30-10-2013 - Entrevista exclusiva concedida pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, para as rádios Cultura AM, de Foz do Iguaçu, e Banda B AM, de Curitiba
Palácio da Alvorada, 30 de outubro de 2013
Jornalista: Agora eu vou dar um bom dia para a presidenta Dilma que está no Palácio [da] Alvorada, em Brasília. Presidenta, bom dia.
Presidenta: Bom dia, Luiz Carlos. Bom dia rádio Banda B AM de Curitiba.
Jornalista: E também para a rádio Cultura de Foz do Iguaçu, presidenta. O Nelson Rodrigues está aqui comigo em Curitiba também, viu.
Presidenta: Bom dia, Nelson Rodrigues. Bom dia, rádio Cultura AM de Foz.
Jornalista: Bom dia, presidenta, honrados com a sua referência por nós aqui.
Presidenta: Eu também estou muito honrada de estar falando para vocês e para os ouvintes tanto da rádio Cultura AM quanto da rádio Banda B AM.
Jornalista: Presidenta, uma pergunta, ela parece muitas vezes, assim, bem ingênua: a senhora gosta de ser presidenta?
Presidenta: Olha, eu vou te dizer, viu, Luiz Carlos, ser presidenta tem momentos muito bons. Principalmente, quando a gente consegue resolver, de fato, os problemas da população. Eu acho... eu me sinto muito bem como presidenta, por exemplo, no Mais Médicos. Mas como tudo vida, em qualquer atividade, você também tem dia que você tem algumas tristezas. Eu te digo um dia, aquele dia em que eu tive que visitar, eu saí de Lima e fui até Santa Maria por conta daquele incêndio que tinha matado muitos jovens. Então, aquele foi um dia triste. Mas na maioria dos dias quando a gente está resolvendo os problemas da população, eu quero te dizer, que eu gosto de ser presidenta.
Jornalista: O que é que deixa a senhora chateada, hein?
Presidenta: Como eu te disse, aqueles momentos, como Santa Maria, que eu acho que foi um momento assim em que você vê uma porção de vidas jovens, vidas humanas perdidas. Quando a gente assiste uma violência muito grande como a que atingiu aquele jovem negro, recentemente, lá em São Paulo, ou quando você vê o coronel da PM ser barbaramente agredido. Isso me deixa muito triste.
Jornalista: Na sua opinião, o que tem que ser feito com esses mascarados, hein?
Presidenta: Olha, eu quero te dizer que eu defendo qualquer manifestação democrática. Agora, sem sombra de dúvida, eu acredito que a violência dos mascarados não é democrática, é antidemocrática, uma barbárie e acho que ela tem que ser coibida. É necessário que tanto a justiça como os órgãos responsáveis coíbam essa violência garantindo à população que não haja nem violência física contra pessoas nem ataques ao patrimônio público ou privado.
Jornalista: Presidenta, a senhora esteve ontem em Curitiba numa festividade, anunciando verbas para a mobilidade. A senhora pode falar sobre isso?
Presidenta: Olha, perfeitamente. No que depender do governo federal, eu queria te dizer, viu, Luiz Carlos, que Curitiba vai ter metrô. Ontem eu anunciei um investimento de R$ 3,2 bilhões no metrô de Curitiba, nesse projeto novo. Nós vamos entrar com [R$] 1,8 bilhões do Orçamento Geral da União, que são recursos a fundo perdido, portanto, não reembolsáveis, e em torno de [R$] 1,4 bilhão em financiamento. E é um financiamento bem adequado com 30 anos para pagar, 5 anos de carência e juros subsidiados.
E eu queria te dizer que esse apoio do governo federal corresponde a 70% do custo total do metrô, parece que está estimado em R$ 4,5 bilhões. É um metrô importante, primeiro metrô de Curitiba, vai ter mais de 17 km, será totalmente subterrâneo. A boa notícia, também, é que a prefeitura já teve resposta nas suas propostas de manifestação de interesse, então a obra vai ser mais rápida, o edital vai ser publicado logo e isso vai permitir que a obra comece.
