Entrevista concedida pelo Presidente da República, Michel Temer, ao programa Silvio Santos do SBT - São Paulo/SP
São Paulo-SP, 29 de janeiro de 2018
Silvio Santos: Presidente, eu queria fazer uma pergunta. Me dá o papel que deram para mim, mas eu vou fazer uma pergunta. Se os deputados não aprovarem a reforma da Previdência, é verdade que daqui a dois ou três ou quatro anos, o governo não vai ter mais dinheiro para pagar a Previdência de ninguém, é verdade isso?
Presidente: Silvio, vou dizer a você, primeiro eu quero cumprimentar você e todas suas colaboradoras. Mas em segundo lugar, eu quero dizer a você que, realmente, se não houver uma reformulação da Previdência, o que vai acontecer daqui a dois, três anos, aquilo que aconteceu em Portugal e na Grécia. Ou seja, a dívida previdenciária é tão grande, tão expressiva, que lá foi preciso cortar 30, 40% dos vencimentos dos funcionários públicos.
Silvio Santos: Quer dizer que lá na Grécia e Portugal, quem ganhava, digamos, 1 mil reais por mês, recebia como Previdência, passou a receber 600 só?
Presidente: 600, porque teve que haver um corte. Por que que nós estamos fazendo a reforma da Previdência agora? Para prevenir no futuro. Porque você vê, quando você tem a conta pública equilibrada, você tem queda de inflação, você tem queda dos juros, você tem alimento mais barato. E quando não há essa possibilidade, o que ocorre é que as contas públicas crescem de uma tal maneira que você começa a ter prejuízos.
Silvio Santos: Mas hoje, presidente, hoje nós estamos vendo que os juros estão baixando, estão a seis e pouco, ou um pouco mais. A inflação nunca esteve tão baixa, está com 2,8, nunca esteve tão baixa. Quer dizer se a inflação baixou, se os juros estão baixando, a dificuldade que o Brasil está tendo é justamente com a Previdência. Por que o que que vai acontecer? Hoje, por exemplo, estou com 87 anos, você deve estar com 65. Hoje eu estou com 87, era muito difícil, meu pai, minha mãe, meu avô, nenhum deles viveu até 87 anos, todos morreram antes dos 80. Então, o que está acontecendo? O brasileiro hoje está chegando nos 80, nos 85, até nos 90, enfim, a média pode ser até 77, 78, então o brasileiro está chegando na velhice e tem pouca gente nascendo. Antes, digamos assim, cinco ou seis pessoas e com o dinheiro dessas seis pessoas, se pagavam um aposentado. Hoje, nasce duas pessoas. Está todo mundo controlando o nascimento no mundo todo. Nascem dois filhos, está bom, não precisa mais. Então, vai ser difícil a gente pegar dinheiro das pessoas que estão trabalhando e pagar as pessoas que estão se aposentando.
E se isso acontecer durante muitos anos, isso aqui é uma besteira que eu vou falar, mas vou falar. Mas vamos admitir que dizem que o ser humano vai viver 120 anos, dizem, não quer dizer que isso vá acontecer, até mais, mas vamos admitir que o ser humano viva 120 anos. Que que vai acontecer? O ser humano que vai viver 120 anos e o pessoal vai se aposentar aos 70, aos 60, hoje se aposenta com menos disso.
Presidente: Menos disso. Hoje você sabe que a aposentadoria, até vou esclarecer, que as pessoas dizem um pouco isso: O governo quer que você trabalhe até morrer, não é verdade. Hoje quem completa tempo de contribuição, ou seja, 35 anos de contribuição, pode se aposentar com 55 anos. Vai se aposentar com 65 daqui a 20 anos. Esta é uma verdade.
Silvio Santos: Mas daqui a 20 anos, quando nós dois não estivermos aqui. Mas, voltando à análise que eu estava fazendo, o que pode acontecer e o que deve acontecer, é daqui a dois, três anos, como já está acontecendo na Europa, está acontecendo na Grécia, está acontecendo em outro país que você disse, está acontecendo de você ir buscar sua aposentadoria, você tem para pagar as suas dívidas, para sustentar a sua família. Você pretende receber mil, não vai receber mil, vai receber 600, vai receber 500 e talvez não haja dinheiro nem para pagar essa aposentadoria. Então, estamos em uma situação aflitiva.
