Entrevista exclusiva concedida pelo Presidente da República, Michel Temer, ao Programa do Ratinho
Brasília/DF, 28 de abril de 2017
Ratinho: É uma honra conversar com o senhor e perguntar por que mudar a Previdência agora?
Presidente: Você sabe, Ratinho, em primeiro lugar eu quero dizer que a honra é minha, porque você está me dando a oportunidade de falar com o seu público aqui, não só no auditório, como os telespectadores. E eu vejo o seu entusiasmo. Você é capaz de um entusiasmo extraordinário que contagia aqueles que te assistem, não é?
Mas eu quero, aproveitando esse cumprimento inicial, quero agradecer mais uma vez a oportunidade e dizer a você: nós precisamos reformar a Previdência por uma questão singela. Na verdade, em primeiro lugar, é para garantir que aqueles que vão se aposentar no futuro tenham como receber as suas pensões, primeiro ponto. Segundo ponto: você tem um débito extraordinário do Estado brasileiro, que chega em bilhões, não é? Hoje você fala só em bilhões. Então, vamos dizer, o déficit da Previdência, quanto deve, quanto custa a Previdência, em termos negativos, é cerca de R$ 200 bilhões nesse ano. Quando você fala nisso, significa que você não vai construir escolas, não vai construir hospitais, você põe em risco os programas sociais, e você põe em risco o salário.
Com toda franqueza, Ratinho, há poucos dias esteve aqui o presidente da Espanha, o presidente do governo da Espanha e disse o seguinte: que lá eles entraram também com uma economia arrasada, fizeram as reformas, com muito protesto até, mas depois que fizeram as reformas, a Espanha cresceu, emprego voltou, naturalmente, e hoje ele é aplaudido por todo o povo espanhol. Acho que a reforma, basicamente é esta a razão que nós temos que reformar a Previdência, sem causar prejuízo a ninguém, me permita dizer isso.
Ratinho: A reforma prejudica os mais pobres?
Presidente: Em nada, zero, Ratinho, zero. Não há prejuízo nenhum. Primeiro, me permita dizer, você sabe, quem tem já o direito adquirido, quer dizer, quem já completou tempo para a aposentadoria, seja no serviço público, seja o serviço privado, não perde nenhum direito. Aqueles que também já estão aposentados não vão perder direito nenhum, não é? E você sabe, Ratinho, cerca de 60 ou mais de 60% da população brasileira ganha salário mínimo, e o mínimo da aposentadoria é o salário mínimo. Então, ninguém vai ter redução no seu ganho atual quando se aposentar.
Ratinho: A aposentadoria rural, muita gente está preocupada com isso, muda alguma coisa?
Presidente: Você sabe que nós estamos mantendo basicamente o que existe hoje. Realmente, no projeto que nós mandamos ao Congresso Nacional houve alteração de idade e alteração de uma série de condições. Mas, nós ouvimos o Congresso Nacional, e o Congresso entendeu que não poderia modificar e nós dissemos: “Pode negociar, pode ajustar isso”.
Então, a questão do trabalhador rural, da trabalhadora rural, continua tal e qual existe hoje. Com mínimas modificações, mas sem prejudicar os trabalhadores rurais.
Ratinho: Vai ter que trabalhar mais tempo para se aposentar, Presidente?
Presidente: Olhe, vai ter uma fase de transição, não é? Transição significa: você pode se aposentar hoje, vamos dizer, pelo projeto que está no Congresso, você, com 53 anos, se completar 25 anos de contribuição, você vai poder se aposentar, primeiro ponto. Segundo ponto, para chegar nos 65 anos, vai levar muitos anos pela frente nessa transição que está sendo feita. Então…
Ratinho: Não prejudica quase ninguém.
Presidente: Não prejudica… Quase ninguém, não, não prejudica ninguém, digo a você.
Ratinho: Os privilégios dos funcionários públicos, que muita gente diz que funcionário público tem muito privilégio. Esses privilégios vão continuar?
Presidente: Não vão, Ratinho, por uma razão também muito simples. Você sabe que um dos privilégios, digamos assim, é o funcionário público aposentar cinco anos antes daqueles trabalhadores comuns. Hoje vai haver uma igualdade, quer dizer, não há diferença entre o funcionário público e aquele que está no trabalho geral, no trabalho privado.
