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Entrevista exclusiva concedida pelo Presidente da República, Michel Temer, ao Programa Conversa com Roseann Kennedy, na TV Brasil, em 05/12/2018 (28min48s)

06 de dezembro de 2018

 

 

Jornalista: Presidente Michel Temer, muito obrigada por receber nossa equipe aqui no Palácio da Alvorada. E eu vou aproveitar essa conversa para o senhor fazer esse balanço de sua gestão, mas vamos conversar também sobre 2019, combinado assim?

 

Presidente: Combinado, aliás, uma grande oportunidade que estamos chegando no final do ano, não é? É natural que se faça um balanço, todo final de ano sai balanço, mas no meu caso é balanço de final de ano e de governo.

 

Jornalista: E de governo, agora presidente, exatamente o senhor está aí a menos de mês para deixar o cargo, qual é o legado, na avaliação do senhor, que o senhor acredita que vai deixar para o País, é na economia?

 

Presidente: Eu acho que mais que economia, na economia, sem dúvida alguma, vou dizer obviedades aqui você pegar o País com 10.28% de inflação e ter trazido a menos de 4%, pegar o País com 14.25% de juros a taxa selic reduzir para 6.5%, você pegar empresas estatais praticamente desmanteladas e conseguir e recuperá-las, não é?

Você pegar a questão, a modernização trabalhista de alguma maneira tem uma conexão com a economia, e você pegar e fazer uma grande modernização trabalhista, é um grande legado, não tenha dúvida. Mas além desses, há outros legados viu, Roseann? Você sabe que  se eu pegar por exemplo o tema do meio ambiente, vamos pegar o tema do meio ambiente, nós aumentamos  substancialmente todas as áreas de preservação ambiental no Brasil, só pra você ter uma ideia, e aqueles que estão nos vendo e ouvindo, só em matéria de preservação das áreas marinhas nós fizemos o equivalente à soma do estado, vamos dizer assim da França e Alemanha, ou quem sabe, Minas Gerais e Espírito Santos, uma área enorme, de centenas de quilômetros quadrados de preservação, não só da área marinha, como da área terrestre, então nós temos, muito legado para deixar e discutir. Se permite na área social, veja que nós fizemos o caso Bolsa Família, quando nós chegamos ao poder, há mais de dois anos que não se dava aumento pro Bolsa Família, nós demos dois aumento, e os dois aumentos acima da inflação e mais ainda, como nós sabemos que na verdade o Bolsa Família é um sistema que nós preservamos, não é?

Do governo passado, foi um plano exitoso, sem dúvida alguma, mas era preciso alguma coisa a mais, e este alguma coisa a mais visa precisamente a inclusão social, e a inclusão social se dá por meio de um programa que nós lançamos, chamado Progredir que visa precisamente a dar emprego aos filhos dos que ganham Bolsa Família, esta é a verdadeira inclusão, e eu acho que a esta altura se não me engano, já tem mais de 200 mil jovens contratados, portanto uma verdadeira inclusão. Estou falando rapidamente da inclusão social, poderia fazer um relato muito mais amplo, se eu mencionar, aqui convém recordar porque muitos telespectadores talvez tenham desfrutado da liberação das contas inativas do Fundo de Garantia e do Pis/Pasep, não é? Somando os 44 bilhões do Fundo de Garantia, que atingiu mais de 25, 26 milhões de trabalhadores, e quase mais 20 bilhões do Pis/Pasep, portanto, 44 bilhões mais 20 bilhões são 64 bilhões que nós colocamos na economia, para aqueles que trabalham.

          Então, tem vários legados. Aqui não quero cansá-los para dizer tudo aquilo que foi feito, além da economia.

 

Jornalista: É uma retomada, não é? A volta do crescimento, lentamente, mas a volta do crescimento de emprego. O senhor falou aí de dois pontos que eu quero abordar. O senhor falou a questão das estatais, da recuperação. Como é que o senhor entrega essas estatais para o próximo governo:

 

Presidente: Inteiramente recuperadas. Você se lembra que a estatal… Vou dar o exemplo, aqui da Petrobras, que sempre foi um grande símbolo nacional e orgulho do nosso País, não é? Seja internamente, seja externamente.

