Entrevista exclusiva concedida pelo Presidente da República, Michel Temer, à Rádio Guaíba
Brasília-DF, 09 de fevereiro de 2018
Jornalista: Bom dia presidente.
Presidente: Bom dia Rogério. Prazer estar com você aí na Rádio Guaíba.
Jornalista: Olha é uma alegria imensa para nós. Presidente, sejamos bem objetivos.
Presidente: Pois não.
Jornalista: Reforma da Previdência, dá para apostar nela? Porque o País está apostando nela. Sem reforma da Previdência nós sabemos, pelos os números aí, o País vai ficar ingovernável daqui a alguns anos.
Presidente: Eu acho que dá para apostar, e apostar com vantagem viu, Rogério? Porque você mesmo disse uma coisa introdutória aí muito importante. Não é importante, digamos assim, para o meu governo, é importante para o País. Mais do que importante para o País, é importante para os aposentados, é importante para os pensionistas, importante até para os servidores públicos, porque você sabe Rogério, com este déficit no ano passado de cerca de 270 bilhões, e com o anúncio de um déficit no ano que vem de mais de R$ 310, 320 bilhões, daqui a pouco vai ter que cortar aposentadoria, pensões, vencimentos de servidores públicos como, aliás, você sabe que aconteceu em estados brasileiros, e aconteceu em Estados estrangeiros, veja o caso da Grécia, o caso de Portugal.
Então eu acho que dá para apostar. E eu confio muito que hoje o povo já está consciente - não é, Rogério? - de que é fundamental fazer essa reforma porque, em primeiro lugar, me permita dizer, ela não atinge os mais carentes, os mais pobres, ela não alcança, aliás, estão todos preservados. E, naturalmente, como a Câmara dos Deputados, o Senado Federal, sempre ecoam a voz do povo, o povo estando a favor, nós conseguiremos aprovar na Câmara e depois no Senado. Portanto, dá para apostar, e apostar boas fichas.
Jornalista: Pois é, porque a gente tem ouvido muito as manifestações oficiais aí, presidente, que isso, essa coisa prática do efeito da reforma só se dará daqui a 25 anos, então é mais ou menos para quem está entrando agora no trabalho, mas a gente vê uma reação muito forte das corporações, por que isso?
Presidente: É verdade.
Jornalista: Por que isso, presidente?
Presidente: É uma reação injustificada, viu? Você sabe, primeiro quem ganha até um certo valor, quer dizer, quem ultrapassa o teto do INSS, que é R$ 5.645,00, que nós estamos igualando, aposentadoria para todos pelo valor do teto do INSS, também para os servidores públicos, políticos etc.
Agora, quem ganha além disso, não significa... Vamos dizer: o sujeito ganha R$ 30, 33 mil, não significa que ele não possa aposentar-se com esse valor, o que ele vai ter que fazer, naturalmente é a chamada previdência complementar. Ele vai ter que fazer uma espécie de poupança, vai tirar um dinheirinho lá do que ele ganha, além dos R$ 5.645,00, vai ter que depositar mensalmente, para poder se aposentar com esse valor.
Eu acho que você sabe, Rogério, uma das âncoras da nossa Constituição, um dos suportes do nosso chamado Estado de Direito, é o princípio da igualdade. E o que nós estamos fazendo é igualando, digamos assim, a aposentadoria do trabalhador privado e do trabalhador público, não é? E sempre que você vai fazer uma discriminação, você tem uma... diferenciação, você tem que fazer uma relação lógica, para justificar a discriminação.
Então, a pergunta é a seguinte: será que o trabalho do servidor público, especialmente daquele que ganha mais de R$ 5.645,00 , é mais pesado, é mais oneroso, é mais difícil, é mais complicado do que o trabalho do trabalhador privado? Não é. Portanto, quando você busca a igualdade, você não só está, digamos assim, acertando as contas públicas - e graças à Deus, estão em ordem, não é? -, como também está aplicando um dos princípios fundamentais da Constituição brasileira, que é a igualdade.
