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19-03-2014 - Entrevista concedida pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, à rádio Verdes Mares de Fortaleza

Fortaleza-CE, 19 de março de 2014

 

Jornalista: Meu caro João Inácio Júnior, ouvintes da rádio Verdes Mares, conforme adiantamos, estamos aqui conversando, vamos conversar a partir de agora, com a Excelentíssima Senhora Presidente da República, senhora Dilma Rousseff.

 

Presidenta: Olha, eu queria, primeiro, dar uma boa tarde a todos os ouvintes do sistema Verdes Mares

 

Jornalista: Rádio Verdes Mares AM.

 

Presidenta: Eu queria também, Evandro, te dar este meu cumprimento e dizer que estou muito feliz de estar aqui em Fortaleza, no Ceará.

 

Jornalista: Graças a Deus. Presidente, a senhora participou, mais cedo, da inauguração do V Trecho do Eixão das Águas, e qual a importância dessa obra para a senhora e para o estado do Ceará, obviamente?

 

Presidenta: Olha, eu acredito que o Eixão das Águas é uma das obras mais importantes, não só do Ceará, mas do Brasil, e mostra a determinação do governo do Ceará, do governador Cid Gomes que, em parceria conosco, definiu que a questão da segurança hídrica da população cearense seria prioritária. E aí, o Eixão das Águas, ele atinge e beneficia com segurança, ou seja, com garantia que vai haver abastecimento de água, beneficia 4,2 milhões cearenses.

Isso é muito importante, porque em algumas regiões do Brasil hoje – viu, Evandro? – está faltando água. Essas regiões, inclusive, elas não tiveram esse conjunto de obras que vem sendo feito aqui no Ceará. O Eixão das Águas, que sai, que a gente admira porque ele sai lá do reservatório de Castanhão e chega aqui, bem na região metropolitana de Fortaleza, inclusive abastecendo todo o porto e por isso – Pecém, não é? – e por isso esse abastecimento vai permitir que tenha condições, no porto, de desenvolver uma série atividades de refinaria, passando por todas as indústrias. Não é possível viver ou produzir sem água. Então, o Eixão tem essa característica.

E eu te digo o seguinte: eu ando o Brasil, nós temos um programa hídrico de R$ 33 bilhões, e eu tenho visto várias obras. Agora, do ponto de vista da segurança do estado, as principais obras eu localizo aqui no Ceará. E eu estou falando de duas, do Eixão e desse Cinturão das Águas, que também vai permitir que toda a transposição do São Francisco chegue de forma distribuída por todas as regiões que necessitam aqui, do Ceará.

 

Jornalista: Agora, qual é o apoio que o seu governo, presidente Dilma Rousseff, tem dado, para diminuir os efeitos dessa seca, que já é uma das maiores do estado do Ceará?

 

Presidenta: Olha, eu queria te dizer, primeiro, que nesse, aqui no Eixão, nós somos parceiros nesse projeto, que os projetos de segurança hídrica que implicam na construção de canais, de estações elevatórias, de adutoras, eles nunca são baratos. Esse do Eixão, ele implica num investimento de 1,5 bilhão de reais. Agora, a gente tem de fazer um conjunto de obras simultaneamente. É preciso, primeiro, quando há uma seca como essa a que você se referiu, Evandro, que é essa que nós estamos vivendo, que alguns dizem que é de 50 anos, outros dizem que é a maior de cem anos. Seja 50 ou cem, é, de fato, uma seca que caiu sobre a população do semiárido brasileiro e nós tivemos uma série de iniciativas pontuais, iniciativas emergenciais que permitiram que a população passasse com mais tranquilidade. Eu vou te elencar algumas das nossas iniciativas.

 

Jornalista: Pois não.

 

Presidenta: Por exemplo, nós instalamos aqui no Ceará – essa é uma iniciativa que é muito importante – 127.500 cisternas. Por que é que eu começo falando das cisternas? Essa cisterna é para armazenar água para o consumo humano, e 7.900 cisternas para armazenar água para a produção. Eu começo falando delas porque nós também contratamos aqui no Ceará 993 pipeiros, que são contratados pelo Exército. Ora, o pipeiro vai e pega na fonte de água mais próxima, ele pega água e traz para colocar, por exemplo, para a população de uma região. Se não tiver cisterna, não tem como você ter um aproveitamento, por exemplo, nesse momento de emergência. Se chover um pouco, como está acontecendo agora, a cisterna também permite que você armazene a água e a use, na sequência. Então, eu junto essas duas iniciativas: pipeiro e as cisternas.

            Além disso, nós fizemos aqui, recuperamos 346 poços, de um total de 761 poços, e vamos perfurar outros 95, viu, Evandro, 95 poços. Além disso, as famílias de agricultores que, por exemplo, perderam a sua produção, perderam sua renda, não têm acesso a nenhum recurso porque está faltando água, mas eles pagavam, eles tinham o hábito de pagar o seguro Garantia-Safra. O que é que nós fizemos? Nós estendemos o período do seguro. O seguro durava seis meses, nós garantimos que enquanto tiver seca, nós pagamos o seguro para... aqui no Ceará para 303.600 agricultores. Esse agricultor, ele recebe em média 180 reais, mas ele também pode receber Bolsa Família, e para aqueles que não têm o seguro Garantia-Safra nós pagamos uma Bolsa Estiagem, que vai durar enquanto durar a seca, para 159 mil pequenos agricultores. Nós, olhando a situação do pequeno agricultor, aquele que perdeu... começou a não ter produção, inclusive de qualquer elemento para garantir a alimentação da sua criação, do seu boizinho, da sua cabra, do seu bode, nós colocamos 182 mil toneladas de milho ao preço subsidiado de 18 reais, para permitir que houvesse uma mitigação, uma diminuição da perda dos animais.

