Entrevista exclusiva concedida pelo Presidente da República, Michel Temer, à RedeTV News - Brasília/DF
Brasília, 04 de maio de 2017
Jornalista 1: Nós vamos entrevistar hoje o presidente Michel Temer. O governo está há um ano e meio, ou um pouco mais, do seu fim, os desafios são imensos e o maior deles, certamente, são as reformas. Em especial a reforma da Previdência, que enfrenta resistência na sociedade e enfrenta resistência também no Congresso.
Jornalista 2: Além da reforma da Previdência, a reforma trabalhista também é motivo de protesto das pessoas nas ruas e, enquanto isso, a operação Lava Jato tem nas delações da Odebrecht envolvimento de nomes de ministros, parlamentares, aliados do governo.
Jornalista 3: E aí outros temas, questões essenciais para o País, às vezes acabam ficando em segundo plano. Para falar com a gente sobre tudo isso, está aqui o presidente da República, Michel Temer, que nos recebe gentilmente no Palácio do Planalto. Muito obrigada por esta entrevista, presidente. Tudo bem com o senhor?
Presidente: Tudo bem. Tenho muito prazer em recebê-los aqui no Palácio do Planalto e até agradecer à RedeTV e a todos vocês pela oportunidade que estão dando de nós, especialmente nessa entrevista, podermos esclarecer muitos pontos que são muitas vezes mal compreendidos, mal difundidos e mal divulgados. Então, acho que é uma oportunidade que vocês estão me dando, de modo que o agradecimento é meu e não da RedeTV.
Jornalista 1: Muito bem, presidente. Saiu uma pesquisa, saíram pesquisas, Datafolha recentemente, e ao lê-las eu cheguei à conclusão de que eu não queria estar no seu lugar não, coisa difícil. Eu não tenho vocação para ser injustiçado, eu acho que o senhor está sendo injustiçado. Eu não acho isso, o povo também acha. Isso aqui vou ficar com fama que vim aqui para fazer rapapé, mas nós vamos brigar ainda um pouco.
Presidente, 71% dizem que seu governo é ruim ou péssimo, segundo o Datafolha. 71% acho que se opõe à reforma da Previdência. Mas aí a mesma pesquisa, com os mesmos entrevistados, disseram que a economia melhorou, pelo menos estão menos pessimistas, vêem uma melhora da economia. E a gente sabe que expectativa positiva é quando já começa a melhorar. Ninguém fala: “Eu vou começar a ter esperança daqui a três meses”. Não, a pessoa, se começa a ter esperança é porque as coisas, a mudança está em curso. Como é que nesse quadro de reação à reforma, um governo que eu acho que fez sim, algumas coisas importantes, não precisa nem o senhor dizer, eu digo, mas o senhor diga também, se quiser, uma rejeição de 71%, qual é a malaise, qual é o mal-estar, a malaise que está aí, qual é o mal-estar, nesse momento que faz com que esse resultado, aparentemente sem sentido, se manifeste?
Presidente: Você sabe que você fez a pergunta, mas acabou você dando praticamente a resposta. Deixa eu dizer a você: quando você relata o que aconteceu, e você está retratando a questão do Datafolha, que é o jornal que publicou essas pesquisas todas. Interessante que há uma contradição nelas, você apontou muito bem a contradição. Em uma delas, 71% é contra o governo, ou melhor, avalia mal o governo, e na outra se diz que a economia está melhorando, e numa terceira ainda diz que o pessimismo está diminuindo. Ou seja, o otimismo está avançando. Eu vou contar a vocês um episódio do primeiro-ministro, presidente de Governo da Espanha, o Mariano Rajoy, que esteve aqui há uma semana atrás mais ou menos. Ele fez até uma declaração à imprensa, ele disse: “Olhe, eu quero cumprimentar o presidente Temer pelas reformas que está fazendo, porque eu passei pelo mesmo quadro na Espanha. Na Espanha, nós tivemos cinco anos de recessão, portanto uma oposição enorme ao governo. Tivemos que congelar os salários dos funcionários públicos e dos aposentados por cinco anos. Tivemos duas ou três greves gerais e nós enfrentamos para fazer a reforma previdenciária e a reforma trabalhista”. E diz ele: “Feita a reforma previdenciária, reforma trabalhista, com todos os protestos, naturalmente o nosso índice de avaliação negativo, logo depois, a Espanha começou a crescer, e cresceu tão bem”, disse ele, “que dou o meu exemplo”, disse ele, “eu fui reeleito e sou hoje presidente de Governo.”
Jornalista: O senhor quer, o senhor pode ser reeleito também?
Presidente: Não, não, eu não estou falando de mim, eu estou contando a história do Rajoy.
Jornalista 2: Tinha que aproveitar.
Jornalista 3: Não tem nem essa preocupação.
Presidente: Eu sabia que vinha, eu sabia que vinha a provocação, não é? Mas olhe, o que eu quero dizer é o seguinte: essas medidas que eu estou tomando são medidas que visam ao futuro. Você sabe que eu faço uma distinção muito grande, viu, Reinaldo, Mariana e Amanda, faço uma distinção muito grande entre a medida populista e a medida popular. A populista é aquela que ganha aplauso amanhã e causa um prejuízo enorme depois de amanhã, como aconteceu ao longo dos últimos tempos. A medida popular é aquela que demanda um reconhecimento ao longo do tempo. Então, o que eu estou praticando são medidas populares, eu me recuso às medidas populistas. E, veja bem, eu podia perfeitamente - olha, eu vou ter dois anos e oito meses de governo -, eu poderia perfeitamente vir para cá, desfrutar, vamos usar uma expressão livre, das mordomias da Presidência da República, viajar por todo mundo etc como representante do País, e deixar que o próximo governo resolva as coisas. Ocorre que o próximo governo, se eu não colocar o País nos trilhos, não vai resolver o problema do País. A questão da Previdência, por exemplo… Primeiro a reforma trabalhista, convenhamos, eu vejo tantas, você usou a palavra justiça, mas tantos mal-entendidos, tantas divulgações, não vou chamar de mentirosas, mas vou chamar de não verdadeiras. Tantas divulgações não verdadeiras...
Jornalista: Verdades alternativas, fatos alternativos
Presidente: Você sabe que fala-se por exemplo, que a reforma trabalhista retirou direito dos trabalhadores e eu vejo: “Que pena, ninguém lê a Constituição brasileira”. Se as pessoas lessem, Reinaldo, o artigo 7° da Constituição Federal, verificariam duas coisas. Primeiro que lá há cerca de 34 ou 35 incisos que dizem a respeito dos direitos dos trabalhadores. Não é a lei quem dá o direito, quem dá o direito é a Constituição. Entre esses direitos, é curioso, ninguém notou isso, há um dispositivo, que é precisamente o inciso 26 do artigo 7°, que diz assim: “Reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho”. Você sabe que esta reforma que nós mandamos, a modernização trabalhista, basicamente tem como ideia a prevalência do acordado sobre o legislado. E as pessoas dizem: “Isso vai prejudicar o trabalhador”. Ora bem, quando você tem previsão constitucional do acordo coletivo, o acordo coletivo não vai reproduzir os 34 itens, garantir décimo terceiro, garantir férias, garantir auxílio-doença, não é isso que ele vai fazer. Ele vai, sim, manifestar a vontade do sindicato dos empregados e do sindicato dos empregadores para dizer: vamos ajustar desta e daquela maneira. Então, esta reforma que eu mandei, ela apenas regulamenta esse dispositivo constitucional e não tira nenhum direito, porque os direitos estão assegurados na Constituição Federal.
Jornalista 3: Agora, presidente, será que talvez não tenha ficado essa impressão? Porque a reforma trabalhista chegou no Congresso no final do ano passado, em dezembro, se não me engano, na comissão especial e depois foi votada com urgência. O Planalto parece que passou um rolo compressor com essa reforma trabalhista. Essa mesma pesquisa Datafolha indica que 64% dos brasileiros acham que a reforma, apesar do nome trabalhista, beneficia mais os empresários do que os trabalhadores. Então, não faltou uma comunicação, então, não faltou um debate, uma discussão mais ampla, com todos os setores da sociedade interessados nessa reforma, que são afetados por ela?
Presidente: Você sabe que não, viu, Amanda? Porque se nós tivéssemos assistido - é que não sei se tem o vídeo do dia que nós lançamos esse projeto. Você sabe que no dia em nós lançamos esse projeto, o nosso ministro do Trabalho fez um belíssimo trabalho, porque ele foi consultar as centrais sindicais, vários sindicatos, consultou as federações de indústria, de serviços etc, e fez um acordo entre elas. O projeto que nasceu do governo naquele momento é fruto do acordo empregadores e empregados. Tanto que eu lancei solenemente esse projeto aqui no Palácio do Planalto, falaram sete, oito sindicalistas, e falaram sete, oito federações de indústria, serviço, todo mundo de acordo. O que ocorreu é que chegando lá, naturalmente há as mais variadas divergências, na comissão passou com grande facilidade.
Jornalista 3: O próprio ministro do Trabalho tinha divergências né? Fazia algumas ressalvas.
Jornalista 1: Presidente, eu vou passar, vou passar não, a Mariana vai fazer em seguida, mas antes eu vou querer só botar uma pimentinha aqui. Eu publiquei no meu blog um vídeo da ex-presidente Dilma, falando em nome do PT, defendendo a reforma trabalhista, a reforma da Previdência, as terceirizações, e agora a gente sabe que o PT constitui o núcleo de resistência. Isso tudo é uma forma de exercício do patriotismo, na sua opinião, é o quê?
