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25-08-2015 - Entrevista concedida pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, às rádios Morada do Sol, de Araraquara e Difusora Ondas Verdes, de Catanduva/SP - Brasília/DF

Palácio da Alvorada, 25 de agosto de 2015

 

Jornalista: São 08h31. Bom dia cidade, bom dia região. Agora em conexão com a Morada do Sol AM e FM, aqui de Araraquara, integrando mais de 94 cidades do estado de São Paulo, 780 mil ouvintes, conforme Ibope e Datapress, e também a Rádio Difusora de Catanduva, nós estamos iniciando a entrevista com a presidente Dilma Rousseff, direto do Palácio da Alvorada, que é a residência oficial da presidenta da República. A presidenta cumpre hoje uma agenda de compromissos oficiais no interior de São Paulo e elegeu essas emissoras para falar sobre as inaugurações aqui na região, ao lado, claro, de outros temas relevantes. Em Araraquara, por exemplo, serão entregues 754 casas populares do Programa Minha Casa Minha Vida que se juntam a outras 3.700 moradias concentradas na mesma região da cidade. Agora, ao mesmo tempo em que os contemplados vivem a felicidade de um teto, de uma casa, existe a preocupação pela falta, por exemplo, de creches, escolas, posto de saúde, área de lazer, quer dizer, naquela região esse fator vem sobrecarregando os serviços públicos já existentes. Por isso eu pergunto à presidente: essa situação, presidente, pode ser apontada como uma falha do projeto? É possível rever a infraestrutura em futuras etapas do programa. Bom dia, presidente Dilma Rousseff. Bom dia, presidente.

 

Presidenta: Bom dia, Madalena. Bom dia, ouvintes da Rádio Morada do Sol, de Araraquara. Olha, Madalena, no Minha Casa Minha Vida a decisão de onde construir as moradias é sempre tomada em conjunto com a prefeitura. Em Araraquara nós contratamos 10.700 moradias, desde o início do Minha Casa Minha Vida, e entregamos já 6.800. As regras do programa exigem que se não houver serviços públicos e equipamentos sociais como creches, escolas e áreas de lazer, postos de saúde suficientes em um empreendimento, dentro do empreendimento ou no entorno, a prefeitura deve providenciá-los. Não há essa falha no projeto que você menciona, porque a garantia de acesso a serviços públicos no entorno das moradias, das novas moradias, das novas casas, é parte integrante do programa, sendo a principal contrapartida da prefeitura em todos os lugares do Brasil. Então você vê, no Residencial Vale Verde aí em Araraquara, o município se comprometeu a duas coisas: primeiro, aumentar a frota de ônibus e o alcance das linhas de ônibus e, segunda coisa, atender à população nas creches, escolas, postos de saúde, postos de segurança, áreas de lazer enquanto eram construídos equipamentos nas proximidades do residencial. Nós temos a informação de que a prefeitura e a empresa de transporte estão prontas para iniciar a operação na região do empreendimento, segundo a prefeitura. Além disso, fomos informados também que, depois de alguns contratempos, algumas dificuldades, a prefeitura vai conseguir contratar a construtora que vai realizar as obras da escola, da creche, do posto de saúde e dos demais equipamentos aí no Residencial Vale Verde.

E queria dizer, por exemplo, queria dar um exemplo. Aí em Catanduva no empreendimento que hoje também nós vamos inaugurar,  já foram construídos uma escola, uma creche, um posto de saúde e um posto de segurança dentro do condomínio. Essa é a regra. O Minha Casa Minha Vida, na verdade, ele sempre passa por aprimoramentos, então, se as pessoas tiverem alguma sugestão, se alguém tiver essa sugestão, é muito importante, porque nós vamos lançar o Minha Cada Minha Vida 3. E essas sugestões, elas vêm a calhar, porque  nós estamos abertos a promover avanços do Minha Casa Minha Vida e fizemos  isso do primeiro para o segundo, e agora queremos fazer do segundo para o terceiro. Para que as famílias que tenham esse benefício da casa própria, sejam cada vez mais bem atendidos.

 

Jornalista: Está muito bom. Agora o Fernando, de Catanduva, ele também conversa com a presidenta. Fernando, bom dia para você, Fernando… Eu perdi a sintonia com o Fernando. Está certo, então daqui a pouquinho eu volto a ter contato com o Fernando, mas eu gostaria de continuar a entrevista. Presidente, além das milhares de moradia e do programa Minha Casa Minha Vida, a região tem recebido, aqui, inúmeros investimentos do governo federal. E nós somos prova disso. Investimentos realmente em quase todos os setores, inclusive a retirada dos trilhos aqui na cidade, que foi uma briga de longos e longos anos e, mesmo assim, a aprovação do governo da senhora está em baixa. Essa situação pode ser atribuída à crise política e econômica que o País enfrenta? Qual a visão da senhora?

