05-02-2013 - Entrevista concedida pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, para rádios do Paraná - Brasília/DF
Brasília-DF, 05 de fevereiro de 2013
Jornalista: Eu quero começar o nosso bate papo aqui, Presidenta, falando do agronegócio, até porque a senhora esteve aqui ontem no Show Rural Coopavel 2013, visitando, acompanhando esse show que é um show de tecnologia, um dos maiores eventos do agronegócio brasileiro.
Mas a agricultura no Brasil ainda é uma atividade de risco, o nosso custo de produção ainda é elevado, não é Presidenta? Basicamente pela elevação da carga tributária. Aí eu pergunto para a senhora: não seria o caso de reduzir a tributação sobre a produção de alimentos, permitindo que o arroz, o feijão chegue mais barato na mesa dos brasileiros, presidenta? Bom dia. Seja bem vinda aqui à programação da rádio Colméia AM, de Cascavel.
Presidenta: Bom Dia, Edy Júnior. Bom dia rádio Colméia AM, de Cascavel. Olha, Edy, eu te digo uma coisa: eu concordo que é importante reduzir a carga tributária. No caso dos tributos federais, que você se referiu, o arroz e o feijão já estão desonerados, ou seja, estão com os tributos federais – PIS, Cofins, IPI – tudo que incide de tributo federal não tem no arroz e feijão. Eu não tenho certeza se aí no Paraná tributa o ICMS no feijão e no arroz. Acredito que sim. Então, eu concordo. Eu concordo que esses tributos tenham de ser desonerados, principalmente, da cesta básica. Aliás, eu queria te dizer uma coisa: nós estamos... como nos comprometemos a fazer isso, nós estamos estudando a desoneração integral da cesta básica dos tributos federais. E estamos estudando também... porque o conceito de cesta básica está um pouco ultrapassado. Tem alguns produtos que hoje constam na cesta básica, que antes não constavam. E como ele é... a lei que definiu a cesta básica é bastante antiga, nós agora também estamos revisando quais são os produtos que integram a cesta básica. A fim de que nós possamos desonerá-los integralmente. É essa a ideia do governo federal, até porque é uma promessa minha feita no ano passado. Eu tentei fazer até o final do ano... nós estávamos negociando com os estados para ver se isso era possível também desonerar os impostos estaduais, mas como está muito difícil fazê-lo, nós preferimos tomar agora uma iniciativa só do governo federal, e vamos fazer essa desoneração.
Aqui é Ricardo Spinosa, de Londrina. Tudo bem?
Presidenta: Tudo.
Jornalista: A saúde tá boa, presidenta? A família está bem?
Presidenta: A minha saúde está, está maravilhosa, principalmente depois que eu estive aí no Paraná. Ontem foi de fato um momento muito importante. E a minha saúde ficou muito boa com tantos abraços, beijos... fiquei muito feliz de ter estado no Paraná, em Londrina,em Cascavel e também lá em Arapongas.
Jornalista: Presidenta, a senhora falou em desoneração, mas eu tenho que continuar tocando neste assunto. Caso a economia não mostre sinais de recuperação, em relação ao desempenho de 2012, apesar do que a senhora já falou, seu governo estaria contemplando outros tipos de desonerações? Afinal de contas, com tudo o que já foi feito, presidenta, a indústria – nós temos que reconhecer – teve um desempenho até que medíocre. Por outro lado, a danada da inflação continua preocupando o governo. ela está bem próxima do teto, da meta estabelecida. Isto tudo preocupa a senhora?
