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15-07-2014 - Entrevista coletiva concedida pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, após a sessão plenária da VI Cúpula dos Brics - Fortaleza/CE

Fortaleza-CE, 15 de julho de 2014

 

Presidenta: Eu prefiro mais perto… bom, eu queria, primeiro, dar boa tarde para vocês. Eu não lembro de tudo, não. Não sei o que vocês querem, mas, vamos botar aqui uma cadeirinha porque, qualquer coisa, eu pego um papel. Bom, podemos começar. Posso dar, fazer uma abertura sobre essa Cúpula dos Brics.

            Essa Cúpula dos Brics é a 6ª. Ela encerra um período em que todos os Brics tiveram condições de receber, cada país recebeu uma das Cúpulas. E, agora, o ciclo se fecha quando a presidência pro tempore volta para o Brasil. É um momento especial porque os Brics estão dando passos concretos em direção a uma ação, uma formalização e iniciativas mais concretas.

Nós tivemos um processo de discussão sobre dois grandes mecanismos: um, o Banco, o novo Banco de Desenvolvimento dos Brics e, o outro, o Acordo Contingente de Reservas. Esses dois mecanismos começaram a ser discutidos há duas cúpulas atrás. Muitos diziam que eles não seriam viáveis, muitos diziam que nós não iríamos, de fato, concretizar essas duas grandes iniciativas. E o fruto dessa reunião, o resultado da 6ª Cúpula foi que nós vamos conseguir institucionalizar o Banco e institucionalizar o Acordo Contingente de Reservas. O Banco, como vocês viram, (falha no áudio).

Está sem áudio? Por favor, está sem áudio, eu não sei para quem eu reclamo que está sem áudio. Eles reclamam para mim, eu reclamo para alguém: está sem áudio. Agora voltou? Voltou o áudio.

 

Jornalista: Caiu de novo.

 

Presidenta: Então, não é um problema lá de cima, gente. Bom, continuando, então: o Banco, o Banco, o novo Banco de Desenvolvimento dos Brics, como eu disse para vocês, aqui, ele tem um capital autorizado de US$ 100 bilhões e um capital subscrito de US$ 50 bilhões. Esse capital subscrito de US$ 50 bilhões vai ser dividido em partes iguais entre os cinco integrantes dos Brics. A importância desse Banco é por que nós vivemos, hoje, um momento em que os países não têm tido acesso significativo a fontes de financiamento internacional. E o Brics, o Banco dos Brics se propõe a permitir e a criar condições para que o acesso ao capital para investimentos, tanto na área de infraestrutura quanto na área de programas que tenham a ver com a expansão da produção e, também, em grandes desafios, no que se refere a políticas sociais, tenha uma fonte de financiamento e essa seria o Banco dos Brics.

O Banco dos Brics pretende já iniciar a sua institucionalização e aí, nós vamos ter uma participação distribuída entre os cinco membros dos países Brics e, ao mesmo tempo, dentro daquela perspectiva de rotação das diferentes funções, como sempre ocorre dentro dos Brics. Nós começaremos com, primeiro, a sede do Banco - e essa é a sede definitiva -, será localizada em Xangai, terá o primeiro a primeira… o primeiro escritório regional dos Brics na África do Sul. Na sequência, o outro escritório será na América Latina, no Brasil, isso na sequência. O primeiro presidente do Banco virá da Índia; o primeiro presidente do conselho de administração do Banco será do Brasil; e o primeiro presidente do Conselho de Ministros ou de Governadores do Banco será da Rússia. E isso terá uma sistemática renovação, na medida em que se complete os mandatos de cada uma dessas funções.

            A outra questão é a questão muito importante, do Arranjo Contingente de reservas, que é a criação de uma rede de proteção, traduzindo em linguagem mais acessível, uma rede de proteção, e ela, no montante de US$ 100 bilhões, para garantir que os países Brics tenham acesso a esse rede de segurança, diante de eventuais volatilidades que atinjam os mercados financeiros e que possam comprometer a estabilidade, a estabilidade internacional dos países Brics e dos países em desenvolvimento. Mas, no caso específico do Acordo Contingente de Reservas, dos países Brics. E essas duas instituições, elas têm uma função, uma função de, de fato, completar esse ciclo em que o Brics está em gestação, para o momento em que ele se torna realidade, que ele se concretiza como uma parceria, com base em instituições.