Presidente: Não, é uma luta política, viu, Reinaldo? Você disse bem, as pessoas não estão discutindo tecnicamente, porque se discutissem tecnicamente perderiam. Porque bastaria salientar o que eu estou muito rapidamente salientando aqui, para verificar que na verdade a reforma, a modernização da legislação do trabalho, visa exatamente a combater o desemprego. Mas a luta é política. A luta é de oposição contra aqueles que estão no poder. Então, como é uma luta política, nós temos que compreendê-la dessa maneira. Daí porque você diz: bom, a presidente Dilma, no passado, disse que era fundamental uma reforma trabalhista. Até em alguns momentos esboçou uma tentativa, mas não conseguiu leva-la adiante...
Jornalista 2: Eu acho que as pessoas que estudam os temas acabam concordando que reformas são necessárias, tanto a trabalhista quanto a previdenciária. O problema é que a percepção da população é de que essas decisões estão sendo tomadas por pessoas que estão muito distantes da realidade, do dia a dia delas. Pessoas que estão em Brasília, pessoas que estão no poder, pessoas que têm garantidos alguns direitos muito distantes daqueles que serão a realidade dessas, do povo, da população, no futuro. O senhor consegue compreender a sensação de desânimo e de frustração de um desempregado, entre outros 14 milhões, em um País com 14 milhões de desempregados, o sentimento de impotência na hora que uma reforma trabalhista sugere negociar com o patrão? O senhor realmente acredita que isso será viável e que vai ajudar a criar empregos?
Presidente: Eu não tenho dúvida. Você sabe que, na medida que você pode fazer uma negociação coletiva. E veja, hoje, Mariana, não estamos em 1943, quando foi editada a Consolidação das Leis do Trabalho. Hoje a realidade é esta. As pessoas que estão nos sindicatos dos empregados, assim como aqueles dos empregadores, têm condições para firmar acordos e vontades. Hoje tem uma potencialidade muito grande dos sindicatos dos trabalhadores. Então eles saberão, e sabem, negociar. Quando negociarem, eles vão abrir a possibilidade de empregos, eu não tenho dúvida disso. Agora, essa percepção que você está dizendo é verdadeira. Por exemplo, este programa está nos ajudando a mudar um pouco essa percepção. As discussões que se dão na Câmara dos Deputados e no Senado Federal visam a reduzir esta negatividade. Agora se você me disser: “Bom, há uma preocupação do povo com o desemprego”, não há a menor dúvida disso.
Jornalista 2: Eu vou mencionar uma preocupação. Por exemplo, com o trabalho intermitente. Porque a reforma ela não prevê um limite para contratação do trabalho intermitente. Então fica para o trabalhador a sensação de que ele pode perder um trabalho fixo e ser transformado em um trabalhador temporário. Um garçom, por exemplo, que seja contratado para trabalhar só de quinta a domingo, ele perde o status de trabalhador com um recebimento mensal. E não tem um limite nem de idade, nem de função, nem de períodos na nossa reforma. Tem em Portugal, tem na Alemanha, teve na própria Espanha.
Presidente: Você deu exemplo do garçom. Você sabe que é comum nos restaurantes, um restaurante tem seis, sete garçons. Quando chega sexta para domingo, ele precisa de mais quatro ou cinco. Então, ele vai contratar para este final de semana e vai contratar quem? Aqueles que naturalmente estão desempregados. Então, você veja que vai se abrir um campo de trabalho que hoje praticamente inexiste. E os direitos trabalhistas ele tem. O fato de trabalhar por hora, ou esse trabalho chamado intermitente, não significa que você não tenha os direitos trabalhistas decorrentes dessa intermitência. Então, isso é uma forma de flexibilizar um pouco as relações trabalhistas para abrir emprego.
Jornalista 1: Desculpa, e aí que às vezes a imprensa fala: mas será que a comunicação não precisaria ser mais eficiente? Não vou chamar deficiente… Por exemplo: se ignora que esta reforma, ela sim, garante aos trabalhadores terceirizados os mesmos direitos dos trabalhadores contratados.
Presidente: Posso interromper um pouquinho?
Jornalista 1: Pois não.
Presidente: Ela garante mais do que isso.
Jornalista 1: Mais do que isso.
Presidente: Pelo seguinte, Reinaldo: Eu tenho uma empresa terceirizada, eu contrato pessoas para que eu possa terceirizá-las. Eu terceirizo para você que é o contratante da minha empresa. Quando você violar o direito da Amanda, por exemplo, ou da Mariana, que é uma terceirizada...
Jornalista 1: O senhor não faça isso.
Presidente: Então vou dar exemplo mais coletivo.
Jornalista 2: As técnicas de persuasão…
Jornalista 1: É um exemplo explosivo isso, esse.
Presidente: Deixa eu dizer para você: isso significa o seguinte: que você terá duas garantias, porque se eu, que contratei para terceirizar, não pagar o direito do João, você vai ter que pagar. Então há uma dupla garantia. Pelo contrário, ao invés de não ter o direito, o direito fica acrescido. Ademais disso, no caso dos terceirizados, você sabe que 13º salário, férias, todos os direitos estão assegurados. Eu confesso a você, viu, Mariana? Você sabe que me falaram tanto dessa coisa da terceirização... eu resolvi, porque a regra aqui é a seguinte: quando há um projeto de lei, o projeto de lei é aprovado, vai para os ministérios, para os ministérios proporem sanção ou veto deste ou daquele artigo. No caso do terceirizado, falava-se tanto disso, que eu resolvi pegar por conta própria e eu examinar o que seria vetável ou não vetável. Você sabe que eu imaginava que era um projeto complicadíssimo? É de uma singeleza ímpar. Primeiro lugar, porque ele trata na verdade do trabalho temporário, lá pelos últimos artigos é que foi tratar dos terceirizados. E, ao tratar dos temporários, ele aumenta o tempo de trabalho temporário até, creio, 270 dias, e depois ele trata dos terceirizados, garantindo todos os direitos que, como eu disse, estão na Constituição. Então, não tem prejuízo nenhum para ninguém. É tanto que é interessante, você pode verificar, Reinaldo, que no caso da terceirização não há contestação de mérito, há aquela contestação política, porque vai precarizar o trabalho. Eu acabei de demonstrar que não precariza os direitos de jeito nenhum, não é? Então, o que há é uma luta política, não é uma luta de mérito. Eu, pelo menos, não vi ninguém...
Jornalista 3: E a Justiça seria a mesma Justiça trabalhista ou a Justiça comum, para resolver qualquer (inaudível)
Presidente: Justiça trabalhista, no caso.
Jornalista: Presidente, o senhor tem um problema no Senado, que atende pelo nome de Renan Calheiros. Ele é líder do PMDB, mas fala contra a reforma, contra a terceirização, contra a reforma trabalhista, contra a reforma da Previdência, consegue votos contra. Líder do PMDB, mas age como líder da oposição. Como é que o senhor ou o PMDB vai resolver?
Presidente: Conseguir votos (...) não consegue. Por quê? Não, porque na Câmara nós votamos… Ainda ontem nós votamos a questão, que é uma modernização que nós estamos fazendo no País, que é a chamada concessão, ou privatização de vários setores da administração, com um quorum relativamente… um pouco mais de 400 presentes, nós tivemos 288 votos para uma matéria que exigia maioria simples. No caso da reforma trabalhista, exigia-se 257 votos, nós tivemos 296 votos.
Jornalista 3: Mas o Renan é um problema, não?
Jornalista 2: Por quanto tempo mais ele vai ser líder do seu partido no Senado?
Presidente: Pois é, mas o Renan é o seguinte, primeiro dei as minhas homenagens ao trabalho dele, mas em segundo lugar, eu quero registrar que o Renan, eu tenho dito isso com muita frequência, é de idas e vindas. Ele já foi muitas vezes e voltou. Foi e voltou. Eu estou esperando que ele volte.
Jornalista 3: O senhor está de braços abertos ainda?
Presidente: Claro, claro. Eu não me incomodo com essas objeções, que são objeções, os jornais têm noticiado, não vou falar por mim. Os jornais, nas análises políticas que fazem, têm noticiado que a preocupação dele é com a reeleição no estado de Alagoas. Então ele faz tudo isso, naturalmente, tendo em vista o eleitorado de Alagoas. Eu compreendo isso. Compreendo e, digamos assim, não crio nenhuma objeção a reeleição dele em Alagoas.
Jornalista 3: Mas o senhor acha que ele volta para o governo?
Presidente: Não descreio nisso não. Eu acho que é possível que ele volte. Tanto que eu mantenho as melhores relações com todos que o cercam. Ele já esteve aqui comigo, conversamos longamente.
Jornalista 3: Mas ele deve sair da liderança, o senhor acha que seria mais prudente que ele deixasse a liderança do PMDB?
Presidente: Aí é uma questão da bancada. Quem escolhe o líder é a bancada.
Jornalista 3: Mas o senhor conversa com a bancada?
Presidente: Sim, mas devo dizer a você que eu convidei os senadores para almoçar, jantar aqui comigo, dois, três de cada vez, e eu vejo que eles não estão muito, digamos assim, tranquilos em relação a essa conduta do ex-presidente, do senador Renan. E contrariam aquilo que, na verdade, os senadores dizem: “Poxa, mas o governo é nosso”. O governo é do PMDB, não é?
Jornalista 1: Eu lembro, presidente, que o Renan Calheiros foi em horário, ele chamou a rede nacional de rádio e TV, e tal, a rede de rádio e TV, para falar contra o ajuste fiscal de Joaquim Levy, no governo Dilma. E depois aí, virou aliado da Dilma, depois rompeu com a Dilma de novo. O Renan, se houvesse um remédio, fosse assim um estabilizador de humor político, seria ótimo que ele tomasse, como todo respeito, senador Renan Calheiros. Admiro seu trabalho, a sua competência.
Presidente, reforma da Previdência. Como é que a gente convence as pessoas de que a mudança é necessária, de que não vai ter dinheiro e de que algum sacrifício em alguma monta será preciso fazer? Esse 71% de rejeição à reforma da Previdência indica o quê? Que o brasileiro não está convencido de que a Previdência está quebrada?
