01-07-2015 - Entrevista coletiva concedida pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, após visita ao Complexo Google - São Francisco/EUA
São Francisco-EUA, 01 de julho de 2015
Presidenta: Boa tarde. Já é boa tarde? Já. Olha, eu vou dizer para vocês: eu acabei de descer do futuro. É fantástico! Porque você tem a impressão, antes de entrar e andar, que vai ser uma coisa insegura, mas não é. O que se sente é que você está com um motorista dirigindo e que ele é um motorista que respeita os sinais, respeita a existência de veículo da frente, bicicletas e pedestres. Para cada um tem uma cor no mapa, e ele dirige, muda de pista, faz curva, vira à direita, vira à esquerda. É algo extremamente tranquilo. Acredito que eles estão num nível de desenvolvimento que eu jamais imaginei que houvesse. A mim impressionou extremamente. Acho que qualquer um de nós que entrar no carro, o que você vai sentir inicialmente? Você sente, primeiro, um certo receio, porque você não sabe como é que vai ser. Mas à medida que o carro começa a trafegar a segurança é extrema, a sensação de segurança é muito grande.
E, de fato, como o rapaz que estava com o computador disse, a sensação que as pessoas, também, as outras que ele esteve, relataram, é que parecia que estava sendo dirigido, o carro. Você vê que não está. Ele é tranquilo. É, de fato, algo que tem que ser relatado, tem que ser mostrado, porque significa que nesta área o mundo vai mudar. Significará, também - eu olho sempre pelo lado do transporte público -, significará também um transporte público mais seguro, mais eficiente.
Jornalista: Presidente, voltando ao presente...
Presidenta: Não, não, eu estou ainda no futuro, você não faça isso comigo.
Jornalista: Hoje o Ibope divulgou uma nova pesquisa que mostra uma nova queda...
Presidenta: Querida, eu não comento nem pesquisa, nem quando subo, nem quando desço. Não comento.
Jornalista: E a votação do Senado ontem de reajuste do Poder Judiciário. Isso está colocando todas as ações do Congresso de desafio ao ajuste fiscal?
Presidenta: Olha, eu vou te… Eu não chamaria essas ações de desafios, porque fazem parte da democracia. No mesmo dia que votam isso, o que nós achamos lamentável, porque é insustentável um País como o nosso, em qualquer circunstância, dar níveis de aumento tão elevados. Mas eu vou também destacar para você uma outra questão: no mesmo dia, uma lei que era cara para nós, que é a questão da redução da maioridade penal, não houve vitória. Então, Congresso, como a democracia, é assim. Tem dia que você ganha e tem dia que você perde. Agora, nós ainda temos oportunidades de avaliar como é que vai ser essa questão do aumento. De fato, compromete o ajuste fiscal.
Jornalista: E a senhora vetaria?
Presidenta: Eu não discuto também vetos antes da hora, porque eu tenho de respeitar o procedimento legislativo. O Congresso ainda não concluiu a votação. Ela vai para a outra Casa.
Jornalista: Mas esse...
Presidenta: Eu não faço esse tipo de avaliação.
Jornalista: Presidente, o presidente do Congresso acredita que pode colocar em votação novamente a reforma da maioridade penal em um outro projeto. O que a senhora acha disso? A senhora acha que há essa possibilidade ou...
Presidenta: Olha, isso eu não vi em que circunstâncias ele declarou, nem porquê. Então, como eu não vi, eu recebi só a notícia que a maioridade penal.. a redução da maioridade penal não tinha sido aprovada. Eu recebi só essa notícia. Vocês sabem que nós tínhamos um projeto, nós temos um projeto. Esse projeto é o seguinte: nós defendemos a manutenção da maioridade. Nós consideramos que, para evitar a utilização de menores em quadrilhas, se deve ampliar a pena dos adultos quando usarem menores na sua quadrilha. E, ao mesmo tempo, também defendemos que, no caso exclusivamente dos crimes hediondos, as medidas socioeducativas sejam dadas de forma separada quando for menor e que se estenda o período até oito anos. É isso que nós defendemos.
Agora, a não aprovação dessa lei de redução da maioridade penal eu considero importante, porque ela não resolve o problema da violência. E, ao mesmo tempo, ela cria vários outros problemas. Como foi o caso daquele levantando para, por exemplo, os jovens de 16 anos que, a partir do fato de serem maiores, poderiam estar em situação de vulnerabilidade sexual sem ser infringência legal.
Jornalista: Presidente, e a (incompreensível) a visita aos Estados Unidos?
Presidenta: Olha, eu acredito que a visita aos Estados Unidos tem sido extremamente produtiva para o Brasil.e para a nossa população. Primeiro, para o Brasil. Para o Brasil porque nós relançamos a relação com os Estados Unidos num patamar mais, eu diria assim, de maior possibilidades futuras e presentes. Acho que ao definirmos, em comum com o presidente Obama, o aumento para até 20% da participação de energias renováveis, não hidráulicas, na nossa matriz elétrica, isso foi uma conquista. É uma grande conquista, pode tornar bem mais fácil que a reunião em Paris, a COP 21, seja um sucesso.