Outra decisão que eu considero importante é a formalização do Fórum Empresarial. O Fórum Empresarial, ele, eu diria, ele é a sustentação, também, dos países Brics, porque implica na presença dos empresários dos cinco países num processo de construção de relações que passam pela simplificação de processos, pela adoção de padrões técnicos que sejam comuns aos países, por um portal de negócios, enfim, que crie uma relação sistemática entre os empresários. O presidente da CNI, o Robson Andrade, que apresentou o relatório, em nome dos representantes dos diferentes fóruns dos países Brics, informou aos líderes dos Brics que 700 empresários participaram dessa reunião nas suas diferentes fases e que isso significaria num aprofundamento destas relações, seja no que se refere a empresários chineses, brasileiros, russos, indianos e empresários da África do Sul. São economias extremamente diversificadas e diferenciadas, mas, todas elas, com uma imensa perspectiva de crescimento e de construção de uma prosperidade para as suas sociedades.

Primeiro, eu falei dos dois, do Banco e do Arranjo Contingente e Reservas, falei do Fórum e, agora, eu queria falar para vocês de algo que considero também extremamente importante nas nossas decisões, que foi a construção, também, de um conjunto de estatísticas comuns que levem e que analisem e que forneçam dados diferenciados sobre as nossas economias e sociedades. No caso desses dados, nós já vínhamos fazendo, nós vínhamos fazendo um trabalho muito determinado, para precisar os dados de estatísticas sociais, mas nós pretendemos também completar esse processo, fazendo dados e estatísticas econômicas. Isso é importante para homogeneizar, também, a nossa avaliação da economia.

E, por fim, eu queria dizer que há um comprometimento dos Brics com a questão do desenvolvimento sustentável, que eu acho que é um grande ganho. Os Brics passam a ter toda uma política de preservação do meio ambiente, dentro dos princípios da Rio+20, que é: crescer, incluir, conservar e proteger. Ou seja, dizendo simplesmente o seguinte: é possível crescer preservando o meio ambiente, é impossível crescer sem incluir, sem incluir as pessoas. Então, nesses dois eixos está sintetizado o que é que nós consideramos que é essa questão do desenvolvimento sustentável.

Saindo desse âmbito, também essa reunião, ela tratou de abordar a questão da governança, da governança internacional e das crises regionais, porque o mundo não é feito, hoje pelo menos, não é feito com uma harmonia e um grande encontro de países e nações em direção à paz. Nós afirmamos a paz, a necessidade de priorizar o diálogo como forma de garantir a resolução de conflitos, e consideramos que o melhor, o melhor padrão é, primeiro, seguir as regras das Nações Unidas, respeitar o direito internacional e agir dentro desse marco.

Achamos que os impasses e a duração dos conflitos, no caso específico dessas crises regionais, eles, pela sua duração, evidenciam a necessidade do Conselho de Segurança da ONU ser um órgão com maior representatividade. Da mesma forma no que se refere aos acordos estabelecidos no G20, que previam a reforma do Fundo Monetário Internacional e do Banco do Brasil com essas entidades fazendo modificações, principalmente das suas cotas, no sentido de garantir que essas entidades refletissem o real poder existente das economias emergentes. Nós temos 21% do PIB e, se você, se você fizer o cálculo pelo poder, qualidade e poder de compra, nós chegamos a 27%, e temos simplesmente uma representação que corresponde a 11%.

Então, é justamente isso que durante o processo da crise que começa em 2008 foi acordado e consensuado dentro do Fundo Monetário, aliás, dentro do G20, sobre o Fundo Monetário e o Banco Mundial, é que haveria uma reforma. E é sobre essa questão, também, que nós deliberamos mais uma vez, no sentido de agir para que essas reformas que estavam sendo prometidas, elas ocorram. Mas, de qualquer forma, tanto o Banco, o novo Banco de Desenvolvimento dos Brics como o Acordo Contingente de Reservas, faz com que nós façamos a nossa parte e não fiquemos só demandando e reivindicando. São uma resposta concreta ao momento atual.

Agora, eu abro a palavra a vocês.

 

Jornalista: Boa tarde. O Brasil abriu mão da presidência do Banco dos Brics para evitar um impasse?

