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Entrevista exclusiva concedida pelo Presidente da República, Michel Temer, à EBC - Nova Iorque/EUA

Este conteúdo foi publicado na íntegra somente ao final do período eleitoral em atendimento à legislação que regula o tema (Lei 9.504 /1997, Lei 13.303 / 2016 e Resoluções TSE – Eleições 2018 ). Com o fim das eleições, o material está disponível de forma completa.

 

Nova Iorque/EUA, 25 de setembro de 2018

 

 

Jornalista: Presidente Michel Temer, muito obrigada por essa entrevista exclusiva aos veículos da EBC, a Empresa Brasil de Comunicação, aqui no contexto da Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque. Presidente, eu queria começar perguntando sobre o seu discurso. Logo no começo, o senhor mencionou três questões: isolacionismo, unilateralismo e intolerância. Eu queria saber por que a escolha de destacar esses três temas?

 

Presidente: É algo, viu, Paola? Primeiro, muito grato pelo convite de estar aqui, na nossa EBC dando essa entrevista. Mas porque são temas que afetam praticamente toda a humanidade. É uma coisa curiosa esses temas que você acabou de elencar, e eu que elenquei fartamente no meu governo, foi tendo em vista uma constatação do que acontece hoje no mundo. Há países em que a intolerância tem sido prejudicial, até muitas vezes dentro do nosso País, a intolerância já se revelou absolutamente prejudicial. E, de igual maneira, nos vários países, assim como o isolacionismo, às vezes as pessoas pensam, alguns países, podem pensar que isolar-se é melhor para o seu povo, mas ao contrário, num estado globalizado, num mundo globalizado como o nosso, o isolacionismo cria problemas não só para quem vive naquele país, como na relação desse país com outros países.

Daí a ideia do multilateralismo, para que haja um diálogo muito produtivo. E digo eu sempre, isso tem que ser feito pela via diplomática, e quando, interessante, digo pela via diplomática, eu digo, na verdade, mais do que a diplomacia tradicional, eu digo, na verdade, numa diplomacia interestadual, interpaíses. Ou seja, você tem a diplomacia parlamentar, você tem a diplomacia de negócios quando você incentiva, incrementa, aumenta as negociações comerciais, industriais, entre países, naturalmente começa também uma integração cultural.

Eu vejo no Brics, por exemplo, Paola, na última reunião do Brics, nós resolvemos, nós somos 5 países que temos uma relação econômica, comercial, industrial, política, mas nós resolvemos integrar também os povos. Então a primeira das ideias que surgiu foi exatamente incentivar movimentos culturais. Por exemplo, fazer um festival de cinema entre os países do Brics. Eu até cheguei a sugerir, nós poderíamos fazer também um campeonato de futebol entre os países do Brics para aproximar os povos. Por isso que a tônica do meu discurso foi pautada por esses vocábulos, por essas palavras que você acabou de mencionar. E eu percebi que, pelos menos pelos cumprimentos posteriores, alguns formais mas alguns dizendo, puxa, coisa boa, você ter falado nesses temas que são temas que afligem hoje toda a humanidade.

 

Jornalista: Presidente, além da Assembleia Geral, o senhor tinha um outro compromisso aqui em Nova Iorque ontem, o senhor participou de um almoço com empresários. Eu queria saber o quê que o senhor sentiu desses empresários com relação aos investimentos no Brasil.

 

Presidente: Um interesse muito grande pelo País. Você sabe, e quando eu digo pelo País, significa por investir no nosso País. Mas há sempre, eu percebo, uma certa dúvida tendo em vista o processo eleitoral que nós estamos atravessando. O que eu fiz no discurso? Ciente e consciente de que uma das preocupações centrais é exatamente em função das eleições, eu disse olha, não se preocupem porque o que nós fizemos nestes dois anos, ou seja, todas as reformas, modificações estruturais que nós fizemos na economia e na área social, necessariamente vão ter que continuar.

Dou exemplo a você. Eu disse isso no meu discurso para cerca de cem empresários americanos. Eu disse, olhe, veja, a questão do teto de gastos públicos, isto foi feito por meio de uma emenda constitucional. Eu duvido que alguém seja eleito e tente derrubar e, portanto, consiga apoio no Congresso para derrubar o teto dos gastos públicos. Disse mais. Eu disse olhe, nós pegamos uma inflação de mais de 10% e reduzimos para menos de 4%. Pegamos os 14.25, reduzimos para 6,5%. Eu quero ver quem é que vai chegar e vai dizer, olha, nós vamos mudar tudo isso. Eu quero inflação de 10%, eu quero juros de 14.25.

Então as reformas que nós fizemos, dou mais um exemplo, a modernização trabalhista. Só neste ano, você sabe que nós tivemos cerca de 570 mil carteiras assinadas e fora a parte, mais de 1,5 milhão de postos de trabalho. Eu quero ver quem é que vai chegar e vai dizer, não, não queremos a modernização trabalhista.

Por que é que eu dei esta mensagem aos empresários americanos? Para incentivá-los a investir, e para dizer, não se preocupem porque, passadas as eleições, quem chegar vai ter que continuar com as reformas que nós fizemos no passado e que terão seguimento.