Presidente: Olhe, se você chegar a mim e perguntar o seguinte: “Ô Temer, vem cá, pesquisa, você é a favor ou contra a reforma da Previdência?” Eu digo: “Sou contra”. Agora faça a pergunta de outra maneira: “Você é a favor de que muita gente se aposente com menos de 50 anos de idade, menos de 55, ganhando às vezes R$ 30, 40 mil?” A minha resposta seria outra. Então depende do ângulo que você faça a pesquisa. E o que acontece nos dias atuais...
Jornalista: Vou até sugerir ao Datafolha, que é assim: “Você prefere fazer uma reforma da Previdência agora ou prefere não receber os vencimentos daqui a 10 anos?” Eu acho que a resposta...
Presidente: Não sei se leva dez anos não, não leva dez anos não. Se nós não fizermos a reforma da Previdência agora, daqui a quatro, cinco anos será inevitável uma nova reforma e, desta feita, com sacrifício para os aposentados e para os servidores públicos. Eu quero ressaltar o seguinte... E outra coisa que a gente pode convencer - não é? - é contando a verdade, e a verdade é a seguinte: no Brasil, na Previdência geral, na Previdência privada, 63% dos servidores, dos trabalhadores, ganham um salário mínimo. Portanto, a aposentadoria será integral. Não pode haver aposentadoria inferior ao salário mínimo...
Jornalista 2: E com 25 anos de contribuição.
Presidente: E com 25 anos de contribuição, claro.
Jornalista: São 63% que contribui pelo salário mínimo e que não vão contribuir por 40 anos para receber, vão contribuir 25 anos de contribuição, e passa a ter aposentadoria, pega quase 63% dos segurados, dos beneficiários, será que isso está assim, na cabeça do povo?
Presidente: Não. Não está. O que está...
Jornalista 1: A culpa é nossa, da imprensa, o senhor acha?
Presidente: Não. Olhe, não vou culpar ninguém, porque você culpa alguém depois leva uma pedrada, não é? Então, eu não vou culpar ninguém. Mas o caso é o seguinte: você veja, eu vejo muita gente defendendo os pobres, nessa reforma da Previdência. E parece até que quem está fazendo a campanha contra são os mais vulneráveis, não é verdade. Quem está fazendo campanha são aqueles que ganham 20, 15, 16, que tinham cinco anos a menos, para se aposentar, nós estamos equiparando o serviço público com a Previdência geral, nós estamos equiparando com a classe política, para que todos tenham as mesmas condições. Então quem faz a campanha dos chamados “pobres”, na verdade está fazendo a campanha dos poderosos. Porque são esses que têm capacidade de mobilização e de agitação.
Jornalista 3: Mas é justamente nesse sentido, por capacidade de pressão, de mobilização, o senhor por exemplo, não vai ser candidato à reeleição. Mas o que se ouve no Congresso, é que os deputados são candidatos à reeleição, serão cobrados na urna por uma reforma que é extremamente mal vista, impopular. Então, como é que fica para esse deputado, como vocês vão conseguir esses votos, chegar a 308, ou superar os 308, ampliar esse placar, sendo que os deputados sofrem uma pressão imensa, porque aí eles ficam numa sinuca de bico: a reeleição ou aprovar a reforma?
Presidente: Eu vou lançar aos colegas deputados e senadores um exemplo meu. Em 95, 96, eu fui relator da primeira reforma da Previdência nos últimos tempos. Quando terminou a reforma da Previdência, as pessoas me diziam: “Olhe, Temer, você jamais vai ser reeleito”. Eu tinha sido eleito, na eleição anterior com 71 mil votos, e aqui eu me dirijo aos colegas deputados. Sabe quantos votos eu tive na próxima? 206 mil votos. O que é preciso - tem razão o Reinaldo - é esclarecer um pouco melhor esses pontos.
Por exemplo: trabalhador rural, ligado à agricultura familiar. No primeiro momento, no projeto que nós mandamos, reduzia-se a aposentadoria, o valor, e aumentava-se o tempo para obter a aposentadoria. Houve debates lá no Congresso, o relator veio a mim, e disse: “Olhe tem três pontos fundamentais. A questão do trabalhador rural, a questão do benefício de prestação continuada, que pega os deficientes e os idosos, nós precisamos negociar esses pontos”. Eu disse: “Pode negociar, porque o Congresso é soberano para fazer isso que tem que fazer”. Ele foi lá negociou, acertou todos esses pontos, e outros, por exemplo: a mulher, quer aposentar-se com alguns anos a menos.
Então eu mesmo quando saiu o projeto daqui, eu disse: “Olhe, está aqui 65 anos para todos, mas vocês verão que haverá objeções legítimas, no sentido de fazer com que a mulher se aposente antes. E fato, ele disse: “Olhe, há um pleito de que a mulher se aposente com 62 anos”. Eu disse: está feito, pode fechar. Então, foram ajustamentos feitos que não são levados a conhecimento público. É curioso, as pessoas se negam um pouco a achar que a reforma está muito adequada. Primeiro ponto. Segundo ponto, é o seguinte: sabe que nós temos orçamento do 1 trilhão, e 200 e poucos bilhões, sabe quanto vai para a Previdência Social? R$ 780 bilhões.
Jornalista 3: Quase 60%.
Presidente: É. Depois tem outras despesas obrigatórias e depois você tem, na verdade para investimento, 10%. Isto hoje. Se for amanhã, e não houver nada, daí não vai ter os 10% para investimento. Se for depois de amanhã, não vai ter como pagar aposentado, não vai ter como pagar salário. Essa é a grande realidade. Eu tenho que dizer isso, até me perdoe, mas eu tenho que dizer isso muito enfaticamente, muito claramente, porque as pessoas acham que eu vim aqui para destruir o aposentado, o trabalhador. É uma coisa até meio...
Jornalista 2: O senhor é o quê? É um pai dando vacina no filho? A injeção vai doer mais precisa?
Presidente: Não é remédio amargo. Remédio amargo é aquele que cura, não é? Fígado, estômago, etc., não é verdade? Você pode dizer, chá de boldo, se não contém açúcar. Nós até estamos dando um pouco de açúcar. Agora, você veja, se nós não fizermos isso agora o futuro será desastroso.
Jornalista 1: Presidente, o senhor imagina em 2018 um candidato chegando assim com muita energia? Seja do governo, da oposição, seja lá o que for e dizer assim: “E quero dizer o seguinte vou fazer a reforma da Previdência, vou fazer a reforma trabalhista, vou consertar essas contas, vou…” Algum candidato fará isso em 2018?
Presidente: Quem tem objetivo eleitoral... Reinaldo, se eu estou sofrendo a oposição que eu estou sofrendo, imagine se durante a campanha alguém(...)
Jornalista 1: Esse 71% o senhor tem que usar como um ativo, para aproveitar e fazer (...)
Presidente: Mas eu tenho certeza que no ano que vem os 71% diminui, pelo menos para 70%.
Jornalista 2: O senhor disse que não se preocupava com a popularidade porque não ia se candidatar a mais nada e que queria mesmo era fazer o que deveria ser feito. O senhor continua assim com esse pensamento? Embora as pessoas que efetivamente vão votar essas reformas estejam preocupadas com a popularidade. Como disse há pouco a Amanda.
Presidente: Mas é por isso que estou lançando essa mensagem, para dizer, tenho dito isso com muita frequência: não se preocupe com isso não, porque no momento o que será pior é se a economia não melhorar. Se a economia não melhorar, as pessoas vão dizer: “Mas o que que esse governo está fazendo? O que que esse Parlamento está fazendo?” Diferentemente se a economia melhorar, como está melhorando, começando a melhorar. Você pode ver todos os índices. É interessante, muitas vezes eu leio os jornais, há uma crítica de natureza política, mas quando vai para a economia: “Tá melhorando, o otimismo está voltando”. Carros aí… É interessante, até um dado curioso...
Jornalista: O superávit comercial de abril foi histórico. O superávit comercial de abril foi o maior da história.
Presidente: Foi o maior da história, primeiro ponto. Aí vou dar um dado interessante a vocês: eu recebi um pessoal da Anfavea há poucos dias. A venda de carros, por exemplo, em abril, foi um pouco menor do que março, mas sabe por que foi menor? Porque nós tivemos de dias úteis em abril cerca de 16 dias, por causa dos feriados e movimentos disso, daquilo. Diminuiu por causa disso, diminuiu um pouquinho, mas no mês de março não, cresceu.
Jornalista: Deve ter sido o saque do FGTS.
Presidente: Bom, você disse uma coisa que é bandeira do meu governo.
Jornalista 2: Agora eu quero saber se essa medida é popular ou se pode ser considerada populista?
Presidente: Não, ela é popular. Ela é popular pelo seguinte, Mariana: eu detectei que há muitas famílias, muitas famílias, especialmente em razão do desemprego, muitas famílias endividadas, famílias passando até dificuldades. Eu aqui com as contas inativas do Fundo de Garantia, com R$ 41 bilhões paralisados e sobre estarem paralisados, rendendo para o governo, não é? Não é para o trabalhador diretamente, rende para o governo. Porque governo vai pegando aquilo e investindo em outras coisas. Eu disse: “Olha aqui, vamos liberar as contas inativadas do Fundo de Garantia.
Jornalista 1: E não inflacionário, porque a maioria decidiu pagar dívida. Não inflacionário, nem no sentido teórico, conceitual. Porque as pessoas usaram para pagar dívida, mas eu cortei uma hora a Amanda, eu estou...