 

Presidenta: Não, querida. É por isso que é bom a gente saber a história. Na história do Banco dos Brics e do Acordo Contingente de Reserva foi assim: a Índia propôs, a Índia propôs o Banco dos Brics e nós propusemos o Acordo Contingente de Reservas. Então, todos nós consideramos que era justo que a primeira presidência ficasse com o país que tinha proposto, no caso, a Índia, foi justamente isso. A segunda presidência, no rodízio, seria, então, do Brasil. E o Acordo Contingente de Reserva não tem presidência, mas é bom que se diga que foi uma iniciativa do governo brasileiro, ao longo desse tempo. Óbvio que em todas elas - e isso é uma coisa que tem que ser precisada - elas não saem se não houver uma busca de consenso. E eu queria aqui destacar que essa busca de consenso teve uma grande participação da África do Sul, da Rússia, da China, da Índia e do Brasil. Nós queremos construir esse banco, e esse Banco está acima - e é esse o exercício que se faz quando se cria um órgão como os Brics: é o exercício de perceber que quando uma instituição dessas nasce, cresce e dá certo, beneficia a todos os países.

 

Jornalista: (em inglês) Já passa um ano desde a revelação de (...). A senhora foi uma vítima da questão da vigilância, da espionagem, de forma que vocês também estão propondo uma mudança na internet. Que mudança a senhora gostaria de ver na internet, que mudanças foram vistas? E a internet, hoje, é um lugar mais seguro para os usuários?

 

Presidenta: Eu acredito que nós demos um passo efetivo, aliás, alguns passos, vou dar alguns exemplos: o primeiro grande exemplo é a reunião multissetorial global sobre a governança do futuro da internet, que ocorreu no Brasil, em abril de 2014, 2014. Essa reunião foi possível, teve a representação de vários dos sustentadores, em inglês stakeholders: governos, toda a área técnica, a área, vamos dizer, de sustentação, o criador do www, todos os grandes participantes nesse esforço enorme que foi, ao longo do tempo, construir a internet participarem. Então, governos, área técnica, sociedade civil, órgãos,  ongs, enfim, todos aqueles que participam dessa rede complexa, participaram.

Qual era o objetivo? O objetivo é justamente isso: fortalecer essa rede como espaço multissetorial, multilateral, democrático e aberto, o objetivo era esse. E foi importante porque, de uma certa forma, nós tivemos uma representação muito qualificada e definimos uma série de ações que serão desdobradas daqui para frente. Entre elas eu destaco, do ponto de vista do Brasil, o Marco Civil da Internet, a lei que nós aprovamos, justamente coincidindo com essa reunião multissetorial, essa reunião multissetorial, global, sobre o futuro da governança da internet. E destaco, dentro do marco civil brasileiro, um aspecto: primeiro, a preservação da privacidade; segundo, a garantia de um espaço realmente democrático baseado no princípio de neutralidade da rede. Porque a interferência na rede não é só de governos, pode ser de grupos monopolistas, pode ser de grupos religiosos, pode ser de grupos políticos, pode ser de quem quer que seja, a neutralidade da rede é pré-condição para o seu caráter democrático.

O Brasil… cada país tem de dar seus passos, porque a rede é isso, ela não é algo que alguém define uma posição e sai todo mundo atrás, seguindo. Cada país eu acho que terá de ter o seu marco civil, terá de cuidar para que não haja, de fato, o uso indevido, a exploração indevida da privacidade das pessoas, das empresas ou de governos. Eu acho que esse foi um passo. Outro passo foi a aprovação junto, conjunta, de uma posição do Brasil e da Alemanha, que era justamente sobre essa questão na era digital, ou seja, como seria, como deveria ser essa proteção da privacidade dos dados, desse direito civil fundamental, que é o direito individual à privacidade. É um direito civil, é importante dizer, é um direito fundamental. Dentro do princípio, o que nós achamos que é garantia e deve ser garantido fora da internet, em termos de direitos, nós devemos achar também que deve ser garantido dentro da internet.

Então, eu diria, para simplificar a vida que esses três pontos são muito importantes. Está previsto o desdobramento disso em outras reuniões. O Brasil tem todo o interesse em participar, em levar à frente esse projeto, porque acreditamos que a internet é um dos marcos de democracia, de ampliação do direito das pessoas e, de fato, permite um diálogo de uma forma que nós, antes da internet, de maneira alguma, tínhamos.

Agora, é desigual eu ficar aqui, de pé, e vocês todos sentados. Eu quero avisar para vocês que eu fui carregar meu neto e, ele é pesado, para não cair, eu bati na quina da cadeira. Então, às vezes, eu manco. Se eu tiver dor, eu sento.

