Entrevista exclusiva concedida pelo Presidente da República, Michel Temer, ao programa Nos Corredores do Poder, da EBC
07 de junho de 2018
Jornalista: Presidente, muito obrigada por nos receber.
Presidente: Grande prazer estar com vocês novamente. Muito obrigado.
Jornalista: Presidente, o Brasil enfrenta hoje uma disparada do dólar, aí girando em torno de R$ 4, US$ 1 turismo, até passou disso, e também a queda na Bolsa. Como é que o governo vai enfrentar isso?
Presidente: Você sabe que nós temos todas as condições para enfrentar. Em primeiro lugar, eu até aproveito para dar uma mensagem, não é? Nós estamos muito comprometidos com o ajuste fiscal. A questão fiscal está inteiramente sob controle. Você veja, Roseann, que nós temos, no plano externo, nós temos mais de US$ 380 bilhões de reservas, e a nossa dívida é muito inferior a isso, não é?
Em segundo lugar, nós temos os investimentos que continuam a ser feitos no nosso País. Ainda recentemente, eu recebia empresas automotivas que inauguraram o seu terceiro turno, portanto, são investimentos estrangeiros no nosso País, no particular a Fiat e a Toyota. E ainda agora o Hayley, que é uma empresa que fabrica também telefones celulares, ontem ainda me anunciava novos investimentos no nosso País.
Então, primeiro ponto, a questão fiscal está inteiramente sob controle, os investimentos continuam ocorrendo, a nossa reserva externa é muito acentuada. É claro que esta greve dos caminhoneiros criou um problema, não podemos ignorar este fato, mas criou um problema, convenhamos, logo superado, ele poderia ser muito mais grave. Mas, por força do diálogo, por força também da utilização da autoridade, nós conseguimos superar este momento, que foi um momento, digamos, com momentos dramáticos, até para a economia brasileira. Então, há um certo rescaldo deste movimento neste momento.
Além disso, você sabe que os juros americanos cresceram muito, e isso teve repercussão nas moedas de vários países, entre os quais o Brasil. Mas assim também a Argentina, o México, a Colômbia, todos eles foram afetados por esse movimento referente à elevação do dólar e dos juros americanos. Mas são questões que nós estamos superando.
O que é importante dizer é o seguinte: nós fomos até onde foi possível, na questão das concessões que fizemos para efeito de debelar, por exemplo, a greve dos caminhoneiros. Mas agora nada mais será feito, a questão fiscal está inteiramente superada. E veja que hoje ainda, agora pela manhã, Roseann, houve a privatização, o leilão de vários poços de petróleo com ágio extraordinário. Nós conseguimos mais de 3 bilhões em 3 ou 4 poços de petróleo, e muitas empresas estrangeiras participando deste leilão, o que significa a crença e a credibilidade no nosso País.
Eu acho que esta, digamos, é uma coisa circunstancial, nós temos que combatê-la, sem dúvida alguma, mas logo vamos superá-la.
Jornalista: Não há risco de crise cambial no Brasil?
Presidente: Não, não há risco, não há risco. É natural, o dólar varia muito. E digo a você: varia em função daqueles dados que eu dei, referentemente aos juros americanos, ao dólar americano, ao dólar dos Estados Unidos que, variando com a política do presidente Trump tem efeitos no nosso País e em vários outros países. Quer dizer, a desvalorização da moeda não se deu apenas aqui no Brasil em relação ao real, mas volto a dizer, deu-se no México, na Colômbia, na Argentina e em outros tantos países.
Jornalista: Agora, existe um cenário de incerteza política e eleitoral muito grande no País. Há risco para a economia brasileira?
Presidente: Eu também acho que não. Você sabe que esse é um dos fatores, até posso acrescentar à primeira pergunta, é claro que essa questão do embate eleitoral, da disputa eleitoral e até, convenhamos, da forma como está sendo feita. Porque é interessante, as pessoas criticam muito, falam muito, até usam, às vezes, palavras inadequadas, e eu tenho impressão que o eleitor brasileiro, ele quer votar em projeto. Ele não quer votar em pessoa, não.
