Entrevista coletiva concedida pelo Presidente da República, Michel Temer, durante encontro com imprensa brasileira e internacional - Nova Iorque/EUA
Nova Iorque-EUA, 21 de setembro de 2016
Jornalista: Boa tarde presidente. Presidente o ministro Geddel Vieira Lima, responsável pela articulação política do seu governo, disse ser a favor da anistia à prática do caixa 2. Eu gostaria de saber se o senhor concorda com ele e como o senhor orientará a sua base a respeito?
Presidente: Olha, em primeiro lugar eu li as declarações do ministro Geddel, e ele disse uma opinião personalíssima dele, que não envolvia nem a opinião do governo e, evidentemente, não envolvia a minha. Eu, pessoalmente, esta é uma decisão do Congresso Nacional, mas eu, pessoalmente, não vejo razão para prosseguir, para prosperar nessa matéria. Mas eu reitero que esta não é uma questão do poder Executivo; é uma questão do poder Legislativo.
Jornalista: Orientará a base do governo?
Presidente: Eu vou chegar lá. Isto foi surpreendente pra mim, eu li a notícia aqui. Quando eu chegar lá no Brasil, eu vou examinar essa questão. Não tem orientação nenhuma. Eu não iria dar orientação aqui de Nova York.
Jornalista: Mas o senhor (inaudível)
Presidente: Pessoalmente eu acho que não é bom, não é bom para ninguém. Mas eu vou chegar lá. Eu quero que esclareçam isso, senão parece uma interferência minha no poder Legislativo e vocês sabem que eu não interfiro no Legislativo, nessas matérias nem no Judiciário.
Então registrem bem, que eu vou examinar essa questão lá no Brasil, mas não quero interferir jamais nas competências do Legislativo.
Jornalista: Presidente, o senhor falou agora há pouco que o Brasil vive um momento estabilidade política extraordinária. O senhor disse também que será ou quer ser o responsável por pacificar o Brasil. Mas a aceitação da denúncia contra o ex-presidente Lula não polariza ainda mais as ruas? E o senhor concorda com o presidente do senado Renan Calheiros, que diz que a Lava Jato precisa acabar com exibicionismo?
Presidente: Olha mais uma vez a resposta que eu sempre tenho dado, não é? Na questão da Lava Jato, isso é uma matéria do poder Judiciário. O Poder Judiciário e o Ministério Público que cuidam disso. Não será o poder Executivo quem vai cuidar, primeiro lugar.
Em segundo lugar, eu continuo na tese da pacificação do país. Há alguns movimentos, é bem natural, eu não poderia imaginar que depois de uma fase um pouco complicada politicamente pela qual o Brasil passou, que todo mundo iria aplaudir e haveria unanimidade. Que haja oposição, não há dúvida. Mas isso não perturba a minha tese de pacificação, de reunificação do país. Até porque, eu tenho dito aqui no exterior e tenho dito lá no Brasil, que sem reunificar as várias forças sociais, tendo em vista a crise que nós apanhamos, é difícil sair dela.
Nós estamos fazendo todo esforço, nós estamos contando com o Congresso Nacional, vocês sabem que esta questão do teto é o primeiro tema fundamental para o país. Eu tenho recebido dos partidos políticos a ideia de que vão até fechar questão em torno dessa matéria para não haver dúvida de apoio do Congresso ao poder Executivo.
Jornalista: O que o senhor diz sobre a denúncia do ex-presidente Lula?
Presidente: A questão do Judiciário, do Ministério Público, eu não quero dar palpites. Especialmente porque eu teria maior responsabilidade. Como eu sou da área jurídica, se eu desse qualquer palpite eu estaria avançando em um campo pantanoso. Não dou palpite sobre isso.
Jornalista: Mas não polariza mais o país? Não pode dividir ainda mais o país ?
Presidente: Não sei. Não sei quais serão as reações. Eu acho que deve polarizar no plano jurídico. O plano jurídico certa e seguramente, eu espero que seja assim, o senhor ex-presidente tem condições de ir ao Judiciário e aí, sim, polarizar com argumentos, acho que isso que deve ser feito.
Jornalista: Como é que o senhor recebeu essa denúncia? O senhor pessoalmente conviveu muito com o presidente?
Presidente: Eu recebi como quem, enfim, acha que se eu estivesse no lugar dele eu iria ao Judiciário para debater, simplesmente isso.
Jornalista: O senhor mencionou aqui diversas reformas como teto de gastos e a reforma da Previdência. Existe a possibilidade de ser aprovada algumas dessas reformas ainda nesse ano ou ao menos parte dessas reformas? E o quanto o governo do senhor estaria disposto a ceder nas negociações em termos de verbas, em termos de cargos para eventual aprovação dessas reformas, já que há resistências no Congresso e dentro do próprio partido do senhor a aprovação?
Presidente: O teto de gastos nós vamos aprovar neste ano. A reforma da Previdência não há dúvida, ela envolve uma discussão muito mais ampla. Vocês sabem, isso é tradicional. Já existiram tentativas de reforma da Previdência no passado, como resistências. Então, esta vai ficar para o ano que vem, quer dizer, a aprovação. Ao teto do gasto, tudo está planejado de uma maneira e equacionado, programado para ser aprovado nesse ano.
Jornalista: (incompreensível)
Presidente: Olha se a minha popularidade cair para 5%, mas eu salvar o Brasil nesses dois anos e quatro meses, ou seja, colocar o país nos trilhos, eu me dou por satisfeito.
Jornalista: (incompreensível)
Presidente: Sabe que eu não tenho essa preocupação. Eu tenho preocupação com o país. E tudo que nós estamos fazendo é pelo país. Até, convenhamos, em medidas supostamente impopulares, que impopulares não são, elas visam exatamente a melhorar a situação do país e dos brasileiros. Eu não tenho preocupação com isso.
Jornalista: (em inglês) Como o senhor descreve a legitimidade do seu governo a partir desse particular incidente, quando alguns delegados de países deixaram o plenário durante o seu discurso? E sobre a relação da Venezuela e o avanço do Mercosul?
Presidente: É um programa de governo que você colocou, não é? Mas o caso é o seguinte: primeiro, eu recomendo que leia a Constituição brasileira. Quem ler a Constituição brasileira, basta saber ler, não precisa mais do que ler, não precisa interpretação, para verificar que o governo é legítimo. Em segundo lugar, essa questão de quem sai, não sai, tinham 193 países lá eu confesso que nem percebi a saída. E lamento, porque as relações nesse plano não hão de ser relações governamentais de pessoas, são relações institucionais. A relação de Estado para Estado e não de um governo para outro, ambos transitórios.
Jornalista: Presidente, só uma pergunta (incompreensível)
Presidente: Não, não sabia, é evidente. Vocês sabem que eu não tive participação no governo. Um dia eu mesmo me rotulei como vice-presidente decorativo, porque eu não tinha participação. Eu não acompanhava nada disso.
Jornalista: Obrigado.
Ouça a íntegra da entrevista (06min35s) do Presidente.