17-06-2014 - Entrevista coletiva concedida pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, após sobrevoo às áreas atingidas pelas chuvas - União da Vitória/PR
União da Vitória-PR, 17 de junho de 2014
Presidenta: ...nós fazemos uma ação conjunta entre os municípios atingidos, o governo federal e o governo do estado. Buscando o quê? Três ações simultâneas. A primeira ação é uma ação emergencial. Nos interessa a vida das pessoas, a segurança das pessoas e o abrigo das pessoas, então é uma ação de socorro e assistência. Aí tem muita importância o papel das Forças Armadas porque todas as Forças Armadas se articulam, utilizando seus caminhões, seus barcos, toda a sua estrutura para fazer resgate e, em outros casos, para também, no que se refere ao restabelecimento, construir pontes provisórias para permitir que se restabeleça a vida o mais normal possível antes de começar a reconstrução, porque a reconstrução, ela tem um processo mais diferenciado. Primeiro, ela implica em maiores volumes de recursos, ela implica em projetos, ela implica em avaliação do que... Como é que se reconstrói? Porque quando você vai reconstruir, você quer também garantir que não haja mais... que diminua a possibilidade de, diante de uma chuva bastante elevada como a que ocorreu aqui, haja um desastre dessa proporção. Prevenir é isso, é aprender com o que ocorre. Nós, por exemplo, temos uma política clara em relação à construção de casas e moradias para quem foi atingido. O Minha Casa, Minha Vida dá prioridade absoluta a recompor a casa das pessoas atingidas desde que sejam pessoas de renda até 5 mil reais.
Jornalista: Como será essa liberação do cartão que a Presidente anunciou? Dessa verba...
Presidenta: Da mesma forma como é em todos os lugares. As pessoas pedem o cartão... Por exemplo, União da Vitória tem o cartão. Para União da Vitória ativar o cartão, o que é que ela tem de fazer? Falar “ó, eu quero isso, isso e isso de dinheiro para gastar nisso, nisso e nisso”. Nós depositamos na conta dele. Ele abre uma conta, nós depositamos na conta. Aí ele pega o cartão, qual é a vantagem para ele? Não tem de fazer empenho, ele não tem de fazer todo o processo burocrático para pagar. Então, vamos supor que seja cesta básica que ele quer. Vai lá e compra cesta básica e paga. Vamos supor que numa determinada rua tenha caído uma árvore ou está um processo muito forte de lixo ou de qualquer coisa, ele tem de retirar a árvore ou retirar o lixo. Enfim, é gastar em pequenas ações. Este é o restabelecimento. Por outro lado, o governo federal entra também com seus recursos para além do cartão e isso é o que nós chamamos de ação de assistência... socorro, assistência e restabelecimento. Nas ações de reconstrução não é cartão, aí é processo normal. Ninguém vai fazer uma ponte nova aqui baseado no cartão. Nós vamos ter projeto, vamos ver o tamanho da ponte, vamos ver se é adequado aquele lugar, vamos estudar e analisar. Agora...
Jornalista: A senhora assumiu também a elaboração de um comitê de emergência. De que forma será isso?
Presidenta: Também nós já fizemos isso em vários lugares. São representantes do governo... um representante do governo federal, um do estado e do município, que ativa diretamente as ações. Por exemplo, eu preciso... estou precisando de mais frascos de hipoclorídrico, que é aquele que você bota na água para descontaminar a água, mesmo numa água... em qualquer lugar. Ele limpa a água, não é? Para momentos de desastre natural é muito importante. Por exemplo, nós não sabemos, aqui, quantas vacinas foram comprometidas porque, em alguns momentos da chuva fortíssima, a luz se foi. Então, como as vacinas têm de estar armazenadas em locais frigorificados, aguardamos a avaliação do que é necessário. Por que o comitê? O comitê dá mais agilidade, é para isso só, sem maior... sem maiores, vamos dizer, sofisticações, o comitê é para simplificar a vida das pessoas. Para simplificar a nossa vida. Vem uma pessoa para cá.
Jornalista: Quando será essa liberação de recursos e de quanto?
Presidenta: Minha querida, eu, para saber quanto que eu vou liberar, eu tenho de saber quanto vão me pedir, não é? Não me pediram ainda...
Jornalista: Presidente, quanto a uma prevenção, o que a senhora vai fazer agora para...
Presidenta: Quem faz a prevenção, minha querida, é o projeto elaborado pelas cidades, não é o governo federal que elabora projeto. Quem conhece mais a cidade é a cidade. Quem conhece mais o estado é o estado. Então, os projetos de prevenção que nós fizemos em todo o Brasil vieram dos municípios e dos estados, e aí nós ajudamos tecnicamente também, mas eu não vou chegar aqui com a pretensão de falar “olha, vocês vão fazer isso, isso e aquilo”. Até porque eu não posso fazer porque eu não sei. O governo federal não vive aqui.
Jornalista: Infelizmente nós temos agora, aí, uma tragédia no meio de algo bom que está acontecendo, a Copa.
Presidenta: É verdade.
Jornalista: A senhora sobrevoou aqui a nossa região, qual é a avaliação que a senhora viu por aqui que a senhora vai levar?
