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Entrevista concedida pelo Presidente da República, Michel Temer, ao Amaury Júnior - Palácio do Jaburu-DF

Palácio do Jaburu/DF, 29 de janeiro de 2018

 

Amaury:  Está sendo recebido pelo presidente Temer, no Palácio da Alvorada, nesta estreia na Rede Bandeirantes. Presidente, esse Palácio é maravilhoso. Por que é que o presidente e dona Marcela resolveram não morar aqui e  optaram pelo Jaburu?

 

Presidente:  Nós tentamos morar aqui. Você sabe que nós viemos para cá, ficamos uma semana aqui mais ou menos, mas isso daqui é imenso, você já deve ter olhado tudo é imenso, tanto na parte debaixo como na parte de cima.  Lá em cima tem nove, 10 quartos mais ou menos, eu uso muito para reuniões, jantares, almoços, recepção de autoridades estrangeiras etc., mas vivo numa coisa menor, que é o Jaburu, de modo que eu fiquei sete dias aqui falando “nós vamos voltar”.

 

Amaury:  Presidente, aqui, eu imagino, 1958 foi quando Oscar Niemeyer construiu o Palácio, e a gente vê a atualidade das linhas de Niemeyer até hoje. É uma coisa impressionante.  Eu quero que o telespectador saiba  que nós temos aqui obras de artes importantes, ali nós temos uma Tapeçaria de Di Cavalcanti, temos quadros importantes.

 

Presidente:  Esses vasos todos aqui têm valor artístico e cultural, todos eles.

 

Amaury:  Presidente, e já fez o seu exercício do dia?

 

Presidente:  Você sabe que eu caminhei 25 minutos hoje antes de vir para cá.

 

Amaury:  Então, presidente, levantou seis horas da manhã.

 

Presidente:  Eu levanto cedo, 6, 6:30 eu levanto. E durmo meia-noite.

 

Amaury: E me disseram também que, de vez em quando, acorda de madrugada e mergulha em um bom livro.

 

Presidente:  É verdade. Aliás, é a oportunidade que eu tenho de ler de madrugada, e aí dá sono de novo, e você acaba dormindo mais um pouco. Isso é o que eu faço normalmente.

 

Amaury:  Poucos presidentes são leitorizados ... leitorizados.

 

Presidente:  Eu leio bastante.

 

Amaury:  Pelo menos o…  como o presidente Temer, a lógica sempre diz que as pessoas que têm poder são leitorizadas. Mas o Trump está provando que não,  porque ele disse que não consegue nem ler um memorando no hotel…  o Trump. O senhor conhece o Trump, o presidente Trump. E o Lula disse que dá muito sono quando ele passa de cinco parágrafos. Então eles estão derrubando esse mito de que a boa leitura é que leva as pessoas ao poder.

 

Presidente:  Você sabe que a boa leitura, viu, Amaury, tem duas vantagens: uma, a primeira, é que, mesmo que você não se dedique muito, digamos, ao estudo da gramática portuguesa, quando você lê muito, os seus ouvidos ou a visão pega a gramática com muita tranquilidade. Segundo ponto, ela é muito criativa porque, quando eu leio, eu, digamos assim, eu cinematografo aquilo que eu estou lendo, as cenas todas do livro vêm na minha memória como se fosse um cinema, e aquilo cria uma imaginação fértil, é uma coisa muito útil, eu, se pudesse recomendar, para mim é um hábito, eu saio dos grandes problemas e mergulho no livro.

 

Amaury:  O Brasil lê pouco, não é, presidente?

 

Presidente:  Eu acho que lê pouco.

 

Amaury:  Ainda lê pouco.

 

Presidente:  Ainda lê pouco, mas está começando a ler mais.

 

Amaury:   Uma outra coisa que eu queria perguntar. Vamos mostrar essa aula aqui antes de eu merecer o privilégio de me sentar com o presidente Michel Temer,  tomar o café da manhã com o presidente. Olha que coisa mais linda, as suas caminhadas não incluem aqui?