Jornalista 3: Não, eu ia tratar de uma coisa muito prática, por favor, presidente, da reforma da Previdência, que é o seguinte: vocês ainda não têm os 308 votos necessários, tanto é que estão adiando um pouco esse cronograma de votação da reforma. Pelo mapeamento dos seus articuladores políticos, quantos votos há hoje em plenário para aprovar a reforma da Previdência, e como é que fica esse cronograma, já é final de maio, já é começo de junho, como é que vocês vão lidar com essa votação?
Presidente: Eu lido cada dia - para não repetir - cada dia a sua agonia. Hoje o meu interesse é ter 19 votos na comissão da reforma da Previdência. Porque com 19 votos, está vencida a primeira etapa. Daí nós vamos começar a segunda etapa, e daí a segunda etapa é uma etapa, como estamos fazendo aqui, de convencimento. E sobre ser de convencimento é divulgar a verdade dos fatos relativo à Previdência.
Jornalista 3: Mas quantos deputados os senhores já convenceram, até agora? Não tem um mapeamento? O senhor diria com segurança, hoje eu tenho tantos votos.
Jornalista 2: Presidente não é melhor convencer o povo? Para o povo pressionar o seu candidato?
Presidente: Claro. Ah, mas você tocou em um ponto, mas em um ponto fundamental. Tanto que nós vamos começar uma divulgação maciça não é? Da verdade sobre a Previdência, a Mariana tem razão. Porque o deputado também tem preocupação com o seu eleitor. Se o povo ficar convencido, facilita o voto do deputado. É um trabalho que nós vamos fazer a partir de agora, muito (...)
Jornalista 3: Então ainda não tem os 308 votos? O governo não consegue ainda garantir hoje os 308 votos?
Presidente: Aí isso eu não sei, eu não sei. Até hoje eu posso dizer a você o seguinte: faz um ano, menos de um ano, que eu estou no governo, oito meses como efetivo, nós não perdemos uma votação no Congresso Nacional. Você sabe que o teto dos gastos públicos, eu até quero ressaltar esse ponto, porque é um ponto fundamental, nós cortamos na própria carne. Você veja pra mim como seria extremamente interessante chegar aqui e dizer: “Vou gastar à vontade”. Eu disse: “Não. Não vamos gastar, não. Nós vamos cortar na carne”. Vamos estabelecer um teto para os gastos públicos. Nós tivemos 366 votos na Câmara dos Deputados. Uma matéria difícil, complicada, porque reduz a possibilidade, digamos assim, de emendas parlamentares, isso tudo. Nós fizemos, conseguimos. Nós não tivemos uma derrota nem na Câmara, nem no Senado.
Jornalista 3: Mas a base vem diminuindo não é? A gente acompanha pelos dados, pelas pesquisas, que a fidelidade da base diminuiu.
Presidente: É natural, é natural. Em um tema dessa relevância, Amanda, como Previdência Social, que diz respeito a cada indivíduo, é natural, você precisa ter um processo de convencimento. Eu acho que nós teremos.
Jornalista 3: O senhor garante que passa?
Presidente: Não. Eu farei o possível para passar, eu estarei muito obediente às decisões da Câmara e do Senado, mas eu percebo que as pessoas querem colaborar. Olhe, quando nós aprovamos a questão, vou dizer a vocês, da desvinculação das receitas do orçamento, a DRU, eu me lembro que nós aditamos uma proposta inicial que aumentava o déficit, ou melhor, reconhecia o déficit de 170 bilhões. Esta matéria foi votada às 04h30 da manhã, com quórum na Câmara e no Senado.
Jornalista 1: Eu lembro. Eu fiquei de plantão lá.
Presidente: Na Câmara e no Senado, com ampla maioria. Quando eu vi aquilo, eu disse: o Congresso está me apoiando. Porque senão, olhe, meia noite em diante você não consegue mais quórum, é difícil. 4h30 da manhã com quórum na Câmara e no Senado...
Jornalista: Sobre a aposentadoria dos militares que não entrou no texto da reforma, mas que o governo vai apresentar uma Pec, eu queria saber como vai funcionar essa PEC?
Presidente: Hoje o ministro da Defesa, Raul Jungmann esteve comigo de manhã e me disse: “Olhe estamos ultimando o projeto referente à aposentadoria dos militares”. É muito provável que até o final de maio nós já possamos apresentá-lo.
Jornalista 1: E é importante lembrar - não é, presidente? - que o código que regula os militares não é o mesmo que regula os servidores civis. Portanto, não pode entrar no mesmo, no bloco da mesma reforma.
Presidente: Mesmo na Constituição são tópicos diferenciados.
Jornalista 1: Presidente, eu tenho aqui uma pergunta do nosso querido Boris Casoy.
Boris Casoy: Presidente, eu tenho acompanhado com atenção a sua luta pelas reformas. Na sua opinião, por que a Igreja Católica colocou-se contra as reformas trabalhista e da Previdência? Má informação, presidente?
Presidente: Eu quero, em primeiro lugar, mandar um abraço ao Boris, que é meu velho conhecido e companheiro e, enfim, amigo a quem admiro, primeiro lugar; Segundo lugar, eu quero dizer o seguinte, não é bem a igreja Católica. Você sabe que é uma parte da igreja Católica, melhor me expressando talvez, uma parte da CNBB e nada mais do que isso. Eu vou contar alguns episódios a vocês.
Jornalista 1: Eu não preciso endossar, mas é aqueles que o Nelson Rodrigues chamava de “padres de passeata”.
Presidente: Eu, há pouco tempo atrás, recebi aqui o Dom Sérgio, que é o Presidente da CNBB. Tivemos uma longa conversa, onde eu esclareci muitos pontos, depois eu até mandei... Eles estão tendo um congresso agora, não é? Em Aparecida. Eu mandei uma correspondência para Dom Sérgio, pedindo até que alguns agentes do governo pudessem estar presentes na CNBB, para explicar a verdade sobre a Previdência. Naquele momento não houve exatamente uma resposta. No domingo agora eu falei... eu já tinha falado com Dom Odilo, com Dom Cláudio Hummes, depois falei com o Dom Damasceno, e combinamos que eu mandaria uma correspondência para os 78, 80 bispos que fazem parte de um núcleo principal da CNBB, esclarecendo as questões da Previdência.
O meu ministro Imbassahy foi segunda-feira lá, entregou, foi recebido por Dom Sérgio. Dom Sérgio teve a delicadeza de até passar a mão no telefone, nós falamos ao telefone. E, na verdade, hoje até recebi o núncio apostólico, para que ele leve também a mensagem ao Papa.
Então, o que está acontecendo com uma parte da CNBB, não é que eles estejam contra, é que eles fazem uma coisa que a Igreja sempre fez, foi proteger os pobres.
Então, como essas informações que nós estamos transmitindo agora, não chegaram por completo, não chegaram por inteiro, a todos os setores da Igreja Católica, então há um ou outro setor que, na verdade, digamos assim, se opõe, até muitas vezes publicamente, se opõe publicamente. Eu acho que, muito brevemente, pelas medidas todas que nós estamos tomando, nós vamos conseguir, revelando a verdade, fazer com que a Igreja também partilhe dessa verdade.
Jornalista 2: Para terminar esse bloco sobre reformas, tem algum prazo para a reforma tributária?
Presidente: Ah, você sabe que nós vamos fazer, claro que eu estou terminando e faço. Convenhamos, eu quero dizer o seguinte, eu estou há um ano no governo, veja as reformas que nós já fizemos: o teto dos gastos; a reforma do ensino médio, que tramita há mais de 20 anos; a moralização das nomeações nas estatais, que nós fizemos aprovar na Câmara dos Deputados. Agora, a reforma trabalhista, a reforma previdenciária, em menos de um ano, e em um momento difícil, complicado do País.
Quanto a esta da reforma tributária, o que eu vou fazer, o que eu pretendo fazer, Mariana, é logo depois que encerrar esse primeiro ciclo, nós vamos para duas reformas, uma simplificação tributária, não será exatamente uma reforma, eu penso uma simplificação que significa desburocratização dos meios de pagamento dos tributos. Porque, você naturalmente entrevista muita gente, deve ter entrevistado empresários, vocês todos.
Então você pergunta para o empresário, quantos funcionários ele tem, para cuidar da organização do pagamento do tributo, por causa da burocracia, nós vamos desburocratizar. Já estamos fazendo isso, fizemos isso nos chamados despachos aduaneiros, fizemos isso na área da agricultura, e vamos fazer em toda área tributária. Primeiro ponto. Segundo ponto, como o Congresso quer hoje muito fazer uma reforma política, eu creio que esta é fundamental para o País, nós vamos caminhar para a reforma política. E eu, naturalmente, vou auxiliar o Congresso, porque essa é uma tarefa do Congresso, não é?
Jornalista 2: Eu gostaria de saber do presidente Michel Temer, que mencionou conquistas recentes, das mulheres, patrocinada sob seu governo, e eu gostaria de saber, além da reforma da Previdência, em que as mulheres aparecem com a data limite de 62 anos para aposentadoria, o que é que a reforma trabalhista pode fazer pelas mulheres, e pelos direitos iguais das mulheres?
Presidente: Olhe, em primeiro lugar, você sabe que a reforma trabalhista estabeleceu que a mulher que exerce as mesmas funções do homem, e no mesmo local de trabalho, tem direito ao mesmo salário. Aliás, nós estamos fazendo é cumprir a Constituição Federal. Porque é interessante - viu, Mariana? - as constituições anteriores, quando aludiam o princípio da igualdade, diziam: “Todos são iguais perante a lei”. Esta nossa Constituição diz assim: “Homens e mulheres são iguais em direitos e deveres”. Então nós estamos, na verdade, é cumprindo o preceito constitucional.