Presidenta: Olha, vou te falar uma coisa, Ricardo. Eu tenho sempre de me preocupar com a economia. Até porque eu acho que essa é uma função do presidente ou da presidenta da República, que é o meu caso. Eu quero te dizer que nós vamos continuar desonerando o investimento, a produção e o emprego. Em 2012 nós de fato fizemos uma desoneração muito significativa. Nós reduzimos, é, em R$ 46 bilhões os impostos. A previsão para 2013 de desoneração de impostos é R$ 53 bilhões. Havendo recuperação da economia, ou ela sendo mais lenta, mas que haverá recuperação eu não tenho dúvida. Já a inflação, eu queria te dizer que nós não descuidamos dela em nenhum momento, em nenhuma circunstância. E, primeiro, eu acredito que vários fatores vão contribuir para uma redução da taxa de inflação nesse ano de 2013. O primeiro é a redução da tarifa de energia, que vai ter dois efeitos: de um lado vai reduzir preços, quando a gente considera que afeta todas as famílias do país, todas, sem exceção, terão na sua conta de luz um mínimo de redução de 18%, porque, por exemplo, se eu não me engano, aí em Curitiba, a redução é de 19,3%. Já, eu tenho consciência também, que a melhoria no preço da energia para os industriais, com uma redução de até 32%, ela vai beneficiar uma maior produção, uma maior contratação, e uma maior competitividade, tanto dos produtos feitos no exterior e que estão aqui dentro, que são importados, quanto nos produtos que nós disputamos lá fora a sua comercialização.
Bom, mas a inflação, ela sofre efeitos também do aumento do preço da gasolina. Eu só queria dizer que o aumento do preço da gasolina e do diesel é um valor bastante menor, ao chegar na bomba, do que os valores da redução da tarifa de energia. Além disso, uma outra coisa é muito importante a gente destacar: o efeito das desonerações também vão aparecer no preço dos produtos.
E finalmente eu queria fazer uma outra constatação: a inflação, de jeito nenhum está perto do teto da meta. O teto da meta é 6,5[%]. A inflação está em torno de 5,8[%]. Quero te dizer que dentre os últimos anos todos em que nós fomos... que nós adotamos, aliás, essa política de metas da inflação, esse valor de 5,8[%] está entre os cinco mais baixos, os cinco mais baixos. E, em 14 vezes, nós tivemos uma tarifa baixa de inflação. Eu, de qualquer jeito, quero reduzir essa tarifa... essa taxa de inflação – eu falei, tarifa, me desculpe – essa taxa de inflação.
Eu acho que é importantíssimo que nós cresçamos e tenhamos inflação baixa. Para isso, nós temos de buscar sempre maior eficiência na produção, nós temos de ter uma agricultura familiar produzindo e competindo. No ano passado nós tivemos alguns produtos que tiveram aumentos. Um deles é o arroz, que você citou. Este ano, esta possibilidade vai ser muito difícil de ocorrer. Porque além da safra maior, nós temos um estoque, também, de arroz muito grande. O que pode perfeitamente - quando a gente compra esses estoques para impedir que o preço seja muito baixo – na hora que o preço sobe, nós também temos todo o direito de vendê-lo para regular o mercado.
Então, eu estou muito tranquila. Nós temos uma série de medidas que vão contribuir tanto para o crescimento econômico quanto para uma economia mais estável. Eu vou te citar algumas que eu acho importante: a redução na taxa de juros. Acho que essa redução tranquila na taxa de juros, ela vai começar a sofrer, aliás, ela vai começar a ter consequencias, a economia sofrer seus resultados, a partir de agora. E isso vai permitir que nós tenhamos uma situação muito mais estável. Além disso, o Brasil tem suas contas públicas inteiramente sob controle. Nós hoje temos uma relação dívida sobre PIB de 35%. Os países da Europa, por exemplo, tem taxas de dívidas sobre seus PIBs de 90, 80, 180, 120, enfim o Brasil é um país sólido. Temos US$ 378 bilhões de reservas. Portanto, eu acredito que todas as medidas foram tomadas para que haja uma recuperação da economia. É certo que o que nós estamos vendo é que todas as recuperações têm sido mais lentas, mas elas têm ocorrido, e a conjuntura internacional parece ter melhorado, tanto no que se refere à China quanto nos Estados Unidos e a Europa parece ter passado pelo pior. Agora, certamente, o Brasil vai dar sua contribuição. Por quê? O Brasil hoje tem condições de ter um crescimento, ele vai ser um crescimento mais lento, o mercado internacional não recuperou, nós temos uma queda brutal do comércio internacional. Mas o Brasil tem um grande mercado interno, nós estamos com a economia quase trabalhando em pleno emprego, se não me engano 4,8%, desculpa, 4,6%, e a média do ano em torno de 5,5%. Então você tem um quadro de otimismo que a gente pode delinear sem que a gente esteja exagerando a nossa avaliação.