 

Presidente:  Você sabe que de vez em quando eu venho do Jaburu para o Alvorada caminhando. Há poucos dias, eu tinha uma reunião com ministros, há dias atrás, no domingo, e eu fiz o seguinte: “olha, vamos caminhando, vamos conversando, fazemos a reunião lá no Alvorada, depois de terminado a reunião, nós voltaremos caminhando”,  do tipo mente sã corpo são.

 

Amaury:  E como é que está a sua saúde?

 

Presidente: Muito bem. Você sabe que eu, eu tive umas intervenções cirúrgicas aqui, mas comuns.

 

Amaury: Todos nós teremos um dia o que o presidente está tendo, diz Miguel... e diz Roberto Kalil.

 

Presidente:  Mas tá tudo bem, tudo tranquilo e muito disposto.

 

Amaury: A sua tranquilidade passa uma coisa muito boa para o Brasil. A sua tranquilidade. Agora eu quero fazer uma pergunta, presidente. O presidente acorda com todos os problemas que nós temos no Brasil? Acorda de pesadelo ou para o pesadelo?

 

Presidente:  Você sabe que eu acordo às vezes para encontrar soluções. Eu há pouco disse a você que eu acordo muitas vezes e começo a ler, mas você sabe que antes de começar a ler, eu acordo naturalmente preocupado com um ou outro tema do dia anterior. E você sabe que é de madrugada que eu encontro a solução. Daí quando eu encontro a solução, eu me tranquilizo, e daí eu posso ler com muita tranquilidade.

 

Amaury:  Qual é o seu livro hoje?

 

Presidente:  Hoje eu estou lendo um livro que é uma sequência do Homo Sapiens,  que chama-se Homo Deus, é um autor israelita, agora me foge o nome dele, de 41 anos, mas que fez uma pesquisa, Amaury, extraordinária. Como surgiu a humanidade, no fundo foi isso, até chegar aos dias atuais, e agora esse Homo Deus é como será a humanidade daqui para frente. Então, por exemplo, ele diz uma coisa curiosa, ele diz: “olhe, daqui há tempos atrás, a idade máxima era 50 anos, depois 60, depois 70, 80. Daqui a uns 40, 50 anos, o homem vai chegar em face do avanço tecnológico, especialmente da medicina, o homem vai chegar a 140 anos”.

 

Amaury:  O senhor pode ser presidente da República mais três vezes.

 

Presidente:  Muito obrigado.

 

Amaury:  Setenta e sete anos, eu falo a idade que não é nenhuma revelação, porque todos os jornais colocam, mas o presidente, como diz a minha mãe, o presidente está muito conservado. Como dizia minha mãe, o presidente está muito conservado, ele não aparenta setenta e sete anos. Além de andar, tem algum outro segredo, presidente?

 

Presidente: Não. Você sabe que eu só caminho, não faço outra coisa, só caminho.

 

Amaury: Não faz uma musculaçãozinha?

 

Presidente:  Não, não tenho o hábito, e nunca tive, viu, desde muito jovem.

 

Amaury:  Dona Marcela vai tomar um café conosco?

 

Presidente:  Lamentavelmente não porque ela está cuidando do Michelzinho. Não toma conosco, mas mandou um abraço para você.

 

Amaury:  Vamos ao Café?

Eu falei na Marcela, presidente, o público gosta muito de saber detalhes dessa sua união com a Marcela, que é uma linda mulher, que tem uma postura apreciada e aplaudida pelo público brasileiro. É verdade que quando o presidente se casou com a Marcela, quase ninguém ficou sabendo. O presidente disse assim: “eu vou viajar, vou me ausentar por uns dias”, e voltou casado. Conta essa história, presidente, que todo mundo quer saber, apesar da ausência da Marcela.

 

Presidente: Vou dizer a você uma coisa, Amaury, você vê o que é o destino,  primeira coisa, eu estou casado há 16 anos, mas vou lhe dizer o que é o destino. Eu  estava, naturalmente, sozinho naquela época, e houve uma ocasião que eu fui à cidade dela e lá a conheci junto a um tio que tinha lá um restaurante, uma coisa assim, dos pais, e fiquei muito assim encantado naturalmente com a beleza, com a sobriedade dela, mas foi uma coisa muito rápida. E quando eu me elegi, isso foi para uma campanha para Deputado Federal, quando me elegi, ela me mandou um “zap”, um telegrama, uma mensagem, dizendo: “olha, meus cumprimentos, meus parabéns pela eleição” etc. E daí eu procurei o telefone dela e acabei achando um telefone e liguei. Veja o que o destino, aí eu liguei para ela “ah sim etc., eu vou te ver, então tá bom, vem aqui em casa”, e daí eu fui em um final de semana e realmente eu fiz um casamento logo quatro, cinco meses depois muito discreto. Eu acho que eu sou, naturalmente, discreto, ela também é, fiz um casamento muito discreto. As pessoas até ficaram sabendo depois, só foi minhas filhas, minha  família.