Jornalista: Pois é, presidente, veja, o servidor público, hoje, é o que está fazendo o maior barulho. Mas, digamos, o servidor que ganha R$ 20 mil, ele desconta, hoje, sobre os 20 mil, com a reforma ele vai descontar sobre os 5 e esse que sobra vai pagar a previdência privada. Não há nenhum dano, me parece, pelos números aí apresentados.
Presidente: Absolutamente nenhum, Rogério, absolutamente nenhum. E, sabe, é uma consciência que nós, brasileiros, temos que cada vez mais assumir. Você veja que as coisas no Brasil vão indo muito bem. Convenhamos, nós atingimos há 1 mês atrás um patamar extraordinário da inflação, não é, Rogério? Foi 2,95, mas hoje está em 2,86. E acho que também foi mais ou menos uma consequência dos juros reduzidos a 6,75, enfim, o Brasil está crescendo. Produção industrial, 2,5%, cresceu no ano passado, depois de muitos anos sem nenhum crescimento, ao contrário, um dado negativo. Redução do desemprego, estava em 13,8 para 11,8, no fim de 2017. Superávit comercial de US$ 2 bilhões 770 milhões em janeiro, que também é um recorde.
Nós estamos caminhando bem, por isso eu quero, me permita aproveitar os microfones aí, da Rádio Guaíba, para que todos os gaúchos e todos os seus ouvintes, possam falar com os nossos prezados deputados, para mostrar que - eles já sabem - mas que é importantíssimo para o País e para o futuro.
Jornalista: Presidente, essa reforma da Previdência: se achava, por exemplo, que quando o senhor conseguiu aprovar a reforma trabalhista, seria muito mais difícil. e, no entanto, se aprovou e já temos aí alguns resultados. Com a reforma da Previdência, se for aprovada, mais a reforma fiscal, estaria completado o seu plano de governo, seu projeto de governo?
Presidente: É, você sabe, você falou bem, viu, Rogério? Este, acho que pela primeira vez no País, nós estamos aplicando um programa de governo. Você sabe que lá atrás, quando eu ainda era vice-presidente, nós lançamos um programa chamado Ponte para o Futuro. Que, na verdade, era uma colaboração com o governo, então vigorante, não é? Mas aquilo, não sei porque razão, foi tomado como um documento de oposição e era um documento de colaboração.
Mas como eu acabei chegando ao governo pela via Constitucional, nós estamos aplicando, você pode pegar essa Ponte para o Futuro, nós estamos aplicando tudo aquilo que pregamos na Ponte para o Futuro. Então o que é o nosso governo? É o governo das reformas. Você vê: o teto dos gastos, a reforma do ensino médio, a modernização trabalhista, agora a reforma da Previdência. Logo em seguida, estamos trabalhando nisso, Rogério, a simplificação tributária. Com isso nós, mais ou menos, fechamos o primeiro ciclo reformista, que tem dado os melhores resultados.
Você sabe, Rogério, o meu governo não é um governo de 4 anos, de 8 anos. É um governo de 1 ano e 8 meses. E nós, acho que conseguimos fazer coisas que estavam paralisadas, ninguém tinha coragem de mexer nisso. Até de vez em quando, até vou contar a você - viu, Rogério? - e aos ouvintes todos que estão nos ouvindo. Logo no começo do governo, claro que houve muita oposição à nossa chegada, não é? É natural, isso não me assusta, democracia é assim. Agora, um publicitário em uma reunião do Conselho Econômico e Social, levantou-se e disse: “Presidente, aproveite a sua impopularidade para fazer o que o Brasil precisa”. E eu estou fazendo exatamente isso viu, Rogério? Exatamente o que o Brasil precisa.
