Entrevista exclusiva concedida pelo Presidente da República, Michel Temer, à Televisão Central da China - CCTV
28 de agosto de 2017
Jornalista: E durante esse período um mecanismo também considerado mundialmente, como se fosse um reflexo da boa atitude dos países em desenvolvimento. Então como Vossa Excelência avalia esse papel do mecanismo em termos do desenvolvimento dos países em desenvolvimento?
Presidente: Eu acho que foi extremamente oportuno. Porque são países que estavam em desenvolvimento e resolveram unir-se há 9 anos atrás, porque o prazo é mais ou menos esse, e deu os melhores resultados. É interessante até observar que não há nenhum ato, digamos, jurídico de constituição do Brics. O Brics se organizou com muita naturalidade entre os cinco países.
E a evolução foi perfeita e constante, veja a própria criação do Banco de Desenvolvimento, que tem uma função extraordinária para os países do Brics. Eu acho que é uma associação que deu muito resultado, os países todos têm a mesma postura e o mesmo tamanho dentro da organização.
E estas reuniões anuais são também muito oportunas. Eu acho que cada reunião nós vamos tratando de temas que vão engrandecendo essa organização, que hoje é reconhecida internacionalmente, representa quase 50% do que o mundo fatura, praticamente isso.
E também em matéria populacional um número imenso de habitantes que integram os países do Brics.
Jornalista: O bloco tem contribuído muito significativamente para a economia mundial e, ao mesmo tempo, tem alguns questionamentos mundiais sobre um possível enfraquecimento do Brics. Como Vossa Excelência opina sobre isso?
Presidente: Eu não vejo nenhum gesto de enfraquecimento, pelo contrário, o que vejo é gesto de fortalecimento. Você disse muito bem: a China e o Brasil - deu dois exemplos -, são países reformistas, são países que vêm fazendo reformas acentuadas internamente. Veja aqui no Brasil o que nós fizemos: nós fizemos, em primeiro lugar, um chamado teto dos gastos públicos, ou seja, você só pode gastar aquilo que arrecada. E até, de igual maneira, nós fizemos uma reformulação na modernização trabalhista, porque a nossa, ela está fazendo um sucesso extraordinário porque flexibiliza as relações trabalhistas e, portanto, combate o desemprego.
E temos outras reformas pela frente, como a reforma da Previdência Social, que é uma coisa importantíssima para o nosso País (incompreensível) Tudo isso significa o quê? Um governo reformista. Como de resto fez a China.
Então, China, Brasil, África do Sul, Rússia e Índia estão mais ou menos no mesmo caminho. Por isso que quando se fala… por isso que eu contesto a ideia de que há um enfraquecimento do Brics. E, interessante, a cada ano em que há estas reuniões… eu participei uma vez, ainda como vice-presidente, já participo agora pela segunda vez como presidente da República. Mas eu só vejo entusiasmo e incremento. Especialmente teses muito bem debatidas durante a reunião do Brics.
Jornalista: Interessante, na verdade, porque essa vez, além dos países Brics vão ter outros países em desenvolvimento que participando da reunião (inaudível).
Presidente: Eu acho útil. E, aliás, veja que interessante, isto reforça a tese do não enfraquecimento do Brics. Porque do instante em que você tem, no caso, cinco ou seis países que agora estarão presentes também como espécie de participantes convidados e que estarão lá, isto significa o fortalecimento do Brics. Quer dizer, as pessoas estão interessadas nesta organização.
(em chinês)
Jornalista: No início, a cooperação entre Brics focalizou mais nos laços econômicos, mas nos últimos anos vemos mais laços afetivos entre os países, incluindo… agora está incluindo os temas como segurança política, intercâmbio cultural. Como o senhor presidente acha sobre essa tendência?
Presidente: Sabe que na última vez que eu estive com o presidente Xi Jinping, nós falamos muito nesta interação no âmbito cultural. E esta interação cultural, ela se acentua muito e vem se acentuando cada vez mais. Aí, portanto, mais uma vantagem dessa nossa organização do Brics com a questão econômica, que é importante, é fundamental. Mas que preocupa numa integração maior dos vários setores da nacionalidade. Isso está acontecendo entre o Brasil e a China, entre o Brasil e a Rússia, o Brasil e a Índia, igualmente entre o Brasil e a África do Sul. E eu tenho a sensação que nesta reunião que nós teremos em Xiamen, nós vamos tratar mais fartamente desses temas, de fora a parte a questão econômica.