Curitiba tem uma tradição, né, ela foi durante muito tempo, e ainda é, modelo de transporte público. Foi a primeira cidade do mundo a, em [19]74, a implantar um sistema, o ligeirinho, que é de fato a origem do chamado BRT, que hoje é adotado, não só no Brasil, mas em várias capitais do mundo inteiro. Esse sistema, sem dúvida, é muito eficiente, e a cidade sempre foi beneficiária dele. Esse sistema – que é o transporte em canaletas segregadas, em canaletas específicas, onde só passa o ônibus –, ele foi responsável por um transporte de muita qualidade aí em Curitiba. Mas todo o sistema, ele tem de se adaptar. A cidade cresce, as demandas se modificam, as pessoas vão precisar de um transporte de massa mais robusto, e aí entra a importância do metrô. Então, acredito que o metrô vai, de fato, beneficiar bastante Curitiba. Além disso, com a prefeitura, nós estamos também fazendo várias parcerias, justamente ampliando BRTs, né, e, por exemplo, o da linha verde – o BRT da linha verde – e também o BRT Anel Inter 2, entre outros. Com o governo do estado também, nós estamos financiando projetos que vão dar origem a 20 km de outros BRTs.
Queria dizer também que esse conjunto de obras vai, sem dúvida, melhorar – e é isso que nos importa –, melhorar a vida das pessoas aí em Curitiba, permitindo que elas tenham mais qualidade de vida. Porque todo o transporte coletivo, ele tem um objetivo, que é ganhar o tempo. Para quem? Para cada um de nós, para que as pessoas não fiquem durante um tempo muito grande tendo que gastar tudo que ela pode usar em lazer, em estar com os filhos e estar as famílias, do trabalho para casa, da casa para o trabalho, ou até as crianças e os jovens, da casa para a escola e da escola para casa. Então, o transporte urbano de massa, ele tem uma importância estratégica. Por isso que o governo está investindo nessa segunda etapa, porque da primeira nós investimos [R$] 90 bilhões, e nessa segunda etapa nós estamos investindo [R$] 50 bilhões e fazendo metrô em quase todas as grandes capitais do país.
Jornalista: Presidenta Dilma, na verdade o volume de dinheiro é mais de 5 bilhões, né, aqui para Curitiba e regiões metropolitanas?
Presidenta: Isso. É porque você não está... aí eu não falei apenas... eu falei, basicamente, do metrô. Nós estamos investindo aí em torno de [R$] 6 bilhões, na verdade. Eu vou te explicar por que. Porque tem esse recurso que é do metrô, tem o dos BRTs e, além disso, nós estamos fazendo também obras de mobilidade urbana, ou seja, de BRTs, em Londrina, Foz do Iguaçu e Maringá, em três outras cidades. Então, na verdade, são [R$] 6 bilhões. Ontem o prefeito estava dizendo que nos últimos 20 anos, né, ninguém investiu, em nenhum momento o governo federal investiu isso no Paraná e em Curitiba, especificamente. É importante sinalizar que, de fato, é um investimento volumoso do governo federal. Sabe, Luiz Carlos, o governo federal não tinha essa prática de fazer esses investimentos nas capitais do país. É importante – e isso nós temos a convicção – que haja essa parceria, governo federal, governo do estado e prefeituras. Prefeituras, aí justamente essas quatro: Curitiba, Maringá, Foz do Iguaçu e Londrina são cidades importantes e médias, onde vive uma parte significativa dos paranaenses. Daí porque o governo federal está fazendo esses [R$] 6 bilhões de investimento.
Jornalista: Presidenta, o Hospital de Clínicas, aqui em Curitiba, é o maior hospital do Paraná. O Hospital de Clínicas está com equipamentos novíssimos, moderníssimos e estão parados, e alguns leitos sendo fechados. A alegação é de que falta funcionário. O que é que a senhora pode dizer para o povo a respeito disso?
Presidenta: Olha, eu vou te dizer uma coisa, Luiz Carlos, esse é um problema muito sério. Nós, do governo federal, enviamos ao Congresso e aprovamos a criação de uma empresa brasileira de serviços hospitalares. Essa empresa brasileira foi aprovada em 2011, ela é 100% pública, 100% SUS e está atuando em parceria com os hospitais universitários, justamente para essa questão de pessoal e necessidade de serviços. Por que é que essa empresa foi criada? As universidades federais que têm autonomia garantida na Constituição, elas antes usavam suas fundações para contratar funcionários. Tanto o Ministério Público como o Tribunal de Contas da União, consideraram essa contratação de funcionários através das fundações, sem concurso público, ilegal. Foi por isso que o governo federal criou essa empresa. Essa empresa, ela seria responsável justamente por fazer os concursos e contratar o pessoal. As universidades que têm autonomia, como eu te disse, elas têm de decidir aderir a essa empresa. Se elas aderirem a essa empresa, elas têm o mecanismo absolutamente legal de fazer os concursos de contratar pessoal. Assim, a Universidade Federal do Paraná tem que aderir, por que ela tem que aderir a essa empresa para poder contratar pessoal. Não é falta de dinheiro, é porque tanto o Ministério Público quanto o TCU não concordam com a contratação via fundação. Então, a Universidade Federal não pode mais contratar para o Hospital das Clínicas de Curitiba, não pode mais contratar. O governo espera que rapidamente a Universidade Federal do Paraná tenha condições de aderir à empresa porque não tem nenhum obstáculo.