Jornalista: Muito bem. Duas coisa… Há alguns assuntos gaúchos que eu não posso deixar de falar. A Assembleia conseguiu aprovar aqui o regime de recuperação fiscal. Isso facilita agora esse acerto, que o Rio Grande do Sul terá com o governo federal?
Presidente: Seguramente. Aliás, nós criamos, você sabe que isso é uma coisa nós criamos também, esse sistema da recuperação fiscal, que já tem o Rio de Janeiro nisso, agora já está entrando o Rio Grande do Sul. E você veja, vou tomar a liberdade de lembrar: essas dificuldades do Rio Grande do Sul, do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Norte, do Amazonas, Roraima, Rondônia, enfim, todos os estados quase - não é? -, está centrada na questão da Previdência. É isso que atrapalhou os estados. Então, o Rio Grande do Sul já avançou bastante, a Assembleia, você veja que a Assembleia compreendeu a situação do governo, deu apoio para que nós pudéssemos, a União pudesse entrar e ajudar mais efetivamente o Rio Grande do Sul. Foi uma boa coisa que a Assembleia Legislativa fez.
Jornalista: Outra, ainda para o Rio Grande que está lhe ouvindo nesse momento. Obras, ponte do Guaíba e BR-116, o senhor tem alguma coisa boa para nós aí?
Presidente: Olha aqui, eu... nós temos aqui a questão da ponte do Guaíba, não é? Nós estamos tentando exatamente levar adiante. Aliás, a bancada, logo que eu assumi, eu recebi a bancada gaúcha, a obra estava paralisada. Agora, nós colocamos a ponte do Guaíba no programa chamado Agora é Avançar, que está em pleno andamento com quase 60% de execução. E também aí, me permita dizer, veja, as obras do Aeroporto Salgado Filho, e de Santo Ângelo, foram concluídas; a travessia urbana de Santa Maria e a BR-158; e também a duplicação da BR-116, que é Guaíba-Pelotas, não é, Rogério?
Jornalista: Sim, sim.
Presidente: Tudo isso está nos nossos planos do Avançar, e nós estamos levando adiante tudo isso, assim como a modernização do Cais do Porto de Rio Grande. Enfim, estamos trabalhando muito e atendendo, na medida do possível, as postulações e os pleitos aí, do Rio Grande do Sul. Muito (incompreensível) por sinal.
Jornalista: Ainda com relação ao Rio Grande do Sul, por gentileza. Nós estamos aqui com o problema das nossas privatizações, que fazem parte desse regime de recuperação fiscal. Será preciso essas privatizações para que fechemos o acordo com o governo federal? As privatizações aqui do Sul, 3 empresas aqui.
Presidente: Você sabe, Rogério, o regime da recuperação fiscal é um regime legalmente previsto, nós é que mandamos esse projeto para o Congresso Nacional. E evidentemente que ele exige certas garantias, sob pena de nós violarmos aqui, na área federal, a própria Lei de Responsabilidade Fiscal. Daí porque quando você entra em recuperação fiscal, você fica sujeito à concessão de certas garantias, para fazer equilibrio entre o interesse do estado e a situação da própria União, não é? Por isso que eu não sei exatamente quais são os privatizáveis aí, no Rio Grande do Sul.
Jornalista: São três empresas aqui: a CEE, a Sulgás e a Companhia Riograndense de Mineração.
Presidente: Isto. É verdade, é verdade. Até em uma reunião com o governador Sartori, e com uma bancada, e o Meirelles, e o pessoal da área econômica, foram mencionadas estas empresas. Lamentavelmente não há como fazer, completar a recuperação fiscal sem que haja essa, digamos, contrapartida.
Jornalista: Presidente, o senhor não pode imaginar a audiência que nós estamos neste momento aqui registrando. Uma pergunta dos gaúchos: como é que o governo está vendo esses constantes aumentos da gasolina?