Presidenta: Olha, até chegar... E uma coisa interessante, até chegar a União da Vitória eu não vi... eu vim de Caçador. Eu só vi um dos lugares mais bonitos deste país. Eu já tinha visto essa mesma beleza uma vez que eu estive por aqui, porque... Campo Beltrão é aqui, não é? Francisco Beltrão, Francisco é por aqui, não é? Eu já sobrevoei por aqui. Bom, é uma região muito bonita. O que eu fiquei estarrecida, estarrecida, foi com o grau de alagamento do rio. O rio rompeu as margens, você não sabe onde é rio e onde é cidade. Rompeu as margens, submergiu casas, submergiu... Tem tetos aparecendo apenas. Então, eu acho que foi, das cidades que eu vi, foi uma das cidades mais atingidas do ponto de vista da quantidade atingida, sabe, da quantidade e do tamanho da área atingida. Eu fiquei, assim, extremamente chocada e comovida.
Jornalista: O governo federal não deve medir esforços...
Presidenta: Não medirá. Aliás, eu quero sempre insistir nisso: nós jamais medimos. Nessa questão nós jamais medimos.
Jornalista: Presidente, há um prazo para que comecem, efetivamente, esses planos já?
Presidenta: Ontem, ontem. O prazo é ontem. Por que é que eu mandei... Veja bem, o fato ocorreu domingo, não é isso?
Jornalista: Domingo passado.
Presidenta: Pois é, domingo passado. Nesse momento nós... Na segunda-feira de manhã cedo eu falei com o governador. Nós transferimos o Ministro da Integração, que estava no Maranhão, para o Paraná, nós transferimos para o Paraná, e não só ele como o chefe federal da Defesa Civil, que é o general Adriano, e vieram também outras pessoas dando suporte. Por quê? Porque a experiência demonstra que o socorro e a assistência você faz... se você puder fazer, começou a chover, você soube, você começa a fazer é melhor. Aqui, como é chuva e você nunca sabe direito o tamanho da chuva, nós começamos também em cima da hora. Estava chovendo e nós viemos para cá. Eu acredito que, daqui para a frente, se não continuar chovendo, o prefeito me disse que tem um tempo aqui para a água baixar. É diferente das outras cidades que choveu, alagou e baixou, é rápido. Aqui, segundo ele me disse, leva dias, dias e dias. Então, nós vamos ter aqui de combinar as duas coisas: restabelecer o que puder e esperar descer para poder reconstruir.
Jornalista: Presidenta, uma última pergunta. Quanto foi liberado?
Presidenta: Todos. O que nós...
Jornalista: Quanto? Que valores?
Presidenta: Minha querida, o que nós pedimos foi liberado. Aliás, o que nos pediram foi liberado.
Jornalista: Quanto foi pedido?
Presidenta: Olha, eu não estou com o papel aqui, nem sei de cabeça, mas...
Jornalista: Quanto a cidade recebeu, em resumo, de dinheiro do governo do Paraná? Do governo federal?
Presidenta: No Paraná inteiro... Espera lá, posso dizer para vocês? Acabei de achar meu papel. O que já foi liberado para cá.
Jornalista: Se puder falar de Santa Catarina também...
Jornalista: Vamos focar no Paraná primeiro.
Presidenta: Em Santa Catarina, eu falei com o governador, nós temos um processo lá em andamento. Dá licença. Não, meu filho, deixa que eu respondo, tá? Calma! Não precisa, não tem pressa! Nenhuma pressa! Eu sou uma pessoa sem pressa. Cestas de alimentos: nós liberamos 14.200 cestas de alimentos. Liberamos kits dormitório: 12.200 kits dormitório. O Exército deu um apoio com helicópteros, que é a coisa mais cara que tem. Apoio e ações de socorro pelo Exército: várias, inclusive caminhões de 50 toneladas, os barcos pneumáticos, os barcos-ponte e as pontes, e 170 homens. Lançamento de ponte pelo Exército: o total deu 3 milhões, 970 mil e 522 entre recursos materiais, serviços e dinheiro.
Jornalista: Presidente, e os 2 milhões que seriam liberados para o governo do Paraná... para o governo aqui do estado já foram liberados?
Presidenta: Eu não sei.
Jornalista: Presidente, sobre o projeto apresentado pelo prefeito da cidade, o que a comitiva federal achou das ideias?
Presidenta: Olha, eu achei interessante a proposta do prefeito. Se você falou a respeito do extravasor, não é?
Jornalista: Isso!
Presidenta: Eu achei interessante, mas é só um metro e meio, não é? Aqui aumentou oito, então vai ter de tomar outras providências.
Jornalista: Os estudos feitos aqui na nossa cidade dizem...
Presidenta: Nós vamos avaliar tudo.
Jornalista: ...dizem que não tem como avaliar... como abaixar mais do que...
Presidenta: Um metro e meio?
Jornalista: ...um metro e meio. Quais são, então, as medidas outras necessárias...
Presidenta: Não tenho a menor ideia. Se vocês não têm, como é que vou ter? Isso vai ter de se olhado, vocês têm de olhar isso com seriedade. O prefeito deu uma ótima ideia, que é o zoneamento urbano, não é? O Plano Diretor, o que é que ele fala? Que a gente tira das margens, faz parques nas margens para não haver reocupação e tira as pessoas da área de risco, porque parque alagado é parque alagado, não é gente com risco de vida, de doença, etc.
Ouça a íntegra (11min59s) da entrevista da Presidenta Dilma