Ratinho: Os políticos, que todo mundo diz também que se aposenta muito rápido, ou muito cedo, os políticos vão ter uma aposentadoria diferenciada?
Presidente: Nenhuma, Ratinho. Você sabe que desde o primeiro momento nós dissemos: “Olhe, tanto o servidor público como aqueles que estão na iniciativa privada, no trabalho, na Previdência em geral, como os políticos, serão igualados. Não haverá modificações em relação à sua aposentadoria”.
Ratinho: Se o sistema previdenciário não tem como cumprir com os pagamentos aos aposentados, faltou algum planejamento?
Presidente: É, na verdade, essa reforma deveria ter acontecido - não é, Ratinho? - uns dez anos atrás. Se houvesse acontecido há dez anos atrás, nós não estaríamos na situação que hoje se encontra. Você sabe que alguns países, para fazer a reforma da Previdência, tiveram que congelar salários de servidores públicos e de aposentados por 4, 5 anos. Então, esse congelamento derivou do quê? Também de uma certa imprevidência. Então, nós estamos fazendo a reforma agora, volto a dizer a você, para garantir que daqui a 4, 5 anos não precise fazer nova reforma, não é?
Ratinho: Vamos no pior cenário. Vamos dizer que as reformas não passem no Congresso. O que pode acontecer?
Presidente: Péssimo para o Brasil. Você sabe que se não passar o desemprego não vai diminuir, porque você sabe que todo mundo… Nós fizemos aqui uma questão: primeiro, nós cortamos na carne. Quando nós estabelecemos uma regra que estabelece um teto de gastos para o poder público, para o governo, o governo não pode gastar mais do que arrecada. É como na sua casa, na minha casa.
Ratinho: Exatamente.
Presidente: Você só pode gastar aquilo que você ganha. E o que houve, ao longo do tempo, foram gastos muito superiores ao que você ganhava, ao que o governo ganhava, que arrecadava. Então, nós estabelecemos um teto de gastos. O que significa isso? É cortar na própria carne. Na verdade, a mensagem que nós mandamos para nós, do governo, foi a seguinte: “Olha aqui, você não vai poder gastar à toa, não à vontade”. Porque o maior desejo do governante é gastar à vontade. São medidas populistas que geram prejuízo para o país.
Então, nós começamos por aí. E quando nós chegamos agora à questão da Previdência, nós estamos mais uma vez preparando o futuro. Se não passar, você não tem uma redução do desemprego, que já começou cair em função das medidas que nós tomamos, mas que cairá substancialmente, enormemente, depois que completar a reforma da Previdência. E, evidentemente, você veja, tem estados hoje - quer dizer, você também -, estados brasileiros que estão praticamente quebrados por causa da Previdência. Há poucos dias até uma aposentada botou um cartaz “sou aposentada, não recebo há três meses a minha aposentadoria. Estou pedindo esmola”. E estava pedindo esmola em frente à Assembleia Legislativa, no caso, no estado do Rio de Janeiro. Isso que nós queremos evitar.
Ratinho: Presidente, algumas classes são privilegiadas nessas aposentadorias. Esses privilégios vão acabar ou vão continuar?
Presidente: Vão acabar. A tendência, paulatinamente, é exatamente acabar com todo e qualquer privilégio. Não há razão para isso. Hoje você pode pensar numa espécie de Previdência complementar. Quer dizer, você tem a Previdência pública, que o Estado paga porque você trabalhou tanto tempo. Mas para ganhar mais, você precisa ter um pagamento mensal que você faz para aumentar o valor da sua aposentadoria quando se aposentar.
Ratinho: Posso dar essa tranquilidade para o meu público, que essas coisas que vêm pelo whatsapp, pelas redes sociais, dizendo que o trabalhador vai ter que trabalhar 50 anos a mais, que ele vai se aposentar com 90 anos, todas essas bobagens que a gente que entende um pouquinho sabe que não existe. Eu posso dar essa tranquilidade que o presidente Michel Temer está dizendo para mim, no meu programa, que não vai haver, não vai acontecer nada disso?