Presidente: Olha, você sabe que ainda hoje, pode verificar nos jornais aí, nós determinamos ao Cade e à Polícia Federal, que fiscalizem os postos. Por que, você sabe o que acontece? O Pedro Parente, que recuperou, convenhamos, o nosso governo - e aqui não é mais um dado, não é? - o nosso governo recuperou a Petrobras.
Você sabe Rogério, há coisa de dois anos atrás, dois anos e meio atrás, a Petrobras era quase, me permita dizer, um palavrão, tamanha a sua desmoralização. E nós recuperamos a Petrobras. Recuperamos com o aumento do aluno e suas ações, com a sua atuação muito eficiente. E lá decidiu-se fazer os aumentos ou as reduções de acordo com os preços internacionais. Então hora tem aumento, hora tem redução.
Muito bem, quando tem aumento, os distribuidores, enfim, a bomba de gasolina registra o aumento, quando tem a redução não registra a redução. Daí, se vem um novo aumento, o novo aumento é sobre o preço anteriormente cobrado, e nós não vamos permitir isso. Nós vamos botar a Polícia Federal, o Cade, atrás dessa fiscalização para exatamente impedir essa espécie quase de, digamos, de agressão ao consumidor. Nós queremos que isso seja cumprido, essa providência já está sendo tomada.
Jornalista: Presidente…
Presidente: Como também, se me permite, você sabe que houve aumento no negócio do gás, o gás de cozinha?
Jornalista: Sim.
Presidente: O botijão de gás de cozinha. E eu estou examinando uma fórmula de compensar esse aumento para os mais pobres, naturalmente, para os mais pobres. Porque para os mais pobres é que o gás de cozinha sempre tem um efeito muito grande.
Jornalista: E isso é para já essa...?
Presidente: Para logo.
Jornalista: Para logo? Bom, bom, importante. Presidente, agora uma questão: o senhor tem mais um mês com o atual ministério, porque muitos ministros depois vão se desincompatibilizar para concorrer, o que é normal em qualquer governo. O senhor já está trabalhando aí com os seus, com os prováveis substitutos?
Presidente: Estou começando a pensar nisso, tem um mês e pouco, e o Rio Grande do Sul deu uma grande colaboração para o ministério, com o, vou dizer, o Padilha, que é uma figura extraordinária, e de igual maneira o Osmar Terra, quer dizer, o Rio Grande do Sul esteve muito presente no nosso ministério. Eu estou agora, começando a verificar como é que eu componho esse novo ministério a partir de primeiro de abril, ou dois de abril que seja.
Jornalista: Pois é, e nós estamos ainda com o impasse da deputada Cristiane Brasil, não é, presidente?
Presidente: Pois é. Você sabe, Rogério, essa questão da deputada Cristiane Brasil não é uma questão de mérito, digamos assim, é uma questão de princípio. Porque, veja bem, a Constituição estabelece que é competência privativa do Presidente da República, nomear o seu ministro.
Então, quando eu vou nomear, eu posso até cometer um erro administrativo, político. Não é o caso, porque a deputada Cristiane Brasil é uma deputada muito competente, muito determinada, trabalhadora, e presta bons serviços. Mas eu posso, eventualmente, cometer um equívoco administrativo, mas isso não é, veja bem, revisável, especialmente por um juiz de primeiro grau.
Você acabou de dizer que eu vou substituir aí, uns 12, 13 ou mais ministros. Imagine a cada ministro que eu nomear o juiz lá de uma cidade do interior, por mais respeitável que seja, impede a nomeação. Porque, interessante, nesse caso - viu, Rogério? - entraram cinco ações populares, todas iguaizinhas, em cinco juízos de primeiro grau, de cidades diversas. Quatro, as liminares foram negadas, ou seja, o judiciário por sua maioria negou, nas ações populares interpostas, só um concedeu. Depois, quando chegou aqui no Superior Tribunal de Justiça, o Superior Tribunal de Justiça cassou essa liminar, muito legitimamente, e houve uma chamada “reclamação”. Essa Reclamação ao Supremo Tribunal Federal, deve-se a uma questão de competência, ou seja, se a competência para cassar essa liminar era do STJ ou seria do Supremo Tribunal Federal.
