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13-02-2016 - Entrevista coletiva concedida pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, após a visita à Comunidade Zepelin - Dia Nacional de Mobilização contra o Aedes Aegypti (Zika Zero) - Rio de Janeiro

Rio de Janeiro, 13 de fevereiro de 2016

  

Presidenta: Muito bom dia. Nós estamos, a presidente, o governador do Rio de Janeiro, o prefeito do Rio de Janeiro e as Forças Armadas, os agentes de saúde, enfim, todos mobilizados nessa grande mobilização que nós estamos fazendo no dia de hoje em todo o Brasil, que é o início da campanha mais presencial que governo Federal fará para a questão do mosquito que transmite o zika vírus. Nós sabemos que é fundamental que o governo tenha duas ações, que correm uma paralela a outra. A primeira ação é que nós, elas são simultâneas, gente.Não é uma e outra, é uma e outra ao mesmo tempo. Na primeira ação, nós estamos colocando toda a estrutura do ministério da Saúde, estou aqui inclusive com o secretário-executivo, o ex ministro Agenor, secretário-executivo do ministério da Saúde. Nós estamos colocando toda a nossa estrutura de pesquisa, de investigação, todos os nossos cientistas em busca de uma vacina para, especificamente, esse mosquito que transmite o zika vírus. Esse mosquito que transmite o zika vírus é o mesmo que transmite a dengue, só que se tiver uma vacina da dengue, ela não serve para o extermínio do vírus zika. O extermínio não, a resistência humana ao vírus zika. Então nós temos de fazer essa pesquisa. Estamos com uma parceria com a universidade do Texas, temos uma ação conjunta com o governo americano, principalmente com o Departamento Nacional de Saúde, o NIH, no sentido de garantir que esta pesquisa resulte o mais rapidamente possível em uma vacina. Não é fácil e portanto nós sabemos que vai levar um certo período de tempo. Não há, no mundo, uma vacina contra esse vírus, não há. Então ela tem que ser desenvolvida e o Brasil é um dos países para fazer isso. Eu falo mais alto, eu falo mais alto e todo mundo. Ele foi-se… a gente tem de constatar, gente… me desculpa, eu vou falar assim mesmo. Então uma parte é isso, é esse esforço científico, tecnológico, no sentido de assegurar que nós tenhamos o mais rápido possível essa vacina.

 Mas enquanto isso, não é possível que nós esperemos, então o que temos de fazer? Nós temos de combater o mosquito, porque o mosquito que é o transmissor desse vírus. Ele é o vetor, não é bem o transmissor, ele é o vetor desse vírus. Então temos de impedir que o mosquito procrie-se e nasça, sobretudo isso. Como que nós temos de fazer? Nós temos de combater o nascedouro do mosquito, e o nascedouro do mosquito, tanto é água parada, limpa ou suja, não interessa, ele procria na água parada, na sombra e em lugares em que ele adquire uma estratégia de sobrevivência e que faz com que ele tenha uma imensa capacidade de resistir. Por quê? Em média, no Brasil, dois terços dos criadouros, que são os vasos, um material qualquer que fique exposto ao tempo e que reuna água, qualquer forma de material permite que ele sobreviva, até planta. Se a planta for uma planta que permite o acumulo de água sem a água escorrer, o mosquito pode depositar ali seus ovos. Dois terços disso estão nas residências, um terço em média, tem alguns lugares que é mais de dois terços. Acredita-se que nas zonas altamente urbanizadas, está acima de dois terços dos criadouros. Por isso nós precisamos da mobilização da população. Na consciência de que o mosquito não é mais forte que a população conscientizada, buscando sistematicamente eliminar esses focos e os criadouros. E é importante a gente saber uma coisa, se em uma quadra você conseguir exterminar e eliminar todos os criadouros do mosquito e restar uma única casa, essa única casa dá conta da quadra inteira em termos de  transmsissão. Por quê? Porque a “mosquita”, ela, é a “mosquita” que põe em média 400 ovos. Se você considerar que a “mosquita” que transmite também, é ela que pica, ela que provoca a contaminação das pessoas e, portanto, se for uma senhora grávida, uma moça grávida, o que acontece? Há um grande risco da criança, se isso ocorrer nas primeiras semanas de gestação, que a criança tenha microcefalia. Esse é o grande problema do vírus zika, que ele, se for, se houver essa contaminação nas primeiras semanas de gestação, você tem a possibilidade da microcefalia, por isso que o governo federal está fazendo hoje uma campanha nacional. Essa campanha nacional, ela tem um duplo sentido. Ela é de aumento da conscientização que cada um tem de dar conta  da sua casa, porque cada um de nós, o governo vai fazendo a sua parte junto com os prefeitos e os governadores, os agentes de saúde, as Forças Armadas, mas todos nós, sozinhos, não damos contas se a população não estiver também junta, engajada, lutando dentro desse espírito do Zika Zero, de não deixar o zika se reproduzir. Ele não pode nascer, ele não pode nascer. Para as nossas crianças serem saudáveis, o mosquito do zika não pode nascer.