Presidente: Pode dizer a todos que te ouvem, te vêem, pode dizer que eu avalizo as suas palavras. Eu não tenho a menor possibilidade dessas coisas mentirosas que dizem. Aliás, de vez em quando eu vejo umas charges que dizem “olhe, o senhor está no céu, ou tá no inferno, não sei, e ali ele se aposentou”. Isso não é verdade. Vai continuar a aposentadoria…
Ratinho: Esses dias mandaram para mim uma caverinha andando, falando “ai, tô tentando me aposentar”.
Presidente: É uma campanha, digamos, desonesta em relação à necessidade do Brasil e a verdadeira modificação da Previdência que nós estamos fazendo.
Ratinho: Mais uma pergunta: vai haver modificação nas pensões? Quer dizer, a pensão integral por morte vai acabar?
Presidente: Não. Até dois salários mínimos, quem ganha até dois salários mínimos vai poder acumular as pensões por morte com aposentadoria. Isso, aliás, era outra inverdade que se divulgou muito.
Ratinho: Presidente, o Brasil está passando por um momento difícil; são denúncias de pagamento de propina, escândalos. E a impressão que fica é que os poderosos limparam o caixa, e agora o povo vai ter que pagar a conta. A reforma da Previdência do jeito que é, vai sobrar para o povo pagar de novo se ela continuar do jeito que está?
Presidente: Pagar os desajustes que fazem? Não. Isso não. O que ele vai ter é direto para ele, isso sim. E, veja, nós estamos num sistema tão correto no Brasil, Ratinho, que você mencionou um fato que está sendo apurado. Então, você vê que as instituições estão funcionando tão fortemente que tudo que é malfeito, digamos assim, é apurado pelo Ministério Público, pela Polícia Federal, depois vai ao Judiciário, o Judiciário vai julgar.
Então, hoje o Brasil vive uma tranquilidade das instituições, um ajustamento muito correto, e isso é importante para o povo, porque o povo vai dizer, como você disse: “Eu não vou pagar o que os outros fazem”.
Ratinho: Muito bem. Então, eu acho que esses detalhes da Previdência todo mundo vai ficar sabendo, através de… o governo está aí para informar. Agora eu vou entrar numas coisas mais populares, com notícias talvez interessantes para o povo. O Bolsa Família. O Bolsa Família foi um programa que o povo gostou, não é? Que o senhor, inclusive, ajudou a costurar o Bolsa Família, na época. O que o senhor fez pelo Bolsa Família, como Presidente da República?
Presidente: Olha, quando cheguei na Presidência, eu verifiquei, isso há um ano atrás, eu era interino ainda, porque eu só me efetivei quatro meses depois, você sabe disso. Quando eu cheguei na Presidência, eu verifiquei que há mais de dois anos não se dava aumento para o Bolsa Família. A primeira coisa que eu fiz, Ratinho: dei um aumento de 12,5% para os que recebem Bolsa Família. Parece que é pouco, mas são 14 milhões de famílias. Então, isso significa, em primeiro lugar, uma certa melhoria de vida de quem está recebendo o Bolsa Família. Segundo, representa uma circulação de dinheiro, o sujeito vai à venda, vai ao armazém, vai ao supermercadinho e vai botar aquele dinheirinho a mais que ele recebeu.
Ratinho: Quando o senhor (inaudível) do Fundo de Garantia, o senhor liberou o dinheiro do Fundo de Garantia. Por que foi feito isso, Presidente?
Presidente: Exatamente para atender às famílias mais pobres. Quem trabalha, no geral, no geral é assim: o sujeito tem um Fundo de Garantia porque ganha um determinado salário.
Ratinho: O dinheiro é dele, não é?
Presidente: O dinheiro é dele. As contas estavam… as chamadas “contas inativadas”, estavam paralisadas. Quem é que ganhava com isso? Era o poder público, porque ficava lá, o poder público, aplicando o dinheiro. O que é que eu fiz? Falei: “Vamos liberar o Fundo de Garantia”.
Ratinho: Quer dizer, o senhor devolveu um dinheiro que era do povo…
Presidente: Que é do povo.
Ratinho: Para o povo. É isso?
Presidente: Eram R$ 41 bilhões. Aliás, uma das coisas mais alegres, se você puder, faça uma coisa que eu passei recentemente, numa agência da Caixa Econômica Federal, num sábado: a alegria com que as pessoas vão lá recolher o Fundo de Garantia. Uma coisa formidável, estupenda.