Nós, aliás, aqui no Governo Brasileiro, nós fizemos o quê? Aplicamos um programa. Nós tínhamos um programa chamado “A ponte para o futuro”, e nós aplicamos este programa que não chegou, por exemplo, Roseann, depois de fazer várias reformas, não chegou a aprovar a reforma da previdência por vários fatores, mas induvidosamente, nós deixamos esta matéria na pauta política do País. Então ela deverá ser feita. Se não for feita no final deste ano, será feita no ano que vem, eu não tenho a menor dúvida disso.
Então este fator eleitoral, é um fator que também, digamos assim, preocupa a Economia. Quando você diz assim: “ah, pode ser que tenha dólar saindo daqui do Brasil”, é porque as pessoas ficam um pouco instáveis em relação aos pré-resultados que não são resultados definitivos, mas são pré-resultados que as pesquisas apontam.
Mas eu creio que os candidatos tomarão esta cautela em saber que o Brasil mudou muitíssimo e mudando muitíssimo, o que o eleitor vai querer são projetos, e não apenas, digamos assim, falas, muitas vezes até exageradas, que não têm amparo na realidade. Por exemplo, dou exemplo. Tem muito candidato que vem aí e diz assim: “ah, nós vamos eliminar todas as reformas feitas pelo governo Temer”. Isto instabiliza o mercado.
Então, estou aproveitando até para lançar essa mensagem para dizer que eu acho que pouco a pouco, quando chegar a campanha eleitoral, os candidatos todos verificarão que o Brasil tem que ter uma continuidade naquele processo que se iniciou hoje, especialmente com o teto dos gastos públicos, com ajuste fiscal rigorosíssimo, porque é isso que dá confiança ao investimento interno e externo.
Jornalista: O senhor falou sobre a questão da greve dos caminhoneiros. A forma que o Governo adotou o diálogo para solucionar o problema que existiu gerado pela greve, pela mobilização. Gerou ali de alguns críticos, uma interpretação de que aquilo teria apresentado uma fragilidade do Governo. E aí eu pergunto ao senhor, onde que fica essa linha, se é muito difícil caminhar aí nessa linha entre autoridade e autoritarismo e se o Governo cedeu demais aos caminhoneiros.
Presidente: Essa (...) da fragilidade é exatamente, viu Roseann, o exercício pleno da democracia. E eu não vou sair destes padrões. Aliás, eu verifico o seguinte. Se nós, desde o primeiro momento, isso se desejou, se pregou, que nós saíssemos dos padrões democráticos, e logo, digamos assim, vou usar expressões livres, logo partisse para o espancamento daqueles que estavam fazendo greve, partíssemos para a violência e nós não utilizamos esse método. Ao contrário, o que nós fizemos, você disse bem, foi exatamente dialogar. Nós conversamos muito. Em primeiro lugar, com aqueles que se apresentaram como lideranças, mas é interessante nesse particular, nesse movimento, a liderança era muito horizontalizada. Você não tinha uma liderança vertical, ou seja, alguém que, tomando uma decisão, digamos, na conversa com o Governo, pudesse chegar lá na categoria e dizer “olha, está feito o acordo e ponto final”.
Não foi assim. Nós fizemos isso até em uma quinta-feira, 3, 4 dias depois, verificamos depois que isto não chegou a toda a base dos caminhoneiros, continuamos a dialogar e ao mesmo tempo, dissemos “olhe, encerrado o diálogo, nós vamos colocar as Forças Federais à disposição para, na verdade, garantir o abastecimento. Em primeiro lugar, abastecimento dos combustíveis. Depois abastecimento dos hospitais. Depois, abastecimento de alimentos. Mas desde o primeiro momento, eu disse: “é preciso tomar muito cuidado para evitar o uso da força, digamos, bruta, mas sim da força de persuasão, do convencimento.”