Aliás, nesse tópico das mulheres, se você me permite, eu, ao longo do tempo, tenho dedicado uma especial atenção. Você sabe que eu fui o primeiro a criar a primeira Delegacia da Mulher do mundo. Eu criei em [19]85, como secretário da Segurança. Depois criei a primeira Procuradoria Parlamentar Feminina, no Congresso Nacional, na Câmara dos Deputados, quando fui presidente da Câmara. E, ao mesmo tempo, coloquei uma deputada no colégio de líderes, para que ela também pudesse participar. E agora, na reforma trabalhista, esta questão da igualdade de salário entre homem e mulher.
Jornalista 1: Muito bem, presidente, agora um tema que é espinhoso, e eu pessoalmente acho tão ou mais importante do que os outros, porque eu realmente temo algumas coisas. Se as eleições forem realizadas, as de 2018, com as regras atuais, só as pessoas físicas poderão doar, não há fundo público, porque não foi criado ainda, há tempo, mas até agora não foi. E as empresas estão proibidas de doar porque o Supremo declarou que fere a Constituição, enfim, a Ação Direta de Inconstitucionalidade saiu vitoriosa. É sabido que já nas eleições de 2016 o crime organizado se fez muito mais presente do que em outras eleições porque, afinal de contas, lida com dinheiro vivo. E alguns políticos acabam cedendo à tentação. É razoável caminharmos para uma eleição, em 2018, com as regras atuais? Isto é, sem financiamento de pessoa jurídica, sem o fundo público, só com doação de pessoa privada, de pessoas físicas e expondo aí a eleição presidencial, aí sim, me parece, ao crime?
Presidente: Olhe, são vários pontos. O primeiro ponto é o seguinte: eu pessoalmente sempre fui a favor da contribuição de pessoa jurídica a candidatos, desde que fosse para um candidato. Porque você, quando você faz uma contribuição, eu pessoa física, contribuo para sua candidatura, é porque eu acredito em você. É o exercício da cidadania. Eu não posso contribuir para você, para Mariana, para Amanda, para 30 pessoas. O que aconteceu no Brasil foi que, ao longo do tempo, as pessoas jurídicas contribuíam indistintamente, ou seja, não exerciam a cidadania. Se você tivesse um sistema em que a pessoa jurídica e pessoa jurídica aí eu digo, não é apenas uma empresa, às vezes é um holding de empresas. Esse holding de empresas colabora com a candidatura presidencial tal, com a candidatura a governador tal, com a candidatura a deputado tal, senador tal, isto é exercício da cidadania. Mas não foi isso que se deu e por isso é que, penso eu, uma das razões pela qual o Supremo acabou decretando a inconstitucionalidade dessa espécie de doação. Primeiro ponto.
Jornalista 1: É um pouco de licença poética, não é, constitucionalista Michel Temer? porque não tem nada na Constituição, eu não vejo.
Presidente: Bom, aí eu também não vou entrar no mérito, porque afinal a decisão é do Supremo, não é? Mas o segundo ponto é que realmente vai ser muito difícil. Este problema que você levantou, é um problema sério. Espero que não seja, digamos assim, levado às últimas consequências, porque será muito ruim isso. Os que têm dinheiro em dinheiro vivo, como você disse, são poucas organizações. O terceiro ponto, você se lembra que há pouco tempo até, surgiu a proposta de uma lista fechada, uma lista única, não é? Por que que surgiu a hipótese da lista única? Não é a minha posição, eu explico logo a minha. Porque, na verdade, como não há possibilidade de um fundo privado, pensou-se em um fundo público que pudesse colaborar com os partidos políticos. Porque não dá para colaborar com o candidato.
Então você colabora, o fundo público vai tanto para o partido tal. E o partido organiza uma lista para que a lista seja eleita ou não eleita.
Jornalista 1: O senhor não acha que o fundo público condiciona o voto em lista? Porque veja só, eu em si não sou favorável. Eu só acho que as circunstâncias pediria... O governo não patrocinaria uma emenda com isso, mudando já para 2022, para voto distrital misto, volta da doação privada?
Presidente: Eu acho o seguinte…
Jornalista 1: Aliás, qual é o seu modelo? Desculpa.
Presidente: Para o meu paladar político, digamos assim, eu faria o seguinte: eu faria, para esta eleição, o chamado distritão, o voto majoritário. São Paulo tem 70 vagas, os 70 mais votados são eleitos. E, depois, programaria para 2022 essa hipótese que você está dizendo, do voto distrital, distrital misto, não é? Mas isto tem que passar por um processo. Porque também quem for candidato agora em 2018, sem financiamento privado, vai ter dificuldade extraordinária.
Agora há um dado que, digamos assim, permite dizer: “Bom, talvez não seja mais necessário”. Nós fizemos eleições agora para prefeito sem financiamento privado, e foi possível, as pessoas foram à televisão, etc, não é?
Jornalista 2: O mundo mudou, o mundo mudou. Tem internet, tem redes sociais, as campanhas não precisam ser tão caras.
Jornalista 1: Aí, é uma informação que vem de gente muito séria: a presença do crime organizado nas eleições de 2016 foi gigantesca em razão da ausência de recursos. Porque afinal de contas o crime tinha dinheiro.
Jornalista 3: Mas o que o senhor está dizendo é que, mesmo nessas circunstâncias, mesmo nessa situação, o senhor, na sua posição pessoal, é contrário à lista fechada nas eleições do ano que vem?
Presidente: Eu acho o seguinte: eu acho que o melhor seria optar pelo distritão, por esse voto majoritário. Agora, eu compreendo perfeitamente, e cheguei até conversar muito sobre isso, eu compreendo os que postulam a lista exclusiva do partido, a lista fechada. Porque se você vai ter financiamento público, financiamento só pode ser para o partido, não dá para financiar 5 mil e 800 candidatos no País.
Jornalista 3: É porque os críticos dizem que isso seria uma forma de autoproteção, proteger aqueles que são investigados na Lava Jato, fariam parte dessa lista, conseguiriam se reeleger, manter o foro privilegiado. De fato, nesse cenário, ocorre naturalmente (incompreensível). O Brasil tem mais de 30 partidos, seria muito difícil identificar os partidos ideologicamente nesse amplo espectro. Então talvez fosse difícil votar em um partido.
Presidente: A objeção é exatamente essa, não é? As pessoas dizem: “Não, a lista fechada vai botar, vamos dizer assim, os caciques partidários, alguns até podem estar envolvidos nisso, naquilo. Então não é útil por causa disso”. Daí porque eu tenho dito, embora, confesso, eu falo isso com muito cuidado, porque é o vício parlamentar, eu passei 24 anos no Parlamento, mas hoje eu tomo muito cuidado, porque essa é uma tarefa do Congresso Nacional. E eu não quero invadir competência, eu tomo um cuidado fantástico para não invadir competência do Congresso.
Jornalista 2: Justo agora que eu ia perguntar sobre as últimas decisões do STF?
Presidente: Eu não vou interferir não.
Jornalista 2: Eu acho que as últimas decisões do STF criaram manchetes que colocam como se houvesse uma batalha entre Lava Jato e STF. Eu sei que o senhor é parte de outro Poder agora, o Poder Executivo, e o Reinaldo já falou: “Nem pergunte que ele não vai responder esta”. Mas o que eu queria saber era o seguinte… A gente conversa antes da entrevista né? Mas o que eu queria saber era o seguinte: o senhor uma vez disse que a Lava Jato era fundamental, e que estava em um momento do País em que era fundamental.
Do que o Brasil precisa mais nesse momento: de mais decisões do STF, de mais observações da Constituição, de mais Lava Jato, que se aprofunde ou que termine. Qual a maior necessidade do Brasil hoje?
Presidente: Que o Judiciário cumpra o seu papel, como vem cumprindo, desde a Primeira Instância até o Supremo Tribunal Federal. Que não haja, esse também é um mero palpite, que não haja, digamos assim, divergências de natureza política dentro do Judiciário. O que deve haver é aquilo que a Constituição delega ao Judiciário, é que ele decida em face do fato concreto, do caso concreto, essa é a jurisdição, que vem do latim iurisdictio, dizer o direito aplicável a uma controvérsia.
Eu espero que o Judiciária faça isso, que o Executivo execute, que é o meu caso, governe, e que o Legislativo legisle. Se nós fizermos adequadamente o exercício dessas funções, nós teremos tranquilidade institucional no País. Porque você mesmo disse: “Olha aqui, as manchetes de hoje, ontem, etc.”
Jornalista 2: Derrotas, a manchete era: “STF toma uma decisão que é mais uma derrota para a Lava Jato”.
Presidente: Derrota. Mas, meu Deus do Céu, o País, o Judiciário é feito de instâncias. Tem o primeiro grau de jurisdição, segundo grau de jurisdição, terceiro grau de jurisdição e o Supremo Tribunal Federal. É por instâncias, não há derrota. Há, muitas vezes, revisão.
Jornalista: Mas nesse sentido, presidente - perdão - até o que a Mariana está se referindo é a soltura, a libertação de José Dirceu, anteriormente do João Cláudio Genu, José Carlos Bumlai, e isso pode abrir uma precedentes - Eike Batista - para que as prisões preventivas cheguem a um fim na Lava Jato, e a Lava Jato tem se baseado muito nesses dois esteios: prisões preventivas, delações premiadas. Por isso essa preocupação de que as decisões do STF, de soltar essas pessoas, pudessem eventualmente representar um freio, ou enfraquecer a Lava Jato. Como é que o senhor vê isso? Há uma possibilidade de enfraquecimento da Lava Jato? E mais, essa briga entre as instâncias de Poder quem dá a última palavra é o Supremo. Mas as instâncias inferiores, os procuradores, o juiz Sérgio Moro, não o juiz Sérgio Moro, mas, principalmente os procuradores batem boca com os ministros do Supremo.
Presidente: O que não pode haver, Amanda, é briga entre as instâncias, porque são instâncias diversas. Você tem o primeiro grau, o segundo grau, o terceiro grau para efeito de recursos.
