Vídeo da entrevista coletiva concedida pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, no Hotel Waldorf Astoria - Nova York/EUA
Nova York, 22 de setembro de 2011
Presidenta: Bom, eu queria, primeiro, dizer que foi uma viagem com muitos compromissos. Nós tivemos oito encontros bilaterais com vários presidentes e chefes de Governo. Tivemos também três reuniões importantes na ONU, uma relativa a doenças crônicas não transmissíveis; uma outra relativa à questão do empoderamento das mulheres e da participação das mulheres; uma terceira reunião a respeito da questão da segurança nuclear; e a abertura da 66ª Reunião, Debate Geral da Assembléia...
(falha no áudio)
...acumulação de reservas. E também temos recurso a toda a regulação dos bancos brasileiros, que é muito sólida essa regulação, que é responsável, por exemplo, por em torno de R$ 420 bilhões depositados no Banco Central, a título de depósitos compulsórios. Nós temos bancos saudáveis, nós temos uma situação diferenciada.
Agora, sem sombra de dúvida, essa segunda fase da crise econômica, como ela não é aguda, ela pode até se agudizar bastante, mas, além de aguda, ela parece ter uma característica sistêmica, assim, permanente - e isso significa uma economia, durante algum tempo em recessão - o Brasil tem de se preparar cada vez mais para isso.
Neste momento, que é um momento de volatilidade dos mercados, de nervosismo dos mercados, a nossa atitude é de calma, tranquilidade e de estabilizar todo o processo. Tanto o ministro Tombini – eu repito –, quanto o ministro Guido, estão tomando as providências cabíveis. Mas nós não estamos tomando ainda nenhuma medida inusual. São as mesmas medidas de sempre: os swaps, e eventualmente, também ainda não compramos dólares, assim, em quantidade, porque não tem problema no mercado spot, e acredito que as coisas vão se ajustar.
Agora, quero dizer que nós estamos prontos, completamente prontos. Monitoramos a nossa economia todos os dias e a mesma coisa fazemos com a economia internacional. E esperamos, com muito empenho, e por isso estamos participando de todos os fóruns multilaterais, de todos os encontros com presidentes, e falei isso dentro da Assembleia Geral.
(falha no áudio)
Esperamos que a crise seja resolvida. Nós não somos responsáveis pela crise e não somos aqueles que sofrem a crise diretamente. Não somos. Não há a menor dúvida. Mas também não se pode alegar que não soframos as consequências indiretas da crise. Sofremos. Primeiro, porque o mercado internacional reduz, não é? Ele se reduz, na medida em que as economias desenvolvidas diminuem o tamanho de seus mercados, na medida em que há desemprego, na medida em que há contração da demanda.
Sofremos as consequências e, como sofremos as conseqüências, julgamos que temos todos os direitos de participar e de discutir as saídas. Consideramos que é importantíssimo que a prioridade seja dada para a solução da crise soberana, que se constitua um processo de resgate ordenado, de qualquer forma, ordenado da Grécia, que se delimite os efeitos e as consequências da situação grega, impedindo que ela afete outras economias e, portanto, a partir daí, que ela tenha efeito de afetar outras mais ainda.
E julgamos que o G-20, na França, tem de tratar das questões relativas à nova configuração tanto dos organismos multilaterais, também, quanto a configuração das soluções para a saída dessa crise, que eu não acredito que seja passível de ser dada pela ação de uma economia ou de um grupo pequeno de países. Acho que é uma questão que nós temos de procurar a solução conjuntamente nos moldes, até muito bem feitos, daquele momento em 2008/2009 quando o mundo reagiu de forma organizada e coordenou políticas macroeconômicas.
Jornalista: (inaudível)
Presidenta: Olha, é... tudo indica que a tendência internacional é deflacionária. Mais cedo ou mais tarde, essa característica vai ocorrer no mundo. Nós sempre, eu sempre digo para vocês que, do ponto de vista da nossa preocupação com a inflação, ela é perene. Sempre o nosso olhar está dividido entre olhar a inflação e, ao mesmo tempo, sustentar o crescimento. E combinar esses dois... essas duas formas de perceber a questão.
