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Entrevista exclusiva concedida pelo Presidente da República, Michel Temer, à Rádio Jovem Pan - Brasília/DF

Brasília/DF, 06 de outubro de 2016

 

 

Jornalista: Bom, um momento importante aqui no Jornal da Manhã da Jovem Pan, está conosco o presidente da República, Michel Temer.

Presidente, bom dia mais uma vez, muito obrigado pela gentileza do senhor.

 

Presidente: Bom dia, muito prazer em estar novamente com vocês.

 

Jornalista: Presidente, o senhor faz um esforço para aprovação da PEC do teto de gastos, inclusive pedindo apoio a empresários, mas ontem por exemplo, não teve quórum para votação da LDO. Isso mostra que o senhor vai ter um trabalho redobrado de conversar com os partidos, para aprovar a PEC, presidente?

 

Presidente: Olha, eu tenho conversado muito com os partidos políticos, você sabe, não é? E até esta conversa tem tido bons resultados, tanto que a essa altura praticamente seis partidos, por conta própria, já declararam questão fechada votar na Proposta de Emenda Constitucional que limita os gastos públicos. E eu tenho conversado seguidamente, continuaremos  conversando todos nós, a partir de hoje e até a segunda-feira, quando se dará a votação.

Eu tenho a sensação, pelas reuniões que eu tenho tido com deputados e várias, as mais variadas reuniões, que há muita possibilidade de aprovação. Aliás, eu digo quase segura a aprovação do teto de gastos.

 

Jornalista: Professor Marco Antônio Villa

Presidente Michel Temer, bom dia. Deixa eu perguntar para o senhor uma questão política. O senhor recebeu uma herança maldita econômica, numa situação desastrosa, a pior da história do Brasil republicano, uma situação econômica muito grave e tal. Até o governo agora está fazendo uma campanha que o Brasil vai sair, tem que sair do vermelho, não se tem aí duplo sentido político e econômico. A pergunta que é eu faço é: quando é que, será que a população brasileira poderá saber que governo, que situação econômica que o senhor encontrou nos ministérios, nos bancos, nas agências, em suma, tudo aquilo que de uma forma ou de outra tem relação direta com o governo federal? Não é uma devassa, não é nesse sentido de vingança, ao contrário, é de justiça. Nós sabemos qual é a situação do Brasil quando o senhor assumiu, primeiro como presidente interino e agora como presidente de fato?

 

Presidente: Olha Villa, você sabe que eu fiquei quatro meses como interino e em um mês como presidente efetivo. E você sabe também, tem acompanhado, que eu jamais mencionei o passado porque, evidentemente, que o passado pouco interessa para quem está esperando alguma coisa do governo. Mas a verdade é que houve, digamos assim, tanta agressividade oposicionista, que em um dado momento resolvemos também dizer o que encontramos, porque eu percebi nitidamente, Villa, que daqui a um mês, dois meses, o que se fará é dizer o seguinte. Olha aqui, tudo isso que tá acontecendo é responsabilidade do governo do Michel Temer. Aliás, só para referendar o que eu estou dizendo, quando eu tinha um mês e meio de interinato, não mais do que isso, dois meses talvez, um senador, foi à tribuna para dizer: olhe no governo Michel Temer tem 12 milhões de desempregados. Quando eu vejo essas coisas, eu digo: bom, como são coisas, digamos, inverídicas, falsas, que se dizem, eu temo que daqui há algum tempo se diga que esta herança é fruto do nosso governo. Então, de uns tempos para cá, nós temos dito: olhe, nós encontramos o governo desta forma, desta maneira. E ontem mesmo, quando os jornais publicaram um longo relato, Villa, de item por item, há poucos dias eu falei também, a empresários lá em São Paulo, e até pedi licença, eu disse: olhe vou cansá-los um pouco, mas vou relatar como eu recebi o governo, exata e precisamente, para evitar que se impute a mim, que se dê  mim, que se entregue a mim a ideia de que nós somos responsáveis por isso. Mas nós, convenhamos Vila, nós não estamos muito preocupados com o passado. A não ser, esclarecer para aqueles que não conhecem o passado. Nós estamos é preocupados com o futuro. E daí, a chamada Proposta de Emenda Constitucional para conter os gastos públicos. Aliás, se me permite dizer uma coisa, ninguém pode gastar mais do que arrecada. Até na sua casa, na minha casa. Se de repente eu ganho X, começo a gastar Y... e olhe que o Y que o governo gastou foi muito né, porque nós temos R$ 170 bilhões de déficit nas contas públicas. Então se você gasta mais, você tem que traçar um plano para reduzir as despesas. O Estado brasileiro não está fazendo mais do que isso. Aliás, eu quero também acrescentar, que eu tenho pesquisas revelando que se essa medida tivesse sido tomada há quatro, cinco anos atrás, a administração dos gastos públicos né, nós não teríamos o déficit que temos hoje. Então, eu acredito que nós temos, primeiro: relatado o que aconteceu. Agora, não vamos a todo momento também, voltar ao que aconteceu. O que aconteceu, aconteceu e já está registrado e divulgado não é. Nós queremos é olhar o futuro, queremos olhar o desempregado, não é?