Jornalista 2: E tem Gilmar Mendes.
Presidente: E tem o Supremo Tribunal.
Jornalista 1: …que é um grande ministro, aliás.
Jornalista 2: O Gilmar Mendes disse que o Supremo não pode ser transferido para Curitiba... os procuradores falam e ele responde.
Jornalista: Tem que se respeitar as decisões do STF sem contrariá-lo, sem contradizê-lo?
Presidente: Claro. Uma coisa é a análise, digamos, política. Você pode política: “Ah, eu critico essa decisão do primeiro grau, ou critico a decisão do Supremo”. Mas é uma crítica política, não há crítica jurisdicional. Porque jurisdicional há a compatibilização de todas as instâncias. Eu decido em primeiro grau, outro decide diferente em segundo grau, outro decide diferente em terceiro grau. É uma questão de interpretação.
Jornalista 1: O senhor sabe... Porque é precisamente esse tema: no seu lugar minha popularidade já teria ido para 150%. Mas não vou falar de Lava Jato. É fácil governar tendo ministros com inquéritos abertos e o senhor próprio tendo sido citado por delatores? Certamente isso está na raiz, também, de alguma indisposição da população com o governo, com as medidas do governo. Como é que o senhor analisa essa quadra? O senhor acha que a seu tempo essas pessoas vão provar a sua inocência ou não? Isso compromete a agenda do governo, de algum modo?
Presidente: Nada. Você sabe que é facílimo governar nessas condições pelas decisões que eu tomei. Eu fiz um corte determinado, que é um corte pautado pela ordem jurídica. Porque as pessoas pensam o seguinte: quando um delator fala de alguém, pronto, vamos parar o País, porque o delator falou de fulano de tal. Vamos paralisar o país. Eu digo o seguinte: olha aqui, o delator é alguém que fala de outrem. Quando ele fala de outrem, você precisa fazer uma apuração. Qual é o primeiro passo para a apuração? É o inquérito. E o primeiro inquérito vem incluir, indagar, (incompreensível), não é? Então, o primeiro inquérito é o inquérito administrativo. Muitas vezes quem faz, no caso federal, é a Polícia Federal.
Depois do inquérito, o promotor público vai dizer: “Acolho o inquérito e vamos prosseguir”. E, portanto, pede o inquérito judicial. Olha, eu estou com o delator lá atrás, não é? O inquérito judicial vai apurar, aprimorar as investigações, e volta para o Ministério Público, e o Ministério Público dirá: ou arquivo ou denuncio. Se eu denuncio, o Ministério Público denuncia ou, no caso do Supremo, o Supremo vai acolher ou inacolher a denúncia. Se inacolher a denúncia, arquiva-se. Se acolher, aí, Reinaldo, aí que começa o processo. Daí que vem a produção de provas, daí vem a contestação, vem razões, contrarrazões.
Ora, o que se quer, e divulgou-se muito na cultura, que é uma cultura ajurídica, é a seguinte: se eu falei de fulano, pronto, fulano está condenado. Entendeu? Isso não pode ocorrer, você tem, nós acabamos de falar dos vários graus da jurisdição. O que eu fiz? Eu disse o seguinte, em um dado momento: “Olha aqui, para que ninguém venha me cobrar quando alguém falar de outrem, eu quero estabelecer a seguinte linha de corte: quando houver a denúncia, e a denúncia é o indicativo de que pode vir a ser recebido, eu peço para o ministro se afastar provisoriamente. Se ao depois a denúncia for recebida, daí sim, ele é réu, começa o processo, eu o afasto definitivamente”.
Então não tem problema nenhum quanto a isso, nenhum problema, eu tenho pessoas da melhor suposição, pessoas competentíssimas que me ajudam no governo, e que dão todo respaldo administrativo ao meu governo, continuarão até que ocorra essa linha de corte.
Jornalista 3: Presidente, antes do senhor assumir, o grande foco de corrupção da Lava Jato era o PT. Agora, pelas últimas revelações, as delações da Odebrecht, vê-se que a corrupção era generalizada, atingiu principalmente também o seu partido, o PMDB, em cheio, com oito ministros como disse o Reinaldo, investigados, atingiu também o PSDB também outro grande aliado, sócio do governo. Quer dizer, a corrupção era de fato maior no PT, estão todos no mesmo balaio, era generalizada, como é que o senhor analisa isso, principalmente, do ponto de vista político, porque é óbvio que, do ponto de vista legal e jurídico, isto está em andamento.
Presidente: Olha eu não sei dizer a você, mas o que corria muito era história do chamado caixa 2, a pessoa contribuía ou oficialmente, portanto, entrava nas contas do partido, ou contribuía por fora, o que é uma coisa diferente também da chamada propina, em que o sujeito - e eu estou dizendo isso porque os comentários todos levaram a essa distinção -, o sujeito, digamos, é contratado, político que é, para fazer um favor que rende um benefício que ele põe no bolso. E outra hipótese é do dinheiro que ele entrou por via indireta e foi aplicado na campanha. Como fazer essa distinção, eu confesso que não sei. Naturalmente, o Ministério Público saberá, quem sabe, fazer uma distinção.
De vez em quando eu ouço uma ou outra palavra no sentido de que se caminhe para essa espécie de diferenciação, de distinção. Agora aí eu não sei, foram tantos nomes mencionados, especialmente no chamado caixa 2.
Jornalista: Caixa 2 é crime?
Presidente: Olhe, acontece o seguinte: no presente momento o que muitas vezes ocorre é que o Ministério Público vai buscar tipo outras espécies: lavagem de dinheiro, improbidade, etc. etc. Não há expressão caixa 2, como crime isso não.
Jornalista 1: O artigo 350 é a falsidade ideológica, não é? No caso. O artigo 350 do Código Eleitoral, não é? Só está ali, não é? Só está ali, não está em outro lugar.
Jornalista 3: Não é do Código Penal. Presidente, o João Santana falava que o caixa 2 era regra em todas as campanhas, que ele não conhece partido ou campanha que não usasse o caixa 2. O senhor foi presidente do PMDB, cinco vezes deputado federal, presidente da Câmara dos Deputados. O senhor concorda com essa afirmação do João Santana?
Presidente: Não. Você sabe que no caso do partido, eu fui muitos anos presidente, também, do meu partido, não é? As contribuições vinham pela via oficial, e eram registradas, evidentemente, e depois prestava-se contas. E, muitas e muitas vezes, é interessante, o candidato a governador, a senador, a deputado, tinha contato com empresas, mas a empresa não queria doar diretamente: “Eu faço a doação por meio do partido nacional, o partido nacional distribui”. Isso aconteceu ao longo do tempo, permanentemente.
Jornalista 3: Mas com todos esses anos de experiência política nunca lhe foi oferecido, o senhor nunca teve contato com caixa 2, com propina? Porque isso parecia ser parte normal da vida partidária, pelo que a gente vê aí.
Jornalista 1: Presidente, então, eu conheço a resposta, mas é importante que se fale, que o senhor a exponha aqui. Um empreiteiro lá, um dos delatores da Odebrecht diz que fez uma reunião, no seu escritório político, da qual o senhor participou, em que se discutia ali - teria participado - se discutiu ali uma doação irregular, fruto de um contrato, uma porcentagem sobre um contrato que a empresa manteria com a Petrobras. Essa reunião, eu tenho certeza, essa, com essas características, o senhor vai dizer que não aconteceu. Eu queria saber: aconteceu alguma reunião que deu pretexto para ter essa versão? Que reunião é essa?
Presidente: Deixa eu dizer a você: aconteceu essa reunião. Eu declarei publicamente que aconteceu essa reunião em 2010. Como é que aconteceu essa reunião? Eu tinha um escritório político lá em São Paulo, um cidadão me disse “Olhe, fulano, a empresa tal, quer colaborar com o partido, mas quer apertar as suas mãos”. Isso era mais do que natural. Eu era, na época, até presidente do partido, presidente da Câmara dos Deputados e já candidato à vice-presidente. “Ele quer apertar as suas mãos”. Eu entrei lá, Reinaldo, cheguei até um pouco atrasado para a reunião, fiquei 15 minutos, se tanto, falamos generalidades. É claro que a pessoa sempre diz: “Olhe…”. Porque todas as pessoas têm dois temas, não é? O primeiro: “Olha, admiro muito o seu trabalho”, aquelas coisas até um pouco não verdadeiras, digamos assim, não é? E foi assim, disse isso, disse aquilo. “Pois não, ótimo. E a empresa vai bem? Tudo bem? Está trabalhando bem?”. Foi isso que nós conversamos. Na verdade, o cidadão que me levou queria apenas que eu apertasse as mãos do sujeito, para o sujeito colaborar com a campanha. E fato é que essa empresa colaborou oficialmente com o partido. Agora o que se divulgou, é que houve, você disse bem, uma propina, um contrato, etc. não se tratou desse assunto. Tratou-se isto, sim, aliás, perdão, nem chegou a tratar de colaboração oficial, porque nem isso se tocou, mas o fato é que a empresa, que é uma grande empresa, acabou colaborando com o partido.
Jornalista 3: O Eduardo Cunha disse que foi o senhor que agendou essa reunião. Foi o senhor?
Presidente: Lamento dizer que ele se equivocou mentirosamente.
Jornalista 2: Eduardo Cunha está preso em Curitiba. A ameaça do Eduardo Cunha vir a fazer uma delação é uma das assombrações do Planalto hoje?
Presidente: Nenhuma. Eu quero que ele seja muito feliz, que ele se defenda o quanto possa, desejo muitas felicidades a ele. Ele terá meios e modos de se defender, não sei quais são, mas eu espero que ele seja feliz judicial e pessoalmente.
