21-05-2015 - Entrevista coletiva concedida pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, na chegada ao Palácio Itamaraty - Brasília/DF
Palácio Itamaraty, 21 de maio de 2015
Presidenta: Eu falei para vocês que eu vinha aqui. É porque lá é péssimo. Eu estou com ele…
Jornalista: A senhora está muito bem.
Presidenta: A senhora acha?
Jornalista: A senhora está muito bem, presidente.
Jornalista: O contingenciamento vai ser tão severo quanto a Ravenna, presidente? O contingenciamento, presidente.
Presidenta: Olha, gente, só uma coisa - eu vou falar para vocês sobre o contingenciamento, olha aqui: hoje à tarde, o ministro Nelson Barbosa vai fazer os anúncios do contingenciamento. Então…
Jornalista: Hoje?
Presidenta:É hoje. Hoje é quarta?
Jornalista: Hoje é quinta.
Presidenta: Ah, não, hoje é quinta. É amanhã, desculpe.
Jornalista: Amanhã é sexta-feira, presidente.
Presidenta: Mas ele vai fazer amanhã. É amanhã, não é? É amanhã.
Jornalista: Então, ele vai ser vai rigoroso, presidente?
Presidenta: Você veja… Eu não vou falar o tamanho, sabe por quê, gente? Eu não vou. Mas eu queria destacar uma coisa que eu não sei se vocês perceberam: o anúncio que foi feito há pouco. No anúncio que foi feito há pouco o que nós falamos? Nós falamos que é do interesse da União Europeia e do Mercosul fazer um acordo em que se apresentam propostas; um acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. É do interesse do Mercosul apresentar, agora, as propostas e é prioridade do Mercosul, este ano de 2015, fazer o acordo entre Mercosul e União Europeia. Isso significa que nós iremos apresentar as nossas propostas assim que se marque a data, porque tem que ser simultânea a apresentação. Por que tem que ser simultânea? Porque ambas as regiões, elas têm a mesma soberania. Então, nós apresentamos uma proposta, eles apresentam a proposta. Porque a partir das duas propostas apresentadas, se faz o acordo.
Jornalista: (incompreensível)
Presidenta: Mas nós vamos propor que seja o mais cedo possível, sabe por quê? Porque é muito importante, eu acho tanto em um quadro em que todas lideranças europeias, as lideranças europeias afirmam sempre que, uma das questões importantes nesses momentos, porque o mundo passa, em que é um momento de crise, de redução do comércio, abrir as negociações e ampliar o espectro das transações comerciais, todo mundo diz isso.
Jornalista: O Mercosul (incompreensível) ou em velocidades diferentes?
Presidenta: Meu querido, as velocidades diferentes estão previstas internamente em todos os acordos, e vai ser cumprido da mesma forma. As velocidades diferentes vão ocorrer dentro da União Europeia e dentro do Mercosul. Porque os países da União Europeia também não adotam a mesma velocidade, porque cada realidade é uma. Então, esse é um princípio. O princípio das velocidades diferentes é um princípio adotado. A gente espera que todos possam apresentar sua proposta, mas não há problema se alguém não apresentar imediatamente. Nós estamos construindo essa apresentação para ser a mais rápida possível.
Jornalista: (incompreensível)
Presidenta: Não sei querido, eu não sei. Eu ainda não estou acompanhando isso, e isso você tem que acompanhar sistematicamente, a cada hora, a cada minuto.
Jornalista: (incompreensível)
Presidenta: Eu quero falar sobre o banco dos BRICS. Ele perguntou, é esse que você quer saber?
Jornalista: (incompreensível)
Presidenta: O banco dos BRICS. Eu espero que se vote. Espero, sabe por quê? Porque o banco dos BRICS é algo fundamental. Por quê? Garante acesso a recursos importantes. E o Acordo Contingente de Reservas, ele é uma proteção às variações cambiais. Ele é uma proteção às variações… não só as cambiais, todas as variações internacionais, ele é um Acordo Contingente de Reservas. Então, o que ele permite? Ele permite que os países BRICS acessem recursos e estabilizem-se diante de flutuações muito grandes no mercado internacional. Nos últimos anos você não tem tido esse tipo de variação tão forte. Houve, de fato - ali, se eu não me engano, em julho de 2013, uma bem acentuada. Mas nós, o Brasil, não precisamos recorrer a isso. Agora, é de qualquer jeito um grande.. é uma espécie de proteção, de um colchão de proteção de reservas. Então, eu espero sim, e tenho certeza, que haverá todo interesse por parte dos senhores parlamentares, percebendo do que se trata, sabendo do que se trata, de aprovar algo como isso.