Ratinho: Agora me falaram aqui, entrando aqui, aonde o senhor trabalha, me falaram de um negócio que eu estou por fora. Então, eu vou perguntar para o Presidente da República: o que é o Cartão Reforma? Eu não sei o que é o Cartão Reforma.
Presidente: Olha, uma coisa formidável, é uma ideia que nós tivemos, de natureza, digamos, eminentemente social porque são R$ 5 mil, que aqueles que ganham até R$ 1.800, na verdade, agora o Congresso modificou para quem ganha até R$ 2.800, pode ir à Caixa Econômica, comprovar que tem uma casinha, uma casa, pega R$ 5 mil. Não precisa pagar, não precisa devolver, é a fundo perdido. Pega R$ 5 mil, vai pintar sua casa…
Ratinho: De graça?
Presidente: De graça. Vai pintar sua casa…
Ratinho: Você não vai ficar devendo para o banco?
Presidente: Não vai ficar devendo. Ele vai comprovando que ganha R$ 2.800...
Ratinho: Vamos deixar bem claro aqui: tem que comprovar que ele ganha até R$ 2.800. A renda familiar é isso?
Presidente: Isso.
Ratinho: Renda familiar de R$ 2.800. Quando é que vai sair isso?
Presidente: Está saindo agora. Eu mandei o projeto de lei para a Câmara, eles devem aprovar muito brevemente. Vou sancionar. E sancionado, já abrem as portas da Caixa Econômica para o cidadão ir lá e pegar seu dinheiro.
Ratinho: E porque o seu governo está fazendo isso, Presidente?
Presidente: Porque tem uma finalidade social. Você sabe que muitas e muitas vezes nós temos uma responsabilidade, Ratinho, que é fiscal. A responsabilidade fiscal significa conter os gastos, segurar os gastos públicos do governo, significa fazer a reforma da Previdência. Mas também nós temos uma responsabilidade social. Isso significa prestigiar o Bolsa Família, prestigiar a liberação do Fundo de Garantia, fazer o Cartão Reforma.
Aliás, mais uma coisa para os seus telespectadores e para o auditório: você sabe que nós estamos também providenciando a chamada regularização fundiária da cidade. Ou seja, o cidadão tem uma casinha, mas não tem nem posse, nem propriedade, nem documento. Nós vamos regularizar isso. Esses estudos estão sendo completados para brevemente nós lançarmos esse plano.
E mais uma coisa, se você me permite, você veja a questão do outro programa de muito êxito também, é o Minha Casa Minha Vida. Neste ano nós botamos no orçamento dinheiro para construir 600 mil casas para os mais pobres. Isso significa, Ratinho, que vai prestigiar os mais pobres, mas vai movimentar a economia. Porque, é claro, que vai abrir emprego na construção civil.
Ratinho: O que eu estou notando é que todos esses projetos vão movimentar muito a construção civil. Está privilegiando a construção civil porque ela dá mais emprego?
Presidente: Seguramente. É um dos setores que é capaz de dar mais rapidamente emprego. O Cartão Reforma é isso, Minha Casa Minha Vida é isso. Aliás, até mesmo para o pessoal mais da classe média. Por exemplo, a Caixa Econômica, nós aumentamos a possibilidade de financiamento de R$ 1,5 milhão, para R$ 3 milhões. Então, se você quer comprar um apartamento melhor, ele tem hoje um valor mais alto para poder financiar a compra do imóvel.
Ratinho: Vou fazer uma pergunta, o senhor não quer que eu pergunte, mas eu vou ter que perguntar: o senhor é candidato à Presidência da República de novo?
Presidente: Não. Eu sou candidato à completar um bom governo, se Deus quiser. Isto é que eu quero fazer e deixar, digamos assim, quando lá frente falarem do meu governo, que terá dois anos e oito meses: “Mas esse Temer aí fez alguma coisa pelo País”.
Ratinho: Quer dizer, o senhor quer ficar na história como o presidente… Deixa ver se é isso que eu estou entendendo, presidente Temer: o senhor quer ficar na história como o presidente que reformou o País na hora que precisava da reforma, mesmo aguentando muita pressão, muita crítica, um Congresso difícil de lidar, com um Congresso complicado, um Congresso que realmente é muito politizado, nós temos muitos partidos. Presidente, o senhor é a favor dessa quantidade enorme de partidos?