Jornalista: Bom dia, Presidenta Dilma, Renato Gaúcho aqui da Rádio Caiobá FM, de Curitiba. Presidenta, a senhora sabe que o Brasil é o país do futebol e Curitiba, como uma das sedes da Copa do Mundo e o pessoal curitibano, paranaense de um modo geral, está muito preocupado com as obras, até por sabermos que a Fifa é muito exigente. Na opinião da senhora, na visão da Presidência, as obras serão terminadas a contento, até a realização da Copa?
Presidenta: Eu tenho plena certeza que sim e acho que Curitiba vai brilhar como sede da Copa em 2014. Nós estamos investindo em obras no estádio, no aeroporto e obras de mobilidade urbana. Então, o valor da Copa, que nós estamos investindo só na Copa, é R$ 982 milhões. Além desses R$ 982 milhões, eu queria lembrar que nós temos aquela obra conjunta com a prefeitura de Curitiba de R$ 1,75 bilhão só em mobilidade urbana. Mas obras da Copa são R$ 982 milhões. No caso do estádio, a previsão é finalizar a reforma da Arena da Baixada em novembro de 2013 e isso, né Renato, dá um tempo bastante adequado para os testes que a Fifa exige que sejam feitos nos estádios. No aeroporto de Curitiba nós estamos investindo 290 milhões na restauração das pistas, aliás, a parte delas importante foi concluída. E, em fevereiro nós vamos finalizar a ampliação do sistema de pistas e pátios. Completamente. Agora, a ampliação do terminal de passageiros do aeroporto está prevista para começar, se eu não me engano, em maio, e ser concluída em dezembro. Também tem tempo suficiente para todos os testes, ajustes para que a gente esteja bem apostos em junho de [20]14.
Em parceria com a prefeitura e o governo do estado nós investimos, além disso, R$ 456 milhões em oito obras. Essas obras têm por objetivo garantir o melhor deslocamento tanto dos turistas como dos torcedores. E, também, deixarão um legado para a população de Curitiba, porque nós vamos melhorar com isso as condições de transporte. Para a gente ter só rapidamente uma ideia, são obras do terminal de Santa Cândida; a requalificação do corredor Marechal Floriano, por exemplo; a extensão da Linha Verde do BRT; a construção do corredor do aeroporto-rodoferroviária e do corredor da avenida Cândido Abreu. Todas essas obras ficarão prontas – segundo a prefeitura e o estado nos informam – até maio de 2014. A exceção é o corredor da avenida Cândido Abreu que ficarão prontas – elas começaram em maio – e ficarão prontas em maio de 2014. Elas começam agora em maio de [20]13 e ficam prontas em maio de [20]14.
Enfim, eu acredito que as obras da Copa, elas estão perfeitamente em dia, e mais, que Curitiba – eu vou repetir isso – vai brilhar como sede da Copa, vai mais uma vez mostrar a força dos paranaenses. Eu estive no estado e fiquei impressionada com a situação das atividades produtivas e também das atividades de infra-estrutura social. Então, acredito que nós teremos uma boa Copa em Curitiba.
Jornalista: Conversando ao vivo com a Presidenta Dilma Rousseff, de Brasília, em cadeia com as rádios Paiquerê FM de Londrina, através do jornalista Ricardo Spinosa, e também, da rádio Caiobá FM, através do jornalista Renato Gaúcho.
Presidenta, vamos falar um pouquinho de segurança pública. A senhora conhece a região Oeste do Paraná, conhece bem. É uma região de fronteira, inclusive, com o Paraguai, e uma das rotas do tráfico internacional de drogas. Drogas e armas entram com facilidade aqui em grande quantidade, basta ver as apreensões feitas em toneladas, enquanto também os nossos carros são roubados e levados para o outro lado da fronteira, onde, inclusive, são legalizados, né, lamentavelmente. Recentemente, os governos federal e estadual criaram um gabinete integrado de segurança em Foz do Iguaçu, mas assim, com poucos efeitos práticos até o presente momento. O que mais pode ser feito, Presidenta, nessa questão da segurança pública de fronteira?
