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13-08-2013 - Entrevista exclusiva concedida pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, à rádio Clube de Itapira

Itapira-SP, 13 de agosto de 2013

 

Jornalista: Ontem a presidente esteve em Ribeirão Preto, inaugurando o trecho de 207 quilômetros do etanolduto, e hoje participará da inauguração, aqui no laboratório Cristália, da nova planta de biotecnologia e também da expansão da fábrica de medicamentos oncológicos. Presidente, qual o significado dessas inaugurações para o estado e também para a nossa região, economicamente falando? Bom dia.

Presidenta: Bom dia, Karina. Bom dia aos ouvintes da rádio Clube de Itapira. Sabe, Karina, a importância do etanolduto é que é o primeiro trecho do primeiro etanolduto que se faz no Brasil, e é um trecho, como você disse, de 200 quilômetros, 207 quilômetros, e ele vai integrar, quando estiver integralmente pronto, o modal de sistema de dutos com o de hidrovia, a hidrovia do Tietê. O que é que significa isso? Significa que, em vez de você transportar por caminhões, o etanol, você vai transportar nos dois sistemas muito mais baratos, que é o sistema de dutos e a hidrovia, e isso vai baratear o preço do etanol, o etanol vai se tornar mais competitivo ainda e isso vai se traduzir em emprego e renda para a população. Primeiro, porque o etanol emprega muita gente, tanto nas usinas como na lavoura, mas também porque é um sistema muito menos agressivo ao meio ambiente, e o fato de você não usar caminhões é algo fundamental. Então, esse é o primeiro, vamos dizer, a primeira grande contribuição, eu acho, para o Brasil que ocorre aqui no estado de São Paulo, que é a construção de uma nova logística de transporte de etanol.

A segunda – e nós estamos aqui hoje na Cristália – é algo muito importante. Nós vamos inaugurar um setor de biotecnologia e, ao mesmo tempo, a ampliação da farmoquímica. Você sabe que a biotecnologia é, de fato, a fronteira do conhecimento na área da produção de medicamentos. Em vez de você fazer de forma química... vou tentar explicar, assim, eu não sou especialista, mas eu acho até que fica mais fácil. Em vez de você fazer quimicamente os produtos, você usa ou células animais ou células vegetais para extrair o remédio, e eles são extremamente eficazes. Ao mesmo tempo, a Cristália é 100% uma empresa brasileira, e ela está transferindo... ela tem uma capacidade de pesquisa e desenvolvimento científico e transfere essa produção, com essa qualidade para o sistema SUS. E quais são os medicamentos? Basicamente os tratamento de câncer, vou dar exemplo, de colo de útero e mama, em mulheres, e também, algumas doenças de câncer gastrointestinal. Então, isso é muito importante porque barateia os medicamento. O Brasil... o governo federal é um grande comprador de medicamentos. A Cristália, então, ela está produzindo e transferindo para nós porque nós fazemos uma parceria, ela pesquisa junto com os nossos laboratórios públicos, ela desenvolve a produção através de financiamento do BNDES, e ao mesmo tempo, o Estado exerce o poder de compra garantindo a ela um horizonte sem risco, e isso permite que nós tenhamos remédios muito mais baratos no sistema SUS.

 

Jornalista: Presidente, o BNDES é hoje o principal instrumento de financiamento de longo prazo para investimento em todos os setores da nossa economia. Há alguma proposta nova, direcionada à prefeituras no tocante a investimentos?

Presidenta: Olha, todos os... tanto o governo federal quanto o BNDES, eles hoje fazem programas específicos para os municípios. Como é que funciona?  Geralmente o governo federal entra com uma parte, que é orçamento geral da União, portanto, sem custo para o município. E a outra parte quem financia é o BNDES, obviamente, a juros mais baixo. Vou te dar um exemplo: o total de financiamento hoje para municípios, para todos os municípios do Brasil, monta hoje a R$ 125 bilhões em obras de infraestrutura urbana, as mais variadas. Uma parte, para os municípios com mais dificuldades, é o orçamento, mas geralmente, é uma combinação dos dois, uma mistura, o dinheiro é mais barato, que não custa, com o dinheiro do financiamento. Para você ter uma ideia, desses R$ 125 bilhões, uma das coisas mais importantes é a obra de saneamento – esgoto e água tratada para o município, é fundamental – para isso são R$ 28 bilhões. Para a infraestrutura viária - porque nós também estamos financiando estrutura viária, tanto para mobilidade urbana também, quanto pavimentação - são R$ 15 bilhões para urbanização. Depois, para drenagem... eu ontem, inclusive, estive lá em Ribeirão Preto, e uma das coisas que a prefeita comentava era justamente o fato de que nós investimos um dinheiro lá em Ribeirão Preto e o alagamento que era característico do centro da cidade acabou, porque são obras caras de drenagem, por exemplo, R$ 16 bilhões. Nós estamos agora em um processo de seleção aberta para todos municípios de R$ 31 bilhões. Para que? Para pavimentação, para saneamento, para centros de iniciação integrada de artes e esportes, para postos de saúde, para quadras esportivas e para cidades digitais.