Jornalista: Como o senhor presidente acha que os países Brics podem aprofundar mais a relação, em termos do ambiente internacional atual?
Presidente: Eu acho que é fazendo o que nós fazemos. Nós estamos, cada vez, em reuniões anuais, nós discutimos todos esses temas, mas, além das reuniões anuais, nós temos também contatos individualizados. Eu, antes de ir para a reunião do Brics, estarei em Pequim para esta visita de Estado. Como há tempos atrás, de igual maneira, o presidente Vladimir Putin me convidou para uma visita à Rússia, e lá estive também, longamente, numa visita à Rússia, também fazendo esta integração entre os países. Ou seja, não se trata apenas de uma coletividade, que são os cinco países, mas, desta coletividade surgem relações individualizadas entre os países, que é importante para a continuação do Brics. No instante que… (em chinês)
Jornalista: O senhor presidente mencionou que no ano passado, durante o G20, o senhor presidente encontrou com o nosso presidente Xi Jinping. Como foi essa experiência?
Presidente: Uma figura extraordinária. Eu até confesso, uma primeira vez que eu fui à China, eu era presidente da Comissão Sino-brasileira Alto Nível, porque eu era vice-presidente. E quando eu fui para lá o presidente Xi Jinping teve a delicadeza de mandar me convidar para fazer uma visita aí, não é? E eu confesso que fiquei muito entusiasmado com o convite, mas estando com ele eu me recordei que ele me visitou quando eu era presidente da Câmara dos Deputados, nas várias oportunidades. Na última, aliás, que eu estive com ele, ele começou dizendo uma coisa delicadíssima, porque ele disse: “olhe, eu acho que nós podemos nos considerar amigos, mais do que chefes de Estado ou chefes de Governo, não é? Porque nós já nos encontramos, é a quarta vez”, era a quarta vez que nos encontrávamos. Essa será a quinta vez que nós estaremos juntos e me dizem que o presidente Xi Jinping tem um carisma extraordinário.
Jornalista: E você … explicação sobre essa vez, o encontro com o presidente Xi Jinping?
Presidente: Eu quero levar a eles essa notícia que eu lhe dei, dos 57 setores que nós vamos conceder à iniciativa privada. E esperamos que a China possa se interessar por participar desses eventos, dessas concessões que nós vamos fazer, possa trazer, naturalmente, capital aqui, para o Brasil. Para nós seria muito útil.
(em chinês)
Jornalista: Como o senhor presidente vê o caminho que pegou (incompreensível) da china nos últimos anos?
Presidente: Um foco extraordinário, acho que vem dos idos de mil… foi, digamos assim, incentivada, incrementada, a partir dos idos de 1976, 77 e isto seguiu em um crescimento extraordinário. Ou seja, a China hoje tem uma presença internacional invejável, e aqui o Brasil tem consciência disso, não só, naturalmente, eu que presido o País, mas é a consciência de todas autoridades brasileiras.
Aliás, estando eu na China, vários governadores também estarão lá para assinar convênios e contratos dos seus estados com o governo chinês.
E só para lhe revelar que é um interesse do nosso Legislativo em relação à China, bastou eu mencionar que iria fazer essa viagem que vários parlamentares querem e farão parte da comitiva, cerca de 11 parlamentares vão para lá também para conhecer melhor a China. Portanto, aumentar a relação entre o nosso País e a China.
Jornalista: A China tem realizado muitos eventos diplomáticos recentemente, não é? E o presidente participou de vários, por exemplo, no mês de maio tem a rota (incompreensível) que o Brasil também participou. O senhor presidente acha que esse projeto da Rota de Ferro (incompreensível) e com essa mecanismo do Brics com que mantém (inaudível) do Brasil?
Presidente: Eu acho que sim. Eu acho que não tem dúvida disso. Quanto mais, aliás, nós fizermos eventos diplomáticos, tanto melhor para as relações entre os nossos países, Brasil e China, e volto a dizer que tudo isso repercute positivamente em relação ao Brics. Mas é uma... são sistemas que fortalecem a nossa relação.
