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05-12-2015 - Entrevista coletiva concedida pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, após reunião sobre as Ações de Enfrentamento de Doenças Transmitidas pelo Aedes Aegypti (Dengue, Chikungunya e Zika) - Recife/PE

Recife/PE, 05 de dezembro de 2015

 

Eu estou aqui porque nós vamos enfrentar, nós todos brasileiros e brasileiras, nós vamos enfrentar uma grande luta contra o mosquito aedes aegypti. Esse mosquito que provocava a dengue e que agora, a partir de alguns anos, em alguns casos, ele provoca além da dengue, a chikungunya e também o zika, transmite. Ele tem uma variante que transmite um vírus, que se chama vírus da zika por causa de uma floresta que tem ali perto de Entebbe. Ele é um mosquito que veio para o Brasil.

Aí, o que é que acontece? Foram detectados, esse ano de 2015, casos que levam os especialistas em saúde pública a fazer uma correlação entre o vírus zika e o aparecimento, acima dos níveis normais, da microcefalia. Isso, em termos de saúde pública, é o primeiro caso claramente em grandes proporções detectado no mundo. Já havia alguma relação feita na Polinésia Francesa, na Micronésia, nas ilhas ali daquela região. E também sabia-se que o zika tinha, tinha vírus da zika na África. Mas aqui no Brasil ganhou uma proporção bastante elevada. Supõe-se - porque as crianças que estão nascendo agora -, isso acontece no verão passado, no período de calor passado. Porque está aparecendo em crianças recém-nascidas agora.

O que é que é a nossa principal preocupação? A nossa principal preocupação é que isso pode caracterizar, e está caracterizando, uma doença que tem, está tendo dimensão nacional. Mais de 14 estados, eu acho que já são 16 hoje, porque a cada dia aumenta um número. Eu não acho que deve ser uma questão de pânico; não é uma questão de pânico, mas é uma questão de grande atenção. Ter noção de que isso tem de ser combatido, saber que provoca uma doença que é uma doença bastante complicada porque afeta crianças, que são o futuro do Brasil.

Então o que nós estamos fazendo? Nós estamos atuando em conjunto com o governo de Pernambuco, em primeiro lugar. Porque o governo de Pernambuco tem uma estrutura de controle de vigilância sanitária e controle, que é bastante significativa. Muito provavelmente aqui tenha um número maior de casos notificados, mesmo que ainda não inteiramente comprovados, porque a vigilância sanitária aqui é muito ativa. Em outros lugares pode estar havendo subnotificação. Ou porque por algum motivo ele começou por aqui. Mas o certo é que ele está se espalhando por vários estados ou vários estados estão percebendo cada vez mais a presença dele.

E nós estamos dando início aqui em Pernambuco a uma campanha que tem de articular. O governo federal, com as Forças Armadas, com a nossa Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, liderados pelo Ministério da Saúde, com todos os nossos programas - Rede Cegonha, Mais Médicos -, nós articularmos uma força federal de ataque ao zika, junto com uma força estadual, todos os recursos aqui do estado de Pernambuco - Polícia Militar, bombeiros, todo o pessoal da ação e da Vigilância Sanitária, todas as pessoas, inclusive, da sociedade que puderem ajudar. E a mesma coisa nos municípios.

Então aqui está articulado isso, aqui já foi organizado esse processo. Em outros estados também em maior ou menor grau. Mas aqui está muito bem organizado. Então hoje é como se fosse o dia do… já vem se preparando há muito tempo, várias medidas já foram tomadas, mas eu tenho certeza que vai crescer muito a partir de agora.

Nós vamos fazer uma reunião com os governadores e as associações de prefeitos na terça-feira, às 5h, lá em Brasília, para tratar desta questão, porque tem de ser uma mobilização nacional. Essa mobilização nacional conta - para ela ser vitoriosa -, conta, tem de contar, melhor dizendo, com a presença da população. A sociedade tem que se mobilizar. Para o quê? Para acabar com todos aqueles processos que levam à água parada. Quais são? Reservação de água tem sempre de ser tampada; baldes com água, tampados; os vasos de flores têm de ter areia, não podem ter água parada, misturar a água com areia. Além disso, qualquer local, por exemplo, resíduos de lixo, um pneu velho que tiver água, ele reproduz o mosquito. Uma garrafa de plástico velha que tenha água, reproduz o mosquito.