Utilizamos diálogo e utilizamos a força, mas a força institucional, não a força bruta. Se isso for objeto de crítica, eu digo com muita franqueza, eu vou repetir muitas coisas porque o Brasil precisa aprender a conviver cada vez mais com o diálogo e com a democracia.
Jornalista: Ainda em relação à pauta dos caminhoneiros e até quando eu pergunto “o Governo cedeu demais”, um dos principais pontos da negociação tem gerado uma polêmica grande que é a questão da tabela de frete, o valor mínimo do frete. E aí, alguns setores reclamando que em alguns casos, o frete até triplicou o que inviabilizaria o escoamento da produção agrícola. Qual o caminho para solucionar esse impasse?
Presidente: É, em primeiro lugar, você sabe que interessante essa tabela que foi publicada, é uma tabela existente já há muito tempo. Ela não era aplicada porque houve um excesso, digamos assim, de aquisição de caminhões, e em um dado momento, a economia caiu. Não foi no meu governo. No meu governo a economia voltou a respirar.
Mas no governo passado, a economia caiu e não havia, digamos assim, transporte para todos os caminhoneiros. Então havia uma oferta, digamos assim, de valores do frete. Ah eu quero 10, mas o outro faz por 7. Eu vou alugar, eu vou contratar o serviço daquele que está oferecendo por 7 reais. Isso que é que aconteceu ao longo do tempo.
O que nós estamos estudando, é adaptações, isto está sendo feito pelo Ministério dos Transportes e pela Casa Civil. Adaptações para que, de um lado, você garanta o frete que permita ao caminhoneiro sobreviver, e ao mesmo tempo não abale a economia. Isso, em brevíssimo tempo, nós teremos uma solução. Sem alterar o acordo que nós fomos feitos. Que nós fizemos ao longo desse período.
Jornalista: Agora, o estabelecimento aí dessa tabela, associado também à determinação do Governo de garantir que a redução do preço do diesel apareça de fato ali nas bombas, diretamente para o consumidor, foi interpretado ali, suscitado por alguns como “ah, isso seria uma volta de tabelamento no Brasil”. Existe esse risco?
Presidente: Não. De jeito e maneira. Aliás, é interessante, convém esclarecer. O primeiro momento de redução desses valores cedeu por uma ação da própria Petrobras. Foi o ex-presidente Pedro Parente que nos procurou para dizer: “Olha, eu estou vendo esse movimento muito sério” - isso um ou dois dias depois - “que está acontecendo no País e eu me proponho, a Petrobras se propõe, a reduzir em 10% o valor do combustível, do óleo diesel, do óleo diesel, e isto por 15 dias, se superar 15 dias, o Tesouro Nacional poderia ressarcir a Petrobras”. Ressarcir a Petrobras por que razão? Para que a Petrobras, recuperada que se acha, não seja destruída outra vez, como foi no passado. Primeiro ponto.
Segundo ponto: nós resolvemos bancar estas despesas com outros valores, não é? Você sabe que nós tivemos que reduzir o Pis/Cofins, reduzir Cide e reduzir despesas, especialmente despesas do Poder Executivo, para fazer o acordo com os caminhoneiros. Mas isso não significou tabelamento de preço, não. O que nós estamos exigindo é que se reduza o valor em 0,46, que é a redução que as próprias distribuidoras estão fornecendo, nada mais do que isso.
Jornalista: É, porque aí terminou que até chegaram a falar assim: “Ah, é a volta dos fiscais”, que tinha ali, dos anos 80. Foi uma forma exagerada de se falar, que não condiz aí, com o que de fato está sendo cobrado, não é, presidente?
Presidente: É. Na verdade, digamos assim, uma certa fiscalização é feita ´pelo próprio caminhoneiro. Você sabe que os preços variam de estado para estado. Aliás, muito recentemente, uma emissora de televisão que tem um programa aí, aos domingos, e esta emissora de televisão botou um repórter ao lado de um caminhoneiro, que saiu lá, se não me engano, do Rio Grande do Sul e veio até o Rio de Janeiro. E pelos acordos que nós fizemos, verificou-se que o caminhoneiro economizou cerca de R$ 800,00, entre as viagens que ele fazia no passado e a viagem que fez do Rio Grande do Sul para o Rio de Janeiro. Isto tudo foi documentado num programa de televisão no domingo, não é? Sem tabelamento nenhum.