 

Amaury:  Como é que foi a reação das suas filhas?

 

Presidente:  Foi muito positiva. As minhas filhas são muito companheiras, duas delas são psicólogas, uma advogada, foi muito positivo. Elas não tinham nenhuma objeção, pelo contrário, são amigas da Marcela. Ficaram felizes, sem dúvida alguma.

 

Amaury: Agora, eu fiz uma entrevista com o presidente quando era da Segurança Pública de São Paulo e com a Marcela em uma festa, e ela disse que quem paquerou Michel Temer foi ela que paquerou, não Michel Temer paquerou-a.

 

Presidente:  Foi recíproco.

 

Amaury:  É ciumento, presidente?

 

Presidente:  Não. Não tenho ciúme nenhum.  Eu, primeiro, uma confiança absoluta; segundo, não é do meu hábito, não é do meu feitio.

 

Amaury: Não é ciumento, mas é apaixonado por que acabou fazendo até um livro de poesias dedicado à dona Marcela.

 

Presidente: É verdade. É verdade. Anônimo e intimidade, é verdade. Não sou ciumento, mas sou apaixonado. Tem razão.

 

Amaury: E Michelzinho?

 

Presidente: Apaixonado por ele também. Ele é muitas vezes a razão da nossa vida. As minhas filhas brincam muito com ele, os meus netos, eu tenho netos, vários netos, e os netos todos são amigos do Michelzinho. Então é uma coisa muito tranquila. Muito feliz até, eu diria .

 

Amaury: Presidente, vamos falar um pouquinho de notícias falsas. Nas redes sociais, na internet, fake news é uma coisa muito preocupante, por que tem provocado verdadeiras situações extremamente desconfortáveis, e eu vi no ranking aqui no Brasil que o segundo alvo de notícias falsas é o presidente Temer. Eu queria uma palavra sua sobre isso, o que pensa, qual foi a notícia veiculada mentirosa, que não era verdadeira, e quem mais tenha prejudicado o presidente.

 

Presidente: Olhe, eu realmente sou vítima, digamos assim, ao lado de muitos outros, dessas notícias falsas, que é um mal para o País. Eu reconheço isso porque a internet é um campo aberto, não vai nenhuma palavra de censura, o campo deve continuar aberto, mas deve-se estabelecer uma certa responsabilidade. Eu acho que o que mais me agrediu ao longo do tempo, houve uma época que, na verdade, eles lançaram uma tese de que eu era satanista. Imagine você, satanista? Mas foi uma coisa brutal. Eu tive que organizar um grupo muito grande para combater esta questão, eu que sou religioso, que vou à missa desde os sete anos de idade.

 

Amaury: De onde veio essa ideia?

 

Presidente: Campanha eleitoral. E as pessoas inventaram isso, e é interessante: uma pessoa coloca isso, duas pessoas colocam isso na internet, e aquilo começa a propagar, e, ao propagar, ganham furos de veracidade, parece uma verdade. E isto é muito grave. Muito grave porque te atinge moralmente, te atinge religiosamente e te atinge pessoalmente. Isso acontece não só comigo, mas com muitas pessoas. São inúmeros os casos, alguns até reveladores da possibilidade de um desastre.

 

Amaury: Tem que haver algo regulador disso, condições severas, porque se não, isso não tem mais fim. E aonde vai chegar isso, não é, presidente?

 

Presidente: Tem havido preocupação legislativa com isso. Você sabe que há vários projetos caminhando pelo Congresso Nacional relativamente a este assunto. Agora, eu não sou muito versado a isso, mas não é fácil você identificar porque o sujeito às vezes coloca o endereço dele lá nos Estados Unidos, na Rússia e o pé aqui no Brasil. Então há algumas dificuldades operacionais aqui no Brasil.