E aí é importante que a população perceba que esta é uma ação - eu vou chamar uma ação de guerra contra o mosquito aedes aegypti, o mosquito que transmite o vírus da zika -, é uma ação que não pode ser “O Dia Nacional de Combate ao Vírus da Zica”. Ela vai ter de ser cotidiana e permanente. Nós teremos de ter esse cuidado cotidianamente, permanentemente, até que a gente chegue à vacina contra esse vírus. Que a gente tenha uma forma de combatê-lo. Então, o primeiro eixo é esse, o combate que eu falei.

O segundo eixo é incentivar a pesquisa. Incentivar a pesquisa para que... por exemplo, lá no Butantan, em São Paulo, está no terceiro estágio, que é um estágio bastante avançado, a pesquisa para se obter uma vacina  de uma única dose que possa garantir em quase 80, 85% dos casos, que haja, segundo o Ministério da Saúde, segundo o ministro da Saúde, que as pessoas ficam imunizadas contra a dengue. É contra a dengue, não é? Ou seja, contra o aedes aegypti que transmite a zika, que é da família. Então, e quanto aos quatro tipos de vírus da dengue. Então é uma vacina que para nós vai ser muito importante nesse combate. Mas até ela estar apta para ser comercializada, passar por todos os testes e ser apta para ser comercializada, vai haver um período de tempo, e esse período de tempo pode ser um, dois, três anos. E nós vamos ter de neste ínterim fazer uma grande mobilização, uma grande conscientização, uma presença de todos nós para evitar os processos de reprodução do mosquito. Porque o mosquito transmite essa doença porque ele coloca um ovo, esse ovo tem o vírus que vai transmitir a doença.

Ao mesmo tempo nós temos o terceiro eixo, que é tratar das pessoas que tiveram a doença e ver como se trata e como se diagnostica não só a dengue e a chikungunya, mas, sobretudo, o vírus da zika, como as pessoas que já foram infectadas, como tratá-las e como garantir que elas tenham noção do que pode derivar dessa infecção. E de outro lado as crianças que nasceram com microcefalia. Nós temos - o governo federal tem e sempre tivemos parceria com os governos do estado - o Programa Viver sem Limites, com centros de reabilitação. E é isso que nós temos de fazer em relação  a essas crianças que vão ter um processo… os médicos sempre dizem para nós que no início, as reações das crianças são… o ato de mamar e várias das reações das crianças, elas exigem um nível menor de complexidade neurológica, então, elas são menos afetadas. As crianças, inclusive aqui, o governador estava me dizendo que  nenhuma morreu. Porque elas são alimentadas, elas não sofrem nenhuma decorrência imediata disso. É ao longo do desenvolvimento é que vai surgir.

Mesmo em qualquer hipótese, nós vamos continuar aumentando duas coisas, principalmente, os exames. Os exames tanto tomografia quanto exames de sangue  para a gente ter clareza de fato das relações entre… essa correlação de saber de fato como é que funciona isso.

Queria enfatizar uma questão: não é algo que tenha uma literatura, uma experiência internacional, não é. Há estudos da Organização Mundial de Saúde, há estudos, por exemplo na França, sobre essa questão, mas você não tem uma experiência, nós somos o grande e primeiro caso, infelizmente.

Então também essa dedicação de todos os pesquisadores vai ser muito importante. Na verdade são duas palavras: nós temos de trabalhar unidos num processo, de um lado; e de outro lado, nós temos de saber que o nosso povo é solidário. Sempre é solidário. A  gente tem uma grande experiência no combate aos desastres naturais. E o que a gente vê são cenas de imensa solidariedade. Agora vai ser necessária uma grande mobilização de todos nós no sentido de fazer a prevenção e, de fato, evitar que ele se reproduza. O combate é contra a reprodução do mosquito, nós temos de impedir a água parada porque ele precisa da água parada e da temperatura elevada. Em clima frio ele não se reproduz. Pelo menos é o que é a opinião dos especialistas. Eu não sou uma especialista, mas participei de reuniões e reuniões e reuniões... então já tenho a noção de qual é o quadro geral.

Eu peço aos senhores jornalistas que deem a maior divulgação possível a essa questão. Acho que é uma questão que tem de unir todos nós, independentemente do que pensamos sobre todas as coisas. É uma questão de saúde pública, essa é a típica questão de saúde pública, saúde do Brasil.

