Entrevista coletiva concedida pelo presidente da República, Michel Temer, após Primeira Sessão de Trabalho - Hangzhou-China
Hangzhou-China, 04 de setembro de 2016
Jornalista: Presidente, queria voltar um pouco à questão da base aliada. Hoje o senador Aécio Neves falou que o senhor precisa fazer uma DR com o PMDB e que sem o PSDB não há governo…
Presidente: … então é uma DR com o PSDB?
Jornalista: Não, com o PMDB…
Presidente: ah! com o PMDB.
Jornalista: … e ele disse que… e a minha segunda pergunta nessa questão da base aliada é o seguinte: existe o reajuste para o Judiciário, ministros dos STF, é uma questão que também divide os dois partidos. O senhor é contra ou a favor? E em até que ponto isso divide os partidos?
Presidente: Eu vou esperar o Senado decidir. Eu sei que há uma grande divisão no Senado e a minha tarefa será depois da avaliação do Senado. Dependendo o que o Senado decidir, vem para sanção ou veto. E daí é que eu vou examinar. Por enquanto, eu aguardo decisão do Senado, vejo que há uma grande divisão no Senado, mesmo no PMDB, alguns que votam a favor, mas muitos que votam contra. Há o fundamento de que não se pode ter gastos públicos nesse momento.
Jornalista: E sobre a DR.
Presidente: Isso nós vamos discutir o tempo todo. O que eu mais faço é discutir relação. Eu faço isso permanentemente. Também com uma base de quase 20 partidos, se você não fizer isso permanentemente você não consegue manter a base unida. Quando nós tivermos dois, três partidos fica mais fácil. Mas por enquanto nós precisamos conversar permanentemente. Com os amigos do PSDB eu tenho conversado com muita frequência, não foram poucos jantares, encontros que nós tivemos. Eu prezo muito o apoio do PSDB, de todos os partido: o PSDB, o DEM, o PPS, o PMDB e todos. O PMDB é o meu partido. Eu acho que com essa base sólida é que nós vamos conseguir aprovar questões aparentemente difíceis, mas que produzirão efeitos muito benéficos no futuro. Eu até disse isso aqui no meu pronunciamento hoje, que nós estamos fazendo uma revisão, mencionei aquela coisa do teto dos gastos, e eu vi, o que é interessante, que alguns países também têm o mesmo problema e estão tratando da mesma matéria. O teto dos gastos.
Então, eu acho que nós precisamos ter uma base sólida, mas, mais do que uma base sólida, a compreensão dos partidos que nos apoiam. E até o presente momento eu não tenho dúvida dessa compreensão. Porque eu acho que estão todos preocupados, não é em apoiar o governo, apoiar o presidente que chegou agora definitivamente à Presidência, mas apoiar o Brasil. Eu acho que as pessoas têm consciência disso. Então, eu não tenho preocupação. Conversar nós haveremos de conversar sempre, não tenho a menor dúvida.
Jornalista: O senhor disse agora que no G20 as homenagens ao Brasil foram muitas, mas ontem o Papa Francisco, parece que está na linha diferente, ele disse que já não irá ao Brasil como havia prometido, já não sabe se irá ao Brasil como havia prometido, e na ocasião da inauguração de uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, no Vaticano, ele pediu para que as pessoas rezassem por Nossa Senhora da Aparecida para que ela continue protegendo o Brasil nesse momento triste. Por que o senhor acha que ele está vendo o Brasil dessa forma? O senhor acha que ele está equivocado?
Presidente: Não! Equivocado jamais. Eu até quando eu fiz a saudação ao Papa, na despedida dele, ele muito humildemente em um dado momento, ele disse: “olhe, eu quero bater na porta do coração de todos os brasileiros para poder entrar no coração de todos os brasileiros.” Até na despedida, eu disse: o senhor fez como São Pedro, o senhor já abriu a porta do coração de todos os brasileiros, de modo que não é preciso bater mais as portas do coração de ninguém. Primeiro ponto.
Segundo ponto: eu acho que ele revelou uma preocupação com o Brasil, uma preocupação, convenhamos, todos nós temos. Eu acho que a alegria se formará pouco a pouco. Se nós negarmos que nós saímos de um instante um pouco complicado, eu não tenho a menor dúvida disso. Foram três, quase quatro meses de uma problemática político-institucional que gerou conflitos e agora, quando se decidiu, ontem já disse a vocês numa conversa informal, mas já vi que foi publicado, eu disse que uma coisa é manifestação democrática, que é importantíssima.