 

Presidenta: Olha, Madalena, você falou nos trilhos, eu lembro bem que nós fizemos um grande esforço porque era importante, os trilhos dividiam a cidade, criavam uma interrupção na cidade muito ruim. Olha, eu acredito que nós temos feito grandes investimentos, sim, na cidade de Araraquara. Os números, eu já disse, do Minha Casa Minha Vida são impressionantes. Quando todas as 10.700 moradias tiverem sido concluídas, 20% dos moradores da cidade vão ser beneficiados com o Minha Casa Minha Vida, um em cada cinco moradores. Em cada cinco moradores, um terá sido beneficiado pelo Minha Casa Minha Vida. É verdade que a gente vive um momento de dificuldade. E nesses momentos de dificuldade, quando a gente tem que fazer ajustes na economia para voltar a crescer e gerar mais oportunidades para todos os brasileiros, é também razoável e esperado que as pessoas possam se sentir inseguras e muito mais preocupadas com o futuro. Eu considero isso compreensível, mas o que eu sempre faço o apelo é o seguinte: isso não pode se transformar em um pessimismo. As pessoas, por exemplo, estão preocupadas com a inflação. A inflação, ela veio de fato crescendo e agora, por conta de todas as medidas que nós tomamos, a boa notícia é que ela começa a descer, ela começa a cair, ela começa a ter seu viés de baixa. Então, o que eu acredito? Eu acredito que é sempre assim: as pessoas querem que as coisas sejam imediatamente resolvidas. É compreensível. Agora, nem sempre, isso não ocorre também na vida da gente. Você enfrenta uma dificuldade, você tem que enfrentar e aí o tempo te ajuda a fazer passar.

Qual é a nossa ideia? A nossa ideia é que as dificuldades sejam superadas o mais rápido possível, que nessa travessia que nós estamos, entre esse momento de dificuldade e um momento de perspectivas, de prosperidade, essa seja feita da forma mais rápida possível. Quanto mais pessimismo houver, quanto mais gente torcendo para o quanto pior, melhor, mais longa será essa travessia. E ela não é passada só pelo Brasil, ela é passada por todos os países do mundo. Ontem, por exemplo, foi chamada a “segunda-feira negra” porque os mercados chineses dissolveram-se. Agora, no nosso caso, eu sei também que as pessoas estão preocupadas com emprego. Nós, para fazer, para facilitar essa travessia, para criar uma espécie de proteção, nós criamos o programa de proteção ao emprego. Esse programa, ele, com a ajuda das empresas do governo, nós queremos que as empresas não demitam seus trabalhadores. E por isso nós pagamos uma parte do salário, as empresas pagam outra parte, há uma redução da jornada e, obviamente, proporcionalmente, do salário, mas bem menos do salário, porque nós cobrimos uma diferença. E assim nós temos vários outros programas como esse. Eu acho que as pessoas, hoje, querem mais oportunidades e por isso estejam mais apreensivas. Eles esperam que o governo aja e continue criando as condições para que elas realizem os seus sonhos, deem oportunidades para elas realizarem seus sonhos. Porque quem de fato briga, quem de fato realiza o sonho é a pessoa. O que o governo contribui é dando oportunidade.

E eu quero te dizer o seguinte, meu governo está ouvindo as pessoas, está agindo. E nós vamos continuar trabalhando e encarando a realidade de frente. Porque só você encarando a realidade de frente você consegue ultrapassar as dificuldades rapidamente.

 

Jornalista: Presidenta, muito bom dia, Fernando Júnior da Rádio Difusora  de Catanduva quem fala com a senhora neste momento. Eu gostaria de antemão desejar as boas-vindas, a senhora estará logo mais na cidade. A minha pergunta é sobre economia e todos nós sabemos que a economia preocupa e muito os brasileiros. Eu farei agora perguntas diretas e objetivas, todas elas dentro de um mesmo contexto, presidenta. A primeira: nós chegamos ao  ápice da crise econômica ou podemos enfrentar dificuldades ainda maiores? E o que existe de concreto nos rumores de que 2016 será um ano mais difícil ainda para os brasileiros do que este ano está sendo? E de que maneira pequenos empresários, trabalhadores, enfim,  os brasileiros de um modo geral podem ajudar o País a superar as atuais dificuldades econômicas, presidenta?