Presidente: Não, não sou. Não sou porque… Aliás, não é nem partido, não é? Eu fui presidente de um partido, você sabe, muito tempo. Mas, na verdade, os partidos converteram-se em siglas partidárias, quer dizer, a ideia de partido é mais ou menos o seguinte - aliás, partido é uma palavra que vem de parte, não é? Quer dizer, é uma parcela da opinião pública que pensa de uma determinada maneira e quer chegar ao poder para governar a cidade, o estado, a nação. Nós não temos exatamente isso no País, não é? Então, vão se proliferando os partidos. Não acho útil para o País, não acho útil para a governabilidade. Mas eu penso que vem aí, pela frente, uma reforma política que vai incentivar, quem sabe, a redução de partidos políticos, mas sem nenhum trauma. Porque, muitas vezes - viu, Ratinho? - falavam: “Vamos eliminar por lei partidos políticos”. Não. Eu digo: a solução seria em cada eleição você ter partidos menores, digamos assim, que façam uma federação de partidos. Então, você tem seis, sete, oito partidos que se coligam para disputar a eleição, mas têm que manter essa coligação durante o mandato. Ora, se eles fizerem isso num mandato, certamente, no outro mandato, esses seis, sete partidos vão se transformar num partido só, não é? É isso que nós queremos fazer.
Ratinho: Reforma trabalhista, é uma boa reforma? Não vai dar mais desemprego, Presidente?
Presidente: Pelo contrário, vai gerar emprego. Porque, como ele flexibiliza, ele torna mais, digamos assim, mais flexível, mais - como é que eu diria? - mais suave os acordos entre patrões e empregados, é possível que eles consigam… Vou dar um exemplo claro: por exemplo, o parcelamento de férias em três vezes. Pode ser fruto de um acordo coletivo. Ora, o sindicato dos patrões, o sindicato dos empregados ajustam uma forma. Isso vai aumentar o emprego, vai dar mais segurança jurídica para o trabalhador e para o empresário. O objetivo é gerar emprego. Aliás, o que nós temos feito com o chamado quilo que você chamou muito corretamente: é o governo das reformas. O que nós estamos fazendo é reformar para melhorar o Brasil mas, especialmente, para gerar emprego. Esse é o nosso objetivo.
Ratinho: As nossas leis trabalhistas são muito antigas, não é? De muito anos atrás. Não tem como mais conviver com isso. Mas, por exemplo, o imposto sindical, que parece que é o negócio que meio que pega aí, o governo vai trabalhar a favor ou contra o imposto sindical?
Presidente: Eu não entrei nessa história. Você sabe que quando nós remetemos o projeto de lei para a Câmara dos Deputados, Ratinho, nós não falamos do imposto sindical. Aliás, eu devo registrar que esse projeto de lei foi acordado, foi acertado entre patrões e empregados. No dia que eu lancei o projeto de lei aqui, falaram sete membros de centrais e sindicatos, sindicais e sindicatos, e sete, oito membros de federações de indústria e de serviço. Nós não cogitamos do imposto sindical. Entretanto, lá no Congresso eles colocaram a tese da eliminação do imposto sindical. O que está sendo debatido, vai ser debatido, vamos ver até onde vai isso.
Ratinho: Eu sei que o senhor já disse várias vezes que o senhor apoia a Lava Jato. O senhor teme a Lava Jato também?
Presidente: Zero. Não tenho preocupação nenhuma. Eu, pessoalmente, nenhuma, evidentemente. Aliás, eu sempre digo: vamos deixar a Lava Jato trabalhar em paz. Vamos deixar o Ministério Público cumprir seu papel, o Judiciário cumprir o seu papel. E vamos continuar trabalhando. Porque muitas e muitas vezes, Ratinho, o nosso povo vai entender isso: você diz assim “houve a denúncia, não sei quem… vamos para o país”. Não pode, não. O Judiciário tem o seu papel; o Executivo, que é o governo, tem o seu papel; e o Legislativo tem o seu papel. Se você paralisa essas atividade, você está causando um prejuízo ao cidadão que está nos vendo e ouvindo.
Ratinho: As reformas que o senhor está fazendo vão melhorar os municípios, que estão quebrados, todos os municípios do país estão quebrados. Vai melhorar?