 Então essa campanha que começa hoje, ela vai ter vários desdobramentos. Nós vamos continuar com ela, nós vamos continuar na conscientização, uma série de entidades da sociedade estão engajadas, empresas. Eu estive pessoalmente com a CNBB, com a Conic, vou estar com as igrejas evengélicas, vou estar com todos aqueles que, dentro da sociedade, tem capacidade de mobilização. Agradeço também a imprensa. A imprensa tem tido um papel relevante na conscientização, diminuindo inclusive, eu acho, o desconhecimento sobre este, que é um mosquito que transmite o vírus que é recente aqui. Com essa explosividade que houve a partir de outubro para cá. Ele chama zika porque ele vem de uma região de Uganda, que é uma montanha que tem um nome de Zika. Ele não é autóctone aqui do Brasil. Hoje já é autóctone, ou seja, já é transmitido aqui, mas é importante saber que esse Aedes aegypti é o mesmo que lá atrás transmitia a febre amarela, é igual, ele é o mesmo mosquito, só que o vírus é diferente. Então nós temos esse grande desafio no Brasil, nós temos que nos mobilizar, mobilizar a todos nós para que isso seja um combate vitorioso. Ele será um combate vitorioso se nós conseguirmos de fato impedir que o mosquito nasça, que o mosquito ponha seus ovos, que o mosquito vire larva e, de larva, vire outro mosquito e passe a picar as pessoas, podendo transmitir esse vírus que tem uma altíssima corelação com uma doença que é a microcefalia. Então, gente, essa é a ideia dessa campanha, ela está hoje nacionalmente, ela é nacional, nós continuaremos essa campanha ao longo do mês. Nós vamos, inclusive, também fazer também uma campanha específica para colégios, para as crianças, para os jovens. Porque a gente sabe que criança tem um grande poder persuasório com os pais. Se explicar para a criança do que se trata, a criança, ela é capaz, não diretamente de combater, mas de levar a consciência desse combate. Amanhã nós pretendemos fazer um balanço de tudo que foi feito hoje. Amanhã nós iremos procurar vocês e fazer esse balanço.

 Jornalista: Como foi a conversa ontem com o presidente Lula?

 Presidenta: Foi como sempre foram as minhas conversas, eu converso sistematicamente com o presidente Lula. Acho que o presidente Lula está sendo objeto de uma grande injustiça, respeito muito a história do presidente Lula e tenho certeza que esse será um processo que será superado porque eu acredito que o País, a América Latina, o mundo precisa de uma liderença com as características do presidente Lula.

 Jornalista: (Imcompreensível)

 Presidenta: Os soldados vão cobrir o Rio de Janeiro inteiro. Por quê? Nós, prefeito, governador e eu, temos consciência de uma coisa, aqui no Rio de Janeiro terá lugar as Olimpíadas. As Olimpíadas ocorrerão no Rio de Janeiro. Então nós estamos também neste processo fazendo uma ação dirigida a esta questão. É importante dizer o seguinte, o vírus, ele provoca danos graves em mulheres que estão em gestação. Então, o que nós estamos fazendo é uma ação muito focalizada para exterminar o mosquito enquanto nós não temos a vacina. E algumas cidades terão prioridade, uma delas é o Rio de Janeiro, por razões óbvias.

 Jornalista: (Imcompreensível)

 Presidenta: Olha, eu acredito que há uma consciência grande por parte dos órgãos ligados ao esporte a respeito do fato de que esta situação não compromete as Olimpíadas. Acho que… porque ela não compromete as Olimpíadas. A contaminação do mosquito, ela é extremamente perigosa para mulheres grávidas. Mulheres em fase inicial de gestação. E nós, ao mesmo tempo, achamos que nós conseguiremos, até as Olimpiadas, ter um sucesso bastante considerável nesse extermínio dos mosquitos. Agora, nós precisamos de vocês. Essa é uma obrigação do prefeito, do governador e minha. É uma obrigação nossa. É um dever. É mais que uma obrigação, é um dever. Agora, nós também apelamos para a consiência de cada um dos cariocas, homens, mulheres e crianças, para que nos ajudem nessa função. Nós estamos em fevereiro. Nós temos de ter uma ação cidadã de conscientização. E a conscientização não é ficar só na compreensão do problema. Implica em ação. Então, se cada uma das pessoas, nas suas casas, em um dia da semana. Vamos supor, em um dia como hoje, sábado, pegar 15 minutos e toda semana vistoriar todos os nascedouros onde fica a água parada, nós vamos ganhar essa guerra do mosquito.