 

Jornalista: Claro. E justamente, presidente, me permita, é sobre esta questão do que encontrou e o que deve fazer. A questão da Previdência certamente é um dos temas e é uma situação muito complicada a necessidade que se fala uma reforma da Previdência. Hoje na Folha de São Paulo, na página três, um presidente de uma central sindical, o senhor Ricardo Patah, presidente da UGT, disse que, faz um artigo com o seguinte título: “O falso déficit previdenciário”. Ou seja, que não há déficit, segundo ele, porque a dívida da Previdência, que tem com a Previdência, é muito superior ao déficit. Presidente, quando nós podemos ter esses números, que envolve todas essas questões como, por exemplo, agora na questão em tela a questão da Previdência. Existe déficit, ela é importante fazer essa reforma? Por que é tão fácil fraudar - e ao mesmo tempo hoje de ter uma ação da Polícia Federal - por que é tão fácil fraudar a Previdência? Quando é que nós seremos uma Previdência que combata a fraude e possa garantir efetivamente a aposentadoria, a pensão daqueles que estão no sistema?

 

Presidente: Eu acho, Villa, precisamente, quando nós conseguirmos aprovar uma revisão da Previdência Social que está sendo ultimada por vários técnicos que estão estudando junto à Casa Civil e Ministério da Fazenda. Eu acredito que uma semana mais ou menos, duas semanas, nós teremos esses estudos concluídos e depois nós vamos mandar para o Congresso Nacional já agora a reforma da Previdência. Eu até lí o artigo do Ricardo Patah, que é um sindicalista muito consciente, tem uma boa consciência das coisas e, naturalmente, você sabe que nós vamos também, digamos assim, asfaltar o terreno. Estou chamando as centrais sindicais para uma conversa, daqui a uma semana. Depois vou chamar outros membros da sociedade, associações, conversar para também e depois naturalmente, com os líderes da Câmara, do Senado para não fazer uma coisa que venha de cima para baixo. Mas uma coisa mais ou menos acertada, ajustada, conhecida, pelo menos. Evidentemente que o déficit da Previdência é assustador. Nós temos mais de R$ 100 bilhões de déficit neste ano. No ano que vem a projeção é de quase R$ 160 bilhões e assim sucessivamente, ou seja, em um dado momento, alguém vai bater às portas do governo para receber a pensão, a aposentadoria e não vai ter dinheiro. Isso já aconteceu, aliás, em alguns países, veja o caso da Grécia. Então, nós vamos ter uma solução para esse problema. Agora, também quero registrar que isso não se faz de um dia para o outro, de um mês para o outro. Nós temos que tomar as medidas agora de natureza legislativa, executiva, para produzir resultados mais adiante. Eu me dirijo especialmente aos jovens que hoje estão trabalhando. Dizer: olhe meu caro, se você não patrocinar, não ajudar nisso, quando você se aposentar não vai ter o que receber. Eu acho que logo nós teremos uma solução para isso.