Presidenta: Edy, nós estamos, fazendo uma atuação muito forte nessa área de fronteiras. O governo federal lançou o Plano Estratégico de Fronteiras em junho de 2011. Esse plano, ele integra, de um lado, as Forças Armadas, numa operação chamada Ágata – o Exército, a Marinha e a Aeronáutica. E o Exército, a Marinha e a Aeronáutica nesse Plano fazem ações sem aviso prévio, ações que a gente chama de ações pontuais, com incidência crítica. E integra também a Operação Sentinela, que é feita com a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e a Força Nacional de Segurança. Obviamente tem parceria com as polícias e com os gabinetes integrados dos estados, mas ele tem uma autonomia em relação a isso. Aí, em Foz do Iguaçu por exemplo, das seis operações Ágatas que nós realizamos por todas as fronteiras do Brasil, nós fizemos duas grandes operações: uma em setembro de 2011, que foi a Operação Ágata 2, e outra em agosto de 2012, que foi a Operação Ágata 5. Nessas operações, nós tivemos uma ação importante no sentido de apreensão de... por exemplo: apreendemos 69 toneladas de drogas; 271 armas; 938 veículos foram recuperados e efetuamos 5.900 prisões. Depois que a Operação Ágata sai, a Operação Sentinela passa a exercer uma atividade constante. Além disso, esse gabinete integrado, com o estado, principalmente com a sua polícia militar, ele também funciona como um elemento fundamental pra que a gente articule a inteligência e desmonte essas atividades do crime organizado, principalmente drogas, contrabando de armas, e de pessoas também, e também o contrabando, de carros, etc. Nós avaliamos que essas operações têm tido um excelente resultado. E elas se articulam com as ações que o próprio estado faz também na região. Agora elas têm um impacto muito grande porque elas estão baseadas em informações de inteligência. Principalmente porque nós fizemos algumas parcerias com alguns governos de outros países, e estamos mapeando também - foi o caso da última parceria que fizemos com a Bolívia para mapear também - onde se planta coca, enfim, para se ter condições de a ação ser muito efetiva. Porque você há de convir que a nossa fronteira é descomunal. Então, essas ações que têm uma grande mobilidade e um poder ofensivo maior, elas têm maior eficácia. Agora, eu concordo com você no seguinte: é fundamental que a gente continue buscando formas cada vez mais efetivas de combate ao crime organizado.
Nós repassamos para o governo do estado R$ 25 milhões. Para quê? Para fortalecer os órgãos de segurança pública em vários municípios. Aí em Cascavel também. Implantamos gabinetes de gestão integrada de segurança pública de fronteira; e criamos medidas de inteligência para prevenir e reprimir crimes fronteiriços. Agora, eu queria deixar claro que nós não agimos pura e simplesmente só através desses gabinetes. Os gabinetes são essenciais porque eles conseguem unificar a inteligência, que em um caso como o Brasil que tem essa fronteira absolutamente extensa, são ações que fazem com que nós tenhamos a preparação para agir com maior eficácia.
Jornalista: Presidente Dilma, é o Ricardo Spinosa outra vez. Quero antecipar o meu agradecimento por ter aceito falar através da Paiquerê FM, para 326 municípios do Sul do país. Quero reforçar o convite para que a senhora esteja conosco em abril, na nossa feira-exposição – coisa de louco, presidenta, a senhora tem que ver que beleza – a gente espera a senhora aqui nem que for por uns minutinhos, só.
Finalmente, presidente, a gente está muito agradecido. Porque reconhecemos, a senhora mais uma vez trouxe benefícios para o nosso estado, a senhora tem liberado recursos para as áreas, principalmente, de habitação, saúde e educação. A gente reconhece isso. Entretanto, presidente, nosso estado é governado por um partido de oposição, que é o PSDB, e a pergunta é essa: o calendário eleitoral de 2014 pode alterar a política de investimentos do governo federal aqui no Paraná?