 

Presidenta: Olha, eu acredito, eu estava até falando, viu… Primeiro, muito bom dia, Fernando Júnior, e bom dia aos ouvintes da Rádio Difusora AM de Catanduva. Eu estava até falando com o Madalena sobre o que aconteceu ontem no mundo. Ontem nós tivemos a chamada “segunda-feira negra”, que foi a queda, a derrubada das bolsas que começa na China e atinge toda a Ásia e depois afeta o mundo como um todo. Eu acredito que o Brasil está passando por um momento de dificuldades e o mundo também. Eu espero que o ponto máximo das nossas dificuldades tenha ficado já um pouco para trás. Por quê? Porque o governo nessa questão foi bastante prudente. Nós percebemos que a crise começava de forma bastante intensa quando acaba o chamado superciclo das commodities, ou seja, o reino dos preços altos de minérios, de grãos, e sobretudo de petróleo. Ontem o petróleo chegou a US$ 37, tendo há um ano atrás saído de algo perto de US$ 100. O minério de ferro, que nós somos grandes exportadores, saiu de quase [US$] 120 para [US$] 53 ontem. Então você tem de fato uma situação internacional bastante grave. Agora, a economia do Brasil é forte. Como nós fomos prudentes e começamos a fazer, nós tivemos percepção que havia uma deterioração do quadro internacional - obviamente ninguém consegue prever qual é a dimensão, porque você não controla a economia dos outros países.

Agora, eu acredito que as nossas medidas já começaram. Nós... não tem como nós estarmos pior no futuro do que hoje, por quê? Porque nós tomamos um conjunto de medidas que eu vou te dizer quais são. Primeiro, você sabe que nós tínhamos um câmbio, ou seja, o real ultravalorizado. Se o real valorizado é bom para as pessoas viajarem para Miami, para outros países, ele é péssimo para a indústria, porque diminui a competitividade dos seus produtos. Então a desvalorização da moeda brasileira, ela tem um efeito nocivo que imediatamente ela cria inflação, mas ela  tem um outro efeito que ela facilita exportações. Então... e nós não confiamos só no câmbio, nós estamos fazendo um programa agressivo de exportações. Fizemos acordo com o México, fizemos acordos agora, estamos finalizando um acordo com a União Europeia, fizemos acordo com os Estados Unidos, fizemos acordo com a Alemanha, enfim, nós estamos atuando ativamente no sentido de ampliar as exportações brasileiras, lembrando que os países que se recuperaram da crise forte que eles tiveram, em 2008 e 2009, eles começaram também a sair da crise através das exportações.

Segunda coisa que nós fizemos: fizemos um  programa de concessão para que a gente possa investir em parceria com o setor privado na área de portos, aeroportos, ferrovias e rodovias. Isso é muito bom porque aumenta o investimento. Segundo, porque gera emprego e, terceiro, porque ajuda no crescimento do País. Fizemos em valores bastante significativos, mais de R$ 180 bilhões até 2018. Fizemos também um programa - e aí interessa para essa região de Catanduva, Araraquara e Araras -, fizemos também um programa de energia, de investimento em energia. Privilegiando, inclusive, biomassa, que é talvez a grande riqueza que o País tenha junto com o Etanol. E também fizemos um grande programa de safra da agricultura comercial. Em um ano de dificuldades, nós elevamos em 20% o crédito.

Então, é uma situação, de fato, que ela requer cuidados, requer que a gente acompanhe sistematicamente, requer que a gente faça controle de gastos, mas também, o que a gente tem que perceber é que nós não ficamos parados esse tempo. Nós tomamos todas as medidas. E grandes programas, como o Minha Casa Minha Vida, estão prosseguindo. Então, eu queria dizer o seguinte, eu espero uma situação melhor. Não tenho como te garantir que a situação em 2016 vai ser maravilhosa. Não vai ser, muito provavelmente não será. Agora, também não será a dificuldade imensa que muitos pintam. Nós vamos continuar tendo dificuldades, até porque não sabemos a repercussão de tudo que está acontecendo na economia internacional.

 

Jornalista: Nós estamos conversando ao vivo com a presidenta Dilma Rousseff, direto do Palácio da Alvorada em Brasília. Esta entrevista tem a retransmissão e a participação da Rádio Morada do Sol, de Araraquara. Minha última pergunta, presidenta Dilma: a senhora sabe que a agricultura é importantíssima na região de Catanduva, mas nós sempre sofremos com os altos e baixos da monocultura. No passado o café nos trouxe crescimento, desenvolvimento, mas também períodos difíceis. Posteriormente aconteceu o mesmo com a laranja e agora temos problemas com o cultivo da cana-de-açúcar. A senhora sabe, todos nós sabemos que o setor sucroalcooleiro não passa por um bom momento. A partir desse histórico eu gostaria de saber da senhora: é possível conseguir um equilíbrio de crescimento e desenvolvimento com a monocultura? Se existe a possibilidade de recuperação do setor sulcroalcooleiro no curto prazo e o que o governo federal pode fazer para incentivar e ajudar este setor, presidenta?