Eu acredito que a eminente presidente do Supremo Tribunal Federal, logo decidirá essa questão. Então, é uma questão de princípio, se você… É por isso que nós estamos indo até o fim.
Jornalista: Não, presidente, e aí, enquanto isso o estrago já está feito, numa decisão administrativa do senhor.
Presidente: É, não foi bom, porque parece que eu cometi um equívoco jurídico, o que de resto, não é verdadeiro.
Aliás, interessante, você sabe que no governo todo, a gente fala muito em economia, não é, Rogério? Mas se você pegar o meio ambiente, houve expressivos avanços. Se você pegar, vamos tomar o caso da educação Rogério: você sabe que, de fora a parte, a circunstância de nós termos aprovado a reforma do Ensino Médio, que era esperada há mais de 20 anos, sem que ninguém conseguisse levar adiante, nós fechamos, nas últimas semanas, 500 mil vagas para o ensino em tempo integral. Você imagine a importância deste fato.
Veja o caso do Ministério das Cidades. Ainda agora, embora eu tenha saído em uma fitinha no jornal, uma fitinha, nós estamos lançando 650 mil casas agora em 2018. Ou seja, em várias áreas, não é? Se me permite falar um pouco do Nordeste.
Jornalista: Por favor.
Presidente: Nós, estou falando do Ministério da Integração Nacional, as obras lá da transposição do rio São Francisco, estavam paralisadas, nós botamos quase 1 bilhão ou mais de R$ 1 bilhão lá, inauguramos o chamado eixo leste para levar água para a Paraíba, e uma parte de Pernambuco, hoje não tem mais problema lá. Recentemente eu fui lá para acionar uma segunda chave, que está levando água pelo chamado eixo norte, para o Ceará, e também Pernambuco.
Então nós estamos resolvendo essa coisa sem, veja bem, sem invalidar o rio São Francisco. Porque ainda recentemente eu anunciei lá em Cabrobó, em Pernambuco, que eu estava autorizando os estudos para a integração da bacia do rio Tocantins com o rio São Francisco, exatamente para alimentar o rio São Francisco.
Então estou dizendo isso para aproveitar a grande audiência que a Rádio Guaíba está tendo, e você igualmente, Rogério, para aproveitar, para divulgar um pouco o que nós estamos fazendo.
Jornalista: Pois não. Presidente, o nosso editor internacional aqui, o Jurandir Soares, tem aqui uma pergunta para o senhor, por gentileza.
Presidente: Com muito prazer.
Jornalista: Bom dia, presidente.
Presidente: Bom dia, Jurandir.
Jornalista: Presidente, a respeito da nossa política externa. Gostaria de saber a sua posição, a posição do governo brasileiro com relação à Venezuela especialmente, até porque nós estamos com um problema enorme, com a entrada constante de venezuelanos no Brasil, a partir de Roraima. Que atitude o governo brasileiro está tomando, pretende tomar, para minimizar essa questão e tentar ajudar em uma solução, para a Venezuela que vive um momento crítico?
Presidente: Várias atitudes, viu Jurandir? Eu até agradeço a pergunta. A primeira delas, nós estamos num embate, digamos assim, diplomático com a Venezuela. Você sabe que eu presidi o Mercosul no semestre passado, e nesse período - aliás, o ano passado todo, melhor me expressando - a Venezuela não foi admitida no Mercosul, em face do que está acontecendo lá, primeiro ponto. Segundo ponto, nós estamos a todo momento buscando uma ajuda humanitária para a Venezuela. Porque, afinal, a relação do Brasil é uma relação institucional, não é apenas com o governo, é relação de Estado a Estado, Brasil e Venezuela. Nós queremos manter as melhores relações com a Venezuela e com o povo venezuelano.