 

Jornalista: A pergunta agora é de Vera Magalhães.

 

Jornalista: Bom dia presidente, aqui é a Vera, tudo bem? Presidente, enquanto o governo faz esse esforço de comunicação para convencer a população de que é preciso gastar menos, de que é preciso austeridade, que é preciso também um certo sacrifício dela própria da população, porque vai ter corte alí em alguns serviços, mantém algumas práticas antigas, como nomear por exemplo um réu, o deputado Marx Beltrão para o  Ministério do Turismo. Não existe uma contradição entre pedir a compreensão da população para essa defesa da responsabilidade da unidade fiscal e a manutenção de uma certa irresponsabilidade no campo da política? Quando que vai haver condescendência zero com a corrupção?

 

Presidente: Olha, Vera, em primeiro lugar, porque você sabe o quanto, embora eu reitero sempre, o Executivo jamais vai poder interferir no Judiciário, no Ministério Público, mas eu tenho, diante de insistentes perguntas, dito o seguinte: olha aqui, em matéria de Lava Jato, o governo jamais vai interferir. Ao contrário, vai sempre prestigiar. Acho que está fazendo um benefício ao país e que vá para frente. Primeiro ponto. Segundo ponto, o Beltrão que foi agora nomeado ministro, não está envolvido na Lava Jato. Sabe qual é o caso dele? O caso dele é o seguinte: ele era prefeito de uma pequena cidade lá de Alagoas e formou-se um fundo de Previdência complementar, e em um dado momento a prefeitura mandou para o INSS algumas guias de recolhimento sem o correspondente pagamento. Mandou as guias sem ter recolhido. Foi um equívoco, sem dúvida nenhuma. O Ministério Público de lá, detectando isso, entrou com uma ação e quando entraram com a ação, eles, a prefeitura, imediatamente recolheu os valores. Bom eu esperei um tempo, embora convencido, com toda franqueza, de que aquele pagamento, de qualquer maneira, ele impede qualquer condenação. Isso é tranquilo no Supremo Tribunal Federal. Mas eu esperei um tempo para verificar se o caso dele seria julgado pelo Supremo. Já que tendo sido ele eleito deputado federal, o caso veio para o Supremo Tribunal Federal. Mas percebi que isso só vai se solucionar talvez no ano que vem. Muito bem, recentemente, eles me trouxeram parecer do professor Aristides Junqueira, ex-Procurador-Geral da República, dizendo mais ou menos isso que eu estou dizendo aqui, juntou vários acórdãos, do Supremo Tribunal Federal dizendo: olhe, se houve algum equívoco e olhe se houve também o pagamento, não há mais como condenar o indivíduo.

Então veja, não foi um crime praticado, até digamos assim, de natureza muito pessoal, como um crime, digamos, da Lava Jato, qualquer coisa dessa natureza. Foi um crime mais institucional. Então eu em um dado momento disse olhe, está há muito tempo com um ministro interino, eu vou nomear o Marx Beltrão, estou pessoalmente convencido, veja bem, tomando toda cautela para dizer que a decisão evidentemente é do Supremo Tribunal Federal, isso não significa nenhuma influência, é uma mera opinião jurídica minha, e no particular alicerçada, ancorada, pelo parecer do Aristides Junqueira.

 

Jornalista: A pergunta agora é de Denise Campos de Toledo, presidente.

 

Jornalista: Presidente eu queria entender exatamente o objetivo da propaganda que começa a ser feita agora para tentar garantir apoio do governo, nessa questão da PEC dos gastos. Porque é consenso da sociedade que há necessidade do setor público cortar gastos mesmo. Há muito tempo, aliás, isso é cobrado do governo, já foi alvo do processo de impeachment da presidente Dilma, exatamente essa irresponsabilidade. Agora, acho que do ponto de vista de comunicação com a sociedade, o desafio muito maior para o governo vai ser a reforma da Previdência. Hoje, essa tentativa de obter o apoio da sociedade para PEC, tem a ver com dificuldades mesmo de tramitação no Congresso? Há um receio que o Congresso não apoie essa PEC, presidente?