Presidente: É exatamente isso. Quando você tiver, o sujeito viver até os 120 anos, se percebe que você vai ter que fazer uma nova programação previdenciária. Porque hoje as pessoas têm uma média de vida de quase 80 anos, então é natural que o sujeito se aposente com 60, vai desfrutar da Previdência durante 20 anos. Quando tiver 100 anos, 120, vai precisar fazer uma nova modificação. Se não, os que vem depois, aqueles que vão se aposentar, e mesmo os aposentados, o Estado não terá como pagar essa aposentadoria. Por isso que nós estamos, e eu agradeço a você a oportunidade de nós viemos aqui, porque é uma maneira de nós transmitirmos a realidade da Previdência no Brasil. Hoje, Sílvio, a dívida previdenciária, o déficit previdenciário, é de R$ 189 bilhões, no ano que vem R$ 220 bilhões.
Silvio Santos: Isso quer dizer que o governo hoje tem que pegar R$ 189 bilhões para pagar os aposentados. No ano que vem, um ano só, o governo vai ter que ter 220 bilhões para pagar os aposentados, mas vai chegar um momento que o governo não vai ter tantos bilhões para pagar os aposentados.
Presidente: Por isso que eu disse para você, que se de repente, você precisa fazer um tal corte na Previdência Social, que prejudica todos os aposentados. Agora, eu quero registrar muito fortemente, Silvio, que este projeto de Previdência, não alcança os mais pobres que ganha até um, dois, três salários mínimos.
Silvio Santos: Quem ganha, por exemplo, R$ 13 mil, vai ter o desconto na Previdência?
Presidente: Vai ter um pequeno desconto pelo seguinte. Veja bem, o teto da Previdência é de R$ 5.551,00.
Silvio Santos: Quer dizer, ninguém pode ganhar mais de 5.500?
Presidente: É isso que está estabelecido na Previdência. A aposentadoria até esses 5.551. Agora, quem ganha 13 mil, 20 mil, 30 mil, vai ter que fazer uma chamada previdência complementar, ou seja, eu vou ter que tirar, eu ganho 30 mil, eu vou ter que tirar, sei lá, R$ 500,00 por mês do meu bolso, depositar em uma previdência complementar e lá para frente, me aposento com 25, 30 mil tal como ganhava. Agora, o que não dá hoje é para as pessoas pagarem na base de 5.551 e desfrutarem de uma aposentadoria de 30 mil, 33 mil reais. Então, eu digo, esta previdência não prejudica os pobres, você veja, tem os casos dos trabalhadores rurais, estão excluídos da Previdência. Pega o caso dos deficientes físicos, estão excluídos desta reforma previdenciária. Pega o caso dos sujeitos que só se aposentam aos 65 anos, porque ele começa a contribuir, de repente para a contribuição e daí ele não consegue fazer 35 anos de contribuição, que ele vai até os 65. Nós diminuímos isso para 15 anos. Ou seja, quem hoje ganha 1 salário mínimo, por exemplo, ele pode se aposentar com 55, 56, 57 anos. Então, a Previdência voltada para os mais pobres, mais carentes. Quem vai sofrer uma pequena consequência, é que ganha, como você disse, 13, 14, 15 mil.
Silvio Santos: Então quer dizer, quem ganha um salário regular, ganha três, quatro mil reais, não vai ter nenhum desconto. Vai continuar recebendo aquilo que está ganhando. Agora, quem ganha 30, 25, 40 mil, vai ter que perder um pouquinho porque senão, não é má vontade do político, não é má vontade do Presidente, é que não vai haver dinheiro para pagar. E não havendo dinheiro para pagar, ou a pessoa vai receber menos ou não vai receber nada.
Presidente: Mesmo esses dos 40 mil, dos 30 mil, ou ele colabora agora, para receber depois, ou lá na frente não vai receber também.
Silvio Santos: Então, é uma situação tão grave quanto a poupança, uma situação tão grave como quando foi mudada a importância pro real.
Presidente: Sim.
Silvio Santos: Então é uma situação gravíssima. E isso não depende dos deputados?
Presidente: Depende, mas você sabe que nesses últimos tempos, viu Silvio? Especialmente em face desse novo projeto de Previdência Social, que nós amenizamos bastante as regras, hoje já há uma compreensão na sociedade, e uma compreensão no comércio. Agora é importante, veja bem, a Câmara dos Deputados ela de alguma maneira transmite a vontade popular. Então é importante que as suas colegas de trabalho, o Brasil inteiro, sensibilize os deputados, porque eles de alguma maneira, representam a vontade popular. Se a vontade popular compreender isso que nós dois estamos dizendo aqui, os deputados vão lá e depositam o seu voto favoravelmente e, portanto, ajudam o País.