Presidente: Vai. Vou contar um episódio para você: nós fizermos a tal da repatriação dos recursos do exterior para cá. Quando entraram os recursos os estados e os municípios tinham o direito apenas da participação no imposto. Porque somando-se ao imposto, você tinha 15% do imposto e 15% de multa. Eles não participavam das multas. Quando chegou o dinheiro aqui, os estados vieram a mim - e municípios -, e disseram: “olhe, nós queremos também participar das multas”. O que é que nós fizemos? Fizemos um acordo e distribuímos também o produto da multa para os estados e municípios. Eu vou dizer a você: muitos municípios conseguiram fechar o seu balanço no ano passado porque nós entregamos uma parcela da multa. Agora, nessa segunda chamada da repatriação, nós já botamos no próprio texto da lei que há uma partilha com estados e municípios. Portanto, vai melhorar a posição dos municípios.
Ratinho: Uma dona de casa, ela não pode gastar se o marido dela ganha R$ 5 mil, ela não pode gastar mais que cinco, senão ela vai quebrar o marido. Porque o governo gasta mais do que arrecada sempre? Não estou dizendo o governo federal, mas o governo municipal, o governo estadual sempre gasta mais do que arrecada. Por que isso?
Presidente: Acho que os governos agora precisam passar a ter marido, viu, porque daí não vai quebrar. Para não quebrar o País precisa fazer - país, estado, município -, você precisa fazer isso que nós estamos fazendo. Por exemplo, reitero, o teto de gastos públicos. Você não pode gastar mais do que arrecada. É fazer como se faz na sua casa.
Ratinho: Presidente, o senhor é um homem muito certinho. O senhor tem algum hobby? O senhor joga bola, o senhor vai em festa junina? O senhor cozinha? O que o senhor faz?
Presidente: Você sabe que eu cozinho, viu? Você sabe que de vez em quando, um ovo mexido, por exemplo, eu faço com uma tranquilidade…
Ratinho: Ferver água, sabe ferver água.
Presidente: Ferver água..Mas tenho o hobby de…Você sabe que eu gosto muito de cinema, viu?
Ratinho: Gosta de cinema?
Presidente: E gosto de televisão. Não foram poucas as vezes que eu assisti o seu programa.
Ratinho: Assiste todo dia para dar audiência. Assista todo dia para dar audiência.
Presidente: Vou assistir todo dia.
Ratinho: Assista para dar audiência.
Presidente: Quando eu não estiver trabalhando aqui, não é?
Ratinho: É porque geralmente…
Presidente: Você sabe que o seu programa gera na gente uma esperança, um dinamismo.
Ratinho: É um programa para cima.
Presidente: Não é? Pra cima.
Ratinho: Presidente, para quem não é político, parece que essa crise política, ela não tem fim, não é? O senhor compartilha? Dá a impressão para o senhor, presidente da República, que não vai terminar nunca?
Presidente: Vai terminar, Ratinho. Já está começando a terminar. É só colocar da seguinte maneira: “Olha” - como eu disse há pouco - “deixa cada um dos poderes trabalhar sossegadamente, deixa o governo trabalhar sossegadamente”. Nós estamos tendo coragem, convenhamos, eu reconheço que nós estamos fazendo algumas reformas ousadas, pesadas, mas é para prevenir o futuro, não é? Dizem assim, de vez em quando: “Ah, o Temer não tem popularidade”. Eu faço uma distinção, viu, Ratinho, entre o populismo e a popularidade. Porque a medida populista é aquela que você faz hoje, é aplaudido amanhã, mas causa um prejuízo depois de amanhã.
Ratinho: Estamos vendo aí.
Presidente: Foi o que aconteceu no passado, não é? A medida popular, não, é aquela que demanda, precisa de um reconhecimento. Então, você pratica hoje, ela pode ser contestada hoje, mas ela é reconhecida amanhã. E essas são as medidas populares.
Ratinho: Bom, recentemente a gente está notando que não está aparecendo muita liderança, por exemplo, para disputar eleição presidencial que vem aí, em 2018. Nem estadual não está aparecendo liderança. Essa falta de liderança não vai prejudicar o País? Ou ela vai aparecer?