Presidenta: Spinosa, eu queria te dizer o seguinte - a resposta assim bem curta - de jeito nenhum. Por quê? Por um motivo simples, Spinosa. O Brasil mudou. Nós temos de ter com os governadores eleitos pelo voto direto do povo e aí no caso do povo do Paraná nós temos de ter uma relação absolutamente respeitosa e parceira. Por quê? Porque o governador foi eleito pelo voto do povo. Eu fui eleita pelo voto do povo. Os prefeitos foram eleitos pelo voto do povo. A nossa função é servir ao povo, não é nossa função, é nossa obrigação. Aí, Spinosa, eu te digo uma coisa: mudar o Brasil é a gente absorver essa consciência que é a republicana, que é o seguinte: esse dinheiro que o governo federal tem não é do governante, não é da Presidenta. É do povo brasileiro. E é pra ele que tem de voltar. Ora, o povo brasileiro, um povo trabalhador, empreendedor, um povo que é capaz de ter uma das maiores e melhores agriculturas de alimento do planeta, esse povo que construiu com as suas mãos uma indústria; que descobriu o pré-sal; que tem minério, esse povo tá em todo o território nacional. Seria um crime contra o país um governante - seja ele uma prefeitura, seja ele de um governo estadual, seja ele o Presidente da República, ou Presidenta - não ter uma política que contemple as necessidades da população, não é a minha ou a do governador, são as necessidades da população. Eu tenho tido com o governador do PSDB, aí do Paraná – e inclusive estive ontem com ele, uma excelente relação. Nós temos sido parceiros. Essa parceria ela é fundamental porque a gente agrega esforços. Por exemplo, eu vou te dar um exemplo de uma parceria do governo federal com os municípios. Quer ver? Municípios menores de 50 mil habitantes, que são praticamente 90% de todos os municípios do país, mais de 4.500 municípios. Nesses municípios não queremos saber quem é o prefeito, ou o vice-prefeito, que religião ele professa, qual é o seu time de futebol nem tampouco o seu partido. Nós estamos pra cada um deles fornecendo uma retroescavadeira e uma motoniveladora. Por quê? Porque isso é fundamental pra escoar a produção de alimentos do país através das nossas estradas vicinais. E o prefeito de cidade menor tem menos poder orçamentário e financeiro e por isso a União tem de olhar por eles. A mesma coisa com o governador e o prefeito aí de Londrina, nós temos de ter parcerias. O Brasil precisa de creches, né? Essas creches nós precisamos de fazê-las em parceria com governos... ...no caso aí das prefeituras. No cadastro do Bolsa Família, idem. No Minha Casa, Minha Vida, quanto mais governadores e prefeitos participarem, melhor. É fato que no Minha Casa, Minha Vida o governo federal banca o valor entre 92% e 95% de todos os imóveis da primeira faixa, ou seja, daqueles que ganham até 1.600,00 reais. É fato que muitas vezes, o governador entra com a infraestrutura, o prefeito entra com o terreno, e nós vamos fazendo mais imóveis, mais moradias, construindo mais lares com essa parceria.
Então, eu te digo o seguinte: assim como ninguém pode dizer, ninguém pode chegar hoje - nem do governo federal, nem do governo de estado, nem das prefeituras - para um morador que acabou de receber sua chave do programa Minha Casa, Minha Vida, a chave da sua casa própria, a chave do seu sonho, ninguém pode chegar para ele e falar: olha, você me deve. Você me deve porque eu te dei uma casa. Isso é mentira. Por que é mentira? Porque o dinheiro que nós usamos para fazer esta residência saiu dos impostos de todo o povo brasileiro. Então, é um dinheiro dele, e ele não deve nada a ninguém.