 

Presidenta: Olha, o meu governo, Fernando, tem incentivado e vai continuar incentivando o setor sulcroalcooleiro. Nós achamos que o etanol, o açúcar e a biomassa, esse conjunto é um dos espaços mais eficientes de produção de energia no sentido de gerador de combustível e de eletricidade, e também de energia, por conta do açúcar. O açúcar é um grande energético. Em março desse ano nós autorizamos, como uma das medidas de incentivo, o aumento do percentual de mistura do etanol anidro à gasolina, do álcool à gasolina, como a gente fala no cotidiano, para até 25,5%. Isso é muito importante. Por quê? Porque quando a gente amplia a demanda por etanol… aliás, quando você aumenta para 27,5 [%], você amplia a demanda por etanol. E toda a nossa frota de automóvel consome essa mistura, não tem nenhum carro nesse País que não ande movido a etanol. Então, ao aumentar para 27,5 [%] você está aumentando a demanda.

Além disso, nós garantimos créditos em condições bem favoráveis para o setor. No Plano Agrícola e Pecuário de 2015/2016, nós garantimos linhas de crédito bastante favoráveis. Para você ter uma ideia, a TJLP + 2,7%. Além disso, o programa de apoio à renovação e implantação de novos canaviais do BNDES, o Prorenova, financia a renovação de canaviais antigos, menos produtivos, menos rentáveis. Nos últimos dois anos nós conseguimos financiar, assegurar mais de R$ 3 bilhões neste programa. Criamos também um programa para financiar estocagem de etanol combustível durante a entressafra para reduzir as oscilações do preço Também mais de [R$] 3 bilhões dos últimos dois anos foram concedidos e tornados disponíveis. Além disso, nós concedemos incentivos tributários que vão durar até o final de 2016, que é o crédito presumido do PIS/PASEP e da Cofins que, na prática, extinguiu o pagamento dessas contribuições.

Nós estamos também apoiando no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento, PAC, a construção do sistema logístico de etanol, que é o trecho do Etanolduto Paulínia-Ribeirão Preto-Uberaba, que já está em funcionamento. É uma malha multimodal, ela serve para transporte de etanol, que envolve a integração de dutos, de terminais de hidrovias passando por 45 municípios. Isso certamente vai levar a ganhos econômicos, a ganhos ambientais.

É nossa tarefa apoiar o setor produtivo, um esforço contínuo de ampliação da competitividade do etanol. O etanol é, de fato, um produto atraente, porque ele compõe o que eu te falei. Você não pode olhar o etanol como sendo uma lavoura, você vai ter que olhar o etanol como sendo um segmento do setor de energia. Então, tanto no que se refere à produção de combustível, quando é etanol, quando algo importantíssimo que ocorre também na região, que é a produção de biomassa e a geração com ela de energia elétrica. Aí em São Paulo, eu  estive em uma unidade de produção de etanol de segunda geração que produz com base na palha e na vinhaça. Produz diretamente disso etanol e exporta para a Holanda com um preço bem mais elevado do que o etanol de primeira geração. Então, eu acho que eu não posso olhar o setor de etanol como sendo um setor agrícola puro e simplesmente.

 

Jornalista: Muito bem presidenta. Muito obrigado pela entrevista, obrigado por nos atender. Em nome da Rádio Difusora, de Catanduva, e da rádio Morada do Sol, de Araraquara, nós agradecemos a entrevista. Desejamos toda a sorte do mundo na condução Brasil nos próximos anos do mandato da senhora e desejamos também uma boa viagem, uma boa vinda a Catanduva e a Araraquara para a entrega das unidades habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida. Muito obrigado.

 

Presidenta: Muito obrigada. Eu queria agradecer a você, Fernando Júnior, à Rádio Difusora AM, de Catanduva. Cumprimentar os ouvintes e também agradecer ao Madalena da Rádio Morada do Sol, de Araraquara. E desejar a vocês um bom dia e agora eu vou sair daqui rapidamente, correndo para poder chegar aí e entregar as casas nesse link que nós fazemos. Porque nós estamos entregando moradias em Catanduva, em Araraquara, em Araras e Mauá. São quatro cidades que vão entrar em link e nós vamos fazer, então, a inauguração.

Obrigada e bom dia a todos.

 

Ouça a íntegra (22min57s) da entrevista da Presidenta Dilma Rousseff