          A Petrobras, convenhamos, há quatro anos atrás passou a ser quase uma coisa desmoralizada, entendido, quase um palavrão. Hoje as pessoas respeitam novamente a Petrobras, porque recuperou-se extraordinariamente. De fora à parte outras estatais. Olha há pouco eu recebi o presidente de Furnas. Você sabe que eu não vou dar com muita precisão esses dados. Mas é coisa mais ou menos o seguinte: o lucro, no passado, era, quando nós chegamos ao governo, era coisa de, sei lá, 200 milhões, agora é de 2 bilhões. Você veja o que, em um ano e meio, o que foi feito. Isto é um (incompreensível).

          O Banco do Brasil, quando nós chegamos no governo, o valor era de R$ 15,00, a ação. Hoje é de mais de R$ 40,00 a ação do Banco do Brasil. Isso significa valorização do patrimônio público, não é?

          Então, nós temos muita coisa em toda essa área das estatais também.

 

Jornalista: E o senhor falou de Bolsa Família. Os críticos de sua gestão sempre disseram que as medidas econômicas adotadas no seu governo causariam prejuízos na área social. O senhor está satisfeito com o resultado que apresenta na área social?

 

Presidente: Nós temos que caminhar muito mais ainda, mas estou satisfeitíssimo. Eu sei o que diziam. Vou dar um exemplo para você. Quando nós propusemos a Emenda Constitucional do Teto de Gastos Públicos, que parte de uma concepção, Roseann, muito trivial: você não pode gastar mais do que aquilo que ganha. Na minha casa é assim. Se eu ganho 5 mil, não posso gastar 10 mil, porque daí, daqui três, quatro meses, eu terei um grande problema. O Estado brasileiro, que é sua casa, nossa casa, também você não pode gastar mais do que aquilo que arrecada, não é? Se você gasta mais do que aquilo que arrecada, você acaba criando um problema para o País, e aumenta a dívida pública.

          Você veja que coisa curiosa. Às vezes as pessoas não detectam muito isso. Quando você reduz, por exemplo, os juros, de 14.25 para 6,5, isso significa a redução da própria dívida pública, porque em vez de você pagar juros mais elevados, paga juros menos elevados.

          E tem mais um dado, neste caso do teto dos gastos públicos, não é? Você tem um déficit estimado, este ano, por exemplo, o déficit estimado era de 159 bilhões, nós fizemos tudo que tínhamos que fazer e estamos economizando praticamente entre 20 a 25 bilhões, ou seja o déficit então não será de 159, mas talvez de 125, 130 bilhões, por aí, não é?

 

Jornalista: Isso permitiu então atingir o senhor pelo menos seu interesse na área social?

 

Presidente: Sim, sem dúvida alguma. Porque isso repercute na área social, quando você reduz a inflação, por exemplo, qual é a repercussão para quem é assalariado? O salário fica mais valorizado, não é? Quando você tem inflação galopante, o salário logo se desvaloriza, no nosso caso não, o salário fica mais valorizado.

Quando você vai ao supermercado os preços não se elevam tanto, não é? Tudo isso é fruto de uma conjunção governamental que envolve economia de um lado, e tem a repercussão na área social de outro lado.

 

Jornalista: Agora presidente, no calor do período eleitoral neste de 2018, determinado momento propagou-se a ideia de que o País enfrentava risco de crise cambial, isso não ocorreu, o que o senhor diria hoje a esta pessoas que traçaram esse cenário?

 

Presidente: Eles erraram, não é? Erraram profundamente. E, interessante, você disse bem, erraram em função do pleito eleitoral, é interessante que no pleito eleitoral, e nós temos que mudar um pouco essa cultura política no País. As pessoas não podem falsear, não podem ver dados falsos, dados alarmistas, não é? Só em função das eleições, você veja que hoje, além da segurança cambial que você mencionou, você vê hoje a bolsa, hoje ou ontem, a bolsa está batendo 89 pontos, não? Coisa, na verdade, isso foi conseguido no nosso governo, houve momentos em nosso governo que nós estávamos em 60, 62, formos para 80, 86, depois houve uma queda, agora voltou novamente para 80, estou dizendo de ontem eu acho que era de quase 88 pontos na bolsa, na bolsa de valores.