Presidente: Eu acho que vai acabar aparecendo, viu, Ratinho? O País é muito criativo, não é? Nós todos, brasileiros, somos muito criativos. Então, não é improvável que, como nós estamos colocando o País nos trilhos - é isso que nós queremos para que depois quem assumir o governo encontre a locomotiva andando, porque ela ficou paralisada, não é? Então, eu acho que vai aparecer, aparecerá. Nós temos um ano e pouco pela frente para as candidaturas. Seguramente vai aparecer gente para liderar o País.
Ratinho: O senhor acha que agora há algum risco de ocorrer essa radicalização política na próxima eleição? Esquerda de um lado, direita do outro, quebrar o pau?
Presidente: Não, isso é que nós não podemos, nós temos que evitar. Até porque eu vou dizer uma coisa a você: o povo hoje não dá mais importância para quem é de esquerda ou é de direita, o que o povo quer é uma política de resultados. Se o resultado for positivo, por exemplo, se o teto de gastos der certo, com a soma da Previdência, e o emprego voltar, isso é resultado. Ninguém está preocupado se é esquerda ou direita. Ninguém dá mais atenção. Isso não é só no Brasil, não. Eu creio que no mundo todo.
E nós precisamos pacificar o país. Nós não podemos mais ter essa divisão de brasileiros, uns contra outros. E, mais do que a divisão, Ratinho, uma coisa quase física, não é? Muitas vezes você vê um movimento, uma agressão, que é mais do que, digamos, intelectual ou de pensamento, é uma coisa física. Isso pode acabar no País. O brasileiro sempre foi um povo muito cordial, muito ordeiro. Ele tem que resolver as coisas por meio do diálogo que, aliás, é a palavra que eu mais uso no meu governo.
Ratinho: E que mais faz também, não é? A sua vida toda foi assim, não é? A vida toda foi assim. Lá fora, no exterior, como é que o Brasil está sendo visto hoje, Presidente?
Presidente: Agora começa a ser bem visto. Logo depois que assumi, eu fui a vários encontros internacionais e fui muito saudado, até, muito cumprimentado, não é? Aliás, eu confesso que nos primeiros momentos era muito em função das Olimpíadas. Interessante como as Olimpíadas divulgaram muito nosso país lá fora, porque nós botamos muito dinheiro lá no Rio de Janeiro, para poder realizar as Olimpíadas, botamos 30 e tantos mil homens das Forças Armadas, da Força Nacional, para garantir a segurança. Então, teve uma ótima repercussão no exterior. E agora começa a ter uma boa repercussão no plano econômico, as pessoas estão começando a investir no Brasil.
Vou dar um exemplo para você, da confiança que as pessoas têm no Brasil. Há pouco tempo nós colocamos quatro aeroportos para concedermos-los à iniciativa privada. Sucesso absoluto, houve um ágio extraordinário. Colocamos dois portos, sucesso absoluto. O governador Geraldo Alckmin mesmo, em São Paulo, colocou duas rodovias, ainda há poucos dias me telefonava dizendo que numa das rodovias concedidas o ágio foi de 420%. Quer dizer, quem aplica, você sabe que o empresário brasileiro, estrangeiro, ele aplica se ele verificar que tem lucro, senão, não vai aplicar. E isso está acontecendo. Então eu acho que nós estamos saindo de um buraco em que estávamos e vamos crescer muito.
Ratinho: Eu sei que essa pergunta o senhor não vai gostar de responder, mas eu preciso perguntar. A violência, por exemplo, no Rio de Janeiro, nessas grandes cidades. Vamos falar do Rio de Janeiro. O governo federal pode ajudar, por exemplo, acabar com aquelas balas perdidas, briga no morro, tráfico, aquelas coisas. O que o governo federal pode fazer?
Presidente: Pode ajudar e está ajudando, Ratinho. Você sabe que eu fui secretário da Segurança Pública em São Paulo duas vezes, né? E lá nós colocamos, na época, a casa em ordem. Essa competência, esse trabalho, basicamente, é dos estados, não é da União. Mas você vê que eu mudei até o nome do Ministério da Justiça. Eu botei “Ministério da Justiça e da Segurança Pública”. Por quê? Porque nós tivemos que entrar na questão da segurança pública. No Rio de Janeiro nós já mandamos muitas vezes a Força Nacional, as Forças Armadas para lá. Fizemos isso em Natal, no Rio Grande do Norte. Fizemos isso em Manaus, em Roraima. Entramos com as Forças Armadas, eu pedi o apoio das Forças Armadas, que logo disseram: nós queremos colaborar.