 

Jornalista: Presidente, ainda sobre reformas, um outro tema que foi destaque aqui na sua visita foi a reforma da Previdência. Ontem o senhor mencionou a possibilidade de votar a reforma da Previdência novamente depois das eleições. Eu gostaria de saber se essa reforma seria a mesma que já foi debatida antes ou se seria um texto novo.

 

Presidente: É um projeto que está pronto. Você sabe que ele só ficou paralisado pelo início, até, convenhamos, critérios eleitorais, é natural que deputados, senadores, estivessem preocupados com a grande campanha que se fez que foi uma campanha equivocada. Campanha, na verdade, de quem tem privilégio porque esta reforma que está formatada lá para ser votada, não é preciso mais discuti-la, está pronta para ser votada na Câmara dos Deputados e depois no Senado Federal.

Ela acaba eliminando os chamados privilégios. Quer dizer, garante aqueles que são pobres, garante os aposentados, não tira direito de ninguém, mas faz com que aqueles que ganham mais do que aquele teto do INSS, que é R$ 5.645,00, este é o teto. Agora, aqui eu devo explicar: isso significa que quem ganha 30, 33 ou mais de 33, quando se aposentar vai se aposentar com R$ 5.645,00? Não. O que vai acontecer é que ele, ao longo do tempo, vai ter que dar uma contribuição maior, talvez, sei lá, numericamente 600, 800 reais, ele vai ter que aumentar a contribuição previdenciária para aposentar-se pelos vencimentos, ou pelos subsídios que ele está ganhando agora.

          Então, digo eu, a reforma está pronta para ser votada e, portanto, se houver tempo, eu quero votá-la nos meses final de outubro, novembro, dezembro. Agora, claro, a partir de novembro ou outubro, final de outubro, estará eleito um novo presidente, e claro que eu vou me articular com o novo presidente. Embora eu queira fazê-la, mas já com o novo presidente eleito é importante que o governo se articule com o novo presidente. Eu tenho certeza que o novo presidente, sabedor do grande déficit previdenciário que existe no País, que vai - viu, Paola? - inviabilizar investimentos, inviabilizar outras tantas… outros fatores salariais, se isso demorar mais três, quatro anos. Então, mais do que nunca impõe-se a reforma previdenciária.

          Por isso que eu disse aos empresários: nós vamos fazer a reforma previdenciária. Esta é uma mensagem que eu passo para o mercado também, o mercado brasileiro e o mercado internacional. Você sabe que o mercado está muito aflito, muito angustiado com esta situação. Quando você fala: vamos fazer a reforma da Previdência, você está fazendo uma coisa responsável, ou seja, dando sequência às reformas. Por isso que eu lancei no discurso de ontem, para os empresários, esta fórmula.

 

Jornalista: E ainda com relação à votação da reforma da Previdência, seria necessário, então, discutir a intervenção federal no Rio de Janeiro, já que não é possível votar uma proposta de emenda à Constituição enquanto houver a intervenção federal. O que o senhor pretende fazer com a intervenção: pausar ou finalizar essa intervenção?

 

Presidente: Nós vamos discutir, nós vamos conversar isso proximamente, porque são duas hipóteses. Uma delas, como depende apenas de votação na Câmara e no Senado, primeiro e segundo turnos, de repente você pode suspender a intervenção. Ou uma outra hipótese: você pode, eventualmente, é preciso verificar bem como estão as coisas no Rio de Janeiro, porque o combate à criminalidade deu resultado, o número de latrocínios diminuiu, assalto a cargas e outras tantas espécies delituosas caíram brutalmente.

          Agora, eu preciso conversar por lá, para verificar se, digamos, vamos dizer que se encerre a intervenção, é preciso manter a estrutura que lá foi montada, não é? E, portanto, isso vai depender de conversações que eu terei agora, ao longo do tempo e, talvez, entre o primeiro e o segundo turnos de votação.

 

Jornalista: Presidente, eu gostaria de saber quais são os planos do governo para auxiliar, então, nesse momento de transição política no Brasil. O que o governo vai disponibilizar para o candidato que for eleito?

 

Presidente: Olha, eu vou fazer uma transição, penso eu, tranquila. Porque eu já estou até desenhando, vou desenhar uma comissão para fazer essa transição. Primeiro ponto.

Segundo ponto, é que a esta altura, já há, por exemplo, cadernos do governo mostrando o que foi feito durante o governo e o que poderá ser feito até o final de 2018. Isto estado por estado. Mas agora estou pedindo também que cada ministério, portanto cada setor da administração, também formate um relatório de tudo que foi feito naquela área porque eu quero entregar tudo isto a quem for eleito, a quem seja eleito para que ele possa dar sequência ou possa prosseguir no governo conhecendo tudo o que acontece no nosso País.

 

Jornalista: Muito obrigada Presidente Michel Temer por essa entrevista exclusiva aos veículos da Empresa Brasil de Comunicação.


Presidente: Muito obrigada Paola.