Olha, eu vou fazer uma observação: quando houve aquele momento de junho de 2013, muitos do governo criticaram o movimento. Eu disse: não, não devemos criticar, não. Isso é exatamente aqueles brasileiros que pedem eficiência do serviço público e que vão às ruas para se manifestar. Tanto que é curioso, aquele movimento de junho de 2013, ele naufragou por causa dos depredadores.
Vocês se lembram quando começaram a depredar, o movimento ficou paralisado, exata e precisamente, porque o povo brasileiro não é afeito à depredação e nem a ordem jurídica admite depredação. Quer dizer, manifestação livre, protesto de natureza doutrinária, política, ideológica é admissível, porém a depredação, isso é delito, isso não é manifestação. E acho que neste sentido é que o Papa, que é sábio, vendo tudo isso ele disse: “Orem pelo Brasil!” Para quê? Para, quem sabe, fazer o que eu tenho pregado: vamos pacificar o país. Quem faz uma oração faz para que uma ação seja pacificadora. Eu acho que é isso que o Papa está pedindo.
Jornalista: Incompreensível.
Presidente: ... não digo que é triste. Ele começa a se alegrar, você veja, o que é alegrar aí? Alegrar é a confiança. E quando você pega os indicadores de confiança, não são indicadores de produção, porque não podemos nos enganar com isso. Mas os indicadores de confiança tanto no agronegócio, como na indústria, nos mais variados setores da indústria, cresceu enormemente.
Eu acho que ontem, conversando com vocês, eu disse: olha no agronegócio, no trimestre anterior a confiança era de 42,2%, no último trimestre foi para 86%, de igual maneira na indústria.
Então, a confiança está crescendo. E quando a confiança cresce o emprego começa aumentar, você naturalmente terá alegria. É claro: quando você fala há 12 milhões de desempregados, há uma certa tristeza nisso, há uma certa indignidade até. Eu to repetindo coisa que eu disse ontem, mas é verdade.
Jornalista: Incompreensível.
Presidente: Não, por favor... Porque certamente talvez, por exemplo, eu não sei quando vou voltar à China, embora tenha um desejo enorme de voltar para a China.
Jornalista: Ele não tinha plano na época?
Presidente: Sim, mas ele não tinha plano. Você me desculpe, mas ele não tinha plano não. Ele disse: “Eu tenho tanto desejo de voltar ao Brasil, que talvez em 2017, 2018 eu volte ao Brasil”. Mas não será... se depender de convite, eu faço o convite.
Jornalista: Incompreensível.
Presidente: Acho que é melhor perguntar para o Papa.
Jornalista: Incompreensível.
Presidente: Ah, se eu for a Roma eu procuro. Aliás, vou contar um episódio a vocês. Vou falar bem de mim. Ele se sensibilizou tanto com o discurso que eu fiz, que quando eu fui representar o Brasil na missa de canonização do padre Anchieta, vocês sabem que ele ia saindo, vocês vejam a delicadeza dele, ele ia saindo por uma parte central, eu estava numa parte lateral, quando ele me viu, ele parou e veio me cumprimentar. Então, ele tem assim uma delicadeza extraordinária, não só pessoal como institucional não é?
Jornalista: Incompreensível.
Presidente: Não dá para discutir com você. Eu percebo, não dá. Você tem uma forma de perguntar, que você quer uma resposta que eu posso dar, não tenho como dar. Se você quiser eu concordo com você. Tá bom. Mas registrem o que eu disse: se você quiser, eu concordo com você, só isso.
Jornalista: Boa noite, presidente. Um dos motivos da sua viagem aqui à China era mostrar ao mundo as oportunidades de investimento no Brasil. Além das condições que o senhor já mencionou ontem, o seu governo em algum momento cogitou a venda de bens públicos, ou seja, a privatização. Eu queria saber se esse plano ainda fica em pé? Para quando seria anunciado, ou se a ideia morreu, talvez por que não tenha clima político no país? E falando em clima político, queria saber se se superou esse episódio da votação dos direitos políticos da ex-presidenta no Senado?
Presidente: São duas vertentes. Uma primeira vertente é a desestatização, que ainda está em pé. Uma outra vertente são as concessões. Vocês sabem que eu criei, nós criamos um órgão especial para fazer as concessões. Nós, o Moreira Franco está cuidando, levantando todas as hipóteses de concessão. E no dia 13 agora nós devemos anunciar aquelas matérias que poderão ser concedidas e de igual maneira desestatizadas. Também no plano da desestatização, o ministro Meirelles está levantando dados para verificar quais os ativos que nós podemos desestatizar. Está tudo em pé ainda, tá bom?