Jornalista: Presidente, um pouco antes o senhor falou aí sobre essa questão de redução da inflação, logo no começo da entrevista, avanços que foram vistos, sim, na sua gestão, e a população já começa a sentir a queda da inflação, a redução de juros, a retomada de empregos no País. No entanto, esses avanços não são associados automaticamente, pela população, à sua imagem e, por outro lado, a sua imagem termina hoje sendo muito bombardeada ali, em meio a denúncias, vazamentos...
Presidente: É verdade.
Jornalista: ...investigações. Como é que o senhor lida com isso?
Presidente: Bom, em primeiro lugar, eu quero lhe fazer uma pergunta aqui: quando eu assumi o governo, por acaso a área econômica caiu dos céus? Foram figuras que vieram do céu e ocuparam a área econômica, ou foi o presidente da República quem, na verdade, colocou um grande ministro, o ministro Meirelles? A sua equipe toda foi conversada comigo, quando se colocou alguém no Banco Central, como o presidente Ilan, foi tudo dialogado comigo e com a minha aprovação e, portanto, tudo isso foi feito na economia. O Pedro Parente, na Petrobras, e outros tantos, no Ipea, no IBGE, em todos os órgãos e estatais, é claro que o nome era sempre indicado por mim, depois de consultas e conversas que eu fazia.
Portanto a área econômica produziu, muito adequadamente, não porque, se me permite a expressão repetida. Não porque as coisas caíram do céu, mas porque havia um Presidente preocupado com a recuperação econômica do Brasil. Mas eu não falo só da economia, viu Roseann? Se você pegar a área da Educação, os avanços da educação, a reforma do ensino médio, as 500 mil vagas de ensino em tempo integral. Se você pega o Meio Ambiente, olha nós fizemos a maior reforma, a maior reserva marinha do mundo. Uma reserva marinha equivalente, praticamente, ao Estado da França ou maior que o Estado da França.
E em vários outros. O desmatamento reduzindo. Isto na Educação, na Saúde. Não quero aqui cansar o espectador com tudo o que foi feito.
E quem é que, na verdade, trouxe esse pessoal para trabalhar conosco no governo? Foi o Presidente da República, não é verdade?
Por outro lado, claro, que eu fiz um diálogo muito intenso com o Congresso Nacional, soube fazer esse diálogo, na medida em que esse diálogo inexistia. E este diálogo com o Congresso Nacional permitiu que nós chegássemos até aqui, com várias reformas. Esse é um ponto. Um outro ponto, que você refere, é a questão da, digamos, de um certo esquartejamento político e moral que se faz em relação ao Presidente da República.
Eu lamento dizer - viu, Roseann? - que este não é um movimento investigativo. É um movimento político. É uma questão política com vistas a desmoralizar o governo com gestos ilegais. Você veja que tem um inquérito aí, que a todo momento se pede prorrogação do inquérito. Por que pedem prorrogação do inquérito? Porque o sujeito pesquisa, pesquisa, pesquisa o objeto do inquérito e verifica que não há nada. Então ele quer pedir uma nova prorrogação. Porque quando pede a prorrogação, foge do objeto do inquérito. E ao fugir do objeto do inquérito, vai buscar outros dados. E daí ele tenta outros dados e passam-se mais 60 dias, o delegado né? Mais 60 dias e nada. Não se encontra nada. Ele pede mais tempo para verificar como pode alcançar o presidente da República. Lamento dizer isso, porque isto é violação de um dos princípios básicos da Constituição que se abre com, tendo como fundamento do Estado de Direito, a dignidade da pessoa humana. E o tratamento que me dão é indigno. Mas não adianta. Eu devo dizer isso, porque eu estou sendo tão vilipendiado. Vão buscar, para você ter ideia, vão buscar coisas de 1998, já arquivadas várias vezes, exata e precisamente porque não há, não houve nenhuma prova, não houve nada consequente. E ainda o sujeito tem coragem de dizer “olhe, isso daqui eventualmente é um ilícito que pode estar prescrito, mas é bom apurar para saber como as coisas aconteceram”. O Brasil está nesse tom e ninguém, ninguém reprimenda. Ninguém critica isso. Todo mundo diz “ah, imagine, o Temer, o Presidente fazendo isso”. Eu não admito isso. Olhe, eu digo mais uma vez, podem repastar-se à vontade, eu não tenho a menor preocupação com isso. Agora, não pode mais continuar assim. Não pode continuar porque, na verdade, as pessoas hoje são assim, Roseann: “fulano de tal é conhecido do Presidente, então ele arrumou uma namorada há trinta anos atrás, é preciso verificar qual foi a participação do presidente Michel Temer, quando ele arrumou essa namorada. Encontraram um documento, não sei o quê, lá no escritório dele, é preciso verificar qual foi a participação do presidente Michel Temer nesse assunto”.