          O que significa crença na economia e fruto das reformas que nós fizemos, isso deu muita credibilidade ao setor produtivo do País, não é?

 

Jornalista: Parte da sua agenda foi incorporada pelo novo governo que vai assumir em janeiro, por exemplo a questão das reformas, da previdência, trabalhista, as privatizações, além disso parte de sua equipe ministerial também vai integrar novos governos, como os de São Paulo, aqui do Distrito Federal, e do próprio presidente eleito Jair Bolsonaro, e o senhor já disse que isso é um reconhecimento de que suas propostas e sua equipe eram boas, no entanto, o senhor vai terminando o mandato ainda como o presidente mais impopular da história aqui no Brasil.

O senhor tem esperança que em algum momento a população analise o senhor de outra forma?   

 

Presidente: Eu tenho, viu? É uma coisa que não me incomoda, com toda franqueza, porque eu fiz políticas de Estado, ou seja, eu não fiz política de governo. Porque se fizesse política de governo, eu não proporia, por exemplo, o teto de gastos públicos, porque daí iria gastar à vontade, iria tomar medidas populistas que foram tomadas no passado e que causaram o prejuízo que se viu no País.

          Eu digo a você que quando assumi, em maio, o PIB era negativo em 5.9%. Quando chegou em dezembro, já era menos negativo 3.6. E quando chegou no ano próximo, que era 2017, era positivo em 1%, ou seja, avançamos 6.9%. Fruto do quê? De políticas não populistas, mas de políticas que pensavam no País. Isto é que eu chamo de política de Estado e não política de governo. Volto a dizer: se fosse só de interesse do governo eu praticaria medidas populistas, gastaria à vontade, etc. Política de Estado é essa que nós estamos fazendo, é o teto de gastos públicos, que resultou benéfico para a economia. As pessoas… Até eu costumo brincar: na verdade tinha 4% agora foi para 8. Então, aumentou 100%, aumentou 100%.

          E eu acho que aos poucos vai havendo o reconhecimento. Quando você diz: “olha, o governo Bolsonaro, com o qual nós estamos colaborando, com uma equipe de transição, e fazendo uma das transições, se me permite dizer, das mais civilizadas e cordiais que já se viu nos últimos tempos. Mas nós estamos… Sim, dizem que o governo do presidente eleito, o Bolsonaro, deve seguir na mesma linha, como vem indicando, até por essa razão que você mencionou, pela chamada de ministros do nosso governo, de secretários executivos do nosso governo.

          Aliás, eu já contabilizei mais ou menos, entre São Paulo, o governo federal e o governo do Distrito Federal, acho que a esta altura cerca de 13 ou 15, 13 ministros, querem mais dois ou três secretários executivos, o que significa o reconhecimento do nosso governo e da nossa equipe.

          Nós montamos uma equipe tão produtiva, tão ágil, tão eficiente, tão eficaz, que os governos, estaduais e federais, e distrital, estão chamando os nosso ministros para exercitar a arte de governar.

 

Jornalista: Ainda sobre a questão da impopularidade, não é? Diante da impopularidade que o senhor teve, o senhor imaginaria chegar no final da gestão e ver nas redes sociais um movimento com a hashtag “fica Temer”?

 

Presidente: Foi extremamente simpático, não é? É claro que essas coisas nos compensam muito, não é? Porque é sinal de que há um certo reconhecimento. E, até curioso, não é? O reconhecimento eu esperava que viesse muito tempo depois. Mas o reconhecimento vem vindo a partir de agora. O #ficatemer é uma brincadeira, na verdade, não é?

Interessante, viu, eu fico impressionado com o número de visualizações, e de, como é, replicar, etc., não é? É uma coisa de milhares e milhares de pessoas, não é? Que na verdade, faço uma brincadeira, mas relevando o apoio ao nosso governo.

 

Jornalista: Presidente a gente vai continuar esta conversa, o senhor vai até me contar, eu vou te perguntar se ficou alguma frustração sobre o que o senhor queria ter conseguido fazer no governo, e não conseguiu, mas é daqui a pouquinho, no próximo bloco, eu volto já.