 

Jornalista: Boa tarde, Presidente. Cristina Lemos, da TV Record. Presidente, eu gostaria que a senhora comentasse essa iniciativa dessa criação dessas duas instituições, elas vão na direção, elas sinalizam para o mundo que os Brics estão cansados dessa ordem mundial velha, que não se reforma, que não se altera e que, portanto, estão criando as suas próprias instituições financeiras para estimular o desenvolvimento, para se socorrer entre si, quando estiverem em dificuldades? Nesse sentido, esse “FMI dos Brics”, ele poderia, por exemplo, futuramente, ajudar um país como a Argentina? A senhora vê tecnicamente isso como possível?

 

Presidenta:Olha, respondendo a sua pergunta: primeiro, essas instituições - o Banco dos Brics e o Arranjo Contingente de Reservas, então, o novo Banco dos Brics, Arranjo Contingente de Reservas - elas não são contra ninguém, elas são a nosso favor, é uma outra perspectiva. Elas são a favor dos países Brics, mas também são a favor dos países em desenvolvimento. Nós estamos abertos para ver o que pode ser essa relação com os países fora do grupo Brics, mas ainda não foi decidido, porque nós acabamos de formatar e de formar essa instituição, ela agora vai ganhar formalidade e vai se posicionar.

Agora, primeiro eu quero dizer que também não afastamos operar com nenhum dos órgãos internacionais. Agora, ela não foi feita para isso, também, ela foi feita para dar garantia, para possibilitar investimentos, para dar uma rede de proteção ao grupo Brics e olhar, com toda a generosidade, para os países em desenvolvimento. Então, se a Argentina vai ser ou não beneficiada por isso, é algo que daqui para frente vai ser avaliado e se tomará, sobre essa questão uma posição. Primeiro, é preciso que a Argentina peça, não é? Então, nós estamos aqui especulando. O que eu estou dizendo é que o nosso olhar para os países em desenvolvimento vai ser um olhar generoso. Isso não implica, de nenhuma forma, que esse Banco não terá regras bastante claras e firmes, a respeito da sua própria sustentabilidade.

 

Jornalista: (em inglês) ...desaceleração econômica. Como é que a senhora vê a perspectiva com relação ao Brics para o futuro? E, em segundo, é sobre o novo Banco de Desenvolvimento. Cem bilhões de dólares americanos é muito dinheiro, mas a senhora acha que se esse dinheiro é suficiente para atender as necessidades de capital dos países do Brics? E quando esse Banco vai se tornar totalmente operacional? E por que Xangai foi escolhida como a sede permanente? Obrigado.

 

Presidenta: Bom começando pelo início, de outra forma seria impossível, mas eu podia começar pela última pergunta, pela última, porque são quatro perguntas. Começando pela primeira, então: de fato, todos nós, lideres dos Brics, reconhecemos, não só que houve um efeito na desaceleração do crescimento dos Brics, nos últimos anos, sabemos que uma parte disso, como foi dito, inclusive, por vários dos líderes dos Brics, é devido aos efeitos da crise internacional sobre nós e sobre as necessárias, também, reformas, mudanças que nós temos de fazer nas nossas próprias economias.

Agora, a tese muito em voga no final do ano passado e no início desse ano, que dizia o seguinte “os países Brics vão passar o bastão, na questão da liderança das taxas de crescimento mundiais, para os países desenvolvidos” foi um tanto ou quanto precipitada e viezada, porque o que nós estamos vendo é uma recuperação ainda bastante modesta e infelizmente - eu gostaria que ela fosse mais robusta porque beneficiaria a todos os países do mundo - das economias desenvolvidas, seja o próprio Estados Unidos, que é a economia líder do ocidente e também da União Europeia. As taxas são modestas e isso, obviamente, não dá suporte a um posicionamento que dizia: “Olha, os Brics perderam à sua, ao seu dinamismo.”

Na verdade, o que tem garantido uma taxa média de crescimento da economia mundial ainda são as economias Brics, apesar de todas elas terem tido uma redução nas taxas, caíram, umas pela metade, outras caíram, em alguns momentos, bastante. E nós, agora, estamos certos de que, com as medidas tomadas, no caso do Brasil, nós acreditamos que é fundamental um aumento, uma ampliação da produtividade sistêmica do país. Isso implica em investimentos maciços em infraestrutura, em investimentos vultosos em educação, principalmente em educação técnica e em educação científica e tecnológica, e implica num enorme esforço de inovação.