Eu disse ontem que não é possível mais dar respostas antigas e velhas e ultrapassadas, e que é importante procurar respostas novas para problemas novos. Eu não acredito, de maneira alguma, que se saia da crise produzindo recessão. Acho que não se sai até porque eu vi recentemente uma declaração do Fundo Monetário que dizia o seguinte: o risco na economia internacional é de uma espiral recessiva. Ou seja, nós reduzimos o crescimento. Quando você reduz o crescimento, você reduz a capacidade da economia pagar suas dúvidas. Assim sendo, você aumenta o déficit. Assim sendo, você exige mais restrição. Assim sendo, você aumenta a dívida, aumenta o déficit e exige mais recessão. Essa é a típica espiral recessiva em que está imersa a Grécia.
Nós não só não concordamos com isso, como temos a experiência de duas décadas perdidas a respeito desse método de saída. Agora, eu acredito que vai ser necessário desvalorizar as dívidas existentes. Sem isso, você também não sai. Então, é... o Brasil está numa situação tranquila, nós não podemos ficar pregando receituários para o mundo, nós queremos é participar, assumir nossas responsabilidades.
Uma das nossas responsabilidades é garantir que a economia internacional não seja... não tenha um nível de crescimento muito baixo. É uma responsabilidade dos emergentes, porque somos os segmentos hoje que seguram o crescimento internacional e queremos participar da solução. Queremos assumir as responsabilidades de participar da solução. Obviamente não podemos substituir a iniciativa de ninguém, até porque essa crise não é necessariamente por falta de recursos financeiros. É por concepção política e por, eu diria, necessidade de medidas que, quanto mais céleres forem, melhor será para todos nós.
Jornalista: Presidente, eu queria que a senhora comentasse a aprovação da Comissão da Verdade no Congresso Nacional. A senhora mencionou esse projeto no seu Encontro sobre Governos Abertos e houve... Eu soube que a senhora atuou para a aprovação desse projeto ontem, no Congresso, houve contatos com a senhora pela ministra Maria do Rosário – que a senhora comentasse.
Outra coisa também que está atrasado no Brasil é a criação da Agência Nuclear, que a senhora hoje defendeu que essas armas sejam completamente destruídas, que a ONU deve acompanhar isso e haver mais fiscalização. Como é que o Brasil vai atuar nesse processo, na questão interna das usinas...
Presidenta: Vamos fazer o seguinte, gente...
Jornalista: Que podem até ser... Se elas vão continuar.
Presidenta: Um acordo. Vamos fazer um acordo? É o seguinte o acordo: aqui, eu respondo pelas coisas daqui, porque são várias. Lá no Brasil, eu respondo pelas coisas do Brasil.
Eu te falo, assim, bem simplificadamente, não vamos debater isso aqui, mas eu respondo por respeito...
(falha na gravação)
Jornalista: Boa tarde, Presidente.
Presidenta: Boa tarde.
Jornalista: Sandra Coutinho, da Globonews. Eu queria perguntar para a senhora se a senhora recebeu alguma repercussão para as propostas do discurso de ontem, de líderes mundiais, se a senhora recebeu apoio para outras propostas, além do Conselho de Segurança. Porque a senhora falou do seu pleito, mas eu gostaria de saber de repercussões outras.
Presidenta: Olha, eu queria te dizer o seguinte: no geral, eu recebi muito... eu te diria assim, muita manifestação de concordância, muita manifestação de concordância.
Especificamente houve, eu queria destacar uma, que vai dar origem a uma consequência, que foi a do presidente Juan Manuel Santos, porque com ele eu acertei que nós precisamos estreitar as relações dentro dos países da Unasul e, portanto, que iríamos fazer uma reunião de presidentes de Banco Central e de ministros da Economia da região, mais uma vez, no sentido de concertar, de acertar e de articular todas as reações macroeconômicas que vamos fazer. E também de dar a importância merecida para o nosso mercado regional que hoje é, sem sombra de dúvida, um dos mais interessantes do mundo. Uma ministra argentina usou uma expressão muito boa. Ela disse que nós éramos “apetecibles”. E eu acho que nós somos apetecibles.
________: Vamos lá?
Jornalista: Não, espera aí, sou eu. Lisandra Paraguassu, do Estado de S. Paulo, Presidente. Também nas conversas com os presidentes, especialmente o primeiro-ministro David Cameron e o presidente Sarkozy, eu sei que a senhora tratou da crise econômica mundial e da reunião de Cannes. Eu queria saber se foi acertada alguma coisa para se discutir em Cannes, como uma medida, especialmente em relação à Grécia e a esses outros países que estão em crise?