Jornalista: Seria nova essa, então?

Presidenta: Essa é inteiramente nova, essa está abrindo agora. Além disso, eu acho que tem duas coisas que eu considero importantes para os municípios. Você sabe que uma parte, quase noventa por cento, um pouco mais talvez, dos municípios brasileiros tem menos de 50 mil habitantes. São grandes responsáveis eles pelas estradas vicinais. São aquelas estradinhas que escoam a produção em todos os municípios.

Jornalista: Agrícola?

Presidenta: Isso. O que nós fizemos para dar uma contribuição para eles? Nós damos um kit hoje, o governo federal fornece o kit, que é uma motoniveladora, uma retroescavadeira e um caminhão caçamba. Para eles poderem manter as estradas que têm e, eventualmente, também abrir novas estradinhas. Ao mesmo tempo nós abrimos um programa bem forte, que é o Minha Casa Minha Vida, que nós já contratamos 1 milhão e 280 mil moradias e vamos contratar mais 1 milhão e em torno de 560 mil moradias. Isso significa que nós vamos ter um grande avanço nessa questão de habitação popular, porque desde o BNH, o BNH foi em 70, né? Desde o BNH você não tinha um programa de investimento na área de construção de moradias desse porte, principalmente para a população de mais baixa renda. Por quê? Porque geralmente uma casa ou um apartamento custa em torno, vamos dizer, vamos falar por baixo, vamos falar R$ 50 mil. Uma pessoa que ganha salário mínimo, ela não tem condição de pagar isso. Então é necessário que o governo subsidie. Nós subsidiamos a moradia para essa população. E eu queria dizer mais uma coisa. Nós, de fato, estamos fazendo um grande programa com as prefeituras de investimento. As prefeituras hoje, elas têm geralmente uma reclamação. Elas falam: ‘Ah! Mas nós gostaríamos muito também de ter um apoio para custeio.’ O que é o custeio? É a manutenção, é o pagamento de pessoal, é a compra e a garantia que a continuidade daquele serviço vai ocorrer.

Nós nos sensibilizamos por esse fato e transferimos, agora, R$ 3 bilhões para as prefeituras, sendo que R$ 1,5 bilhão sai agora em agosto ainda, assim que o Congresso – eles aprovam ainda este mês – aprovar o projeto de lei, e a segunda parcela sai em abril. Com isso a gente pretende estar garantindo às prefeituras um suporte...

Jornalista: Para todas, todas as prefeituras.

Presidenta: ...para todas, sem exceção, aí não importa o tamanho da prefeitura. E também acredito que essa iniciativa do Mais Médicos vai ser importante porque falta médico no Brasil. Mesmo aqui em São Paulo, aqui é o estado mais rico do país, onde mais forma médicos, você não precisaria de ter mais médicos. Mas houve pleitos aqui no estado, mais de 300 municípios pediram médicos e nós iremos arcar com o custo da bolsa. Os R$ 10 mil que nós vamos pagar para os médicos, o governo federal arca com esse custo, o que também eu acredito que vai beneficiar muito os municípios porque essa era uma grande queixa, porque os municípios não conseguiam médicos. Tem 700 municípios no Brasil que não têm nenhum médico, e tem 1.900 que têm menos de um médico por 3 mil habitantes. É óbvio que você precisa também de ter unidades, postos de saúde, unidades...

Jornalista: A estrutura, né?

Presidenta: Você tem de ter estrutura, mas é fundamental que também o médico ocorra. Quando você vê a manifestação das pessoas, elas falam sempre em atendimento médico e atendimento humanizado, ou seja, aquele médico que vai atender e que vai assegurar que a pessoa seja atendida e tenha continuidade no atendimento.

Jornalista: A saúde seria o principal problema hoje no Brasil?