 

Presidente: Não, Denise. Você sabe que não há esse receio, acabei de dizer, até, que nos contatos todos que nós estamos mantendo, nós vamos ter uma ampla maioria. Porque nós precisamos de 308 votos, uma maioria qualificada, portanto. Mas, você veja, ao longo do tempo a sociedade sempre cobrou que o Estado contivesse seus gastos públicos, o que não foi feito ao longo do tempo. Nós resolvemos fazê-lo. Fazê-lo de uma maneira muito objetiva com essa Proposta de Emenda Constitucional. Agora, todos me dizem o seguinte: olha aqui, não basta convencer o Congresso, é preciso que a população também, o povo esteja convencido disso; que o desempregado saiba que esta Proposta de Emenda Constitucional, visa exatamente a criar uma credibilidade, uma confiança, geradora de investimentos que permitam empregos. Então nós fizemos esse esclarecimento. Veja que esse esclarecimento começou ontem e vai até domingo, por aí, em relação ao teto. Agora, subsequentemente depois, nós vamos, quando lançarmos a reforma da Previdência no Congresso, daí nós vamos esclarecer. Não será esclarecimento apenas ao Congresso, mas a todo povo brasileiro a importância da aprovar uma reformulação previdenciária. Eu acho que isso ajuda, porque você sabe que eu passei 24 anos no Legislativo e o Legislativo também se sensibiliza pela opinião pública. Então, se a opinião pública estiver sensibilizada favoravelmente, isto também ajuda o voto do parlamentar.

 

Jornalista: Presidente Temer, é Joseval Pessoa saudando a sua pessoa. Nossa Constituição fala no inciso 57 do artigo 5º que ninguém  será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. A pergunta é para o constitucionalista. O que o senhor achou da decisão do Supremo ontem, cortando, na verdade, esse preceito da Constituição?

 

Presidente: Você sabe Joseval, nós que somos velhos amigos lá na academia, não é? Hoje não fala mais o constitucionalista, fala o presidente da República. Então é preciso muita cautela com aquilo que se diz. Eu não posso ficar a todo momento, fazer avaliações do que o Supremo decide ou não decide. Mas eu creio que foi uma maioria, uma maioria até apertada, foi seis a cinco para definir, alguns evidentemente, baseando-se no dispositivo constitucional que você acabou de mencionar. Outros entendendo que a segunda instância já é suficiente para aprovar, digamos assim, o delito por inteiro. Eu preferia Joseval, se você me permite, não dar palpite nessa matéria. É uma matéria do Supremo. Ontem ainda, eu confesso a você, eu fui gentilmente convidado pela presidente Cármen Lúcia, para fazer uma visita ao Supremo, e na sessão do Supremo, nós comemoramos, ambos e todos, os 28 anos da Constituição. Ontem foi o aniversário da Constituição. E lá, alguém, o ministro Celso de Mello, fez um belíssimo discurso dizendo olhe: como dizia Rui Barbosa, o Supremo é o último a falar. Tem até o direito de errar, mas é o último a falar. Ou ele acerta ou ele erra, mas é a última palavra. De modo que eu respeito, institucionalmente, respeitosamente, a decisão de quem dá a última palavra judicial no nosso país.

 

Jornalista: Então eu só faço mais uma pergunta ao senhor. O que que o senhor achou do lançamento do programa Criança Feliz ontem?

 

Presidente: É, eu fiquei feliz não é? Eu acho que foi …

 

Jornalista: A foto está bonita da sua esposa.

