09-10-2015 - Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, na sessão de encerramento do Encontro Empresarial Brasil-Colômbia - Bogotá/Colômbia
Bogotá-Colômbia, 09 de outubro de 2015
Juan Manuel Santos, presidente da República da Colômbia,
Senhor Bruce Mac Master, presidente da Associação Nacional de Empresários da Colômbia, Andi,
Senhor Juan Carlos González, vice-presidente de investimentos da Pró-Colômbia,
Senhor David Barioni, presidente da Apex-Brasil,
Senhora Mónica de Greiff, presidente da Câmara de Comércio de Bogotá,
Senhora María Ángela Holguín, ministra das Relações Exteriores da Colômbia,
Senhora Cecilia Alvarez, ministra de Comércio, Indústria e Turismo,
Ministros de Estado que me acompanham nessa visita: embaixador Mauro Vieira, das Relações Internacionais; Armando Monteiro, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
Senhoras e senhores empresários brasileiros e colombianos,
Senhoras e senhores jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas.
Esta viagem de Estado tem sido extremamente produtiva, muito intensa e, tenho certeza, que esse dia de trabalho que nós tivemos aqui - nós, representando o governo brasileiro com o governo colombiano, com os senhores empresários visitando também o Parlamento e a Suprema Corte - foi um dia extremamente produtivo. E fomos recebidos com muita fraternidade aqui na Colômbia.
Eu fico muito honrada de poder compartilhar essa sessão de encerramento com o meu querido amigo, o presidente Juan Manuel Santos. E nós, nesse período, debatemos temas de interesse dos nossos dois países. É muito estimulante a fala do presidente Juan Manuel Santos a respeito da necessidade da estabilidade fiscal, da inflação baixa e da busca pela inclusão social com redução das desigualdades e o aumento das oportunidades para a população de nossos países.
Eu gostaria, além de dizer da importância desse evento, de agradecer os organizadores pela oportunidade. Sem dúvida, a parceria entre a Colômbia e o Brasil, ela tem de ser construída a cada dia, e eu diria até a cada hora pelos senhores empresários. A parceria, ela começa pelos senhores empresários, pelos esforços dos senhores e pela presença dos senhores nas relações econômicas e sociais dos nossos respectivos países, do Brasil e da Colômbia. E ela passa também pelo suporte dos nossos governos, o governo brasileiro e o governo colombiano.
O que eu queria dizer aqui é que essa parceria que vai dar suporte à ampliação das relações de comércio e de investimento entre os nossos países, elas, eu acho, que estão caminhando na direção e no rumo certo. Nossos países convivem com desafios semelhantes relacionados à desigualdade social, relacionados à necessidade de construir uma relação industrial, uma relação na área do agronegócio, da agropecuária, da agricultura familiar, no setor serviços, enfim, em todos os setores, de forma que sejamos capazes de garantir crescimento econômico e, ao mesmo tempo, construir estabilidade.
Nossos países também enfrentam todas as dificuldades geradas pelo fato de estarmos diante de um cenário de economias globalizadas. O Brasil tem - desde 2009, quando começa a crise do Lehman Brothers - nós temos tentando evitar de todas as maneiras que nós fôssemos atingidos pela crise, e que isso se traduzisse em redução do desemprego e da renda. Nós diminuímos impostos, nós aumentamos a capacidade de financiamento dos nossos bancos diante da retração de crédito que surge a partir de 2009 e também tivemos um conjunto de medidas para segurar o desenvolvimento produtivo.
Agora, nós temos de voltar a perseguir o reequilíbrio fiscal. E essa meta, que é a meta que o bom marinheiro tem de perseguir seguir, a estabilidade fiscal, ela tem de se combinar com a redução da inflação e também com a construção de uma situação em que nós temos de aproveitar certas oportunidades para construir também reformas mais estruturantes que elevem a produtividade da nossa economia e permitam que nós saltemos de patamar. Entre essas reformas eu acredito que está fundamentalmente o fato de que o Brasil ainda é uma economia muito fechada. Nós, hoje, estamos olhando uma forma de abrir a economia brasileira para o resto do mundo. Ao fazer isso, nós estamos dando realidade a um princípio. As crises - e o mundo passa por uma grande dificuldade com a redução do crescimento da China e também o fim do supercíclo das commodities - essas crises ou essas dificuldades, elas são muito dolorosas para que a gente não as desperdice. Nós não podemos desperdiçá-las, nós não podemos desperdiçá-las, e isso significa construir as condições para, não só, retomarmos o crescimento mas, sobretudo, para conseguirmos um crescimento que seja mais robusto, mais resiliente e mais ancorado no longo prazo.