Presidenta: A população brasileira aponta como sendo o principal problema. É um problema que exige um conjunto de iniciativas para você encaminhar a resolução deles. Primeiro você tem de aumentar a formação do número de médicos no Brasil. Se a gente for olhar, nós temos 1,8 médicos por mil habitantes. Olhando em volta... não vou comparar lá com o resto do mundo, não. Vou comparar aqui com os vizinhos: Argentina e Uruguai. Eles têm em torno de 3,2 médicos por mil habitantes. Eles têm quase o dobro que nós temos. Obviamente que isso mostra que o Brasil não só ele tem um número menor de médicos se a gente comparar com o resto do mundo, mas também ele é mal distribuído. Você não tem médicos. Em muitas zonas de periferia mesmo, em grandes cidades do Brasil, como é o caso de São Paulo, você não tem no interior e no Norte e no Nordeste. Nós temos, então, um problema que é a distribuição desigual de médicos. A gente precisa também de aumentar o número de... precisamos de aumentar o número de equipamentos de saúde, tá, Karina, você precisa. Mas, se você for olhar nos últimos anos, até um dado que foi publicado pelo estado de São Paulo, você vê que 70% dos equipamentos fundamentais... aliás, que os equipamentos fundamentais cresceram 70%. No mesmo período, o médico cresceu 15[%]. Então, você tem uma discrepância hoje entre as instalações e os médicos, mas, mesmo assim a gente precisa melhorar as instalações. Então, nós estamos fazendo todo um esforço para aumentar o número de postos de saúde e Unidades de Pronto Atendimento.

Por outro lado, tem de formar médico no Brasil, mais médicos. Então a gente está propondo uma ampliação de 11 mil novas vagas para médicos, na graduação, até 2017, e 12 mil na residência médica, principalmente na residência, olhando aquilo que é mais demandado pela população: pediatria, ginecologia...

Jornalista: Oncologia.

Presidenta: ...anestesista, oncologista. Enfim, aquelas especialidades mais demandadas. Ao mesmo tempo, nós abrimos uma inscrição chamando os médicos brasileiros. Onde não houver médicos brasileiros para atendimento, nós iremos trazer médicos de fora. Médicos de fora podem ser até brasileiros formados no exterior. Quando se fala médico lá de fora, estrangeiro, é médico cujo diploma não é brasileiro. Então, para atender emergencialmente, nós iremos pagar, então, uma bolsa de R$ 10 mil para essas pessoas, para esses médicos atenderem justamente onde os médicos brasileiros não se dispõem a ir.

Jornalista: Eu sei que é muito cedo para falar, mas, a eleição em 2014, a Presidente concorrerá a reeleição, e como a Presidência analisa esse cenário que vem se desenhando, Aécio, Marina.

Presidenta: Karina, veja bem como é que a situação é interessante: eu sou presidente da República, as outras pessoas querem ser presidente da República. Eu quero exercer meu mandato, eu não quero ficar discutindo eleição. Eu quero discutir meu governo. Então, esse é o tipo da preocupação que não é minha, é daqueles que querem virar presidente da República, e eu sou presidente, os outros querem ser. Então, eu estou em pleno exercício das minhas funções, e o que eu quero fazer? Eu quero exercê-la plenamente nesse período. E o que isso significa? Trabalhar para resolver os principais problemas do nosso país – nós estávamos acabando de discutir um que é a questão dos médicos e da saúde; outro, a questão dos recursos para a educação, nós estamos em plena discussão dos royalties. O governo vem defendendo há muito tempo que a destinação dos royalties devia ser para a educação, porque nós precisamos de creche, nós precisamos de educação em tempo integral, nenhum país é desenvolvido se não tiver educação em tempo integral, nós precisamos de educação técnica, nós precisamos alfabetizar nossas crianças na idade certa. Educação em tempo integral vai exigir dinheiro, recursos, porque você dobra o turno, e não dobra o turno só para a pessoa, a criança ou o jovem aprender arte e esporte, aprende arte e esporte, mas, sobretudo, matemática, português, ciências e uma língua. Então, eu estou em pleno exercício da minha atividade governamental. Eu não tenho porque discutir e antecipar discussão de eleição. Então, vou te dizer uma coisa: para mim esse problema é dos outros candidatos e não meu. Eu sou presidente.

Jornalista: Obrigada mais uma vez por todas as informações, por ter participado conosco, mais uma vez agradecemos, Dilma.

Presidenta: Karina, foi um prazer falar com você, viu Karina, e queria mandar um abraço para todos os nossos ouvintes da Rádio Clube de Itapira e dizer que eu estou muito feliz de estar aqui, porque eu acho esse empreendimento da Cristália um grande avanço no nosso país. É a produção com pesquisa, desenvolvimento e inovação, em ciência aplicada à produção de remédios que são, alguns deles têm o poder até de salvar vidas. E isso é de fato um momento especial. As pessoas que são responsáveis por essa fábrica merecem todo o nosso reconhecimento. Um abração, Karina.

Jornalista: Obrigada.

 

Ouça a íntegra (16min42s) da entrevista da Presidenta Dilma

 

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Assunto(s): Governo federal