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20-08-2015 - Entrevista coletiva concedida pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, após almoço em homenagem à Chanceler da República Federal da Alemanha, Angela Merkel - Brasília/DF

Palácio Itamaraty, 20 de agosto de 2015

 

Presidenta: Olha, foi uma reunião maravilhosa com a Alemanha. Nós fizemos acordos muito importantes. Primeiro, nós mantivemos o nosso compromisso de apresentar as ofertas comerciais até o final do ano de 2015. Essa apresentação de ofertas até 2015 vai permitir uma ampliação das relações comerciais entre o Brasil e o Mercosul, a Alemanha e a União Europeia, primeira questão.

            Segunda, que eu achei extremamente relevante: nós fizemos um conjunto de acordos na área de ciência, tecnologia, inovação e educação. Os acordos são importantes, primeiro, porque, em que pese nós termos ganho este ano a Olimpíada do Conhecimento, a chamada WorldSkills, em que nós tivemos o maior número de medalhas, é fundamental para o Brasil. E a WorldSkills diz respeito à educação profissional. É fundamental para o Brasil contar com a cooperação com a Alemanha, para ampliar a qualidade da nossa educação profissional. A gente sabe que educação profissional, como dizem os alemães, é igual a emprego. Porque ao formar uma pessoa, você abre o horizonte da pessoa e permite que ela tenha novas oportunidades.

            Com quem é que nós fazemos parceria? Nós fazemos parceria… o setor privado faz com o setor privado alemão por meio da Fraunhofer. Então, há uma parceria entre a CNI e a Fraunhofer. Nós fizemos uma política de incentivo aos institutos tecnológicos da CNI quando nós colocamos um financiamento de [R$] 1 bilhão e 800 milhões para ampliar isso. Mas, ao mesmo tempo, também queremos fazer parcerias com o governo alemão e com os governos das unidades federadas alemãs.

            Além disso, nós consideramos muito importante um conjunto de parcerias na área de ciência e tecnologia, tais como a parceria que levou a você construir a torre chamada Atto lá na Amazônia, que é a maior torre de controle na Amazônia e, ao mesmo tempo, de dados meteorológicos.

            A segunda coisa, uma parceria num veículo de elevação. É um veículo, um veículo de lançamento de satélites… não, de microssatélites, não adianta falar que é satélite, que não é, é microssatélite. Tentou, obrigado. Ele agora vai ser meu assessor para assuntos de microssatélites. E essa parceria é importante porque diversifica as parcerias que o Brasil faz.

            Nós temos, como vocês sabem, uma parceria com os chineses, os CBERS. Nós estamos no CBERS-4. Nós conversamos com os Estados Unidos na minha viagem sobre uma parceria com eles também para lançamentos de satélites. Lançamento de satélites, vocês, que são da área de telecomunicação, sabem o quanto é importante do ponto de vista das comunicações de um país. Então, essa de microssatélites tem uma vantagem porque eles são muito flexíveis, podem ser usados em várias áreas de interesse.

            Fizemos um conjunto - eu estou dando exemplos -, fizemos um conjunto de parcerias na área que eu vou chamar de regulação. Com a Anvisa, nós fizemos em padrões de licenciamento de medicamentos. Fizemos também uma parceria para a vigilância sanitária e para que a gente possa convergir regulações. Fizemos parceria na área da saúde. Na área da saúde principalmente em processos simplificados de diagnósticos, porque eles têm um grande avanço nessa área, em processos simplificados de diagnóstico. E nessa área, para nós, ela é muito importante porque nós temos que encaminhar aquele programa Mais Especialidades. E o programa Mais Especialidades, para ele ser ágil, ele vai precisar desses equipamentos, dessas tecnologias que permitem o diagnóstico rápido, seja pela íris, seja por que método for.

Queria também destacar todas as parcerias que nós fizemos na área da agricultura, todas as discussões e parcerias. A Alemanha é um país que tem uma característica. Ela tem uma expertise na área de ciência e tecnologia, principalmente na produção de máquinas e equipamentos de grande precisão. A nós interessa essa parceria, por quê? Porque nós estamos em um momento muito especial no mundo, que vai impactar a eles e a nós. Eles também vão ser impactados porque uma parte muito expressiva deles fornecia para a China. No nosso caso também, a mesma coisa: a China vai mudar o padrão de crescimento econômico e nós sabemos que o ciclo de commodities fácil acabou. Altos preços de commodities, altas quantidades e um efeito direto na economia. Isso, não é que nós não vamos exportar commodities, nós vamos continuar exportando minério, petróleo, grãos e basicamente o que é chamado de commodities. Mas nós não iremos mais ter aqueles preços que tínhamos e aquelas quantidades crescentes que havia. Então é fundamental que se aposte em um outro padrão de crescimento econômico. Um padrão com o quê? Com maior produtividade, centrado muito na educação. E para nós do Brasil, nós consideramos que o principal foco de qualquer parceria que nós façamos daqui para frente tenha um objetivo: melhorar as condições de educação, de inovação, de ciência e tecnologia do País. A Alemanha é o parceiro ideal. É óbvio que também nós somos um grande mercado, é óbvio que nós somos uma economia diversificada. A Alemanha também tem todo o interesse nessa parceria, não é uma via - não é, gente? - de mão única, é uma via de mão dupla.