Nós sabemos que ninguém pode evitar os ciclos, os ciclos vão existir sempre. Sempre nós teremos momentos de expansão, momentos de menor crescimento, momentos de redução. O que nós temos de fazer é que as nossas economias sejam cada vez mais robustas e mais capazes de transitar por esses períodos.
Para nós é muito importante as relações, a abertura de relações comerciais. Para nós, é muito importante a interação com outros países, notadamente, aqui na nossa América do Sul. Nós, obviamente, temos de dar valor às relações que estabelecemos com todo o mundo. O Brasil participa dos Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - com eles, inclusive, construímos o Banco de Desenvolvimento dos Brics, o Acordo Contingente de Reservas. Participamos ainda de vários outros organismos. Mas olhamos para a nossa América do Sul e consideramos que é fundamental perceber que este mercado regional é um dos mercados mais efetivos do mundo. Por quê? Nós não temos conflitos religiosos, não temos guerras étnicas, e daí surge a importância do processo de paz construído pelo nosso querido presidente Juan Manuel Santos.
A Colômbia, eu acredito, terá nessa construção da paz, nessa conquista da paz, terá um extremo sucesso, um sucesso social, um sucesso como símbolo para o resto do mundo, mas um sucesso econômico. Assim como outros países que participaram de processos de ruptura, e talvez o mais emblemático seja a Alemanha, que tinha uma separação entre a Alemanha Ocidental e a Alemanha Oriental, e vocês todos estão lembrados que quando a Alemanha se reunifica, ela muda de patamar. Eu tenho certeza que o crescimento da Colômbia será maior que esse um ponto e meio, dois pontos do PIB. Eu tenho certeza e acredito que isso vai ser muito importante para as economias da nossa região. Acho que a economia da Colômbia, com essa concepção do presidente Santos, uma das mais promissoras economias aqui do nosso canto do mundo. Nós somos um grande mercado consumidor. Um mercado de 600 milhões de consumidores não é desprezível. Olhar para o mercado de 600 milhões de consumidores e não perceber o potencial, a mina de ouro, verdadeira mina de ouro, que nós temos pelo fato de vivermos nesse canto do mundo em democracia, de vivermos nesse canto do mundo com condições. Por que com condições? Porque diversamente, de forma diversa, nós temos indústria, nos temos agricultura, nós temos serviços, nós temos - eu diria - desenvolvimento de qualidades em cada um dos países.
Então, nós estamos aqui hoje, eu acho, num início de um outro caminho, de um novo caminho. Não é que nós cheguemos aqui sem nada na nossa bagagem. Não. Nós temos um acúmulo, nós temos um acúmulo das relações de investimentos do Brasil na Colômbia, da Colômbia no Brasil. Nós temos um acúmulo das nossas relações comerciais. Mas eu acredito que o nosso acúmulo maior é a consciência da importância das nossas relações, da nossa cooperação para que nós ultrapassemos, inclusive, que nós conquistemos um padrão de desenvolvimento que é aquele que nós desejamos para as nossas sociedades.
De fato o Brasil, nesses últimos 13 anos, tirou 36 milhões de brasileiros da pobreza extrema. De fato, nós conseguimos elevar 40 milhões para as classes médias. De fato, também, nós sabemos que o Brasil saiu do mapa da fome em definitivo. Mas tem algo que também nós temos absoluta consciência: o fim da miséria é apenas um começo. É apenas um começo de demandas por serviços públicos, por melhores produtos, por um padrão de consumo diferenciado, por habitações adequadas. Enfim, trata-se da construção de um complexo mercado consumidor. É fato também que o Brasil hoje passa por algumas dificuldades. Mas eu quero assegurar aos senhores que nós, hoje, apesar de não mantermos o mesmo nível de política anticíclica que fizemos nos últimos seis anos, estamos enfrentando o seguinte desafio: ao mesmo tempo que nós garantimos o reequilíbrio fiscal, o controle da inflação e tentamos, obviamente, ancorar todas as expectativas do Brasil diante das turbulências e das volatilidades financeiras internacionais, nós queremos e estamos fazendo isso. Nós estamos mantendo o fundamento das nossas conquistas. E as nossas conquistas, nós mantemos todos os programas sociais fundamentais. E isso significa que oportunidades de negócios existem no Brasil. Por exemplo, estamos fazendo um programa de concessões em que nós esperamos fazer a concessão, obviamente, para o setor privado tanto na área de logística quanto na área de energia. Mantemos um programa de expansão na área de agricultura 20% maior do que tivemos no ano passado. Por quê? Porque estamos fazendo, também, uma reforma do Estado no Brasil, fazendo uma redução do tamanho do Estado do Brasil. E isto é o que eu chamo de tentar utilizar a crise como uma oportunidade que você não pode desperdiçar, até porque ela é muito dolorosa.