 

Amaury: Até a Marcela foi alvo também.

 

Presidente: Foi  alvo igualmente, igualmente alvo, como muita gente. Então é algo que nós temos que nos preocupar.

 

Amaury: Presidente, vou falar de uma coisa, de gafes. Eu imagino que o presidente já possa ter cometido alguma gafe.

 

Presidente: Seguramente.

 

Amaury: O que é perfeitamente benigno. Eu me lembro do Gerald… que é o primeiro da Alemanha, quando ele foi presidente, o presidente Bill Clinton, ele o presenteou no ano 2000, isso com uma caixa de charutos, mal sabendo que os estatutos cubanos estavam embargados pelos Estados Unidos. Pior, na época que o Bill Clinton tinha sido pilhado com a Monica Levinski. Essa foi uma gafe, assim,  que ficou na história. Eu me lembro também do presidente Reagan quando veio ao Brasil, ele levantou um brinde, isso em 1982, ele levantou um brinde e disse: “viva a Bolívia”, e ele estava aqui no Brasil. Qual foi a sua gafe, presidente?

 

Presidente: Você sabe que, muito recentemente, interessante, muito parecida com essa, eu estava na Noruega, e não sei por que na hora de levantar, na hora de dar a entrevista com a imprensa, eu disse “logo mais estarei com o rei da Suécia”. Porque eu ia almoçar com o rei da Suécia.

 

Amaury: O seu pensamento estava na frente.

 

Presidente: Estava na frente. Eu disse “logo mais eu falarei com o rei da Suécia”. Um pouco parecida com essa história do  Reagan. Isso acontece de vez em quando, são erros, digamos, perdoáveis.

 

Amaury: Pedi ao presidente Temer que me mostrasse os jardins o Palácio da Alvorada, que são lindos.

Mas os jardins são maravilhosos, presidente, maravilhosos, vamos fazer uma festa aqui. Isso aqui eu vejo com uma festa  black tie maravilhosa.

 

Presidente: E você será convidado, se me permite.

 

Amaury: Por favor. Fala para dona Marcela promover essa festa.

 

Presidente: A sugestão é muito boa. Você sabe que aqui, além do jardim, se nós formos um pouco mais adiante, você tem não só o lago, o Lago Paranoá, mas você tem uma espécie de lago artificial aqui e uma pequena cachoeira, além de campo de futebol etc. É uma coisa linda, maravilhosa.

 

Amaury: Presidente Temer, quando concebido o Palácio da Alvorada, o primeiro presidente a habitá-lo foi Juscelino Kubitschek. Essa piscina era assim já?

 

Presidente: Eu acho que já era,  já era desse tamanho. O Niemeyer era um homem que olhava o futuro. À frente do seu tempo.

 

Amaury: Deixa eu aproveitar esse momento maravilhoso. Aliás, o sol está aberto hoje em Brasília, o clima está extremamente agradável, não é, presidente?

 

Presidente:  Dia bonito, não é?

 

Amaury: E eu quero fazer um questionário Proust com o presidente Temer. São coisas rápidas, e o Proust conseguia captar a personalidade das pessoas através dessas perguntas que parecem pueris, mas não o são. Por exemplo: qual é o prato predileto do presidente Temer?

 

Presidente: Eu acho que vou decepcioná-los, viu, Amaury? Porque eu acho... que coisa, daí você, né? Eu gosto de arroz, feijão, bife, batata e ovo.

 

Amaury:  Por que decepcionar? Essa é a parte do país saboroso e muito nutritivo.

 

Presidente:  Eu não sei escolher. Pratos sofisticados não casam com meu paladar.

 

Amaury: Seu drink predileto?

 

Presidente: Olha, eu não costumo beber, eu confesso a você que bebo muito pouco. Tomo uma  taça de vinho de vez em quando, mas gosto de uma caipiroska.

 

Amaury: E a trilha musical, presidente, do seu romance com a Marcela? Todo mundo tem uma trilha musical na sua vida, principalmente quando a sua eleita está ao seu lado.