Então, isto é insuportável, mas, interessante, isto não paralisa o governo. Essas coisas tentam desmoralizar o governo, mas, ao contrário de me desvitalizar, me vitalizam, e por isso que nós continuamos.
Jornalista: Pois é, o senhor já teve o sigilo bancário quebrado. Agora fala-se em quebra de sigilo telefônico e, também, se questiona o seu patrimônio. Aí, eu pergunto ao senhor: o seu patrimônio, por exemplo, é compatível? Qual a resposta que o senhor dá quando questionam: o patrimônio é compatível com a sua vida profissional? Como é que o senhor responde a essas questões e a essa também, essa situação, agora, de quebra de sigilo?
Presidente: Eu não me incomodo com a quebra do sigilo. Você sabe que foi tão indevida e, mais uma vez, o aspecto político, não é? Porque não é quebra de sigilo do Michel Temer, é quebra de sigilo do presidente da República. Veja o objetivo político nessa manifestação. Mas até me disseram: “Ah, você deve recorrer”. Eu disse: “Não vou recorrer, não, porque se eu recorrer vão pensar que eu tenho medo de apresentar as minhas modestíssimas contas bancárias”. Quem for lá examinar, vai verificar que, digamos, em cinquenta e tantos anos de serviço, eu tenho mais de 50 anos, 55 anos de serviço, o que eu tenho como patrimônio é uma coisa mínima. Eu não tenho fazendas, não tenho empresas, eu não tenho casa na praia, não tenho casa de campo, não tenho essas coisas que, normalmente, muitos dos que estão me ouvindo têm, eu não tenho, não é? Então, eu estou absolutamente tranquilo.
Agora chegam ao desplante de pedir a quebra do sigilo telefônico. Se quebrar, fiquem à vontade. Peguem todos os meus telefonemas, verifiquem com quem eu falei, porque eles vão, se me permite a expressão grosseira, quebrar a cara.
Jornalista: Então, um tema em relação a este. Presidente, mudando então um pouquinho, já que o senhor explicou essa situação, mudando um pouquinho de assunto, mas voltando, de certa forma, à questão de economia, o senhor falou de Henrique Meirelles, o senhor falou sobre esse cenário de campanha deste ano.
O senhor, o partido, o MDB apresentou a pré-candidatura de Henrique Meirelles, mas alas do PMDB também trabalham um nome paralelo por fora, ao mesmo tempo em que se fala em uma candidatura de centro, uma candidatura única de centro. Qual o cenário que o senhor, de fato, trabalha?
Presidente: Bom, em primeiro lugar, o Meirelles, na verdade, representa a continuidade. Eu acho que o povo brasileiro, o mercado brasileiro, não quer uma descontinuidade, não quer a eliminação daquilo que o governo fez. E o Meirelles estava dentro do governo, portanto, fará exatamente a tese de que tudo vai continuar, portanto, as reformas fundamentais vão prosseguir, além daquelas tantas que nós já fizemos. Portanto, o Meirelles é um excelente candidato. É claro que ainda o quadro é muito indefinido. Então, muitos falam na possibilidade de um candidato de centro, para evitar radicalismos, não é?