Assim também, o dinheiro que nós repassamos para as prefeituras, que nós repassamos para o governo é um dinheiro do povo brasileiro. O dinheiro do estado é um dinheiro do povo brasileiro. Ou melhor, aí do estado do Paraná. O dinheiro da prefeitura de Londrina é o dinheiro do povo de Londrina. Então, essa é uma visão que mudou no Brasil. Há dez anos, pelo menos, porque eu estive em dois governos – eu sou presidente há dois anos e estive no governo do presidente Lula nos últimos oito – nesses dez anos, eu te asseguro, nós jamais olhamos quem era o governador ou quem era o prefeito. Você pode até olhar que em muitos casos a nossa parceria maior é com os governos da oposição. Por que? Porque são estados maiores. O estado de São Paulo é o maior estado do Brasil. Então, lá reside a maior parte da população. Eu sou obrigada a ter com o estado de São Paulo uma relação toda especial. Sou obrigada, também, a olhar para o Nordeste, mesmo com estados menores, eu tenho de olhar o Nordeste, porque o Nordeste tem carências maiores que os outros estados do país. Então, tem de se equilibrar esta relação entre governadores, presidenta e prefeitos de uma foram que nós, de fato, façamos a diferença no que se refere a atender os brasileiros e as brasileiras, a cuidar deles – que é a nossa obrigação.
Jornalista: Presidenta Dilma, eu sei que a senhora já tocou nesse assunto, assunto muito importante que afeta diretamente a todos os brasileiros. Nós fizemos aquele início do ano, que aqui nós temos aquela filosofia, aquela cultura de “ano novo, preço novo”, né? E aí tivemos aquele alento com a notícia da energia elétrica e em seguida aquela notícia não tão agradável do aumento da gasolina. E eu também sei que não depende da senhora e nem de qualquer brasileiro determinar o preço da gasolina, porque isso depende de outros países, outras nações. Mas a senhora teria uma palavra de alento, uma mensagem, assim, de otimismo, em relação a esse assunto pra gente?
Presidenta: Olha, eu acho que nesse assunto, nós ganhamos muito mais do que porventura perdemos. Por quê? Veja você, Renato Gaúcho, aliás, interessante você chamar Gaúcho da Rádio Caiobá FM, em Curitiba. Pois, ô Renato, seguinte: nós avaliamos que o Brasil pode e deve ser competitivo na área de energia. Você sabe, vocês têm aí uma excelente empresa de energia, a Copel, e têm hidrelétricas. O fato de nós termos hidrelétricas permite que a gente possa repassar o preço depois que a gente pagar a conta, de construir uma hidrelétrica, acabou, já pagamos, todo mundo pagou na conta de luz, agora podemos devolver para o povo brasileiro aquilo que nós cobramos e construímos juntos e que tá amortizado, ou seja, foi pago.
Então o governo resolveu construir o caminho para a redução das tarifas de energia. Aí no estado, 97,5% do mercado de energia elétrica é fornecida pela Copel. E a redução média, tanto pelo que nós conseguimos repassar pela tarifa – e eu lamento que a Copel não tenha participado disso – mas mesmo ela não participando, o governo colocou um dinheiro a mais. Nós tivemos que colocar, sim, um dinheiro a mais – não escondemos isso e até avisamos – mas não estava certo, se a empresa se recusou, não era certo do nosso ponto de vista que os consumidores do Paraná não tivessem direito também de receber redução na sua conta de luz. E aí a redução da conta de luz aí no Paraná em média será um pouco maior do que acontecerá em muitos lugares do Brasil, mas é porque tem certas diferenças que tem que ser computadas em relação aos diferentes mercados de energia. Aí em média vai ser 19,2 ou 19,3, é 19,28, que é o cálculo da ANEEL. Então nós conseguimos fazer isso porque nós não só colocamos, tanto de geração quanto de transmissão, aquilo que já estava pago e amortizado. E além disso, também reduzimos encargos sobre a conta de luz.