Jornalista: O presidente chinês, ele mencionou sobre a ideia de criar alguma unidade de futuro compartilhado para seres humanos. Como o senhor presidente opina sobre isso?
Presidente: Positivamente, em relação a algo que nós também temos em comum que é o Acordo de Paris sobre o clima. A China e o Brasil acho que foram até os primeiros a depositar um instrumento lá na ONU no ano passado. Nós temos, portanto, muita identidade nestes setores todos.
(em chinês)
Jornalista: É que na nossa entrevista cotidiana, percebemos que o povo brasileiro e o povo chinês, na verdade, têm muitos interesses em comum, sobre comida, sobre futebol e cada vez esse laço afetivo está sendo mais forte de acordo, ao longo do desenvolvimento dos dois países. E o que o senhor presidente espera sobre a futura relação entre China e Brasil?
Presidente: Espero isto. Espero esta afetividade cada vez maior. Espero que o turismo possa crescer, porque o turismo brasileiro para a China é maior do que o turismo chinês para o Brasil. Os brasileiros tem um grande interesse pela China, que tem uma cultura milenar, o que também atrai muito turismo brasileiro.
O que nós queremos será também objetivo da nossa viagem é incrementar, incentivar o turismo chinês para o Brasil.
Jornalista: O que o governo pretende, espera sobre o futuro mercado, (incompreensível), especialmente para os investidores chineses?
Presidente: Espera que os chineses venham cada vez mais para o Brasil. Já tem uma presença indicativa aqui, mais ainda no dia de ontem, nós anunciamos depois de 34 projetos que foram concedidos, linhas de transmissão, portos, aeroportos, ontem nós anunciamos mais 57 organismos públicos que poderão ter uma grande participação na iniciativa privada ou na iniciativa do capital estrangeiro, pelas chamadas concessões. Nós abrimos 57 setores. E até, convenhamos, no meio do organismo que trata da energia elétrica no nosso País, que é a Eletrobras, também está, os estudos estão vão adiantados para que haja uma participação muito intensa do capital acionário.
Jornalista: Também perguntamos aos nossos usuários da internet, colhemos algumas perguntas bem interessantes sobre isso. Primeiro: senhor presidente, como o Brasil pode ter tantos excelentes jogadores de futebol?
Presidente: Eu acho que… você sabe que o futebol está na alma do brasileiro. Você ver, mesmo nas regiões mais pobres, não há hipótese de não ter um campinho de futebol.
Então, isso foi criando na cultura brasileira a ideia de que é um esporte popular. Grandes jogadores têm presença no mundo todo, jogadores que são, digamos assim, exportados para times da Europa, times da Ásia e é um orgulho para o brasileiro. Por exemplo, quando nós perdemos um campeonato mundial é uma tristeza enorme, quando nós ganharmos um campeonato mundial a alegria se espalha por todos os lares do Brasil.
Jornalista: O senhor presidente também joga?
Presidente: Eu não, quando eu era garoto jogava, hoje não mais.
Jornalista: (incompreensível)
Presidente: Mas se botarem uma bola na minha frente eu chuto.
Jornalista: Mas quem é o jogador preferido do senhor presidente?
Presidente: O nosso herói aqui, sempre foi, e mais no meu tempo, é o Pelé. O Pelé é uma figura nacional. Pelé é reverenciado não só no Brasil como hoje em todo o mundo, este foi o meu símbolo do futebol.
Jornalista: O senhor presidente gosta da comida chinesa?
Presidente: Gosto. E quando posso vou... agora não dá, não está dando por causa da Presidência, mas quando podia eu ia a muitos restaurantes chineses, especialmente aqui em São Paulo.
Jornalista: Tem algum prato que o senhor presidente prefere?
Presidente: Aqueles pasteizinhos, mas é um pastelzinho saboroso que eu sempre peço, agora está me fugindo, mas o pato de Pequim é uma coisa primorosa, é uma iguaria. Eu aprecio muitíssimo.
Jornalista: O senhor presidente cozinha? Qual é o prato brasileiro preferido do senhor?
Presidente: (incompreensível) extraordinária: é arroz com feijão, bife e batata. Isso é que eu gosto. É o mais preferido.
Jornalista: Muito obrigado, senhor presidente.
Presidente: Obrigado também