          Estamos de volta, hoje eu converso com o Presidente da República, Michel Temer, aqui no Palácio da Alvorada. Presidente, no bloco anterior eu disse que, eu já não sei qual era a pergunta, é saber o que é que o senhor gostaria de ter feito e não conseguiu no exercício da Presidência da República, alguma coisa gerou frustração?   

 

Presidente: Olha, eu não tenho frustração, porque eu tive pouco tempo de governo, você sabe que nós estamos completando praticamente 2 anos e 7, 8 meses, não é? Com uma oposição no começo, eu não dei atenção a isso, mas uma oposição feroz, não é? Uma oposição feroz, e eu fui adiante, de fora à parte ainda tentativas de desmoralização, tentativas de derrubar o governo, não é?

Então não tem frustração, porque nós fizemos grandes reformas, agora, é, faltou a reforma previdenciária, por exemplo, e uma simplificação tributária que estava nos meus planos, eu queria muito realizar essas duas reformas, mas houve um momento que houve dificuldade, em parte de uma trama que existiu, exata e precisamente para impedir a reforma previdenciária, eu sempre demonstrei esse fato porque é importante, sabe alguém, há pessoas que tentaram paralisar o País, tiveram uma tal irresponsabilidade que buscaram, na verdade, a paralisação do País, não é? Portanto, ficou neste sentido uma relativa frustração, mas a frustração foi vencida pela ideia de que sem embargo de ter saído da pauta legislativa, a reforma da previdência, ela não saiu pauta política, você veja que passada a eleição o que mais se fala hoje, é quando será feita a reforma da previdência.

E eu acredito que o novo governo a realizará, terá capacidade suficiente para obter os votos na Câmara e no Senado, então se você me pergunta se eu tenho frustração, então tenho pelo que não fiz, agora falta o tempo e condições para realizar esta reforma que também é fundamental para o País.      

 

Jornalista: O grampo de Joesley Batista, com denúncia, já atingiu o senhor e parte da sua equipe ministerial, foi o que atrapalhou e não permitiu essa votação da reforma?

 

Presidente: A trama está exatamente aí, isso foi tudo preparado, hoje eu digo com a maior tranquilidade, porque na verdade é interessante, viu Roseann? As pessoas, primeiro que, interessante nessa gravação inventaram uma frase que não existe, não é? Inventaram uma frase que não existe. E esta frase foi divulgada, e divulgada com uma tal força, com uma tal velocidade, especialmente por um grupo interessado em divulgar essa frase, que ela pegou, e ela é falsa. Um dia eu estava falando com um grande jornalista, jornalista na melhor suposição, que até veio comer uma pizza comigo, ele disse: “É, Temer, mas aquela frase…”. Eu disse: “Vem cá, vamos pegar a degravação aqui, vamos ver. Você vai me indicar onde está esta frase”. Ele disse: “Que gozado, não tem essa frase”. Era uma frase em que o sujeito dizia para mim: “Eu estou de bem com ele”. E eu disse: “Mantenha isso, viu?”. Inventaram uma frase diferente: “Dê dinheiro para fulano aí para manter o silêncio”, não existe essa frase. Ele disse: “Interessante, eu achava que tinha”. Eu falei: “Fulano, você que é um grande jornalista, acha que tem, imagine o que o grande público pensa, se você, que é um grande jornalista, está pensando isso”. Isso foi fruto de uma campanha deliberada para tentar derrubar o governo Não conseguiram, não é? Então, primeiro ponto.

          Segundo ponto: isto o tempo para dizer uma obviedade, que é o senhor da razão, ele logo evidenciou as mentiras. O meu detrator, o sujeito que foi gravar lá o presidente da República, foi preso, você sabe disso. Preso, fruto do quê? De uma gravação inadequada que fez, com seus auxiliares lá, etc., não é? Tanto ele como o auxiliar foram presos.

          O Procurador que trabalhava para a JBS, para a empresa, não vou mencionar, não gosto de mencionar o nome, mas vocês viram que saiu, um Procurador que trabalhava, enquanto era Procurador, acabou sendo denunciado pelo próprio Ministério Público, não é?

Então, o tempo foi resolvendo essas questões. Resolveu em definitivo? Digo eu: não, não resolveu, porque montou-se uma trama que subsiste até hoje. Mas foi, de fato, um dos fatores fundamentais para que se tentasse paralisar a reforma da Previdência e paralisou-se, e também para atrapalhar o País.