Eu, é claro que se isso prosseguir, nós todos vamos conversar, vamos verificar. Mas, no momento, dentro do PMDB, o Meirelles tem a maioria. Ainda ontem ele fez uma reunião da bancada federal do PMDB e teve o maior sucesso, foi aplaudido por todos, enfim, entusiasmado por todos a prosseguir.
Agora, no PMDB sempre foi assim. Não houve um momento, Roseann, que o PMDB dissesse: “olhe, nós vamos lançar um candidato, vamos todos com ele”. Vou dar um exemplo clássico, o exemplo do Dr. Ulysses Guimarães. Foi o homem que reconstituiu o Estado brasileiro em 5 de outubro de 1988, o Brasil devia muito a ele. No ano seguinte, ele foi candidato à reeleição, sabe qual foi o percentual de votos dele? 4.7%. Ou seja, é interessante essas coisas, como você faz. Por isso que muitos me dizem: “o Temer, não se preocupe com o que acontece agora, porque o seu reconhecimento virá depois”.
É interessante que o Ulysses, volto a dizer, que reconstruiu o País, um ano depois foi candidato a presidente e ficou lá entre os últimos colocados. Então, esses reconhecimentos são mais históricos do que momentâneos. E particularmente estou dizendo isso porque o Dr. Ulysses foi lançado pelo PMDB e o próprio PMDB, naquela oportunidade, acabou por abandoná-lo, não é?
Então, divergências no PMDB sempre existem. Eu fui, 15 anos, presidente do partido, e sempre fui porque eu era capaz de juntar, digamos, conectar, coligar as várias tendências do PMDB. O Meirelles vai conseguir fazer isso.
Jornalista: Presidente, agora a gente está aí, não tenho como não abordá-lo sobre isso, a gente está às vésperas da Copa do Mundo. E uma coisa que eu queria saber é se o senhor vai viajar para a Rússia. O senhor foi convidado para ir para (...)
Presidente: Fui convidado, mas estou com dificuldade para ir, sabe? Em face… O Brasil está um pouco agitado, eu não posso deixar de reconhecer este fato, indevidamente, até, agitado. Porque, com o nosso método de trabalho o País… Você sabe que eu sempre prego a pacificação, a harmonia entre os brasileiros, o enfrentamento em conjunto dos problemas que surgem no nosso País. Mas eu não posso deixar de reconhecer que o Brasil exige muito a presença do governante. Então, eu tenho a impressão que será muito difícil fazer essa viagem. Eu fico torcendo aqui, não é? Torcendo para que, se Deus quiser, o Brasil traga a Copa.
Jornalista: E nesse período da Copa do Mundo, então, o senhor acha que um otimismo maior se amplia entre os brasileiros?
Presidente: Sem dúvida alguma. Você sabe que, no geral, quando há a Copa do Mundo, há, digamos assim, uma recuperação do patriotismo, não é? E patriotismo é uma coisa importante. Ter ordem e progresso, cultuar a bandeira é uma coisa importante. Eu acho que isso vai acontecer durante a Copa do Mundo.
Jornalista: Sem mais nenhum trauma do 7 a 1.
Presidente: Se Deus quiser. Posso contar um rápido episódio? Eu estava assistindo o 7 a 1, com a Marcela e, de repente, deu 3 a 0 e ela me disse: “Olha, esse jogo está assim porque você não está com a camisa amarela”. E eu falei: “Ah, você tem razão”. Eu subi as escadas para pegar uma camisa amarela, botei, quando desci já estava 6 a 0. Eu falei: “Não adiantou a camisa amarela”.
Jornalista: É, ali estava muito além de qualquer vestimenta - viu? -, definitivamente, da torcida. Presidente, muito obrigada por nos receber aqui
Presidente: Obrigado a você.
Ouça a íntegra (22min38s) da entrevista concedida pelo Presidente Temer