No caso da desativação de leitos, o Ministério Público do Trabalho do Paraná notificou a Universidade pela quantidade excessiva de horas extras praticadas no Hospital das Clínicas. Então é simples, tem que aderir à empresa, é uma empresa 100%, vou repetir, 100% pública e 100% SUS. Até o momento, para você ter uma ideia, 23 universidades federais, de um total de 33, já aderiram à Empresa Brasileira de Serviços [Hospitalares]. Isso significa que tem 34 hospitais universitários, de um total de 47, que já resolveram ou estão resolvendo esse problema de pessoal. Os concursos públicos para várias universidades estão em andamento. Eu vou te dar uns exemplos: a Universidade Federal do Triângulo Mineiro, a de Brasília, a do Espírito Santo, a do Maranhão, a do Rio Grande do Norte, a de Sergipe, a do Piauí e várias outras estão em processo. Isso é muito importante, porque nós consideramos que essa estrutura vai remediar e superar em definitivo essa questão da legalidade dos concursos feitos anteriormente pelas fundações, e que agora não são mais permitidos.
Jornalista: Pelo que eu entendi – eu vou passar já para o Nelson Rodrigues aqui, presidenta, o Nelson Rodrigues da rádio Cultura de Foz do Iguaçu – pelo que eu entendi nós temos que cobrar agora da Universidade Federal do Paraná que não aderiu, oh, palavras da presidenta, não aderiu ainda a esse programa.
Presidenta: Todos nós devemos cobrar isso.
Jornalista: Nelson Rodrigues da rádio Cultura de Foz do Iguaçu, presidenta.
Jornalista: Presidenta, mais uma vez o meu agradecimento pelo deferimento que a senhora faz com a rádio Cultura e sobremaneira se dirigindo a muita gente aqui na fronteira e não só brasileiros, mas também brasiguaios que ouvem, estavam aguardando a nossa conversa aqui na rádio Cultura. Presidenta, o governo federal se faz presente na fronteira com vários órgãos e a senhora tem dado uma atenção toda especial para Foz do Iguaçu e nas relações com o Paraguai, retomando fortemente as relações com o Paraguai com esse novo governo. Ontem a senhora esteve no Paraguai. Resumidamente, aquilo que Itaipu está fazendo com o Paraguai, o que é que significa, presidenta?
Presidenta: Olha, eu acredito que é muito importante, muito importante o que nós estamos fazendo aí em Foz do Iguaçu na nossa relação com o Paraguai. Ontem eu estive aí e nós inauguramos a linha de 500 kV que vai ligar Itaipu à Villa Hayes, e isso vai significar que em torno de mais de 25% da energia do Paraguai será aí abastecida por Itaipu. Eu considero que essa é uma relação estratégica para o Brasil, a relação entre Paraguai e o Brasil. E aí Foz do Iguaçu tem um papel central. Por isso que também nós estamos propondo a construção da 2ª ponte internacional ligando o Brasil ao Paraguai. Essa ponte, inclusive, vai ser uma ponte estaiada, geralmente ponte estaiada é uma ponte muito bonita, de no mínimo 760 m, e ela vai ligar os dois países, mais uma ligação entre os dois países. Na verdade, é muito importante perceber que o Paraguai tem uma relação histórica com o Brasil. Essa relação está expressa, não só na ponte, não só na linha de transmissão, mas está expressa justamente nisso que você disse, os brasiguaios, né. É uma relação em que há uma interação entre as populações dos nossos dois países. Daí porque eu considero muito importante essa decisão do governo paraguaio de legalizar, de criar todas as condições para legalizar a situação dos brasiguaios e fazer com que essa situação se torne uma situação de maior aproximação entre os países.