Em todas essas questões nós necessitamos de um fundamento que é a parceria público-privada, mas, também, o Brasil necessita ser um país sem a burocracia, ou sem a burocracia que entrava. Portanto, nós temos de perceber que o quarto ponto é justamente as medidas, sejam elas em marcos regulatórios, algumas nós viemos fazendo, exemplo, a última, Marco Regulatório dos Portos, não, a última foi o Marco da Biodiversidade. Mas essas medidas são fundamentais, para deixar claro qual é o ambiente de negócios. Mas, além dessas, tem medidas que dizem respeito à simplificação das exigências que se cristalizaram no Estado brasileiro. Então, essas quatro questões.

Em outros países são outras mudanças. Cada um dos Brics fará as suas. Nós não temos um modelo padrão para os cinco países. Respeitamos a história, a cultura, a cultura econômica, o ambiente de negócios criado em cada país. Até por isso, somos muito ricos, em matéria de experiências, são experiências muito diversificadas que se encontram nessas reuniões do Brics. Então, primeira questão eu respondi. Eu não sei se vai ser na ordem.

A segunda questão que ele fez, você lembra?

 

Jornalista: Foram os 100 bilhões, se eram suficientes.

 

Presidenta: Bom, é o seguinte, banco é uma coisa muito interessante. Banco tem um imenso poder de alavancar recursos. Então, nós estamos começando com uma quantia bastante significativa, afinal, são US$ 100 bilhões. E isso, eu acredito, que será extremamente suficiente para se dar a partida. Quanto ao momento em que os Brics estarão inteiramente prontos, depende do esforço que cada um de nós, cada um dos países Brics, vai fazer. Esse esforço, da minha parte, que hoje estou na presidência pro tempore dos Brics, da minha parte, é integral, e eu tenho certeza que também será integral das demais partes. Notadamente, eu tenho certeza que o presidente Xi Jinping dará todo o seu empenho para que isso fique pronto o mais cedo possível. Agora, tudo isso nós vamos fazer com prudência, com cautela, com cuidado, por quê? Iniciando com o passo certo, continua com o passo certo.

 

Jornalista - Presidenta, só faltou uma: por que Xangai.

 

Presidenta: Por que Xangai? Bom, Xangai é porque, fazendo um paralelo conosco, é um centro financeiro. Fazendo um paralelo conosco seria ou São Paulo, ou Rio, uma dessas cidades, que tem tradição nessa área. Mas eu acredito que no caso da China seja porque é um grande centro financeiro, econômico, de uma das grandes economias do mundo, que é a China.

 

Jornalista: Boa noite, Presidente, boa noite.

 

Presidenta: Boa noite, Já é boa noite?

 

Jornalista: É, incrível, mas é. Essa negociação, essa… essa exigência que o FMI mudasse, revesse as cotas, a estrutura, é uma exigência antiga, já, e é uma grande exigência dos Brics. A senhora acha que isso não vai sair nunca? Esse banco não serve como uma pressão para que isso saia do papel? Por que essa entidade continua nesse nível de relacionamento com os países emergentes?

 

Presidenta: Olha, essa decisão não é dos países Brics. Ela foi tomada nas reuniões iniciais do G20. O G20 é a reunião das 20 maiores economias do mundo, das 20 economias mais ricas do mundo. Nas reuniões inaugurais do G20 foi feito um diagnóstico da crise financeira. O diagnóstico da crise financeira partiu também para uma avaliação das instituições financeiras existentes no mundo. Várias das decisões tomadas no G20 foram, sim, implementadas, várias, inclusive, algumas a respeito do sistema financeiro. Ficou pendente a reforma do Fundo Monetário, porque naquela época foi decidido e avaliado que o Fundo Monetário não expressava a real correlação de forças econômicas da economia mundial e que, portanto, no processo de mudança, de reforma do Fundo, teria de ser contemplado um novo arranjo das cotas.

O que ocorre é que, de lá para cá, não foi tomada nenhuma medida concreta sistematicamente. Quero dizer que o novo Banco dos Brics não é uma resposta a isso, é uma resposta às nossas necessidades. E eu acredito que mesmo com a existência do Banco dos Brics, fica ainda colocada na pauta a mudança das cotas, porque a mudança das cotas é importante para dar sustentação e legitimidade a uma instituição multilateral que é o Fundo Monetário. O que nós temos certeza é que o Banco dos Brics vem trazer para o mundo também uma constatação: este é um mundo multilateral, ele pode e deve ter várias instituições multilaterais, o G20 foi uma, os Brics são outra e isso se reflete também em novas instituições.