 

Presidente: Está bonita, é verdade. Você sabe que estas coisas, são muito, e até quero registrar que a Marcela sempre teve muita vocação para essa atividade não é, é uma atividade voluntária naturalmente. Mas o Criança Feliz, que foi lançado pelo ministério do Desenvolvimento Social, tem o objetivo muito nobre, não é, porque a ciência, nos últimos tempos, revela que a formação, a personalidade do ser humano, se dá entre o zero e três anos. E é interessante, você veja talvez nós todos que estejamos nos ouvindo, muitas vezes você sente um aroma qualquer e você se lembra de uma coisa lá do início da sua vida. Ou um gesto qualquer que te lembra o passado. A ciência já detectou e já formalizou essa tese. Então o Osmar Terra, lá do Desenvolvimento Social, resolveu lançar esse programa Criança Feliz, e falou naturalmente, com a Marcela, não é, para ela ser embaixadora, digamos assim, do programa. Eu acho que de fora a parte aquilo que nós já fazemos pelo Bolsa Família, você sabe que muito recentemente nós revalorizamos o valor mensal do Bolsa Família, também é preciso cuidar das crianças. Aliás, a propósito, Joseval, você sabe que há tempos atrás, nós decidimos uma outra coisa. Há cerca de 1.800, 1.900 mães com crianças com microcefalia e no programa Minha Casa Minha Vida, nós determinamos que essas mães, quando se inscreverem no Programa, não têm que passar por sorteio, por avaliação coisa nenhuma. Vai direto para casa, porque nós sabemos o drama de uma família com uma criança com microcefalia.

 

Jornalista: Professor Villa.

 

Jornalista: Presidente, falando em reforma, a reforma Trabalhista é claro, é muito falada, e uma das questões centrais aí do seu governo e da necessidade do país, de ser falado há muito tempo e tal. O governo quer propor a jornada de 12 horas diárias? Eu digo isso, presidente, porque esse foi um tema da campanha municipal, inclusive. O governo defende 12 horas diárias de trabalho?

 

Presidente: Você veja, Villa, como nossa cultura política é enviesada, não é? Você sabe que, vou contar a vocês como apareceu essa coisa das 12 horas. O ministro do Trabalho estava, isso ele me contou, estava em uma reunião com alguns sindicalistas em um congresso, e alguém mencionou o caso das enfermeiras, 12 horas por 36 e daí a conversa evoluiu e as pessoas disseram: bom poderíamos ter um sistema pela qual o trabalhador trabalhasse quatro dias por semana, fazendo portanto 48 horas ou três dias e meio fazendo 44 horas, que é o horário de trabalho semanal, e folgaria três dias e meio; ou então trabalharia em outra atividade nesses três dias e meio. Muito bem, quando se foi comunicar isso lá no Ministério, enfim, nos sindicatos, disseram: olha, agora o governo está exigindo 12 horas diárias de trabalho e vou acrescentar, o que aconteceu na campanha eleitoral. Convenhamos com muita falsidade, é 12 horas, segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e quem sabe no domingo. Ora, isto é uma inverdade que, embora desmentida, é uma coisa curiosa. Embora o ministro desmentisse, todos desmentissem, eu tive oportunidade também de dizer que isto não era exato, não é? Mas ainda assim foi usado politicamente. Mas é uma inverdade absoluta. Aliás a reforma Trabalhista, ela já começou a ser feita no próprio Supremo Tribunal Federal. Você sabe que há duas decisões do Supremo permitindo o chamado “acordado sobre o legislado”, que é uma tese que nós estamos pregando há bastante tempo.

 

Jornalista: O que é isso, presidente? Explica por favor, o senhor como constitucionalista e professor?

 

Presidente: É o seguinte, Villa, os sindicatos patronais e os sindicatos de empregados podem se reunir em um dado momento e dizer: olha aqui, para manter o emprego, nós vamos estabelecer um corte no salário, vocês estão de acordo? Se vocês estiverem de acordo, nós aprovamos isto. Isto é um acordo que se faz entre as categorias de empregados e de empregadores, que aliás Villa, não é nova. Você sabe que desde o governo da senhora ex-presidente, ela editou numa ocasião, uma Medida Provisória permitindo o corte de 30% de salário, desde que acordado, ajustado, entre empregadores e empregados, para manter o emprego. Qual é a vantagem dessa medida? Em primeiro lugar, você não cria um drama social que é o desemprego. Em segundo lugar, você mantém a arrecadação. Em terceiro lugar, você não despende dinheiro público. Porque você sabe que quando o sujeito fica desempregado, ele vai para o seguro desemprego. Então foi uma coisa muito útil, e veja que eu estou apontando um fato do passado, mas que tem o nosso aplauso. Então, a reforma Trabalhista vai mais ou menos por aí. E nós vamos, logo depois da Previdência naturalmente, do teto não é, nós vamos cuidar dela e, ressaltando, que o próprio Supremo Tribunal Federal, já está cuidando dessa  matéria pela interpretação do texto constitucional.