Nós temos feito todo um esforço, por quê? Essas grandes obras de infraestrutura – como foi o caso da linha de transmissão, como é o caso da ligação da ponte – nós temos tido a oportunidade de utilizar, aliás, o Paraguai é quem mais utiliza, do Focem (Fundo para a Convergência Estrutural e Fortalecimento Institucional do Mercosul), que é aquele fundo de financiamento de obras de infraestrutura que está ligado ao Mercosul. O Paraguai tem sido o maior beneficiado. Além disso, a gente sabe que as relações complementares, tanto as comerciais como as de integração produtiva entre o Paraguai e o Brasil, elas são estratégicas para o desenvolvimento da região. Porque a ida de empresas brasileiras para o Paraguai cria empregos, cria um dinamismo na região que permite que também o Brasil se beneficie dessa relação. É uma integração regional, uma integração fronteiriça.
Eu citei essas duas obras pelo volume delas. Primeiro porque a linha de transmissão é a maior obra que há, a terceira maior obra no Paraguai depois da própria usina, da usina de Itaipu e [da represa de] Yacyretá. Então, a terceira é essa linha de transmissão que tem uma capacidade imensa, né, de alavancar a economia paraguaia porque garante a energia elétrica. E sem energia elétrica não há industrialização. A segunda é uma obra também muito importante, porque é um investimento feito com recursos do PAC, a da ponte estaiada, em cerca de [R$] 400 milhões. Ela vai permite um tráfego de mercadorias e de pessoas, tanto do Brasil para o Paraguai quanto do Paraguai para o Brasil. Basicamente, nós estamos pretendendo que essa licitação para essa ponte seja feita imediatamente e que essa ponte seja construída para que as coisas avancem nessa direção da maior integração entre os dois países.
Jornalista: Presidenta, aproveitando essa oportunidade que nós temos com a senhora, o MEC, o Ministério da Educação, já anunciou o curso de medicina para Foz do Iguaçu, pela UNILA (Universidade Federal da Integração Latino-Americana), aliás, que é a maior universidade das Américas, muito conceituada e um grande trabalho que faz a UNILA na região fronteiriça e com outros países, até. Presidenta, em nome da população de Foz do Iguaçu, será que a senhora pode dar uma “adiantadinha” um pouco mais nesse curso de medicina para nós, presidenta. É um pedido que eu faço em nome da população nossa.
Presidenta: Oh, Nelson, eu vou fazer todo o possível para dar uma “adiantadinha”. Ontem, inclusive, eu sobrevoei aí, indo para Foz, para a inauguração, justamente, da linha, eu sobrevoei e passei, assim, ao lado do parque tecnológico, onde está situada a UNILA, né. E fiquei impressionada com o tamanho da obra. Eu te asseguro, essa é uma obra importante, não só pelo curso de medicina, mas também pelo curso de medicina. E também ontem nós estávamos avaliando o Mais Médicos, que é aquele programa que leva médicos para todas as cidades e regiões do Brasil que precisam de médicos, né, que são carentes de médicos. Geralmente áreas que estão na periferia das cidades, no interior, cidades médias no interior e cidades mais distantes. Aí no Paraná são 77 médicos que chegam nessa leva agora. É óbvio que quando você faz um curso de medicina, você cria condições para que o médico que estude, que faça sua residência nessa região permaneça aí e com isso sirva a população. Daí eu concordo com você. Eu vou dar uma, como você falou, uma “aligeiradazinha” nessa faculdade de medicina. São 60 vagas na UNILA, né, agora em 2014, que serão abertas para o curso de medicina.
E eu queria te dizer, viu, que fiquei impressionada com essa obra e acho que a UNILA será, de fato, mais um fator de integração. Nós estávamos falando há pouco do que faz a integração entre dois países. A UNILA fará a integração do Brasil com vários países, porque ela vai trazer estudantes de outros países para vir para cá. Isso eu acho uma questão importantíssima, porque é aquele vínculo entre os jovens e entre aqueles que estão no início da vida construindo a sua vida profissional.
Jornalista: Uma deferência do povo do Paraná em relação à sua excelência presidenta da República, Dilma Rousseff. Obrigado, presidenta.
Presidenta: Olha, eu queria agradecer a você, Nelson Rodrigues, e à rádio Cultura AM, de Foz do Iguaçu. Desejar um bom dia a todos os paranaenses. E a você, Luiz Carlos Martins, da rádio Banda B AM, de Curitiba, também queria dar meu bom dia e todo o meu agradecimento por essa oportunidade de falar com os curitibanos e com o povo do Paraná. Muito obrigada a vocês e tenham um bom dia.
Ouça a íntegra (23min13s) da entrevista da Presidenta Dilma