Então, nós temos de dar, de lidar com o novo Banco dos Brics e com o Arranjo Contingente de Reservas de forma muito natural. É sinal dos tempos. Os tempos que nós vivemos exigem essa característica, esse novo arcabouço: exige a reforma do Fundo Monetário, reforma do Banco Mundial, naquilo que couber e exige a formação do novo Banco dos Brics e do novo Acordo Contingente de Reservas. Tudo isso contribui, eu acho, para a estabilidade do sistema. Por que, o que uma organização como os Brics quer? Quer isto: quer possibilidade de desenvolvimento econômico, prosperidade para os povos e estabilidade.

Recentemente nós vimos que se precipitou, e aqui no Brasil até inventaram um termo, chamado “tempestade perfeita”, que o mundo ia se acabar com a saída das políticas expansionistas, monetárias e expansionistas. Bom, o mundo não acabou, nem tampouco a “tempestade perfeita” caiu no Brasil. Mas, vamos convir, provocou grandes problemas para muitos países em desenvolvimento. É só ver a violenta alteração cambial que houve num determinado momento, no mundo. O que nós queremos é contribuir para a estabilidade, contribuir para diminuir a volatilidade, e contribuir para que haja mais recursos para garantir políticas de investimento na área de infraestrutura, infraestrutura desde toda a logística, infraestrutura energética, infraestrutura social e infraestrutura urbana. É isso que é o novo Banco e o Arranjo Contingente de Reservas.

 

Jornalista:- Boa noite, Presidenta.  A pergunta é basicamente sobre o Banco dos Brics. A China é a maior economia do mundo, é a economia que é maior do que todos os outros membros dos Brics juntos. O que o resto dos Brics podem fazer para tentar prevenir que a China seja muito hegemônica, ou seja, tenha muita influência e poder sobre o Banco dos Brics. E, segundo, se os líderes mencionaram, falaram ou discutiram sobre o nome do próximo executivo para ser o presidente do Banco dos Brics.

 

Presidenta: Primeiro, vamos responder à primeira parte da sua pergunta. No banco dos Brics nós optamos, todos nós, por fazer uma distribuição absolutamente igualitária do capital subscrito, porque nenhum de nós, e quero atestar isso da parte da China, quis se mostrar hegemônico em relação a ninguém. Nós acreditamos que essa distribuição igualitária das cotas previne esse tipo de questão que você levantou. E conviver com uma grande economia, que não seja uma economia com pretensões hegemônicas, é muito bom.

Agora, eu queria levantar que os países que integram o Banco dos Brics, alguns deles são grandes detentores de reservas também. É o caso da Rússia, o caso do Brasil. Nós somos, dentro da distribuição de reservas, nós estamos entre os países com mais reservas no mundo, estamos entre. Então, o Banco dos Brics nasce com um grande poder, se você considerar o critério reservas, detenção de reservas. E não só pela China, mas pelo fato que a Rússia, e o Brasil também detém, a China, em menor… a China, não, a Índia em menor tamanho, mas detém e a África do Sul também.

Então, eu não acredito que o formato do Banco dos Brics seja um formato que leve ao tipo de política tradicional em Bretton Woods, não acredito. Acho que nós não estamos no padrão Bretton Woods, que deu aqueles conflitos que, se a gente lembrar da história, sabemos que ocorreu. Por exemplo, o conflito entre Lord Kanes, pela Inglaterra. E eu me lembro, porque tem hora que eu esqueço os nomes, eu não lembro o representante dos Estados Unidos qual era. Mas houve conflitos. Houve conflitos em relação, inclusive, à moeda. Então, no nosso caso, nós estamos tentando aprender com a história.

Qual é a pergunta? Você está vendo como é que eu estou cansada, eu estou cansada. Vocês desculpem.

 

Jornalista: A escolha do Presidente.

 

Presidenta: Não, não. Nós não discutíamos nomes aqui, porque também não cabia isso, não é? Bom, mas eu quero dizer para vocês que eu acredito que essa 6ª Cúpula, ela foi muito produtiva. Agora, para a gente não achar que é um ponto, ela é fruto de um processo do Grupo Brics, que vem amadurecendo ao longo de todas as Cúpulas. Nós chegamos aqui porque antes da sexta houve cinco, e chegamos aqui com uma grande maturidade, discutindo uma questão extremamente complexa, como o Banco dos Brics e o Arranjo Contingente de Reservas. Muito obrigada a vocês e tenham um bom fim de dia.

 

 

 Ouça a íntegra (41min07s) da entrevista concedida pela Presidenta Dilma Rousseff

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