Eu saio dessa reunião com a chanceler extremamente satisfeita. Eu tenho uma relação próxima com a chanceler, pessoal, porque foi construída ao longo dos últimos anos. E acredito que também temos alguns pontos na área internacional que são muito importantes. O primeiro é mudança do clima. O Brasil e a Alemanha têm um compromisso nessa questão da mudança do clima. O outro ponto é a nossa cooperação na área cibernética. Nós fizemos aquela resolução da ONU em conjunto, aquela que garante a privacidade, a 67/167, se eu não me engano, ou 68/167, que permitiu que a ONU tomasse uma posição em relação à segurança cibernética. Mas a nossa posição em relação à questão cibernética não é só isso. Eles chamam de indústria 4.0. Alguns chamam de internet das coisas, outros chamam da forma como quiserem, mas é fundamental a cooperação nessa área, de digitalização. A economia tenderá a ser digitalizada, os serviços tenderão a ser digitalizados. Então, a cooperação com eles, nessa área, é muito importante. E aí, essa é uma parceria multilateral, não é uma parceria bilateral, é multilateral.

Nós também temos um outro interesse em comum, nós integramos o G-4. Quem é o G-4? O G-4 é o Brasil, a Alemanha, a Índia e o Japão. Os quatro países pleiteiam um assento no Conselho de Segurança da ONU e pleiteiam a reforma do Conselho de Segurança da ONU como um elemento fundamental para que você mude no mundo a correlação de forças. E permita que haja mais atividade, uma ação mais efetiva para a garantia da paz.

Eu também convidei a ela para vir ao Brasil nas Olimpíadas. E acho importante que vocês sinalizem isso, porque isso também é uma afirmação que as Olimpíadas Rio 2016 vão ser um sucesso. Dei a ela os nossos dois mascotes.

 

Jornalista: Mas não quis falar do 7 a 1, não é, presidente?

 

Presidenta: Eu falei. Vocês sabem que eu falei. Eu disse o seguinte, ontem no jantar eu falei. É, você sabe como é essa história de brincadeira, não é? Eu disse o seguinte: é fato, nós perdemos de 7 a 1, mas estamos aqui nos preparando para, em algum momento no futuro, essa ser uma situação que se transformará. Eu acho que essa é uma questão que nós temos que ter sempre em mente, você pode ter perdido um dia, mas não perdeu para sempre.

 

Jornalista: Presidente, a senhora destacou muito a questão da economia, não é. A gente sabe que o contexto brasileiro, a travessia… Vai ter o 13º…

 

Jornalista: A senhora vai autorizar o pagamento, o adiantamento para aposentados?

 

Presidenta: Gente, eu não vou me manifestar sobre isso. Eu vou manifestar absolutamente oficialmente quando for… quando a gente for tomar uma posição.

 

Jornalista: (incompreensível) ...renúncia do Tsipras, presidente? As senhoras conversaram sobre isso?

 

Presidenta: A renúncia do Tsipras faz parte, não de uma crise, mas faz parte de uma solução. Foi isso que a chanceler disse para mim.

 

Jornalista: Ela falou alguma coisa sobre a nova solução da Grécia?

 

Presidenta: Isso faz parte de uma solução, ele vai recompor o governo dele, por isso ele renunciou.

 

Jornalista: A elevação do desemprego preocupa, presidente Dilma?

 

Presidenta: Sempre… Querido, a elevação do desemprego… tem duas coisas que me preocupam todo santo dia. Uma é a elevação do desemprego, porque eu sei que isso provoca sofrimento à famílias desse País. Então, eu me preocupo com isso todo dia. E tudo o que eu faço é para impedir que isso ocorra, que isso aumente, que nós tenhamos esse momento que nós estamos passando dificuldade, essa consequência. A segunda questão que eu me preocupo todo santo dia é a inflação, a redução dos preços. Por quê? Porque corrói, não é? Corrói o bolso das pessoas. Então, são os dois. A resposta é sim, me preocupa sim, e eu só… eu penso nisso.

 

Jornalista: Vai melhorar? Quando vai melhorar?

 

Presidenta: Eu tenho certeza disso, vai melhorar.

 

Jornalista: Presidente, as investigações sobre o presidente da Câmara, a avaliação que a senhora pode fazer sobre isso. Isso pode ser um ingrediente a mais nessa situação política do País?

 

Presidenta: A Presidência da República e o Executivo não fazem análise a respeito de investigações. De maneira alguma. Nem a respeito de outros Poderes.

 

Jornalista: Vai ter aumento de impostos, presidente Dilma? Teve reunião da Junta Orçamentária, eles sabem que a arrecadação…


Presidenta: Meu querido, essa é uma questão que eu sempre falo para vocês. No seu tempo oportuno, as coisas ficarão bem claras: o que será feito e o que não será feito. Ok?

 

 Ouça a íntegra(12min40s) da entrevista concedida pela Presidenta Dilma Rousseff