Agora, discordamos da forma como as coisas estão caminhando lá. E, aliás, esta forma pela qual as coisas caminham é que gera os chamados refugiados. Hoje são milhares de venezuelanos que entram lá por Roraima, esse é um ponto. Portanto, a nossa atuação, é uma atuação, digamos, diplomática, responsável e contestadora do que acontece lá. Segundo ponto, é que até é interessante, foi a proposta da nossa procuradora-geral da República, a doutora Raquel Dodge, eu editei muito recentemente um decreto, nesta semana passada, estabelecendo uma chamada, identidade provisória dos refugiados, porque o pessoal vinha de lá e não tem nenhum controle. Então é ruim para eles, porque também não conseguem trabalho adequado e, por outro lado, o Estado brasileiro também fica sem controle. Então nós editamos esta fórmula da identidade provisória.
E, além disso, Jurandir e Rogério, nós... ontem ainda, os ministros da Defesa, da Justiça e do Gabinete de Segurança Institucional, estiveram lá em Roraima, examinando todas as condições, que já estão sendo estudadas pela Casa Civil, porque nós já colocamos dinheiro lá em Roraima também para abrigos, etc. Enfim, há uma preocupação permanente com os refugiados venezuelanos, que saem da Venezuela para se hospedar, enfim, no Brasil.
Jornalista: Presidente, uma última questão aqui: privatizações do governo federal.
Presidente: Olhe, você sabe que logo…
Jornalista: Eletrobras, especialmente, claro, que a primeira que está…
Presidente: Logo que eu assumi, eu assumi com a concepção, que é a concepção que está naquele documento “Ponte para o Futuro”, de que o poder público não pode fazer tudo sozinho. Então você tem que partilhar com a iniciativa privada. Como é que você faz essa partilha? Ou por privatizações ou por concessões. E nós temos feito muitas privatizações e muitas concessões, nós temos feito isso com uma frequência extraordinária, e sempre com muito sucesso. São linhas de transmissão, são rodovias, ferrovias, portos, enfim, estamos fazendo isso com grande energia.
E neste ano nós temos, eu até criei um projeto, um projeto de parceria de investimentos, o PPI que, na verdade, nos permite privatizar e conceder à iniciativa privada, e com grande sucesso.
Você sabe que nós não temos que ter preconceito com isso. Eu me recordo, vocês se recordam também, quando se permitiu a questão da telefonia, a telefonia, quando se privatizou. Você se lembra, Jurandir e Rogério?
Jornalista: Sim
Presidente: Quando você tinha, até a declaração, na declaração de imposto de renda você punha o número de telefone e as ações, não é?
Jornalista: Era valioso.
Presidente: Isso mudou, com história da privatização. Hoje, hoje você precisa fugir da oferta de telefone celulares, não é verdade? Então, acho que isso, portanto, nós não temos que ter preconceito, e acho que isso está dando resultado.
E hoje, até, eu estou vendo aqui na minha frente, no jornal, o seguinte: “Energia ficará mais barata para a pequena empresa”.
Jornalista: Exatamente.
Presidente: Várias dessas medidas referente à Eletrobras, e às distribuidoras de energia, acho que vai dar certo.
Jornalista: Presidente, o senhor ressaltou aí os avanços significativos que nós tivemos aí, na área da economia, na área da educação, acho, assim, da maior importância a questão da escola em tempo integral. Mas nós temos um outro problema grave no Brasil ainda, que é relativo à segurança. O que o governo federal está desenvolvendo, em termos de minimizar os nossos problemas de segurança no País?
Presidente: Olha, em primeiro lugar, você sabe que há uma repartição de competências entre aquelas referentes a segurança que a União Federal tem que cuidar, por meio da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, e as competências dos estados. A segurança interna dos estados cabe aos estados.