 A guerra depende de nós. Nós podemos dizer o seguinte. A gente é a primeira, vamos dizer, o primeiro, o regimento de vanguarda dessa guerra. Mas você não ganha a guerra com ele. Nós precisamos de todos os participantes participarem, porque aí será um grande regimento de vanguarda, 204 milhões de pessoas. A gente tira as crianças, eu me contento em ter 100 milhões. Mas que sejamos todos nós nas nossas casas. São 15 minutos por semana. É isso que nós estamos hoje pedindo e começando. É algo importantíssimo. É importante para as Olimpíadas, mas é importante é para a saúde das mulheres grávidas, das crianças, das mães. Isso não é um compromisso nosso com alguém do exterior. É um compromisso nosso conosco mesmo. É por conta da nossa importância que nós temos de fazer isso.

 Jornalista: Presidenta, o Brasil já perdeu várias vezes a batalha contra a dengue...

 Presidenta: Me desculpe, o Brasil vírgula. O mundo perdeu a batalha contra a dengue. Só um pouquinho. Eu estou falando isso porque tem dengue em 133 países. Ninguém conseguiu exterminar a dengue no mundo. Então, nós estamos diante de uma ação que ocorre em toda a América Latina em todos os lugares tropicais que tem o mosquito Aedes aegypti. Agora, no passado, nós ganhamos a guerra contra a febre amarela. Nós ganhamos, vamos lembrar disso. Vamos lembrar do que nós ganhamos, e é o mesmo mosquito. Nós vamos ganhar essa guerra contra o zika vírus.

 Jornalista: (Incompreensível)

 Presidenta: Como querida?

 Jornalista: As áreas sem saneamento básico são as mais afetadas pela proliferação do mosquito… (incompreensível)

 Presidenta: Olha querida, nós temos feito - nós aqui que eu estou falando nós, eu estou incluindo eu, o governador Pezão e o prefeito Eduardo Paes-, eu quero te dizer que nos últimos tempos nós fizemos mais saneamento, entendido como esgoto tratado e abastecimento de água, do que na história deste País. Aqui. E quero falar mais uma coisa. O vírus da zika ataca sempre as populações, como qualquer doença, as populações mais fragilizadas. Por exemplo, no Nordeste, tem algo que se chama seca. As pessoas, diante da seca, armazenam água. E aí o reservatório de água passa a ser um elemento propício à criação do mosquito. A consciência disso deve nos levar a, nós fizemos um milhão e 200 mil cisternas. No Brasil inteiro, estou te dizendo uma ação de abastecimento, de garantia de acesso à água. Ela pode levar ao criadouro. Então nós temos, ao fazer isso, também tratar e criar impossibilidade de ocorrer. Com isso, eu estava querendo dizer o que? Estou dizendo que uma ação boa, uma ação absolutamente positiva pode levar a esse criadouro.

 Jornalista: (incompreensível)

Presidenta: Minha querida, eu quero te dizer o seguinte, de 2007 até hoje, nós fizemos um imenso esforço. Quando eu cheguei ao governo, se investia em torno de R$ 2,5 bilhões em saneamento básico por ano no Brasil. A União investia. Nós chegamos a investir R$ 20,5 bilhões por ano. Nós mudamos o patamar de investimento em saneamento. Eu tenho bastante orgulho disso. Agora, se você me perguntar “tem muita coisa para fazer?”, eu vou te dizer o seguinte: e você nem imagina o quanto. Você nem imagina como é difícil porque você precisa da parceria. Sem uma parceria governo federal, governo estadual, governo municipal e privado, algumas obras são muito difíceis de serem realizadas pelo custo que é. Nós estamos correndo atrás de décadas de abandono da questão do saneamento. Por isso, é que eu disse quando o pessoal da CNBB me visitou, eu saudei o tema da campanha da fraternidade. Por quê? Porque muitas vezes as pessoas não valorizam o saneamento básico. Principalmente, os antigos dirigentes desse País. Porque ele estava enterrado. Não se capitalizava. Nós fomos, e aí eu tenho orgulho, mas eu também reconheço a ação do governo do estado e da prefeitura, nós temos orgulho de termos lutado contra isso, de ter feito saneamento. Eu não tenho nenhum problema de reconhecer que falta muito o que fazer, mas também não vou deixar de enfatizar o quanto nós fizemos. Obrigada.

 

Ouça a íntegra (19min27s) da entrevista da presidenta.