Obrigada.

 

Jornalista: Presidente, essa semana o ministro Augusto Nardes falou que o TCU recebeu uma representação do Ministério Público Federal de que houve novas pedaladas fiscais nesse ano no valor de [R$] 2,5 bilhões. Como é que a senhora vê essa questão?

Presidenta: Olha, nós primeiro discordamos das primeiras. Achamos estranhíssimo que possam ter pedaladas fiscais no ano de 2015, sendo que o ano nem foi concluído. Então é complexa essa questão da nossa relação com as opiniões do ministro Nardes, não com o TCU, mas com o ministro Nardes nós temos algumas divergências de opinião.

Jornalista: Pernambuco tem mais casos de microcefalia, vai ter dinheiro especificamente para o estado? (...) Tem previsão de investimentos?

Presidenta: Nós trataremos, eu até falei lá dentro o seguinte: não é para o estado de Pernambuco, é para o Brasil inteiro. Isso não é uma questão de um estado ou de um município, é para o Brasil inteiro. O que é que eu disse lá dentro? Eu disse o seguinte, nós podemos estar fazendo todo o esforço que fizermos para garantir a estabilidade fiscal para o Brasil voltar a crescer mais rapidamente. Isso é uma coisa. Agora, nesta questão, o tratamento é completamente diferente. Essa é uma questão que não é pedalada fiscal. É necessário, quando se for necessário gasto do governo nessa questão, nós vamos tomar as medidas legais e garantir gastos do governo nessa questão, pelo menos por parte do  governo federal. Quero crer também por parte dos municípios e dos estados será tomada a mesma providência.

Jornalista: E qual a previsão, existe um valor?

Presidenta: Nós não temos essa previsão. Nós não temos. Não. Sabe por que é que não tem? Não tem, inclusive, a dimensão total dessa questão. Nós estamos fazendo e por isso chamamos os governadores, para tomar a decisão. A conversa com os governadores é para começar a fazer a ação conjunta: ver quem entra com o quê. Vamos fazer uma ação conjunta, todo mundo vai colocar recurso.

Jornalista: Presidente, o estado já depositou [R$] 25 milhões, e a Presidência...

Presidenta: Querido, acabei de olhar carro-pipa. Só em carro-pipa nós gastamos [R$] 1 bilhão. Os volumes nossos não são só esses. Se fosse [R$] 25 [milhões]…

Jornalista: Mas só para o combate esses [R$] 25 milhões...

Presidenta: Mas não é para o combate, o combate vai exigir toda uma mobilização nacional. Não são esses valores. Não é [R$] 25 [milhões] que vai ser, 25 [milhões] o governo põe hoje. Mas não é essa a questão. Me desculpa, essa é uma visão equivocada nesse processo. Ele vai exigir uma série de ações que nós temos de levantar o tamanho delas. Eu estou dando um exemplo. Um carro-pipa de 6.600,  6.600 carros-pipa que estão aqui no Nordeste, pagos pelo governo federal, dirigidos pelo Exército, neste ano nós gastamos [R$] 930… 910… 900 - é mais do que isso - milhões. O governo federal lida com um nível de gasto, vamos dizer, mais significativo, por isso é que a gente vai ter de fazer um esforço.

Jornalista: Presidenta, o ministro Eliseu Padilha ontem anunciou que vai deixar o governo. E muito começou a se falar sobre qual lealdade a senhora pode esperar do vice-presidente Michel Temer? Eu queria saber, queria que a senhora analisasse essa saída do ministro e também saber da senhora qual a confiança que a senhora tem...

Presidenta: Eu começo pelo seu fim, pelo fim da sua pergunta. Eu espero integral confiança do Michel Temer e tenho certeza que ele a dará. Ao longo desse tempo eu desenvolvi a minha relação com ele e conheço o Temer como pessoa, como político e como grande constitucionalista.

No caso do ministro Padilha, eu queria declarar o seguinte: eu me esforcei bastante para manter na reforma ministerial o ministro Padilha no governo. Por quê? Porque achava que o ministro Padilha, e acho ainda, que o ministro Padilha na direção do Ministério dos Portos, desculpa, dos Aeroportos -  na época chamava secretaria, mas hoje é ministério -, eu acredito que ele está fazendo um trabalho muito importante. Então, eu não recebi nenhuma comunicação do ministro Padilha e espero então, eu ainda conto com a permanência do ministro Padilha no governo.