Mas você sabe que você tem toda razão, a questão da segurança está tão angustiante, que as questões dos estados vêm todas parar na União Federal. Mesmo aí, no Rio Grande do Sul, nós já chegamos a mandar a Força Nacional, num passado recente, no Rio de Janeiro nós temos a Força Nacional, as Forças Armadas. Vejam que eu pedi a colaboração das Forças Armada que não se recusaram a colaborar Isto foi no Rio de Janeiro, no Espírito Santo, no Amazonas, Roraima, Rondônia, Rio Grande do Norte, enfim, vários países [estados].
Ora bem, isso tudo no leva à consolidação de um plano de segurança para o País. Um plano em que a segurança pública possa ser coordenada pela União. Porque senão nós corremos o risco de invadirmos competência dos estados e dos municípios. E aí você viola o princípio federativos.
Mas nós estamos dispostos a fazer essa coordenação geral, e em breve tempo eu terei novidades, breve tempo daqui a uma semana, duas semanas - viu, Rogério? - eu terei muito rapidamente uma novidade, em relação à segurança pública e contra esse plano de segurança.
Jornalista: Presidente, para encaminhar o nosso… Eu sei que o senhor está com a sua agenda ocupada. A sua esperança, se o senhor pudesse dar de 1 a 10, a sua esperança pela aprovação da reforma da Previdência em que nota o senhor estaria hoje?
Presidente: Hoje é 7 viu. Mas eu espero chegar a 10.
Jornalista: Então está bem. Então está bom, 7 significa, está boa a nota.
Presidente: Convenhamos, você sabe que também é um problema, você precisa convencer os colegas, os parlamentares, que me deram - viu, Rogério? - um apoio extraordinário.
Eu fiz do Legislativo brasileiro um parceiro do governo. Eu fui, você sabe, três vezes presidente da Câmara dos Deputados, e o Legislativo sempre foi tomado mais ou menos como apêndice do Executivo. Eu não. Eu fiz do Legislativo um parceiro do governo. E por isso que nós conseguimos isso tudo que nós conseguimos até agora e, se Deus quiser, vamos conseguir também na Previdência.
Jornalista: Presidente, o senhor tem falado aí em todos os avanços que nós conseguimos nesse só um ano e meio do seu governo, que o senhor ressaltou, seu governo de apenas um ano e meio.. Mas o senhor fez um relato aí de avanços significativos no País. Isso não o habilita a, de repente, ser candidato na próxima eleição?
Presidente: Eu, no momento - viu, Rogério? -, eu sou candidato a, digamos assim, eu não quero ser pretensioso, mas eu sou candidato a passar na história como alguém que pegou o País numa recessão profunda, saiu da recessão e, nesses últimos seis meses, apesar dos embates todos, conseguimos fazer as reformas necessárias para o País não só crescer agora, mas continuar crescendo e se desenvolvendo mais para frente. A minha candidatura, por enquanto é essa.
Jornalista: Está bom. Presidente, nós somos muito gratos à gentileza do senhor ter nos atendido. Saiba que aqui, na Rádio Guaíba, o senhor terá sempre o seu espaço, o que precisar. Gostaríamos muito de conversar outras vezes. Ficamos muito gratos. Sucesso para o senhor. Aproveite e descanse agora aí no carnaval, tem três dias aí para descansar, não é?
Presidente: Vou tentar fazer isso, e que os ouvintes, daí da Rádio Guaíba, você, o Jurandir, que todos possam também descansar. Porque o descanso também é um momento de meditação,
Jornalista: Sem dúvida.
Presidente: E vamos ter otimismo, viu Rogério?
Jornalista: É verdade. Muito obrigado.
Presidente: Muito obrigado.
Jornalista: Um bom dia para o senhor. Muito obrigado.
Ouça a íntegra (28min42s) da entrevista concedida pelo presidente Michel Temer