 

Presidente: Você sabe que eu deixo ela escolher as músicas, não temos exatamente a música determinada, essa coisa nós não temos. O que nós temos é ouvir juntos muitas músicas que ela seleciona melhor do que eu.

 

Amaury:  Uma viagem de lazer, não profissional, não oficial, inesquecível.

 

Presidente: Foi Bora Bora. Nós fomos em uma ocasião para lá, e foi uma viagem muito original e muito produtiva sentimentalmente, foi muito interessante, com a Marcela.

 

Amaury: Presidente, qual o país que o senhor não conhece e que gostaria de conhecer?

 

Presidente: Olha, eu estou para conhecer Singapura e o Vietnã. São países que eu não conheço. Estou programando uma viagem para lá. Tenho interesses, naturalmente, de relacionamento do Brasil nesses países e curiosidade de conhecê-los.

 

Amaury: Qual é o país que, na sua opinião, seria um país modelo para o Brasil?

 

Presidente: Há muitos. Eu acho que, em termos de prosperidade, os Estados Unidos. Quando você vai aos Estados Unidos, você vê aquela prosperidade extraordinária.

 

Amaury:  Qual a sua opinião sobre o Trump?

 

Presidente: Ele evidentemente é uma figura muito simpática, muito agradável quando você conversa com ele Agora, as posições, digamos, mais radicais nele que são criticadas por muitos. Eu institucionalmente não faço críticas, porque a nossa relação Brasil/Estados Unidos é uma relação institucional, não é de governantes para o governante, de país para país.

 

Amaury: Estou sendo recebido, e isso é um privilégio, pelo presidente Michel Temer, no Palácio da Alvorada. Estou merecendo também o privilégio de mostrar a grandiosidade dessa obra de Oscar Niemeyer. Presidente, muito obrigado. Uma coisa, um ano e oito meses na Presidência da República é pouco tempo, e a economia está numa reação que nos satisfaz.

 

Presidente: Isso que você está dizendo, Amaury, é muito oportuno porque, é interessante, nós não temos um governo de quatro anos, oito anos, nós temos um governo de um ano e quase oito meses, que, convenhamos, nós fizemos coisas, Amaury, e vou aproveitar o seu programa para dizer um pouco do que foi feito no Brasil nesse período. Veja, quem é que teve coragem de estabelecer um teto para os gastos públicos? Porque o que o governante mais quer é gastar, se ele tiver interesse eleitoral, então, sem dúvida nenhuma, quanto mais gastar, melhor para os aspectos…

 

Amaury:  O seu sucessor que se vire...

 

Presidente: É, o sucessor que se vire. Mas eu estabeleci, estabelecemos um teto para os gastos públicos. Em consequência, nós encaminhamos uma reforma trabalhista, são coisas que vêm de muito tempo, Amaury, que ninguém conseguiu fazer uma reforma trabalhista, uma modernização trabalhista que gera emprego, porque o nosso principal objetivo é gerar emprego. Aliás, nesses últimos quatro meses, nós tivemos cerca de 380 ou 390 mil carteiras assinadas, mas tivemos 1,4 milhão de novos postos de trabalho. Então, começa a cair o desemprego, que foi o primeiro problema gravíssimo que nós pegamos logo no começo da gestão. Havia uma recessão extraordinária, você sabe que o déficit do País era um déficit fantástico, e nós tivemos que combatê-lo.

Fizemos muito, recuperando Petrobras, convenhamos, Petrobras, coisa de um ano, dois anos atrás, era palavrão. Hoje, a Petrobras recuperou o seu prestígio nacional e internacional. As ações cresceram fantasticamente, tudo isso é fruto do que estou fazendo, um brevíssimo relato aqui do que foi feito ao longo desse tempo. Mas há muito mais para fazer ainda.

 

Amaury:  A reforma da Previdência é a sua obsessão?