Jornalista: Presidente, o PSB volta a ser aliado do governo?

Presidenta: Querido, eu acho fantástico. Eu acho que você deveria perguntar para o PSB, não pra mim.

Jornalista: Presidente, a senhora se surpreendeu com a saída do ministro Padilha?

Presidenta: Olha, eu ainda não sei se o ministro Padilha tomou uma decisão definitiva porque ele não conversou comigo. Então eu aguardo, eu não tomo uma posição sobre coisas que eu não consigo entender inteiramente. Quando eu entender, eu direi o que eu penso. Agora eu quero reiterar: eu fiz um grande esforço durante a reforma ministerial para mantê-lo à testa do Ministério dos Aeroportos.

Jornalista: Se isso se confirmar, vai se sentir frustrada?

Presidenta: Não, não discuto hipóteses, meu querido, estou velha. Para não discutir hipótese.

Jornalista: Pernambuco tem sido pioneiro nesse processo de organização da rede. Foi lançado um protocolo essa semana (incompreensível) a respeito da notificação de grávidas com (incompreensível) que vão ter um fluxo diferenciado. Isso deve ser aplicado no Brasil de uma forma geral?

Presidenta: Eu até disse há pouco para o governador que eu acho que essa reunião lá em Brasília com os 27 governadores, o que eu acho que nós temos de trocar entre os governadores são as melhores práticas. Se houver uma melhor prática aqui em Pernambuco, eu acho que ela deve ser adotada no Brasil inteiro.  A gente vai ter de fazer esse processo de discussão porque em todos os estados esse processo de combate ao chamado aedes aegypti e, portanto, à dengue, já vem  se desenvolvendo há mais tempo. Então cada um tem lá o seu conhecimento. Tudo que for melhor prática… Porque dessa vez é um combate, eu diria assim, sem tréguas, de agora até ter vacinas, você não vai poder parar, não tem aquele dia que você fala: bom, hoje eu não vou. Não. Você vai ter de parar… aliás de acabar com a água parada sistematicamente, diuturnamente, noturnamente, não tem nem hora, nem dia, nem semana que você vai descansar. Durante o Natal, você cuida da água parada. Porque o que nós não podemos  deixar é que nesse período, enquanto não tiver vacina, a nossa população possa… porque quando eu deixo a água parada, ele deixa a água parada, você deixa a água parada, o que é que acontece? Não é você que vai ser contaminado. O mosquito deixa ali, depois deixa lá, depois deixa lá, e aí se cria aquele ambiente para que isso se reproduza e se espalhe.

Jornalista: A maioria dos membros da comissão que vai analisar o impeachment no Congresso é da base aliada. Isso tranquiliza o governo?

Presidenta: Olha, meu querido, nós estamos tranquilos. Por que nós estamos tranquilos? Porque não existe fundamento para o meu processo de impeachment. Eu já repeti várias vezes: eu não cometi nenhum ato ilícito; eu não usei indevidamente o dinheiro público, não usei o dinheiro público para contemplar meus interesses; não tenho nenhum recurso que recebi de qualquer processo que não seja o meu trabalho ou a minha família; nunca depositei um dinheiro na Suíça; não tenho acusação de espécie alguma.

Se inventaram um processo chamado pedalada, pelo qual… Porque ele nem foi julgado ainda. O Tribunal de Contas da União não tem poder de julgar contas, nem minhas nem de ninguém. O que é que ele faz? Ele é um órgão de assessoramento do Congresso. Ele apresenta para o Congresso e depois, quando o Congresso, que é quem pode ter a posição, dá a posição, é isso que vai viger. Ninguém sabe se as minhas contas serão ou não aprovadas. Até porque até recentemente, até o meu julgamento pelo Tribunal de Contas da União, era absolutamente legal as práticas de que me acusam. Não é só no meu governo, no governo do presidente Lula, no governo antes do presidente Lula, em todos os governos. Então, por favor, é importante que a questão seja colocada nos seus devidos termos, não há base, não procede esse pedido. Ele tem outros fundamentos que eu lamento, porque coloca em questão a maturidade da democracia.

Muito obrigada a vocês.