Eles entraram nos presídios, por exemplo Ratinho, fizeram inspeção, vistoria em presídios, em cerca de 10 presídios a essa altura e encontraram num presídio lá, me disseram, em um estado brasileiro, mil presos e sabem quantos facões encontraram lá dentro? 800 facões. Não é faca, é facão. Entendeu? Fizeram o recolhimento e vão fazer de vez em quando isso. Ou seja, nós já estamos ajudando porque nós estamos entrando fortemente na questão da segurança pública.
Ratinho: Presidente, segunda-feira é Dia do Trabalho. O Brasil hoje tem 13 milhões de desempregados. Quando é que o Brasil vai conseguir dar um emprego para pelo menos uma parte desses trabalhadores?
Presidente: Quando completar as reformas. Completar a reforma trabalhista, completar a reforma da Previdência, e, portanto, o Brasil recuperar, especialmente o investidor, a confiança absoluta no seu País. Nesse momento você verá como o desemprego vai diminuir, porque nesse momento, agora, como estamos falando hoje, Ratinho, o que há é o seguinte: embora haja muitos desempregados, também há uma capacidade ociosa das empresas. As empresas mantiveram muitos empregados. Então, neste primeiro momento o que está havendo é a utilização dessa capacidade ociosa. Ainda ontem eu recebi aqui o pessoal da Anfavea, que são fabricantes de veículos, representantes, não é? E eles me disseram que estão entusiasmados com as vendas, que estão começando aumentar, não só internamente, como também nas exportações. Quando nós passarmos essas reformas, nós vamos começar a gerar empregos e, portanto, reduzir esses vários milhões de desempregados.
Ratinho: Presidente, eu queria que o senhor olhasse para câmara agora, aquela ali filmando e gostaria que senhor mandasse uma mensagem para o povo brasileiro.
Presidente: Uma mensagem de otimismo, Ratinho. Você sabe que o brasileiro sempre foi muito cordial e muito otimista. Nós temos uma alegria íntima muito acentuada e nós precisamos acreditar no Brasil. De vez em quando eu vejo, assim, um certo pessimismo, e nós temos que combater o pessimismo. Aliás, se você me permite, eu conto um pouco da minha história. Você sabe que eu sou filho de imigrantes. Meus pais casaram-se fora do País, vieram já com três filhos para cá. Eu sou o oitavo filho, o último dos filhos, e veja onde cheguei? Cheguei a Presidente da República, depois exercer muitos cargos no País.
Então, eu quero dizer que o Brasil é um País de grandes oportunidades. E foi de grandes oportunidades porque seu povo sempre foi otimista. Nesses últimos tempos, lamento dizer isso, mas perdeu-se um pouco o otimismo. Nós temos que recuperar o otimismo. A ideia que eu sempre digo: vamos trabalhar, Executivo, Legislativo, Judiciário, o povo brasileiro, vamos todos trabalhar, vamos confiar no Brasil. Vamos confiar nas potencialidades do nosso País. Nosso País é um país de uma força extraordinária, reconhecido internamente e externamente.
Eu lanço essa mensagem de otimismo, portanto, aos seus telespectadores que, por si só, eu vejo que já são entusiasmados. Eu quero só adicionar um pouco de entusiasmo.
Ratinho: Daqui a 20 anos vamos falar do governo Temer. Como é que o senhor quer ser conhecido?
Presidente: Como alguém que melhorou as condições econômicas do País, como alguém que fez as grandes reformas, e como alguém que permitiu que os próximos governos não encontrem o País na posição que nós encontramos.
Ratinho: Então o senhor quer ser conhecido como “Michel Temer, o presidente das reformas”?
Presidente: Perfeito. Olhe, vou usar essa frase sua: presidente das reformas.
Ratinho: Pode usar de graça, não precisa pagar.
Olhe aqui, eu estou muito orgulhoso do meu público ter escutado, ter visto o presidente da República do Brasil falando aqui no nosso programa, que é um programa popular, mas que é um programa muito útil à população nessas horas. Muito obrigado, presidente.
Presidente: Obrigado a você.
Ouça a íntegra da entrevista (30min45s) do Presidente.