Então, eu acho isso muito importante porque esta medida é estrutural. Ela é estrutural e ela reflete uma visão a respeito do fato de que o que foi pago pelo povo no Brasil a ele depois do prazo necessário para amortizar os investimentos feitos tem de ser devolvidos. Então, para mim essa é uma medida estrutural. No que se refere a variação do preço da gasolina, ele é inexorável, e ele tem incidência também pelo mercado internacional. O governo brasileiro e todos os governos do mundo, o que eles querem? Eles querem que não haja volatilidade, ou seja, que não haja grande flutuação no preço da gasolina. Agora, em determinados momentos é inexorável, a Petrobras tem de aumentar o preço porque, caso contrário, as perdas dela são muito grandes.
Agora, é verdade também que o impacto disso sobre os preços que o consumidor pagará não é esses valores que foram autorizados. Por que? Porque eles têm de ser refletidos na bomba, e quando vão para a bomba dá um aumento um pouco menor que esse. Então, não dá para a gente considerar que uma coisa compensou a outra. Não compensou, não. O aumento do combustível vai ser bem menor, mas bem menor mesmo do que a redução na tarifa de energia. Além disso, sempre que houver, sempre que houver usinas e redes de transmissão que já foram pagas, cujos investimentos já foram pagos sempre será devolvido para a tarifa do consumidor. E isso eu acredito que é muito importante. Sempre vou lamentar que nem todos tenham aderido. Mas não ficaram muitos de fora. Não aderiram três. Agora, nós não julgamos correto que isso levasse a que nós não fornecêssemos a mesma redução da tarifa para todos os brasileiros. Aí é uma questão de tratamento de todos os brasileiros e brasileiras como iguais.
Jornalista: Perfeito, presidenta, muito obrigado pela sua participação, suas palavras valiosas para o povo brasileiro.
Presidenta: O brasileiro e a brasileira fazem parte de um povo trabalhador. Um povo trabalhador, corajoso, empreendedor e que além disso, além de todas essas qualidades, é um povo alegre, e, portanto, um povo otimista. Eu queria dizer pra vocês que esse otimismo tem razão. Nós temos a grande oportunidade no Brasil de corrigindo, um pouco aqui e um pouco ali, melhorando em várias áreas, nós tenhamos um país que progressivamente se transformará numa grande nação. Uma nação que tem de fato, ao mesmo tempo e simultaneamente, buscar o que for de mais avançado, de inovação, ciência, tecnologia, mandar 101 mil brasileiros estudar lá fora nas melhores universidades. Mas uma nação que também vai ter de olhar pra parte dela, sangue do sangue dela, que vive ainda abaixo da linha da pobreza. E nós, governo federal, temos de atacar essas duas, simultaneamente: a gente tem que ter política social pra tirar da miséria milhões de brasileiros e ao mesmo tempo uma política de educação, de ciência e tecnologia, uma política industrial, agrícola, que faça com que a gente tenha acesso às melhores práticas, que a gente inove, que a gente crie.
O Brasil é um país alegre, um país que não gosta do pessimismo, nunca gostou. Aliás, nós fomos descobertos – outros já tinham chegado aqui, e os índios já moravam aqui há milhares e milhões de anos – mas, pelos portugueses, por uma teimosia otimista de achar que tinha qualquer coisa pr’além daquela faixa da Europa. Então eu acho e eu acredito, que nós temos um sonho comum, que é construir um país forte, com uma classe média forte, porque nós queremos um país de classe média. Esse sonho nós estamos construindo a cada dia e eu tenho certeza que em 2013 será melhor, por isso eu conto com todos os brasileiros pra que nós levemos à frente esse projeto grandioso de construir essa nação desenvolvida, pra todos os brasileiros e pra todas as brasileiras. Muito obrigada. Foi um prazer falar com vocês, da Rádio Caiobá FM, Renato Gaúcho, em Curitiba; o Edy Júnior, da Rádio Colmeia, de Cascavel, e com o Ricardo Spinosa, da Rádio Paiquerê FM, de Londrina.
Jornalista: Muito obrigada novamente à presidenta que fez uma participação importante nesta manhã e eu agradeço novamente em nome dos colegas, o Edy Júnior, lá em Cascavel, na Rádio Colméia AM, e o jornalista Ricardo Spinosa, da Rádio Paiquerê FM.
Ouça a íntegra da entrevista (41min21) da Presidenta Dilma