Jornalista: E o Senado vai aprovar também as Medidas Provisórias do ajuste fiscal, presidente?
Presidenta: Querido, você sabe o que a gente não faz? A gente não faz prognósticos. A gente observa a realidade, tenta criar as condições para que as coisas se dêem conforme são as necessidades do país. Por exemplo: 664 e 665, que são as duas Medidas Provisórias, que fundam o ajuste e o PL da desoneração, nós trabalhamos para aprovação. Nós somos um país democrático em que não existe a hipótese do Executivo dizer: “Olha, aprova viu?”. O que se faz? Se dialoga. Então, a gente quer justamente isso. Então, eu não posso fazer um prognóstico para você. Eu tenho que respeitar como é que vai se dar a discussão. Eu não sei se vai ter emenda, como é que vai ser. Eu, se você falar o seguinte: “presidente, o que você quer?”. Eu quero a aprovação; eu espero a aprovação. Por que eu espero a aprovação e quero a aprovação? Porque, para o Brasil virar essa página, é fundamental que nós façamos um ajuste. Nós temos que fazer um ajuste, por quê? Desde 2008, quando começou a crise do Lehman Brothers, nós viemos segurando com os recursos do governo brasileiro, e impedindo que a crise se alastre pelo país. Segurando emprego, segurando renda, segurando, inclusive, as empresas para que elas possam ter uma atividade econômica. Como nós fizemos isso? Nós fizemos isso dando subsídio ao crédito, expandindo o crédito, desonerando, tirando tributos. Agora, a crise durou uma quantidade de tempo, nós estamos no oitavo ano da crise. No Brasil na verdade no sétimo, no mundo no oitavo. E aí, o que acontece, gente? Acontece que, tem um limite. Agora, nós temos de recompor as nossas contas fiscais para poder prosseguir. Como a gente recompõe as contas fiscais? Com essas duas MPs e com o PL da desoneração. Além disso, o governo fará na sexta-feira, fará um anúncio sobre as suas, o seu contingenciamento, por quê? Tem gente que acha que o contingenciamento do governo vai ser pequeno; não vai. Vai ser um contingenciamento e aí, eu dou o conceito, não um número. Não grande, tão grande, que não seja necessário, nem tão pequeno que não seja efetivo, que não provoque nada
Jornalista: O número já está fechado? Vai paralisar o governo, presidente?
Presidenta: Ele tem de ser absolutamente adequado. Nenhum contingenciamento paralisa governo; o governo gasta menos em algumas coisas, é isso que acontece. É como em uma casa, as pessoas que nos escutam, entendem. Quando uma pessoa faz economia, ela não paralisa a casa, não é? Ela faz economia. O que nós vamos fazer? Nós vamos fazer uma boa economia para que o país possa crescer, e possa ter sustentabilidade no crescimento. Eu gostaria de dizer para vocês que, nós, hoje, estamos no momento muito especial, nós precisamos dessa aprovação. Então, sempre que me perguntarem, prognóstico eu não posso fazer. Porque se eu fizesse prognóstico, eu poderia fazer prognóstico de quem iria ganhar o jogo de futebol, não consigo. Se ia chover ou se não ia, eu não consigo.
Jornalista: Agora, tem que negociar, não é presidenta?
Presidenta: É óbvio.
Jornalista: Vai ceder na negociação?
Presidenta: Meu querido, este país, vou repetir para vocês: eu acho fantástico o espanto. Este é um país democrático, as pessoas podem pensar diferente dentro dos partidos, de todos os partidos, você vê pessoas pensando diferente. Eu não tenho a mesma posição em relação ao Joaquim Levy, do senador. O Joaquim Levy da minha confiança fica no governo. Agora, eu queria... ele me perguntou uma coisa, ele me perguntou se as concessões estão chegando.
Jornalista: Depois do Corpus Christi, presidenta?
Presidenta: As concessões, no dia 9, nós iremos lançar as concessões, 9 de junho. Um abraço.
Ouça a íntegra (09min49s) da entrevista da Presidenta Dilma Rousseff