Assim sendo, eu considero que esta reunião, hoje, e tudo que nós aqui alcançamos é muito importante para o Brasil, e tenho certeza também para a Colômbia. O Acordo de Cooperação e Facilitação do Comércio é algo - e dos Investimentos - é algo que vai permitir que nós tenhamos uma maior capacidade de desburocratizar as nossas relações, de focar naquilo que interessa a cada uma das nossas economias. Acho que foi muito importante também a conclusão do acordo automotivo. Acho que a sinalização que nós vamos buscar um acordo de bitributação também cria um ambiente de reciprocidade e de negócios muito favoráveis entre as nossas diferentes economias. Precisamos ainda de construir um acordo na área de serviços, precisamos de olhar a área de plásticos, precisamos de estreitar as nossas relações na área de ciência, tecnologia e inovação.
Uma coisa torna esta reunião aqui memorável: é o fato de nós no Brasil, governos e empresários, e hoje eu estive em uma reunião pela manhã com empresários brasileiros, e houve uma posição consensual de todos os empresários no sentindo da importância de contribuir para o pós-conflito. Contribuir para o pós-conflito é contribuir para a Colômbia e para toda América do Sul, é contribuir para a nossa região. Para nós, é importante que tenhamos nesta área do mundo uma situação de paz. Daí porque a agricultura, tanto a familiar como o agronegócio brasileiro, no que pudermos contribuir, iremos contribuir. Nós temos, nos últimos anos, construído para a questão da inclusão social, infraestrutura social. Porque infraestrutura social, ela abrange as mais diversas e variadas área. Por exemplo, nós fizemos, para poder garantir o crescimento na área agrícola, um programa de infraestrutura de energia que chamou-se Luz Para Todos e que agora nós chegamos à universalização. Os senhores sabem que universalizar é uma coisa extremamente delicada, é mais fácil o início do que o fim. Porque quando chega no fim você tem que procurar aquele consumidor que muitas vezes (falha no áudio) porque ele mora justamente nas regiões afastadas e isoladas. Que muitas populações em nosso país vivem.
Então, nós estamos nessa fase final. Nós estamos também buscando agora, com muito interesse, a questão da mobilidade urbana. Estamos buscando a segurança hídrica no nosso País. Essa tecnologia social que é mais complexa e que é aquela que vai responder essa questão que o fim da miséria é apenas um começo, até porque as pessoas que saem da miséria, elas ficam muito mais exigentes, elas não querem menos, elas querem mais, e elas querem melhores serviços públicos, elas querem acesso ao que não tinham. Cria-se um novo mercado.
Assim sendo, eu quero dizer que nessa área nós podemos também cooperar. Acredito ainda que, para nós, a Colômbia é um dos países mais importantes na parceria na questão da educação, da ciência, da tecnologia e inovação. Nenhum dos nossos países vai dar um salto na sua produtividade se nós não formos capazes de construir o caminho da educação de um lado. E a educação serve no bom sentindo para duas coisas: de um lado, ela que dá a certeza que a inclusão social é perene. É talvez uma das grandes condições para que as pessoas não voltem atrás naquilo que conquistaram. Portanto, a inclusão e a qualidade da educação são essenciais.
Mas a educação também dá conta de um outro aspecto dos nossos países, nós temos de correr atrás da inovação. E para correr atrás da inovação, nós precisamos de ter uma educação de qualidade que forme. Eu não sou contra nem - eu sou economista - eu não sou contra nem economista, nem contra advogado, sou a favor, mas tem de formar engenheiro, tem de formar cientistas, matemáticos, físicos, químicos, tem que formar pessoas na área de ciências médicas, tem que formar pessoas na área de ciências da natureza. Essa é uma área de cooperação que nós temos de contribuir para que a gente aproveite o que há de melhor em nossos países.