Silvio Santos: Sim, quando acontece o seguinte: se eu sou deputado e os meus colegas que são deputados, nós sabemos que se nós aprovamos hoje a reforma da Previdência, isso vai contar ponto para o presidente. Então, para quê que eu vou aprovar a Previdência, se isso não vai me trazer nenhum benefício, só vai trazer benefício para o Presidente? Isso não quer dizer que o presidente da República atual, que é o Michel Temer, isso não quer dizer que ele vá seguir sendo presidente, ele foi pego em uma situação aonde ele foi obrigado a ser presidente. É diferente. Ele foi pego numa situação onde ele foi obrigado a ser presidente. Muito bem, isso não quer dizer que ele tenha a vontade de ser presidente de novo, não quer dizer, mas os deputados, mas pode ser que a gente aprovando a reforma previdenciária, é possível que nós ajudamos ao Michel Temer, e ele amanhã ele se candidate a presidência e nós que gostaríamos de ser candidato não vamos ser candidato porque ele vai ganhar a eleição.
Essa deve ser a preocupação dos deputados para que não aprovem a previdência, já aprovaram com muita dificuldade a reforma trabalhista, agora não querem encher a empada do Presidente porque acham que você está fazendo isso para se eleger. Quando não é verdade, até poderia ser verdade, mas não é, porque muito mais importante do que você, ou eu, ou o João, ser presidente, muito mais importante é o povo que precisa receber o dinheiro da Previdência, que já tá velho, não está trabalhando, tá cansado, e vai chegar no guichê não vai conseguir receber, porque não tem dinheiro. Não tem, acabou.
Presidente: Você sabe Silvio, os deputados têm consciência disso. Eu acho que em um dado momento eles pensam no País. Então, nós todos estamos pensando no País. Eu, particularmente, estou pensando em deixar, digamos assim, um legado histórico. As pessoas lá na frente vão dizer: poxa, mas esse Temer aí conseguiu fazer as reformas que o Brasil precisava, o alimento caiu de preço, ficou mais fácil morar, ficou mais fácil viver. Você ver hoje ainda o preço do gás, que preocupa os mais pobres, caiu 5% o preço do gás. Olha, eu vi uma entrevista da nossa ex-ministra Zélia Cardoso de Mello. Você sabe que naquela época houve aquela história da poupança, seguraram as poupanças. E depois vieram os valores referentes às poupanças e muita gente entrou com ações para recuperar os valores da poupança, os valores adicionais da poupança. 24 anos depois, Silvio, nós acabamos de fazer um acordo com todos aqueles mutuários que tentaram com ação, mais de um milhão e 200 mil ações, fizemos um grande acordo para pagar todo o atrasado, um grande acordo benéfico para o País e benéfico para todos. E isso trouxe, isso vai movimentar o País, botar dinheiro na economia. Como quando nós liberamos o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, nós colocamos R$ 44 bilhões na economia. Gente que, aquele dinheiro que estava lá era do trabalhador e o estado estava retendo esse dinheiro. Nós liberamos. Então, cada um foi lá pagou suas dívidas, fez isso, fez aquilo. Então, os deputados, Silvio, eles tem consciência disso e sabem que o meu único desejo é fazer um grande governo reformista, e lá na frente, é como eu disse, eles vão dizer: olha, esse Presidente aí reformou o Brasil.
Silvio Santos: Bom, de qualquer forma, com todas essas medidas que você tem tido a sorte de tomar, precisa sorte também, você está em um período onde várias coisas devem ser resolvidas e você está tendo a sorte de resolver. Mas isso, é claro, incomoda um pouco os deputados, porque tem muitos deputados que gostariam de estar no governo, onde tem um amigo no governo, onde tem alguém do partido no governo, e isso, é claro, “não vamos colocar azeitona na empada do Michel Temer. Vamos fazer o possível para pelo menos não fazermos a reforma da Previdência, porque é mais um gol que ele vai fazer”. Mas isso não é bom para o Brasil. Isso não é um pensamento positivo. Isso é um pensamento maléfico porque sendo deputado, ou sendo presidente, acima de tudo deve ser um bom brasileiro. Deve pensar naqueles que estão se aposentando, naqueles que já estão velhos, não podem mais trabalhar, naqueles que tem família e ainda continuo sustentando a família, nós não podemos mexer no dinheiro da Previdência. Aquele que recebe a Previdência deve continuar recebendo, e se nós não provarmos a reforma da Previdência, isso não é piada, isso não é bazófia, nós se não for aprovarmos a reforma da Previdência, nós daqui a dois, três, quatro anos, nós não vamos ter dinheiro para pagar aos aposentados. Essa é a verdade.
Ouça a íntegra ((13min20s) da entrevista do Presidente.