 

Jornalista: Presidente, a gente vai entrando na reta final da nossa entrevista, a Vera Magalhães faz mais uma pergunta. Vera.

 

Jornalista: Ontem o governador Geraldo Alckmin, concedeu uma entrevista dizendo que ele acha que o governo tá queimando todo o seu cacife para aprovar seu limite de gastos, quando deveria inverter as prioridades e votar as reformas estruturais primeiro. Porque isso, sim, seria o mais importante. E aí a PEC dos gastos seria complementar. Minha pergunta, na verdade são duas. O senhor concorda com essa avaliação? E a segunda, o senhor acha que o PSDB, tendo saído muito fortalecido das urnas, com dois líderes aí, pré-candidatos a 2018, vai ser um partido que eternamente vai ser um aliado, mas vai ficar no calcanhar do governo para tentar se diferenciar já pensando nas eleições da sua sucessão?

 

Presidente: Olhe, Vera, em primeiro lugar, essa votação que se deu no domingo revelou que a base aliada, porque você sabe que nós temos quase 18 partidos apoiando o governo, que a base aliada venceu fantasticamente as eleições o que significa convenhamos, por via indireta, uma aprovação a tudo que foi feito até agora, sobre um foco eminentemente legal e constitucional. Esta é a primeira conclusão. A segunda conclusão, é que eu levo sempre em conta as ponderações do governador Geraldo Alckmin, mas ai eu sou obrigado a dizer que realmente, em primeiro lugar, você precisa fixar um teto para os gastos e na sequência você vai fazendo aquilo que o teto de gastos exige. Por exemplo, para preservar aquilo que for aprovado no teto gastos é preciso fazer uma reformulação previdenciária. É uma questão de método talvez não é. Mas o método que nós escolhemos é um método penso eu, é também adequado.

 

Jornalista: Denise.

 

Jornalista: Presidente, o senhor falou dessa questão da importância do teto de gastos, só que o relatório do FMI, por exemplo, apontou que o Brasil só deve voltar a ficar com as contas no azul em 2020. O mercado prevê que isso aconteça em 2019, mas dependendo também da reforma da Previdência. Então eu queria saber como é que o senhor vê a tramitação dessa matéria no ano que vem? Porque há urgência, se esperava que o governo apresentasse essa proposta com uma rapidez muito maior. O senhor falou em duas semanas, talvez para discussão ainda do que será apresentado. Não está havendo um atraso muito grande em relação à matéria que é relevante, porque sem isso as contas não saem do vermelho?

 

Presidente: Em primeiro lugar, Denise, você sabe que essa proposta do teto constitucional, teto de gastos, ele tem uma previsão de 20 anos, não é? Revisável apenas no 10° ano, essa é a proposta. Então, portanto nós estamos vendo o longo prazo, primeiro ponto. Segundo ponto, você tem que ir, aí envolve uma questão política que razoavelmente nós todos conhecemos. Você precisa ir passo a passo, não dá para pensar que vai fazer tudo de uma vez e conseguir aprovação de tudo. Então estamos fazendo de uma maneira, penso eu, muito equilibrada. Em terceiro lugar, se você me permite, ontem o FMI até fez uma declaração dizendo que as contas, que o Estado brasileiro pode voltar a ser a 8ª economia ou a 7ª economia, talvez em 2017. Quer dizer, há uma palavra do FMI muito favorável ao que está acontecendo no Brasil. Agora, de fato, para eliminação definitiva do déficit público, talvez nós tenhamos que ir até 2018, 2019. Tanto que, para o ano que vem, já está previsto o déficit de R$ 139 bilhões, não é? Então, acho que o FMI tem tido afirmações que são verdadeiras, mas especialmente a de ontem, que diz: em 2017, o Brasil pode recuperar a sua posição. E, se me permite acrescentar, você sabe que no tocante ao risco país, nós há quatro meses atrás, cinco meses atrás, estávamos em um índice 501 - isso até você conhece melhor do que eu - e neste momento está em 350, quer dizer, caiu brutalmente. E quando nós atingirmos o índice de 240, nós voltamos a ter aquele chamado grau de investimento positivo. Tudo isso pelo menos é dar uma esperança muito grande, é fruto também de uma retomada da confiança no país.