Quero abrir aqui a possibilidade de toda cooperação possível na área de educação. Inclusive, uma das coisas que eu considero muito importante foi o que hoje na nossa discussão, foi a nossa discussão com a ministra da Cultura a respeito dessa troca que nós temos de ter nessa área de educação.
Quero dizer também, de 2010 a 2014 nós aumentamos a presença do Brasil na Colômbia. Quero dizer que o Brasil estimulará, que o Brasil terá muito interesse em que as empresas brasileiras venham para a Colômbia. E tudo que pudermos fazer para dar suporte a isso é muito importante. Inclusive, olhamos com muito interesse a complementariedade industrial. Acho que a construção de complementariedade industrial é uma outra etapa no nosso processo de cooperação o qual nós devemos focar.
Além disso, eu quero aproveitar essa ocasião também para convidar as empresas colombianas a investir ainda mais no meu País. Nós temos agora dois grandes projetos em andamento: um, que é projeto, como eu disse, de concessão em rodovia, ferrovia, portos e aeroportos; e o outro programa é na área de energia elétrica. Basicamente licitações na área de hidrelétricas, de energia eólica, de energia solar.
Eu queria finalizar dizendo que para o Brasil multiplicar o comércio bilateral é um objetivo que nós consideramos factível. Nosso comércio bilateral tem uma característica bastante interessante. Nós temos uma presença muito grande de produtos com valor agregado. Não que comercializar commodities não seja importante. Nós somos grandes portadores de riquezas.
Quero dizer ainda que Mercosul e Aliança do Pacífico não só podem como devem convergir. A integração entre esses dois agrupamentos regionais só nos trará benefícios. Os modelos de inserção internacional de um país não podem se limitar ou não impedem a integração com países que optaram por esquemas diferentes. Nós temos a experiência de uma variada, um variado relacionamento com áreas regionais. Por exemplo, o Brasil tem um grande processo em andamento com os países Brics. Os países Brics estão na Asean, os países Brics estão em outras áreas como aquelas que abrangem, por exemplo, os países da área russa - o Afeganistão, o Tajiquistão e outros países. A África do Sul tem toda uma relação com o continente africano. Nada impede que nós tenhamos também as mesmas relações aqui na América Latina. Acho que a Aliança do Pacífico e o Mercosul devem convergir. Nós estamos fazendo um grande esforço no sentido de possibilitar que haja esse tipo de integração na nossa região. Vai potencializar as nossas economias.
Caro presidente Santos,
Ao concluir essas palavras eu gostaria uma vez mais de agradecer ao senhor, à sua equipe, a recepção que hoje eu recebi aqui na Colômbia. Uma recepção que demonstra a extrema fraternidade que existe entre nós. Agradeço também a todos os empresários, aos empresários brasileiros que vieram a esse seminário, aos empresários colombianos que estão aqui pela calorosa, pelo empenho que estão tendo na construção dessas relações. E também agradeço aos governos as relações político-diplomáticas e econômico-comerciais que nós construímos juntos.
Quero terminar convidando todos os presentes a nos prestigiarem nos Jogos Olímpicos. A Rio 2016 pode ser um momento também em que nós possamos celebrar a paz aqui na nossa região. Todos vocês sabem, isso já foi dito ao longo do dia de hoje, mas não custa repetir que as Olimpíadas faziam parte de um processo de relacionamento entre as cidades gregas, principalmente, nos pós-conflitos que envolveram tanto entre eles quanto as guerras com o Império Persa.
Assim sendo, a simbologia da Olimpíada é uma simbologia de paz. Eu acredito que, no ano de 2016, a única paz concreta que o mundo vai assistir, aquela que de fato vai ocorrer, aquela que fato vai fazer avançar os países de todo o mundo, porque é sempre a paz, ela é simbólica e ela tem efeito de representação. A única será a que vocês conquistarem aqui na Colômbia.
Por isso, eu convido vocês a participar da Olimpíada. Convido também porque vocês foram extremamente participativos na Copa do Mundo. Sei que o presidente Santos gosta muito de futebol, mas sei também que ele aprecia os demais esportes. O presidente Santos me prometeu a maior delegação da Colômbia em todos os Jogos Olímpicos. E eu queria convidar vocês a me prometerem a maior delegação de colombianos e colombianas de todas as Olimpíadas.
Muito obrigada.
Ouça a íntegra do discurso (27min44s) da presidenta Dilma