 

Jornalista: Vamos falar para frente, 2019. O próximo governo está montando uma equipe, pelo menos até o momento, sem indicações de partidos políticos, diretamente de partidos políticos. Disse que não vai aceitar “toma lá, dá cá”, esse tipo de negociação. O Congresso está preparado para absorver esse tipo de política?

 

Presidente: Eu acho que sim, viu? Eu fiz um governo, até eu costumo dizer que um governo quase semipresidencialista, não é? Porque eu chamei muita gente do Congresso Nacional, que foi também o que me permitiu chegar, graças a Deus, com sucesso até aqui. Mas cada momento histórico é um momento histórico e cada governo é um governo. Eu não acredito que o fato de não chamar parlamentares… Mas eles têm chamado, não é? Está aí o Onix Lorenzoni, está aí o Osmar Terra, de alguma maneira também chamaram parlamentares. Mas se a composição do governo não for só por parlamentares, isso não vai ofender o Congresso, não.

          O Congresso Nacional, por mais que se queira, muitas vezes criticá-lo, ele tem consciência das necessidades do País. Então, quando o governo propuser as medidas fundamentais para a governabilidade, para o Estado brasileiro, eu tenho certeza que o Congresso vai aprovar, não vai atrapalhar.

 

Jornalista: E pela experiência que o senhor tem, não só nessa relação Planalto e Congresso, mas todos os anos seus na Câmara, inclusive como presidente da Câmara dos Deputados, qual é a avaliação que o senhor faz, do impacto que pode haver da relação de Planalto e Câmara e Senado, diante do fato de que 50% ali da Casa, do Congresso, estão renovados?

 

Presidente: Você sabe que, na verdade, a renovação, ao longo do tempo, sempre mediou entre 30, 40%. Ao longo do tempo sempre foi assim. Agora a novidade é que a renovação se deu com pessoas que jamais estiveram no Legislativo, não é? Mas eles logo aprendem, porque… Aprendem no sentido positivo, não é? Porque fizeram campanha, tomaram contato com as necessidades do seu eleitorado, do seu povo, do povo que vão representar na Câmara e no Senado. De modo que eu tenho certeza que em pouquíssimo tempo logo se aclimatarão ao ambiente do Congresso Nacional, e preocupados que estarão todos com o destino do País, eu reitero aqui que eles votarão positivamente as matérias que interessarem ao povo brasileiro.

 

Jornalista: Qual o senhor acha que vai ser a maior dificuldade do presidente Jair Bolsonaro?

 

Presidente: Olha, eu acho que aparentemente seria a relação com o Congresso. Mas eu vejo que ele está chamando as bancadas, está tendo contato com as bancadas. E eu penso que mesmo no tocante à relação com o Congresso Nacional, não haverá dificuldades.

          Por outro lado, eu sempre, e o Brasil mesmo sempre praticou uma política universalista, não é? Nós nunca nos pautamos por ideologias. Então, o governo passado pautava-se por ideologias, não é? E, portanto, a relação com os estados era uma relação baseada na ideologia. Eu eliminei isso. Eu eliminei e adotei a institucionalidade, ou seja, a relação é de país com o país, não importa qual seja na ideologia. Eu acho que o presidente Bolsonaro também vai adotar a mesma regração nesta política universalista que nós temos no plano internacional.

 

Jornalista: Já que o senhor falou disso, me remeteu a outra situação, porque muito se fala da questão ideológica nas relações internacionais. O senhor pautou esta área, no seu governo, com relações multilaterais. O governo Bolsonaro já faz um novo desenho, de uma aproximação maior com os Estados Unidos, reticente em relação ao Acordo de Paris, também, ali, com a previsão de mudar a embaixada em Israel. Qual é a análise que o senhor faz disso? É positivo esse movimento, ou gera riscos para o Brasil?

 

Presidente: Eu disse há pouco que cada governo é um governo, não é? Eu acho que a questão do multilateralismo é uma exigência da globalização, ainda agora estando recentemente no G20 e no Brics, no Brics é: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Não é?