 

Jornalista: Presidente, o Ibope divulgou uma pesquisa nessa semana, mostrando que 39% dos brasileiros reprovam o governo do senhor. Agora, o senhor liga para esse tipo de pesquisa ou isso ainda é mais uma percepção em relação à economia? Que leitura que é possível fazer de um número como este, presidente?

 

Presidente: Olhe, para mim com toda franqueza, eu não levo em conta, viu? Respeito pesquisa, mas não leva em conta. Aliás, eu tenho dito com frequência, que se chegar o final do governo e eu tiver 5% de avaliação positiva mas os 12 milhões de desempregados estiverem empregados, eu me dou por satisfeito. Eu quero é ter apoio, eu quero ter aplauso é naqueles que estão desempregados. Então, não tenho nenhuma preocupação com a popularidade ou não, porque nós não estamos em um período eleitoral, nem eu estou preocupado com eleições. Eu estou preocupado em colocar o Brasil nos trilhos.

 

Jornalista: O senhor é candidato à reeleição?

 

Presidente: Não, você sabe que não. Eu vou dizer a vocês, governar o país é uma coisa extremamente honrosa, mas não é fácil. Eu, graças a Deus tive uma vida pública, embora hoje as pessoas queiram contestar, mas uma vida pública de muito êxito, modéstia de lado, não é. Portanto, tendo chegado à Presidência da República, não vejo razão para pensar em reeleição.

 

Jornalista: Uma última pergunta é, evidente que respeito a sua agenda que é vasta. Aliás, o senhor tem reunião com os governadores agora não é?

 

Presidente: É agora, às 10 horas.

 

Jornalista: Só não queremos deixar passar em branco o plano internacional, presidente, o senhor esteve pelo Paraguai, pela Argentina. Mas queria uma palavra sua da nossa relação com a Venezuela e a questão da Colômbia também, no plebiscito que negou o acordo com as Farc.

 

Presidente: Duas palavras Joseval. Primeiro é que, no tocante à Venezuela, e eu e o presidente Macri, em declaração à imprensa lá na Argentina, coincidimos nas nossas posições não é? Ou seja, a Venezuela não cumpriu todos os requisitos necessários para participar do Mercosul. Os demais quatro países participantes do Mercosul, fixaram um prazo até dezembro, para o cumprimento desses requisitos. Se cumprir os requisitos muito bem, integra o Mercosul, caso contrário não integra. É claro que há uma preocupação com os direitos políticos, direitos humanos lá na Venezuela, isso é uma preocupação de todos, não é, e nós refletimos exatamente essa posição na entrevista que demos, na declaração à imprensa que fizemos lá em Buenos Aires. E no tocante à Colômbia, você sabe que na Colômbia foi um fato curioso, apenas 40% dos eleitores votou, e a diferença foi mínima. Nós todos lamentamos, tanto que nós, Brasil, Argentina, todos nós mandamos, expedimos nota, esperando que o governo continue as tratativas para a paz na Colômbia. E o presidente Santos está cuidando disso. Até ontem ainda, eu soube que ele continua a dialogar com os dirigentes das Farc, com o objetivo de continuar a manter essa paz. Eu acho que lá eles ainda vão encontrar harmonia.

 

Jornalista: Presidente Temer, muito obrigada pela sua entrevista, concedida à Rádio Jovem Pan, e a toda rede Jovem Pan de rádio.

 

Presidente: Muito obrigado, um abraço a vocês e um bom dia.

 

 Ouça a íntegra (28min18s) da entrevista do Presidente Michel Temer