Cada país faz o seu modelo. O nosso modelo tem uma parte que está aqui neste recinto, nas ideias que vocês expressaram, no que vocês lançaram. Uma parte do modelo está aqui.

Eu vim aqui para dizer o seguinte: o governo federal não é que ele reconhece só. O governo federal quer ajudar, quer ser parceiro, fará todo o possível para dar sustentação a esses laboratórios e a esses institutos de inovação. Porque nós precisamos deles para fazer o Brasil avançar.

Nós sabemos que o nosso país tem vários méritos hoje. Nós somos um país que, ao contrário da maioria dos países, vivemos em uma situação que se caracteriza pela redução das desigualdades. Nós temos de transformar essa redução das desigualdades em redução das diferenças de oportunidade, de acesso à educação. É isso que nós temos de fazer.

No Pronatec, nós damos um grande passo. As fazer esses institutos hoje o sistema brasileiro dá outro passo, grande passo. Eu tenho certeza de que daqui sairão processos de inovação que nós lembraremos no futuro. E acredito que a Embrapi é um elemento fundamental para que a gente, de forma parceira, no sentido mais profundo da palavra, integrando o Estado e a iniciativa privada, consigamos montar um modelo de inovação eminentemente brasileiro.

Recentemente, eu disse que nós teríamos de, sempre que a gente muda a gente tem de dar uma enfatizada maior para poder facilitar a mudança. Eu disse que nós precisamos dar uma ênfase em patentes, e não em papers.

Sei, perfeitamente, que em Matemática, em Ciência da Computação tem papel. Você pode fazer papel, não tem problema. Mas o que eu estou querendo dizer é o seguinte: nós temos de medir a nossa capacidade de formação e, sobretudo, a nossa meritocracia, no que se refere ao processo de inovação e tecnologia, em patente. Como todos os países do mundo fazem, nós temos de, socialmente, valorizar o cientista, o tecnólogo e o inovador.

Estava presente na mesa comigo, na reunião do MIT, um chinezinho novinho, que era um dos maiores inovadores na área de TI. E ele não tinha graduação. Eu estou levantando isso, porque nessas áreas tem algumas coisas que são atípicas, mas ele tinha patente. E não estaria na mesa de não fosse extremamente qualificado.

O que eu quero dizer é o seguinte... Não estou defendo porque, daqui a pouco, vocês estarão escrevendo: “A Presidenta falou que não é necessária formação universitária”. Não falei isso, tá? Não falei. Estou falando que na área de inovação tem coisas atípicas, mas o que eu estava querendo dizer na minha fala era que patente é importante, que patente é imprescindível. Nós teremos de ter pessoas capazes de gerar patentes no Brasil. E o governo federal assume, aqui, hoje, o compromisso de modificar e modernizar o Instituto Nacional de Propriedade Industrial.

Eu quero dizer para vocês, também, que eu tenho, e aí eu estou finalizando, eu tenho uma convicção, uma convicção profunda de que não há hipótese do Brasil dar certo, não há hipótese de nós continuarmos nos desenvolvendo, distribuído renda, gerando emprego, afirmando a nossa soberania, tendo importância internacional se nós não tivermos uma indústria forte. Eu tenho absoluta consciência disso. Não sou daquelas pessoas que acreditam que o mundo mudou e hoje e só serviços. Não acredito nisso, não acho que os países que entraram nisso, alguns países entraram nisso. Acho que vão tender reverter em parte.

E eu quero dizer que o meu compromisso com a proteção de princípios que são aqueles princípios básicos deste país. Nós temos de acabar com a pobreza, nós temos de crescer de forma acelerada e é isso que significa aumentar também a produtividade. Nós temos de ter capacidade de crescer sem gerar inflação. Não é? Porque a produtividade está lá debaixo da inflação também. Não tenhamos dúvida disso. Aumento de produtividade diminui pressão inflacionária.

Esses princípios que nós devemos ter clareza e sempre estar olhando cada dia, tem um deles que eu boto na mesma altura de país rico e país sem pobreza, país sem miséria. Que é esse: país rico é país que é capaz de manter sua indústria crescendo, sua indústria competitiva e, sobretudo, é capaz de inovar e educar esse nosso povo. Porque eu tenho certeza de uma coisa. Eu tenho certeza que nossa flexibilidade característica, que a nossa capacidade de criação transformarão o nosso país num dos grandes celeiros da inovação do mundo.

Muito obrigada.

 

Ouça a íntegra do discurso (24min15s) da Presidenta Dilma.

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Assunto(s): Governo federal