          É, eu sustentei o multilateralismo, porque em face da globalização você não tem como lançar uma política isolacionista, eu não sei se cabe, o Estados Unidos é um País poderoso, nós não temos o mesmo poder, nem econômico, nem político e nem internacional dos Estados Unidos, então não podemos, nós temos que adotar o multilateralismo, e eu penso que o Presidente Bolsonaro vai acabar adotando essa fórmula, digamos universal, não é? De universalizar as relações com os vários países.

 

Jornalista:  A gente pensa assim presidente, assumiu a presidência da república,  - nossa, é a pessoa mais poderosa do País - usar a gíria do momento, só que não. Não é bem assim, o que é que decepcionou mais o senhor no exercício do cargo?

 

Presidente: Você sabe que, é interessante eu tive uma vida universitária, profissional, política pública, não é? De muita tranquilidade, mas quando cheguei à Presidência da República, em face daqueles fatos que nós acabamos de relatar, tentaram desastrar a minha vida, e esta foi uma coisa que me incomodou, confesso que me incomodou muito.

Muito porque não era uma luta política, era uma luta de natureza moral, e sobre ser de natureza moral, falsa, mentirosa, agressivamente mentirosa, não é? Isso é que me decepcionou muito, no mais eu tenho muito orgulho de ter podido, num dado momento, sair lá do interior de São Paulo, não é? A cidade pequena, depois disso servir o meu País em vários momentos, particularmente agora como presidente da República.

 

Jornalista: Qual conselho o senhor daria a Jair Bolsonaro?  

 

Presidente: Ter humildade, não é? Mas eu dou conselho reconhecendo que ele é uma figura humilde, mas a humildade, a cordialidade, a temperança, o equilíbrio, são dados fundamentais para quem quer dirigir um País, ou vai dirigir um País, com a diversidade que existe no Brasil. Se eu não tivesse serenidade, temperança, etc. Imagine as agressões que, naturalmente um presidente sofre, não é? Seria muito difícil eu sustentar. Mas eu tenho certeza que o presidente Bolsonaro tem esses atributos e vai levá-los adiante.

 

Jornalista: A partir do dia primeiro de janeiro, quando o senhor passar a faixa para Jair Bolsonaro, o que é que o senhor vai fazer?

Presidente: Eu vou viver comigo mesmo, você sabe que há muito tempo que eu não vivo comigo mesmo, porque eu estou sempre com os outros, não é? Então vou viver comigo mesmo, e vou voltar para minha constituição, eu sou da área jurídica, não é? E se for possível, eu vou exercitar, eu vou voltar para São Paulo.

 

Jornalista: E voltar a escrever seus livros de poesias?

 

Presidente: Sem dúvida alguma, eu aprecio muito. Isso eu vou escrever.

 

Jornalista: Foi isso o que o senhor mais sentiu falta, inclusive, no exercício do cargo?

 

Presidente: É, de alguma maneira, de alguma maneira. Porque a gente trabalha aqui, no meu caso, das oito da manhã às 11 horas, meia-noite, não é? E claro que o seu pensamento está todo voltado para as questões nacionais, internacionais, os vários problemas, não é? E aí não sobra muito espaço mental para você elaborar, sei lá, um escrito qualquer, seja técnico, ou seja, de ficção, não é? Ou poesia, que seja.

 

Jornalista: E aí, já encerrando nossa conversa, o tempo já está acabando, eu pergunto para o senhor: depois desse período na Presidência da República, qual o principal sentimento que o senhor leva?

 

Presidente: Um sentimento de realização. Você sabe, depois de tudo que eu fiz na vida, em todos os setores, eu sinto, intimamente eu sinto que eu desempenhei um bom papel, pode até ser reconhecido, não importa, não é? Mas eu pessoalmente sinto, que eu exerci um bom papel para o País e para o meu espírito.

 

Jornalista: Vai sentir saudade?

 

Presidente: Acho que não. A vida é assim: cada momento é um momento. Você não pode prender-se ao passado, não é? Você tem que prender-se ao que vai acontecer.

 

Jornalista: Presidente, muito obrigada por essa conversa.

 

Presidente: Eu que agradeço a você.

 

 

 Ouça a íntegra (28min48s) da entrevista concedida pelo Presidente Michel Temer