Presidenta: Olha, o que eu senti é que a questão relativa à Grécia, ela não vai esperar Cannes, não. Eles vão ter de acertar isso antes. Porque Cannes é quando de novembro?
________: Três e quatro de novembro.
Presidenta: Três e quatro de novembro. Ainda tem o resto de setembro inteirinho e todo outubro. Eu acho muito tempo. Acho preferível que... e senti, da parte deles, uma certa sensação de importância na solução desses problemas o mais rápido possível.
Obviamente que o que eu acho que vai estar colocado em Cannes e que eles também se manifestaram nesse sentido é a questão da discussão de como conduzir, como continuar as medidas de reforma dos organismos multilaterais, como o Fundo Monetário, o Banco Mundial, como melhorar a gestão e a concertação das medidas macroeconômicas comuns; quais serão as medidas prudenciais que devem ser tomadas nas esferas financeiras. Enfim, é aquela pauta que já vem de longe e que não foi completada, agora com uma urgência maior e com um cenário mais definido e claro de recessão duradoura ou de, no máximo, estagnação duradoura das economias centrais.
Jornalista: Presidente, boa tarde. Cristina Índio do Brasil, G1 e CBN. A senhora ontem, no discurso, disse que a solução dessa crise tem que ser coletiva. Nesse processo, o que cabe ao Brasil, qual é a participação, qual é o papel que o Brasil desempenha nesse processo coletivo?
Presidenta: Olha, o Brasil está naquela situação em que ele pode desempenhar vários papéis. O primeiro papel é ter... Eu acho que é muito importante diante de uma crise, é participar do diagnóstico. Porque, se você sabe do que essa crise é, você sabe que medidas tomar. Então, nós estamos prontos a participar do diagnóstico. Nós estamos prontos também a dar a nossa contribuição, desde que ela seja uma contribuição que faça parte de um processo de solução do problema macroeconômico, ir muito claramente ao ponto.
O governo brasileiro não acha que nós iremos e que nós solucionaremos o problema europeu, por exemplo, colocando dinheiro das nossas reservas no Fundo de Estabilização, porque não é este o problema. Nós faremos qualquer medida que o mundo reparta entre si, desde que fique claro qual é o caminho que querem adotar. Nós não achamos que a questão – vou repetir – é falta de dinheiro. Nós achamos que a questão é falta de recursos políticos, eu chamaria, como eu disse no meu discurso. Não é de recursos financeiros.
Então, estamos dispostos, nunca nos recusamos, no passado, a participar com recursos financeiros, e estamos dispostos, neste momento, a participar com nossos recursos políticos.
Ministra Helena Chagas: Gente, obrigada. Tem um último, está bom. Só um último.
Jornalista: (inaudível) ...diplomacia, é na atuação... Vinícius Donald, TV Record. É para entender um pouquinho mais esse conceito que a senhora citou agora, de recursos políticos, como que a gente pode...?
Presidenta: Decisão política. Uma delas... Um dos recursos políticos é de decisão política. Há que decidir o que se faz, em relação à Grécia. Ninguém aqui acredita que um pacote de 8 bilhões resolva o problema da Grécia. Então, você tem de buscar a solução que seja politicamente consistente com o problema.
Jornalista: (incompreensível) considera politicamente consistente?
Presidenta: Eu não acredito numa saída para a Grécia que simplesmente obrigue a Grécia sistematicamente a fazer cortes de 20%, cortar todo o seu funcionalismo público, vender o Parthenon... Além de vender o Parthenon, o que mais ela pode vender? As ilhas gregas... Eu não acho que essa solução seja correta.
Jornalista: O que seria consistente, na opinião da senhora?
Presidenta: Acho que seria correto uma linha de financiamento para a Grécia, a redução da dívida grega, uma discussão séria entre os países de como é que a Grécia se resolverá, dentro da União Europeia. Eu não posso te convidar para uma festa de debutante e não deixar você comer o bolo.
Jornalista: (incompreensível)
Ministra Helena Chagas: Gente, obrigada, hein? Obrigada, gente.