Jornalista 1: Presidente, o Tribunal Superior Eleitoral, vai julgar enfim, acabaram ficando duas ações, acaba se juntando, pedindo a cassação da chapa que elegeu Dilma/Temer. Como o senhor vê essa questão? O senhor acha que há incompreensão de como funciona o processo de financiamento? Ou há, sim, segundo a legislação, o risco de que essa chapa possa ser cassada? E caso seja cassada pelo o que eu sei, o Herman Benjamin até pode sugerir isso, mas preservando os seus direitos políticos, eu queria saber se o senhor se candidata ao Colégio Eleitoral?
Presidente: Isso o futuro vai dizer, né, Reinaldo. Mas eu aí, tenho dificuldade de responder porque eu, involuntariamente, estou envolvido nessa história, a chapa Dilma/Temer. E eu não sei como é o tribunal vai decidir. Pode decidir pela improcedência, pode decidir pela separação de contas. Porque as contas são prestadas separadamente. Elas são julgadas em conjunto, mas prestadas separadamente, e o que eu recolhi para a campanha foi o mínimo, uma coisa insignificante, tendo em vista o montante da campanha.
Eu não sei como o tribunal vai decidir. E evidentemente eu espero que decida de uma maneira que eu continue no cargo. Agora se houver... e depois mais uma coisa, se houver a cassação da chapa, haverá recursos, tanto a ex-presidente como eu próprio vamos recorrer internamente no TSE, depois externamente para o Supremo Tribunal Federal. É aquela coisa dos graus, não é? Senão daqui a pouco começa a dizer: “Ah mas como, imagina, o Supremo modificou uma decisão do TSE”. Mas esta é a regra constitucional, é a questão dos graus.
Jornalista 3: Tem muita gente que diz que o senhor preferia alongar, prolongar esse processo. O senhor prefere decidir já?
Presidente: Eu não prefiro não. Pelo seguinte, Amanda, porque a todo momento dizem “o Temer… a economia vai melhorando, não sei o quê. Mas tem o TSE”. Como se fosse…
Jornalista 2: … um fantasma.
Presidente: É preciso acabar com isso. Quanto antes julgar, melhor.
Jornalista 2: Existe a expectativa também; a expectativa cria a realidade.
Presidente: Isso aí.
Jornalista: A expectativa do presidente não ficar.
Presidente: É ruim para o país, cria uma instabilidade inadequada para o País. Porque desde o primeiro momento foi assim… você tem um preceito constitucional que diz assim - aliás, é um dos únicos artigos que trata do assunto. Diz: compete ao vice-presidente da República substituir o presidente nas suas ausência ou impedimentos.
Ora bem, houve o impedimento, o vice-presidente assumiu e as pessoas vêm gritar “golpe, golpe”. Golpe do quê? Baseado na Constituição? Golpe é impedir o vice de assumir, como houve no passado. Nos Estados Unidos, qualquer cidadão ficaria corado se alguém dissesse: “Olhe, o vice não pode assumir”.
Jornalista 1: E há uma falha lógica aí insanável, não é? Se o senhor, segundo essas pessoas, o senhor deu o golpe, mas, ao mesmo tempo, o senhor tem que ser cassado junto com a Dilma. Se foi cassado junto com a Dilma é porque foi eleito junto com a Dilma. Tendo sido eleito junto com a Dilma, substitui a Dilma, segundo a Constituição. Portanto, a equação não fecha.
Presidente: Bem lembrado. Vou usar como argumento, viu.
Jornalista 1: O senhor pode perguntar que eu…
Jornalista 2: Presidente, vamos a mais uma pergunta do nosso companheiro, do Boris Casoy: o senhor considera moral e eticamente correto um governante nomear e exonerar servidores calcado no comportamento político de seus padrinhos?
Presidente: Vou dizer a você uma coisa, é interessante, as pessoas têm uma cultura aqui no Brasil que é o seguinte: o presidente da República tem que ser eleito e não deve consultar ninguém para nomear ministro, para nomear os 1.800 cargos de confiança que existem, as várias empresas… não tem que consultar ninguém. Ele tem que ter um universo na cabeça dele que tem umas 3 mil pessoas para ele colocar todos… não é assim que funciona a democracia. A democracia funciona da seguinte maneira: você tem uma rede partidária, político-partidária de apoio, que vai governar com você. Então, é mais do que natural que os partidos políticos, ou mesmos deputados, senadores, indiquem nomes para cargos técnicos. Aliás, eu registro que, no caso das empresas estatais, eu disse, nós fizemos aprovar uma regra que impede quem, nos 36 meses anteriores, exerceu atividade política possa ser diretor, presidente de empresa, ou empresa estatal ou subsidiária… subsidiária, não, só empresa estatal. Portanto, é mais do que natural isso.
Ora bem, quem está no governo está com o governo. Ora, mas se quem está no governo, vota contra o governo é porque não está no governo. Quando você diz assim: “Nós vamos tirar uma pessoa que está votando permanentemente contra o governo”, no fundo nós estamos fazendo o benefício moral para o indicante, porque o indicante não deve sentir-se à vontade, diz: “Que azar que eu tenho, indiquei um fulano lá e, agora, eu estou votando contra o governo, e eu me sinto muito mal”. Eu acho que nós estamos fazendo um benefício para quem indicou.
Jornalista 1: Presidente, vamos botar o Brasil na ordem mundial um pouquinho? Donald Trump se elegeu nos Estados Unidos, tudo bem, por um partido tradicional, mas ele não é nada tradicional, e se apostar é outsider.
A França agora... a Marine Le Pen não é exatamente uma novata, nem a Frente Nacional mas, de qualquer modo, ela representa um setor extremamente radicalizado da sociedade que vai disputar pela segunda vez, na história da França, o mandato. Junto com o Macron, que vem do Partido Socialista, mas é bonitão, jovem, fala uma linguagem um pouco antipolítica.
Existe um movimento meio contra a política tradicional no mundo e que chega ao Brasil? Eu pessoalmente nem acredito isso, mas eu sei que isso hoje é um debate. Na sua opinião existe isso, existe um movimento anti-establishment de alcance mundial?
Presidente: Existe, viu, Reinaldo, equivocadamente. Porque o que é administrar a União, o estado e o município? É cuidar da pólis. Cuidar da pólis significa fazer política. Aliás, a própria expressão partido político é a ideia de uma parte, uma parcela da opinião pública que pensa de uma determinada maneira e quer chegar ao poder para governar a pólis.
Então, não tem essa história do sujeito dizer: “Ah eu não sou político, não, eu não sou…” Não adianta querer dizer que não é político, porque do instante que ele entra para administrar a pólis, político será. Então, conceitualmente é isso. Agora o que existe é o seguinte, muitas vezes: existe uma rebelião contra o político que está no Poder, isto eu admito. O político que está no Poder, no Legislativo ou no Executivo, o eleitor se insurge, eles vão colocar outro político no seu poder.
Não existe essa coisa de quem não é político. Agora existe, digamos assim, a movimentação global, você disse bem, no sentido de buscar alguém que não seja, vamos dizer assim, daqueles que exerce há muito tempo a atividade política, acho que isso existe. (falha no áudio)
Jornalista 1: ...pelo PSDB, e que também se declaram não-político. Que perfil o senhor apoiaria em 2018?
Presidente: Isso eu vou definir em 2018.
Jornalista 2: Mas, presidente, o senhor acha que justamente por todo esse movimento, o senhor acha…
Jornalista 1: Em 2018, vou perguntar de novo.
Jornalista 2: Não, vamos perguntar já agora. Justamente por todo esse movimento anti-político, anti-establishment que o senhor diz reconhecer no mundo todo e que acontece aqui no Brasil, a gente viu alguns exemplos na eleição de 2016, com o próprio Dória, com Alexandre Kalil, etc. Quer dizer, isso não colocaria a candidatura do PSDB no colo de João Dória? Ele não é o candidato que se apresenta como gestor, anti-político, muito bem votado no primeiro turno, em São Paulo, naturalmente não o coloca numa situação privilegiada no PSDB, para ser o candidato a presidente?
Presidente: Olha, em primeiro lugar, o meu elogio a João Dória. Eu conheço João Dória desde os tempos do governo Montoro, quando eu era procurador-geral do estado e, depois, secretário da Segurança, e o Dória já era da área de turismo. Sempre, desde muito jovem, foi um administrador competentíssimo. E, evidentemente, ganhou as eleições baseado na ideia de ser um grande administrador. Portanto, um elogio muito, digamos, enaltecedor, para a figura do João Dória.
Agora, eu não sei o que vai acontecer no PSDB. Não é nem o meu partido, eu não tenho a menor ideia. Há nomes…
Jornalista: Mas o senhor tem muita experiência política, um grande feeling político. Eu gostaria que o senhor fizesse uma avaliação sensata. Esse momento privilegia, de alguma forma, o Dória? Pode ser a onda dele, ele surfa bem nessa onda?
Presidente: Viu, Amanda, eu tenho uma certa experiência, mas não sou futurólogo, não é? Quer dizer, fica difícil dizer o que vai acontecer no ano que vem no PSDB. O que eu tenho visto é o Dória, com muita lealdade, dizer: “Não, o meu candidato é o Geraldo Alckmin”. Então, veja que é difícil fazer uma análise. Eu não sei que outros nomes podem aparecer. Há nomes da menor suposição no PSDB, como existe em outros partidos, não é? É difícil definir hoje.
Jornalista: Presidente, 2018 está chegando, nós falamos aqui, o quadro eleitoral não é o mais alvissareiro. Eu estou torcendo para que as reformas aconteçam para que o país dê certo. O crescimento previsto é de 2,5[%], a previsão responsável do Copom. Eu acho que com reformas, se forem bem sucedidas pode ser até mais. 2018, Temer se aposenta, necessariamente? Diz: dessa água não beberei de jeito nenhum? Se houver gente querendo que o senhor beba?