Acredito, também, que nós tivemos… fizemos grandes avanços na área comercial, tanto nos acordos que dizem respeito a pontos específicos, como é o caso do acordo da carne, que abriu para as exportações brasileiras o mercado de carnes aqui nos Estados Unidos, como também questões mais gerais, que são toda a convergência regulatória, que é o nosso objetivo, a facilitação do comércio, o uso do portal único nosso e do equivalente ao portal único aqui nos Estados Unidos. Tudo isso para incentivar uma meta importante também, que é dobrar o comércio entre o Brasil, o fluxo de comércio entre o Brasil e os Estados Unidos, nos próximos anos, nos próximos 10 anos.
Ao mesmo tempo, acredito que eu estou aqui hoje numa ação muito importante. Aqui nós tivemos, de manhã, uma reunião com o pessoal, principalmente a CEO da Universidade da Califórnia, e dois… o reitor e um professor da área de engenharia que dirige o centro de engenharia. Para o quê? Para fazer uma parceria entre os institutos brasileiros e a Universidade da Califórnia, tendo em vista as várias áreas importantes, inclusive tanto na engenharia, como é o caso da engenharia de algoritmos, quanto em várias outras áreas, principalmente em renováveis, solar e a própria eólica.
Além disso, estar aqui no Google, e nós tivemos, assim, uma conversa muito importante, não só por conta dessa experiência do carro automático, o carro inteiramente automático, mas, sobretudo, por várias outras informações e realizações que o Google pode fazer junto com o governo brasileiro e com a sociedade brasileira. Dou o exemplo que é esse, essa parceria que eles assinaram com o Sebrae no sentido de garantir que as pequenas empresas, as micro e pequenas empresas brasileiras, que montam hoje, se você somar junto com microempreendedor individual, monta a 10 milhões, quase 10 milhões de unidades empresariais. Eles, obviamente, quando têm acesso à internet, quando podem utilizar a internet, seja para organizar seus negócios, seja para poder vender, seja para mostrar seus produtos, enfim, é algo que muda o patamar de negócios, aumenta os lucros, aumenta a renda, aumenta toda a perspectiva futura.
Então, um, a questão das pequenas empresas. Dois, que eu acho importantíssima, é a questão da comunicação em áreas remotas. Nós, no Brasil, sempre estamos tentando equacionar o problema da comunicação, por exemplo, na Amazônia. E o sistema de balões que eles estão em vias de lançar, ele pode, de fato, trazer ao Brasil uma oportunidade para interconectar a Amazônia sem grandes custos, uma vez que os balões não exigem que embaixo você tenha um receptor sofisticado, basta um celular. Então, do balão você transmite para um celular. E nós sabemos o quanto a população brasileira gosta de celular. Isso em todos os estados, em todas as regiões.
Finalmente por todas as visitas que ainda eu farei. Eu vou visitar ainda a área de biotecnologia, vou ter um almoço importante com várias pessoas dessa área aqui do Vale do Silício, tais como as empresas que trabalham com isso. E também vou ter uma conversa dentro, com a Universidade de Stanford, até que é presidida pela Condoleezza Rice.
Então, eu encerro essa fala dizendo também da SRI, que é algo muito importante, porque a SRI tenta resolver um problema que para qualquer país que está preocupado com ciência, tecnologia e inovação é uma preocupação essencial, porque ela tenta resolver: como que você sai da universidade, dos centros de pesquisas, dos laboratórios e chega ao mercado. Basicamente é isso.
Pois, não, Tânia.
Jornalista: (inaudível)
Presidenta: Só… Eu posso te falar uma coisa, Tânia? Vai ser difícil porque são 11 horas. No mais, eu gosto muito do meu país e… também gosto muito do clima.
Jornalista: (inaudível)
Presidenta: Tânia, o clima político faz parte da realidade brasileira. Eu gosto do Brasil e o clima político só me faz ficar mais atenta ainda e ter… e me dedicar mais a resolver os problemas que necessariamente existem entre um governo e o Executivo e o Congresso. A aprovação ou não, quero dizer para vocês: eu tenho de agradecer ao Congresso. Uma parte expressiva do ajuste fiscal foi aprovada.
Então, eu acho que tem hora... vocês criam um clima que não existe. A gente perde e a gente ganha. Nós temos várias coisas a reconhecer que os deputados federais e os senadores aprovaram. Então, não concordo com essa visão pessimista da Tânia. Tânia tem isso, ela é um pouco pessimista.
Jornalista: (inaudível) presidente Lula? Porque ele fez muitas críticas à senhora.
Presidenta: Meu querido, o presidente Lula tem todo o direito de fazer críticas a quem ele quiser e especialmente a mim. E eu sempre encontro o presidente Lula, como você sabe. Não, não tenho nada marcado, Tânia, ainda, esse fim de semana.
Jornalista: Então não responde às críticas dele?
Presidenta: Não, não respondo, não, Tânia.
Jornalista: Presidente, um novo delator, o Milton, senhor Milton Pascowitch, falou hoje à Folha de São Paulo que pagou, teria pagado propina ao ex-ministro José Dirceu. A senhora poderia comentar isso?
Presidenta: Também não comento, porque não sei do que se trata. Não é? Então, eu agradeço a vocês. Obrigada.
Ouça a íntegra(13min53s) da entrevista da Presidenta Dilma