 

Presidente: Claro, claro. Mais do que uma obsessão, Amaury, é necessidade.  Porque nós estamos percebendo o seguinte: o  déficit previdenciário, o que se gasta com a Previdência Social, e isso está ligado ao chamado teto dos gastos, aumenta R$ 5 bilhões a cada ano. Então, em um ano é R$ 180 bilhões, no outro ano, R$ 220 bilhões. Qual é a realidade que isso nos traz? É que, daqui há algum tempo, e você conhece o caso de Portugal, o caso da Grécia, em que houve a necessidade de cortar percentual das pensões dos aposentados e dos vencimentos dos funcionários públicos. Nós não queremos que isso aconteça no Brasil e, por isso, nós precisamos fazer uma reforma da Previdência para que mais adiante não seja necessário uma reforma radical da Previdência. E tem mais uma coisa, se me permite, você verifica que a questão da Previdência, ela tem um efeito interno, mas um efeito internacional também muito significativo. Você viu, eu toco aqui no ponto dessa nota, do rebaixamento da nota de crédito, que não tem muito a ver com risco Brasil porque é interessante, o risco Brasil, nesse um ano e oito meses, caiu de 380 pontos, mais ou menos, para 146 pontos. Ou seja, a credibilidade e a confiança do Brasil cresceram muito. Mas o que levou essa nota de crédito? Foi a história de que você não vai conseguir fazer a reforma da Previdência. E isso é fundamental para o Brasil.  E eu acho que, a essa altura, do jeito que está a reforma da Previdência, não vai causar problema para ninguém, apenas cortando alguns privilégios, já está sendo absorvida pela população, e absorvida pela população, isso repercutirá no Congresso Nacional. Eu tenho certeza que em fevereiro nós vamos conseguir fazer a reforma da Previdência.

 

Amaury: Presidente Temer, e o atual estágio da Lava Jato? Eu queria um comentário seu.

 

Presidente:  Olha, vai indo regularmente. Você sabe que as instituições no Brasil estão funcionando com toda tranquilidade. O Judiciário, o Executivo, o Legislativo. Os órgãos, Polícia Federal, Receita Federal etc. estão todos agindo com a maior tranquilidade. Você vê que não há um recuo sequer. E, olha, isso dá até para dizer o seguinte: não há privilégio para ninguém, seja quem for. Seja ocupante dos mais altos cargos públicos, cargos do Legislativo, cargos do Judiciário, não há privilégio para ninguém. A Lava Jato continua regularmente cumprindo seu papel.

 

Amaury:  Presidente, última pergunta. O senhor é candidato à reeleição?

 

Presidente: Não.

 

Amaury: No seu íntimo.

 

Presidente: Não, não sou. Você sabe que eu, aliás, você percebe, todos percebem, como muitas vezes eu tenho sofrido uma oposição radical. Mas uma oposição curiosa, não tem gente na rua. Você percebe que muitas vezes que, quando há movimentos contra o presidente da República a serem examinados pelo Congresso Nacional, não tem uma pessoa em frente ao Congresso Nacional, não tem movimento de rua.  Então, o que acontece é o seguinte: o povo está percebendo o que está acontecendo. O que aconteceu no passado e o que aconteceu agora. Mas eu estou cumprindo o papel e tenho mais de um ano de governo, eu quero ser lembrado lá na frente como um sujeito que fez as reformas indispensáveis para o País.

 

Amaury: Presidente, o que o espera? Se não for candidato à reeleição, vai deixar a Presidência. Como é que o presidente enxerga sua vida fora, o que pretende fazer?

 

Presidente: Você sabe que eu sou da área jurídica, eu tive que me afastar dela, mas é uma área muito do meu agrado. Eu dei aulas durante anos e anos, publiquei livros, publiquei pareceres. Eu suponho que, quando eu sair da vida pública, primeiro que eu vou continuar lendo muito, você sabe que eu sou um leitor voraz.  Primeiro ponto. Segundo ponto, quem sabe eu faria pareceres, se eu for procurado, porque é uma coisa muito do meu agrado. Uma vida assim, mais tranquila.

 

Amaury: Presidente Temer, muito obrigado pelo privilégio. Me sinto honrado em abrir meu novo programa na Rede Bandeirantes de Televisão, na Band, estou voltando à minha casa com a presença Ilustre do presidente da República do Brasil, Michel Temer.  Muito obrigado, presidente.


Presidente: Eu desejo a você o sucesso de sempre.

 

Ouça a íntegra (26min13s) da entrevista do Presidente.

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