Presidente: Aposentar-me, nunca, jamais. Mas eu não tenho nenhuma intenção de continuar na atividade política. Acho que já prestei… é um pouco pretensioso dizer que prestou serviço, né? Mas, já cumpri o meu papel: fui secretário várias vezes; presidente da Câmara dos Deputados três vezes, eu me orgulho muito disso; vice-presidente [da República]; presidente da República. Eu acho que já fiz o meu papel na cena política nacional. Então, acho que o espaço para outros que venham é muito útil. É essa a ideia que eu tenho hoje na minha cabeça. Eu só espero que as reformas dêem certo e que não haja necessidade de pedir para eu continuar.
Jornalista: Presidente, o senhor acha que as reformas, o senhor espera que as reformas deem certo. Hoje, 34% dos brasileiros sentem mais vergonha de ser brasileiro do que orgulho de ser brasileiro. Esse número há poucos anos atrás era de menos de 10%, o brasileiro está muito constrangido e muito desesperançoso.
Com a aprovação de todas as reformas, que tipo de legado o senhor quer deixar? O senhor disse que não vai se aposentar, mas não quer ser candidato em 2018, que tipo de legado o senhor quer deixar, que tipo de Brasil o senhor quer deixar para um futuro próximo?
Presidente: Brasil nos trilhos, viu, Mariana. Eu espero que quem venha em 2018, possa pegar a locomotiva e seguir em frente. Porque hoje se ele quiser seguir em frente vai ter problema com os trilhos, logo aqui em face do Brasil ter se desviado dos trilhos normais, primeiro ponto.
Segundo ponto é que eu compreendo essa coisa do brasileiro: “Ah, tem vergonha,” porque essas notícias todas muito negativas, convenhamos. Não vamos ignorar esse fato, é natural que haja isso, o que é uma pena. Porque o brasileiro sempre foi extremamente otimista, extremamente orgulhoso do seu país.
Então uma das nossas funções, nós todos aqui, não é o presidente da República, mas de todos nós brasileiros, vocacionados para amar o Brasil, o nosso desejo, o nosso trabalho, o nosso empenho há de ser o de retomar esse otimismo. E se eu pudesse dar uma mensagem de otimismo eu diria: olhe, confie no seu país, não pense que lá fora é melhor. Aqui nós temos ainda dificuldades, mas temos dificuldades superáveis, especialmente pela aprovação das reformas.
Jornalista: Presidente, a Mariana falou do seu legado, eu queria que o senhor fizesse um balanço da sua gestão até agora. O senhor disse em uma entrevista recente que, não achava que houvesse cometido erros, apenas acertos audacioso, corajosos, mesmo diante das pesquisas de popularidade que mostram que a rejeição ao seu governo é alta, o senhor mantém essa afirmação? Não há nenhum erro, nenhum arrependimento, algo que faria diferente?
Presidente: Olha, a pesquisa não tem nada a ver, penso eu, com os erros ou acertos que eu tenha cometido. Ela tem outras tantas razões que até daria para fazer um outro programa para discutir essas razões, digamos, sociológicas.
Agora, eu sempre acho, eu busco acertar, é possível que tenha errado aqui, acolá, não sei, mas eu não sinto que tenha errado. Porque tudo que nós fazemos, não que só pratique acertos, eu já cometi muitos erros na vida. Você pergunta do meu governo agora, neste ano. Eu sinto que tudo que eu tenho feito, tem tido, primeiro, o apoio do Congresso Nacional; Segundo, tem tido bons resultados. Eu quero dizer da história do Fundo de Garantia, que nós liberamos; a história do aumento do valor; da revalorização do Bolsa Família; a história das 600 mil casas que nós vamos construir agora, neste ano, para habitação popular; a história do Cartão Reforma, que é um projeto em que a pessoa que ganha até R$ 2.800,00 pode ir à Caixa Econômica e pegar R$ 5.000,00 a fundo perdido, não tem que devolver, não tem que pagar, e fazer uma reforminha na sua casa, um banheiro, um quarto. A regularização fundiária na cidade, isso significa o seguinte: aquelas pequenas casas, quase casebres, o sujeito não tem posse, não tem propriedade e, portanto, não tem endereço, o que nós queremos é fazer essa regularização fundiária, dar título de propriedade para quem está nessas casas.
Então, quando vejo essas coisas, você me pergunta: houve erros? Nesse sentido, não. Posso ter cometido um ou outro equívoco, mas se equívoco houve, foi acidental, não foi proposital.
Jornalista: Presidente, está chegando, chegou ao fim. O senhor pode falar mais um pouco ainda, não é? O nosso RedeTV News Entrevista Especial. Então, vou passar a palavra ao presidente, mas fazendo uma pequena provocação, porque o presidente e sua família se mudaram de volta para o Jaburu, não é? O palácio residencial, no caso. Deixou o Palácio da Alvorada e foi para o Palácio do Jaburu. E andaram falando assim: “Não, parece que ouviram alguns fantasmas estranhos”.
Presidente, eu quero que o senhor encerre essa nossa entrevista dizendo se o senhor tem medo de fantasma e, enfim, as suas considerações finais.
Jornalista: Não assista “O Iluminado”, por favor, então, numa noite fria e escura.
Presidente: Não, você sabe que essa história de fantasma é fantasmagórica. Não é verdade, não é verdade. Apenas, quando nós mudamos para lá, é interessante, o Alvorada, que é um Palácio belíssimo, mas ele é imenso. E sobre ser imenso, a parte dele, de baixo, é como se fosse um grande escritório, e a parte de cima, que é chamada “parte íntima”, também tem a mesma imensidão. Então…
Jornalista: Ou seja, também é o mesmo escritório.
Presidente: Meu filho teria que pôr um chip lá para não perdê-lo, não é? É uma coisa… Aquilo não dava a sensação de casa. Então eu aqui, comigo, eu e a Marcela, nós: “Para que nós vamos ficar aqui?” Se nós fôssemos, quiséssemos desfrutar: estamos vivendo num grande palácio, muito bem. Mas nós não temos essa pretensão. Então, vamos voltar ao Jaburu, que tem cara de casa? Um dia vocês irão lá, vocês irão ver que aquilo é uma casa, e uma casa muito confortável, feita pelo Niemeyer, muito bonita. Então, voltamos para o Jaburu e o que eu tenho feito é grandes reuniões no Alvorada: eu dou jantares, almoços, recepções. Agora, ainda, recentemente, com o Rei e a Rainha da Suécia. Recepções para os deputados, senadores, faço lá no Alvorada. Deixei aquilo para escritório, e moro na casa, que é o Jaburu.
E eu quero dizer a última palavra, e quero mais uma vez agradecer a gentileza que tiveram de me convidar. E, em segundo lugar, retomar a palavra de otimismo. Nós temos que confiar no País, nós temos que acreditar que esta crise está sendo superada. Eu peguei o país numa das maiores recessões que a história brasileira já conheceu. E saímos dela, saímos dela, e nesse primeiro momento nós estamos fazendo o quê? Nós estamos já aproveitando a chamada capacidade ociosa das empresas, por isso que o desemprego não diminuiu. Mas, sequencialmente, lá pelo último trimestre do ano, certa e seguramente, nós teremos já um combate efetivo ao desemprego, e o desemprego caindo.
Jornalista: Último trimestre do ano; outubro, novembro e dezembro.
Presidente: É o que eu imagino.
Jornalista: Mas sabe o que eu vou fazer? O senhor encerrar falando da sua esposa, da Marcela Temer, e do papel dela como primeira-dama. O senhor sancionou uma lei, uma lei referente às crianças vítimas de violência. Eu queria que o senhor falasse sobre o trabalho dela como primeira-dama.
Presidente: Ela se dedicou a essa coisa, essa questão da criança, que é muito próprio para a atividade dela. Como primeira-dama ela é, naturalmente, muito discreta. Mas eu me lembro quando veio a rainha da Suécia, que é brasileira, a rainha Silvia, ela veio para fazer o Fórum da Criança Internacional. Ela tem essa atividade há muito tempo. E nós fomos, naturalmente, recepcionamos, e naquela oportunidade até havia um projeto no Senado, que tinha sido aprovado na Câmara, que tratava da violência contra a criança. A Marcela falou comigo, ela detectou esse projeto, eu disse: olhe, vamos fazer o seguinte, vamos aprová-lo lá no Senado. Conseguimos aprovar. E eu sancionei diante da rainha Silvia e do rei da Suécia. É essa atividade que ela tem se dedicado.
Jornalista: Ela é tímida ou ela é discreta?
Presidente: É discreta. Tímida não é, não.
Jornalista: Presidente, juro que é a última pergunta, eu lhe prometo: o senhor ainda escreve poesias? Está trabalhando em mais algum livro?
Presidente: Sabe que eu escrevo de vez em quando. É um hábito, é interessante, é uma forma até de descarregar-se um pouco.
Jornalista: O senhor sabe dizer uma de cór, uma curtinha.
Presidente: Curtinha? Eu quando morava em Tietê, uma pequena cidade, eu ia ao cinema às sextas-feiras. Tinha o seriado. E quando saía, eu morava numa chácara, uns seis quilômetros, mais ou menos, e eu passava num lugar que tinha um jasmim, aquele perfume maravilhoso à noite. Há pouco tempo, aliás, está no meu livro, eu escrevi, recordando, eu escrevi: ainda sinto com dor aquele odor, jaz em mim o perfume do jasmim.
Jornalista: Muito bom. Esse é o presidente que não trouxe de volta apenas a mesóclise, trouxe de volta também um pouco de poesia. É isso aí.
Obrigado, presidente, foi ótimo.
Jornalista: Obrigada, foi um prazer. Boa noite.
Ouça a íntegra da entrevista (1h15min57s) do presidente Michel Temer.