            Além disso, para que eles pudessem continuar fazendo seus pequenos negócios, nós apoiamos 83 mil operações de crédito. Isso significa que nós colocamos para essas pequenas... vamos supor, numa região a seca veio, diminuiu toda a produção, o pequeno proprietário, o pequeno empresário ele não tinha rendimento, então nós fizemos uma linha de crédito, para ele suportar esse período, de R$ 626 milhões.

Além disso, nós entregamos para 179 municípios do semiárido, e hoje eu estive fazendo uma cerimônia dessas, nós entregamos um caminhão-caçamba, um caminhão-pipa, uma pá carregadeira, uma retroescavadeira e uma motoniveladora. São cinco máquinas. Preço de mercado, esse kit custaria R$ 1,5 milhão. Para todos os municípios até 50 mil habitantes ou que sejam da região da Sudene, onde haja decretação de estado de emergência ou que estejam no semiárido, eles ganham esses cinco... é uma doação de cinco equipamentos para garantir que eles possam fazer... recuperar estrada vicinal, fazer uma aguada, fazer uma pequena... uma barragenzinha, enfim, que ele possa se defender nessas circunstâncias.

            Nós tivemos também uma iniciativa que eu acho muito importante, que é a questão de criar um Plano Safra do semiárido. Nunca fizeram Plano Safra para o semiárido, nunca na vida, em toda a história da República. O que é que nós achamos? Nós achamos que ter seca não é uma situação que você pode considerar que não deve ser enfrentada de uma forma a você perceber que isso é permanente. Você tem de achar que é permanente. É que nem o inverno no norte do mundo, né? Eles passam seis meses no inverno, acaba toda a plantação deles. Os animais sobrevivem porque eles estocam alimento. Então, nós temos de ter em relação à seca aqui também a mesma coisa. Nós vamos produzir todas as forragens necessárias, quando vier a seca a gente vai ter um recurso para não precisar estar trazendo milho lá do Sul para cá. Agora, eu acredito que aqui – vou repetir uma coisa que eu falei na primeira resposta –, eu acredito, viu Evandro, que aqui tem uma situação diferenciada, porque além disso tem as obras estruturantes, aquelas que vão garantir que nos próximos 30 anos você não tenha, você não corra esse risco e você possa lidar com a seca de forma a conviver com ela. O que é isso? O Eixão é um deles. O Eixão das Águas, que nós fizemos o lançamento da última parte hoje, ou seja, entregamos a última parte, o quinto trecho, ele é uma garantia de que nos próximos 30 anos tenha água na grande Fortaleza, ele é uma garantia.

Além disso, eu acho importante, aqui na região, a Barragem de Figueiredo, a Barragem do Missi e também eu acho o projeto do Cinturão das Águas um dos melhores projetos de segurança hídrica do Brasil. Por isso eu hoje até parabenizei o governador Cid porque, de fato, o Ceará caminha para uma situação toda especial nesta região, que é demonstrar que é possível ter uma política de investimento que leve uma região, que antes sempre foi tida e havida como a região mais seca do Brasil a ter uma política que leve ela a ser uma região que vai ter água suficiente para garantir qualidade de vida para sua população, garantia que a sua indústria, seu serviço, sua agricultura se desenvolva e, com isso, gera emprego, gera renda.

Eu acho esses projetos aqui do Ceará diferenciados em relação a muitos estados brasileiros, e acho que ele tem essa grande qualidade: prova que é possível fazer.

 

Jornalista: Presidente Dilma Rousseff, muito obrigado pela sua participação aqui na rádio Verdes Mares, Sistema Verdes Mares, e nós a deixamos inteiramente à vontade para que a senhora possa fazer as suas considerações finais.

 

Presidenta: Olha, eu estou muito feliz de estar aqui hoje, no dia 19 de março, que é o dia do padroeiro do Ceará, São José. Eu estou indo agora para Sobral, vamos lá fazer, assim, uma comemoração do dia 19 de março, junto com o governador, que é uma comemoração que tem uma característica que eu acho que é muito importante. É discutir todas as... dos investimentos que nós estamos fazendo para garantir água, para garantir que a água, que é essa condição de vida, seja perene aqui no Ceará. Eu fico muito orgulhosa de estar aqui. Quero dizer que... até hoje eu pedi um auxílio para São José, que São José abra um pouquinho as asas sobre o resto do Brasil porque nós temos hoje região de seca onde não existia antes, que é o Sudeste e o Centro-Oeste.

            Então, é isso, viu Evandro, e quero agradecer a oportunidade, mandar um grande abraço para todos os nossos ouvintes e para as nossas ouvintes também, e dizer que o Sistema Verdes Mares me permitiu que eu conversasse com vocês. Agradeço ao Sistema Verdes Mares.

 

Jornalista: Um abraço para a senhora.

 

Ouça a íntegra da entrevista (13min39s) da Presidenta Dilma Rousseff

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